mecânica mecânica da

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Resumo Executivo
3.3 ARRANJO PRODUTIVO LOCAL ELETROMETAL-MECÂNICO DA REGIÃO
DE JOINVILLE
Renato Ramos Campos*
Jeanine Batschauer**
Renato Perecin Calheiros***
3.3.1 Configuração territorial
A aglomeração produtiva da indústria eletrometal-mecânica na região de Joinville,
localizada no Nordeste de Santa Catarina, encontra-se vizinha de duas importantes áreas de
concentração industrial, a região de Blumenau, também em Santa Catarina, e a região
metropolitana de Curitiba no Paraná (respectivamente cerca de 68 Km e 347 Km). Este
mesmo aglomerado localiza-se, majoritariamente, nos municípios de Joinville e Jaraguá do
Sul, que juntos correspondem a aproximadamente 80% da população. A região é composta
ainda pelos municípios de Araquari, Balneário Barra do Sul, Corupá, Garuva, Guaramirim,
Itapoá, Massaranduba, São Francisco do Sul e Schroeder.
A população economicamente ativa na região de Joinville, segundo os dados da RAIS
(2003), é de 190.278 pessoas, sendo que Joinville e Jaraguá do Sul concentram 86% da
população empregada com carteira assinada. Na região, cerca de 22,37% da mão-de-obra
local está alocada na eletrometal-mecânica, com a participação de uma ampla gama de
empresas dos mais diversos portes. Portanto podemos perceber que a indústria eletrometalmecânica tem uma forte participação na geração de empregos na região e principalmente nas
cidades de Joinville e Jaraguá do Sul, que juntas empregam 40.292 pessoas.
3.3.2 Características da estrutura produtiva e do mercado consumidor
Na trajetória histórica do processo de industrialização catarinense, a região de Joinville
sempre se destacou por sua forte tradição industrial. Em decorrência de sua privilegiada
localização geográfica e da existência de uma infra-estrutura física bem desenvolvida,
Professor dos Cursos de Graduação e Pós-graduação – Mestrado - da Universidade Federal de Santa Catarina.
Mestre em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina.
***
Graduando em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina.
*
**
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consolidaram-se na região, ao longo dos anos, diversos setores industriais como têxtil,
materiais plásticos, alimentício, informática, dentre outros que contribuíram para a
consolidação de uma estrutura industrial fortemente diversificada.
O arranjo eletro-metal-mecânico possui uma densa estrutura produtiva local e grande
heterogeneidade no tamanho das empresas, criando especializações por tamanho de empresas
dentro dos diversos grupos de atividades. A diversificação é uma característica importante da
estrutura industrial da região, onde se verifica a intensificação da especialização produtiva e a
existência de complementaridades locais a partir da desverticalização dos grandes produtores,
da instalação no local de fornecedores de insumos, de máquinas e equipamentos, de
prestadores de serviços. Na estrutura produtiva local encontram-se empresas, sobretudo, de
micro e pequeno portes especializadas nos segmentos de metalurgia básica, fabricação de
produtos de metal - exclusive máquinas e equipamentos; fabricação de máquinas e
equipamentos e equipamentos elétricos.
O arranjo apresenta uma densa divisão do trabalho que inclui a grande maioria das
atividades das indústrias eletrometal-mecânicas, com um grande número de empresas e
elevada heterogeneidade no porte das mesmas. Esta densidade é resultado de externalidades
que há mais de um século desenvolvem-se no arranjo, criando demandas locais que estimulam
a complementaridade e a expansão simultânea no local dos variados segmentos destas
indústrias. Por outro lado, os processos mais recentes de reestruturação produtiva das grandes
e médias empresas, que terceirizam etapas de seus processos produtivos, incentivaram o
desenvolvimento de grande número de MPEs no local.
Dentre os segmentos observados no arranjo, a “Indústria Metalúrgica” ocupa maior
absorção de mão-de-obra relativa ao setor eletro-metal-mecânico (17.624 Postos Formais de
Trabalho), embora a Indústria Mecânica gere a maior massa salarial (11,1%), diferentemente
do encontrado no Brasil. Este último setor é fortemente caracterizado por empregados
qualificados (11,4%) por terem nível superior, enquanto que os outros setores não passam de
8% da mão-de-obra que possui este nível de escolaridade. As altas taxas de mão-de-obra
especializada na indústria eletrometal-mecânica da região de Joinville refletem as
especificidades do setor, cuja distribuição no emprego é relativamente homogênea em
comparação ao encontrado no Brasil. De um modo geral, o arranjo eletrometal-mecânico da
região de Joinville apresenta uma taxa salarial elevada em comparação à praticada no restante
do país devido a sua participação no emprego, a qual necessita cada vez mais de empregados
especializados. Conforme os dados da RAIS, em torno de 30% dos salários pagos para os
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trabalhadores da região são da indústria eletrometal-mecânica, ou seja, do total dos salários
pagos para os trabalhadores com carteira assinada na região de Joinville (R$ 175.733.823,56),
aproximadamente R$ 51.687.249,28 são dirigidos aos trabalhadores da indústria eletrometalmecânica.
A densa estrutura produtiva da região de Joinville, ao criar espaço para as intensas
relações dentro do seu território constitui-se num importante mercado para muitas empresas
que procuram se estabelecer na economia local. Essa densa estrutura produtiva mostra o papel
relevante do território também como fonte de fornecimento de produtos ou serviços para o
conjunto de empresas no arranjo. Entretanto, a existência de elevada heterogeneidade no
tamanho das empresas implica assimetrias nas transações comerciais realizadas no local.
No âmbito do arranjo, as distintas especializações e complementaridades produtivas
entre os diversos segmentos da eletrometal-mecânica definem o local como um importante
espaço para a oferta de bens e serviços demandados por todas as empresas da região. Essas
relações comerciais que ocorrem no interior da estrutura produtiva podem ser comprovadas
pela dinâmica interindustrial que condiciona as interações locais. Essa dinâmica produtiva
local se dá num ambiente que cria significativas vantagens decorrentes da proximidade e da
organização territorial da produção. Dentre as externalidades proporcionadas pelo local que
intensificam as interações entre os agentes no espaço de produção, destacam-se, além da
infra-estrutura física, a proximidade com clientes e fornecedores que favorece as relações de
trocas de informações técnicas, a disponibilidade de mão-de-obra qualificada e o acesso a
serviços técnicos especializados.
No arranjo produtivo local, as relações de subcontratação sugerem a existência de três
tipos de redes1. O primeiro tipo corresponde às redes de subcontratação para o fornecimento
de materiais diretos2 às grandes e médias empresas (incluem-se aqui as empresas envolvidas
com subcontratação de atividades como fornecimento de insumos e componentes e
desenvolvimento de produto). O segundo tipo diz respeito às redes que fornecem materiais
indiretos3 e prestam serviços industriais para as grandes e médias empresas. Consideram-se
aqui as subcontratações de etapas do processo produtivo e dos serviços produtivos
especializados. O terceiro tipo refere-se às redes formadas por MPEs mediante a
subcontratação de diversas atividades e produtos.
1
A análise detalhada das redes de empresas no arranjo produtivo da eletrometal-mecânica encontra-se em Stallivieri,
F. (2004).
2
Materiais diretos são peças, componentes e/ou subsistemas que são integrados ao produto final.
3
Materiais indiretos são aqueles utilizados durante os processos produtivos, como moldes e ferramentas, por exemplo.
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No inicio da década de 90, as pequenas empresas vendiam quase a totalidade de seus
produtos para fora do arranjo da região, sendo que 20% de seus produtos eram exportados.
Mas houve uma reversão desta tendência no ano 2000, no qual o mercado local começa a ter
uma maior relevância sobre as vendas, tornando-se importante ressaltar que o aumento das
vendas localmente não se deu através de uma diminuição das exportações, mas sim da
diminuição das vendas para o mercado nacional.
A indústria eletrometal-mecânica catarinense conta com a presença de importantes
empresas líderes em seus diversos segmentos de atuação, estando grande parte das mesmas
concentrada nos municípios de Joinville e Jaraguá do Sul. Na região estão localizadas
empresas que assumem posição de destaque internacional na produção de refrigeradores
[Multibrás], motores e geradores elétricos [Weg], elementos de fixação [Ciser], dentre outros.
Além dessa gama de segmentos, encontra-se ainda na região a quinta maior empresa de
fundição do mundo [Tupy], bem como a primeira na fabricação de compressores herméticos
[Embraco] e outra na fabricação de equipamentos e instrumentos odontológicos [Kavo do
Brasil]. O movimento de ampliação da inserção internacional das empresas catarinenses se
confunde com o das principais empresas líderes instaladas na região de Joinville, por
exemplo, a Weg e a Embraco, onde o processo de reestruturação já mencionado levou a
primeira a ser um dos maiores fabricantes mundiais de motores elétricos. A Embraco adotou a
estratégia de internacionalização da produção e distribuição, sendo atualmente a maior
fabricante mundial de compressores herméticos para refrigeração, destacando-se pela
instalação de unidades fabris e subsidiárias comerciais em inúmeros países, revelando que sua
estratégia a posicionou próxima dos seus clientes em mercados importantes.
3.3.3 Aparato institucional
A estrutura institucional local é bastante ampla e diversificada, com grande variedade
de funções. O desenvolvimento das organizações voltadas para a coordenação empresarial
remonta ao início do século XX com o surgimento das associações comerciais e industriais
dos municípios de Joinville e Jaraguá do Sul (ACIJ e ACIJS). Mas é na década de 40, com o
estabelecimento da entidade representativa dos trabalhadores, e a implantação no local do
SENAI, principal órgão de treinamento de mão-de-obra para a indústria, que tem início o
adensamento da estrutura institucional. Nos anos 60 e 70 se consolidam no local as funções de
coordenação e ensino e treinamento com a implantação das organizações classistas patronais e
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de trabalhadores e das principais escolas e faculdades. Na segunda metade da década de 80 e
nos anos 90, com a implantação do Instituto Superior Tupy e do Midiville, há uma ampliação
da função de ensino e treinamento.
Em tal estrutura destaca-se ainda a existência de organizações direcionadas tanto ao
crédito, como o Banco do Brasil (BB), Caixa Econômica Federal (CEF) e Banco de
Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (BADESC), como àquelas cujas ações são
forçadas na promoção e apoio à indústria, como o Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e
Pequenas Empresas (Sebrae) com agências em Joinville e Jaraguá do Sul. Além dessas
organizações voltadas a assessorar os produtores locais, ressalta-se a atuação das prefeituras
municipais, responsáveis pela implantação de uma importante infra-estrutura física na região,
através da provisão e melhoria dos bens e serviços públicos.
Embora a estrutura institucional local tenha se desenvolvido simultaneamente ao
arranjo produtivo, não é exclusiva das indústrias eletrometal-mecânicas. Em virtude da
diversidade da estrutura industrial local, ela não atende as necessidades específicas ao arranjo
e volta-se às diversas atividades produtivas na região no que se refere à função de
coordenação exercida pelas associações empresarias. Outro aspecto da estrutura institucional
no tocante à função de coordenação é que esta privilegia as atividades de representação do
conjunto das empresas frente a outros agentes. Se tal atividade é pública por sua natureza e
pode criar espaços para a ação coletiva, não decorrerá, necessariamente, desta atividade a
ação cooperativa entre os agentes. Enfatiza-se aqui, portanto, que esta atividade não substitui
ações de coordenação voltadas para as articulações cooperativas entre os atores do arranjo,
pois estas sim são primordiais para o estabelecimento de vínculos consistentes entre os
agentes do arranjo.
Neste sentido, as organizações com função de coordenação têm um comportamento
pouco efetivo no estímulo à cooperação, apesar de sua forte ação representativa. Reforçando
esta avaliação, percebe-se que as atividades das organizações na função de coordenação, ao
privilegiarem a ação de apoio individual às empresas, por meior da prestação de serviços,
também pouco estimulam a ação cooperativa no âmbito do arranjo. A análise indica que os
estímulos para as interações locais são muito mais decorrentes das características da estrutura
produtiva do que de ações deliberadas das organizações que conformam a estrutura
institucional na sua função de coordenação. Todavia, deve-se salientar a presença de algumas
ações que sugerem um esforço inicial neste sentido.
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No caso desta aglomeração local, o ambiente conta ainda com a presença de uma
estrutura de conhecimento parcialmente estruturada voltada mais às atividades de ensino e
treinamento e menos capaz de realizar atividades de pesquisas tecnológicas no âmbito das
indústrias eletrometal-mecânicas. Apesar das externalidades locais proporcionadas pela
estrutura do conhecimento na sua função ensino e treinamento, como a existência de mão-deobra qualificada, difusão de informações técnicas e prestação de serviços especializados,
pode-se notar que, em decorrência da frágil articulação com o setor produtivo, tal estrutura
tem pouco reflexo sobre os processos de aprendizagem interativa e, conseqüentemente, sobre
o desenvolvimento de capacidade inovativa no local.
3.3.4 Nível tecnológico e esforço para capacitação
O dinamismo inovativo no âmbito do arranjo é condicionado pelo ritmo de
incorporação tecnológica em produtos e processos nas empresas, o qual está diretamente
associado a sua estratégia de aprendizagem. Os mecanismos de aprendizagem mais usuais são
do tipo learning by doing, refletindo os significativos e constantes esforços internos feitos
pelas empresas para o desenvolvimento de capacitações para inovar, ainda que este seja pouco
estruturado organizacionalmente. Tais esforços indicam que as fontes mais importantes de
informações estão na própria atividade produtiva e de comercialização realizada pelas
empresas, demonstrando uma grande competência tecnológica destas para a absorção de
informações e sua adaptação aos processos produtivos internos, proporcionando uma grande
capacidade de imitação de produtos e processos produtivos.
No interior do arranjo, são intensas as interações entre as empresas, gerando
importantes estímulos aos processos de aprendizagem e às capacitações técnico-produtivas
desenvolvidas no local. Simultaneamente, no local existem segmentos produtivos que
apresentam distintas estratégias de aprendizagem para promover o desenvolvimento de
capacidade inovativa. Nos segmentos menos dinâmicos, formados por micro e pequenas
empresas que atuam no fornecimento de materiais indiretos e na prestação de serviços
industriais, observam-se estratégias passivas baseadas em fontes locais de informação. Por
outro lado, nos segmentos mais dinâmicos, formados por um grupo restrito de micro e
pequenas empresas e por grandes empresas que atuam na fabricação de máquinas e
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equipamentos, os esforços para desenvolver capacidade para inovar são mais intensos
materializados na endogeneização das atividades de pesquisa e desenvolvimento.
Desse modo, pode-se verificar que, nas micro e pequenas empresas, essas capacitações
decorrem das habilidades acumuladas pela experiência na esfera da produção e da
disponibilidade de mão-de-obra qualificada. Nas empresas de maior porte, as principais fontes
de informação para o desenvolvimento de produtos e processos são seus clientes e
fornecedores. Os fluxos de informação para os processos de aprendizagem e para as
atividades inovativas não se restringem somente ao nível interno das empresas, podem
associar-se com fontes externas, por meio da interação com outras empresas usuárias ou
fornecedoras dos produtos.
No arranjo eletro-metal-mecânico, a pesquisa de campo mostrou que são significativos
e constantes os esforços internos realizados pelas empresas para o desenvolvimento de
capacitações para inovar, ainda que este seja pouco estruturado organizacionalmente.
Ressalta-se que tal esforço interno para as pequenas e médias não se reduz à atualização de
equipamentos e formação da mão-de-obra, mas envolve atividades específicas que objetivam
absorver novos produtos e processos. Cabe ainda destacar que tal esforço por parte das
empresas não é sustentado por externalidades locais que a estrutura institucional local poderia
proporcionar, qual seja, o suporte ao desenvolvimento de capacidade inovativa localizada que
permita criação e desenvolvimento de novos produtos e processos. No âmbito do arranjo, a
ausência de suporte institucional para atividades de pesquisa e as limitações das ações
cooperativas nesta área não são empecilhos para o desenvolvimento das grandes empresas,
mas restrigem a capacidade tecnológica que faça avançar o esforço de imitação para a criação
inovativa nas micro, pequenas e médias empresas.
3.3.5 Formas de cooperação e governança
No arranjo eletro-metal-mecânico, as intensas relações entre as empresas são
favorecidas tanto pela proximidade espacial quanto pela existência de valores culturais
homogêneos que tendem a facilitar o compartilhamento de experiências produtivas comuns e
de informações no local. Neste aglomerado produtivo, apesar da intensa competição entre as
empresas no local, basicamente micro e pequenas, constata-se que são também freqüentes as
interações dos agentes produzindo bens e/ou serviços similares ou daqueles que atuam em
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diferentes estágios da produção. No local, as relações de cooperação vertical são uma prática
comum entre as empresas de todos os portes, sendo que os principais parceiros para
desenvolver ações cooperativas são os seus fornecedores de insumos e equipamentos e
clientes. As ações estão voltadas a um maior aprimoramento das suas capacitações produtivas
através da troca de informações e experiências produtivas; melhor utilização de insumos e
melhorias nas condições de fornecimento de produtos ou serviços. No que se refere às
relações de cooperação horizontal entre as empresas que atuam no mesmo segmento, observase que são extremamente reduzidas. Essa falta de articulação entre elas ocorre porque, em
geral, concorrem entre si no mercado local, as ações se limitam a um conjunto de atividades
na esfera de produção e comercialização que estão restritas ao cenário de mercado. Estas
ações coletivas expressam esforços no âmbito interno das empresas, sem uma articulação com
instituições locais.
Portanto, verifica-se que, no interior do arranjo, embora predominem formas de
coordenação hierárquicas, estas ainda podem ser combinadas com outras formas de
governança em função das articulações entre os agentes produtivos. Ou seja, há no arranjo
empresas que participam, concomitantemente, de diversas redes de subcontratação. Isto pode
ser observado nas relações que ocorrem somente entre pequenas empresas, que participam
tanto de redes de natureza vertical quanto horizontal. No local, apesar de serem intensas as
relações entre as empresas, em sua maioria, limitam-se à esfera de produção e de
comercialização como conseqüência da dinâmica produtiva local. Frente à ausência de formas
institucionalizadas de coordenação que pudessem estabelecer estímulos a ação coletiva,
prevalece então no arranjo uma governança via mecanismos de mercado. A carência de
formas de coordenação extra-mercado revela ainda a fraca atuação das organizações em criar
espaços (estruturas) para o desenvolvimento de capacitações inovativas endógenas que
poderiam fortalecer as competências locais.
3.3.6 Vantagens competitivas e obstáculos
O desenvolvimento de competências produtivas e inovativas no arranjo produtivo
local está associado às vantagens que o ambiente no qual os agentes estão inseridos pode
proporcionar por meio das relações que se estabelecem entre os agentes nos espaços de
produção. As principais externalidades locais que emergem a partir dos intensos
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relacionamentos entre os agentes no interior do arranjo são o acúmulo de experiências (know
how), ao longo do tempo, e a grande disponibilidade de serviços industriais especializados. O
acesso a esse conjunto de habilidades e de recursos de produção requer vínculos de
proximidade entre os agentes para facilitar a difusão de conhecimentos prático e técnico.
Portanto, a possibilidade de as empresas integrarem redes de relações interativas com a
finalidade de cooperação técnico-produtiva que emerge no nível local, a partir das atividades
que envolvam relações em redes de subcontratação, confere, desse modo, vantagens
competitivas cruciais às empresas, principalmente as micro e pequenas inseridas nessa
aglomeração produtiva local.
Com base nas entrevistas de campo, percebeu-se a ausência de ações sistemáticas
entre as associações e o governo local no que concerne a políticas setoriais voltadas ao
desenvolvimento e fortalecimento das potencialidades da eletrometal-mecânica. Cabe ainda
relatar que há uma grande dificuldade por parte das associações em se articularem com órgãos
oficiais de financiamento para facilitar o acesso dos pequenos produtores ao crédito. Essa
carência de instrumentos de financiamento associada às exigências e burocracia dos bancos
comerciais, explica por que a maioria das micro e pequenas empresas do arranjo recorrem aos
seus recursos próprios para realizarem investimentos na modernização e expansão dos seus
negócios.
De maneira geral, observa-se a carência de mecanismos e instrumentos de política
orientados a estimular e eliminar obstáculos ao crescimento das empresas, sobretudo, micro e
pequenas, como, por exemplo, através da provisão de infra-estrutura de serviços financeiros,
tecnológicos e educacionais. Mas, o que deve ser salientado é que as ações institucionais não
são exclusivamente direcionadas ao setor eletro-metal-mecânico. Considerando que a
estrutura industrial local é bastante diversificada, as organizações parecem representar muito
mais o interesse dos vários setores industriais da região. Este aspecto influencia de forma
significativa a atuação institucional no âmbito do arranjo. Isso pode ser visto pela ausência de
programas de ação específicos para o setor eletrometal-mecânico. Cabe ainda mencionar que,
apesar das micro e pequenas empresas predominarem na estrutura industrial local, não há uma
ação institucional sistemática voltada a estimular uma atuação de forma coletiva que favoreça
desempenhos mais significativos.
Frente à fraca atuação das associações quanto à representatividade e mobilização das
empresas do setor eletro-metal-mecânico, pode-se constatar que são baixos os estímulos às
ações coletivas direcionadas, em especial, ao desenvolvimento e melhoria da competitividade
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das micro e pequenas empresas do arranjo produtivo local. A ausência de uma coordenação
extra-mercado efetiva não favorece a consolidação de um ambiente propício às relações
sociais que possam dinamizar as interações interempresariais e potencializar as externalidades
decorrentes da elevada concentração industrial no local.
3.3.7 Considerações finais e possibilidades de política industrial
As características da divisão do trabalho, o esforço de capacitação tecnológica e
organizacional das empresas, as relações em redes que se estabelecem no local, as vantagens
decorrentes da proximidade e organização territorial da produção e a estrutura institucional
que interage com a estrutura produtiva indicam a formação de um sistema local de produção
que sustenta os esforços dos agentes para a imitação de produtos e processos. Portanto, no
caso em estudo, as características da estrutura produtiva e institucional e as intensas relações
entre os atores sugerem a presença de um sistema produtivo e inovativo, em que estão
presentes vínculos mais fortes e consistentes de interação, cooperação e aprendizagem, com
potencial de gerar capacidade inovativa endógena local.
Neste estudo, a potencialidade foi demonstrada pela grande capacidade endógena de
absorção de novas tecnologias e pela presença de um núcleo de empresas inovadoras,
mostrando a possibilidade de transitar da capacidade de absorção de novas tecnologias para a
de inovação tecnológica.
Considerando esta potencialidade, procura-se, a seguir, sugerir três linhas de políticas
dirigidas para o conjunto da eletrometal-mecânica e especificamente para o apoio às micro e
pequenas empresas. O objetivo central é consolidar e ampliar as vantagens locais que
permitam a transição de um sistema local com capacidade de absorção de inovações para um
sistema local criador de inovações como base de sua vantagem competitiva.
1ª) Consolidar as vantagens locais e estimular a ação coletiva através da manutenção e
ampliação do sistema de formação e treinamento da mão-de-obra no local. Estimular as
atividades consorciadas parece ser uma das principais ações voltadas à manutenção das
sinergias locais. Programas que estimulem ações coletivas e que não são proporcionadas pelas
simples relações de mercado. Especificamente dirigidos para a exportação, para a
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comercialização no mercado nacional fora do arranjo, para o financiamento, e para o acesso
às tecnologias de informação pelas micro e pequenas.
2ª) Criar competências para a inovação seja talvez a principal lacuna a ser preenchida
no conjunto do sistema, principalmente quanto às micro e pequenas empresas. Além da
prestação de serviços tecnológicos, a estrutura institucional deve ser orientada para realizar
atividades de pesquisa e desenvolvimento. Neste sentido, sugere-se a criação de uma
organização específica para esta atividade. Esta organização, nos moldes de uma “instituição
ponte”, teria a função de facilitar o acesso das micro e pequenas empresas aos serviços
tecnológicos já oferecidos no local e estimular a realização de projetos específicos de
desenvolvimento tecnológico de produtos e processos mediante a articulação de redes de
micro e pequenas empresas com as universidades situadas ou não no local.
3ª) Articulação institucional para o desenvolvimento do sistema por meio de ações de
curto prazo, de mais rápida implementação, cujo efeito demonstração estimulasse a
participação coletiva, servindo como embrião de uma entidade coordenadora específica.
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