RELAÇÕES ENTRE O MUNDO DO TRABALHO E A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL Manuela Pires Weissböck (PIBIC/CNPq), Paulo Guilhermeti (Orientador), e-mail: [email protected] Palavras-chave: Trabalho, Educação Profissional, Materialismo Histórico-Dialético, Teoria Crítica Resumo: O objetivo desta pesquisa foi analisar a estrutura pedagógica do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC Paraná a partir de seus referenciais curriculares, utilizando o Materialismo Histórico e Dialético e as orientações da Teoria Crítica como pressupostos para apontar limites e possibilidades para a Educação Profissional e sua relação direta com o Mundo do Trabalho. O projeto foi dividido em três momentos. O primeiro contemplou a análise da proposta pedagógica do SENAC e seus dilemas. O segundo fez uma relação entre a proposta da instituição e as mudanças no Mundo do Trabalho e o terceiro analisou dados coletados através de entrevistas sobre a relação entre proposta e prática pedagógica do professor que atua no SENAC. Introdução Com a crise da Administração Científica do Trabalho, novos métodos surgiram para garantir a funcionalidade e a reprodução do capital. A escola nunca esteve longe deste problema. Gintes (1974) apud (Frigotto, 2006, p. 47) afirma esta posição: “[...] ela favorece as condições psicologicamente requeridas para formar a força de trabalho alienada que é desejada”. Percebe-se, portanto, que as escolas se organizaram a partir da lógica capitalista e que isto gerou uma grande crise, principalmente no que se refere às práticas educativas dos professores e dos resultados de aprendizagem dos alunos. Assim como a educação básica, a educação profissional segue o modelo de formação para a produção, criando vínculos entre educação, desenvolvimento e qualidade total. A educação como elemento da reprodução do capital se mostra alienada, fragmentada, dominante. A lógica que rege a economia de mercado é a mesma que incorporou a organização do ato educativo. Assim, a educação não cumpre sua tarefa e torna-se instrumento de adaptação, favorecendo o processo de semiformação. É desafio, portanto, da educação, superar os limites da formação do sujeito passando pela crítica dos processos e práticas educativas e de suas transformações. A educação precisa ser compreendida como prática social histórica que se define nas relações sociais e que promove a autonomia. Frigotto (2005, p. 31) mostra que “a luta é [...] para que a qualificação humana não seja subordinada às leis do mercado e à sua adaptabilidade e funcionalidade”. Isto requer discussões que ampliem, principalmente o objetivo da educação que prepara para o mundo do trabalho e que é objeto deste trabalho. Materiais e Métodos Este projeto contemplou pesquisas bibliográficas, pesquisa de campo, entrevistas, análise e coleta de dados que foram analisados a partir dos referenciais do Materialismo Histórico-Dialético e da Teoria Crítica. Resultados e Discussão Ficou claro que o método de organização científica da produção se tornou uma técnica social de dominação. A partir da organização do trabalho, dividindo-o em concepção e execução e da divisão da produção do trabalho no espaço fabril, é possível perceber que as instituições que promovem a formação do trabalhador estão alicerçadas no processo de produção fragmentada e improdutiva. Frigotto (2006, p. 134) chama isto de “improdutividade da escola”, ou seja, parece que ela precisa se tornar o eixo necessário à produção e à manutenção das relações do capital. A educação profissional no Brasil sempre enfatizou o aspecto de formação técnica para atender às necessidades de mercado. Reservada às classes desfavorecidas que necessitavam ter acesso ao trabalho, a educação profissional foi instrumento da política educacional brasileira da época colonial aos tempos atuais. A profissionalização sempre se limitou ao treinamento operacional das funções específicas de cada trabalhador, enquanto que o conhecimento técnico e organizacional geralmente era atribuído aos gerentes. O problema que envolve a qualificação do trabalhador sempre esteve relacionado com a divisão do trabalho intelectual e manual. Na forma moderna do capitalismo, o conceito de qualificação se tornou danificada, pois com a divisão do trabalho, garante-se o capital e a posse de técnica, que é produto do capitalista. A formação profissional no Brasil é, portanto, fruto das mudanças nas relações de trabalho impostas pelo capitalismo. Quando o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC foi criado em 1946, era preciso fornecer conhecimento às camadas cada vez mais numerosas, tanto pela exigência da produção quanto pelas necessidades de consumo que o mercado impunha. Para que o sistema pudesse sobreviver, era preciso ampliar a área de atuação social, ou seja, fazer com que a população possuísse condições mínimas para atuar no mercado de trabalho e conseqüentemente, de consumir. Portanto, além de um caráter assistencialista, a educação profissional se caracterizou por preparar os trabalhadores para o trabalho. Isto originou um ensino para a reprodução das condições de expansão do capital e uma pedagogia para ensinar o conteúdo técnico do trabalho. A melhoria da qualidade da educação profissional pressupõe uma educação básica de qualidade, sendo condição essencial para um mundo do trabalho pautado pela competição, inovação tecnológica, exigência de qualidade, produtividade e conhecimento. Na nova LDB a educação profissional além de uma articulação importante com a educação básica passa a ter um projeto pedagógico atual e moderno, no que se refere ao desenvolvimento social e econômico do país. É importante discutir que apesar da educação profissional possuir instrumentos que favoreçam uma formação para o modelo de produção capitalista, os referenciais partem do pressuposto que a compreensão do que é ensinado e aprendido não pode apenas ser uma mera instrumentalização e sim, elemento de interpretação e transformação da realidade do indivíduo. Os conteúdos, portanto, precisam se tornar elementos de troca no processo de aprendizagem, articulados, sem fragmentação, integrados, atualizados e que reflitam as transformações econômicas, sociais e políticas que envolvem o mundo do trabalho e o campo da ciência. Conclusões Durante esta pesquisa foram coletados dados sobre a relação existente entre professores do SENAC, referenciais curriculares e projeto político pedagógico. O distanciamento que os profissionais sentem em relação ao perfil e à missão da instituição se justifica, a partir dos dados coletados que a maioria dos professores que atua no SENAC não possui nenhuma formação na área da educação e pelo relacionamento de trabalho restrito, sem vínculo empregatício, muitos usam deste espaço como um trabalho temporário. Quando questionamos sobre o projeto político pedagógico, ficou claro que a procura por este documento não acontece. A maioria relatou que é algo novo e que em nenhuma outra instituição que trabalharam precisou-se estudar o Projeto Político Pedagógico para dar aula. Alguns mencionaram que para que isso acontecesse seria importante que os professores se sentissem parte da instituição e que houvesse um programa de formação que contemplasse isso, por exemplo. Portanto, este diagnóstico revela que a aproximação dos educadores com a proposta pedagógica do SENAC só poderá acontecer a partir de uma mudança entre os pressupostos educacionais que orientam a filosofia da instituição e a prática pedagógica dos profissionais. Parece contraditória a dinâmica social e educacional atual, principalmente com o que foi relatado durante as entrevistas porque a sociedade ao impor o desenvolvimento econômico de um lado, de outro, possibilita a degradação da experiência e da subjetividade dos sujeitos, professores e alunos. Isto tudo deve ser esclarecido não a partir da ciência ou da técnica em si, mas à lógica social que a cria. É característica própria do capitalismo discutir que o desenvolvimento técnico-científico e sua instrumentalização promovam a divisão entre o trabalho manual e intelectual e que neste rompimento está a destruição da condição humana, subjetiva e autônoma. Agradecimentos Agradeço ao Programa PIBIC/CNPq, à Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO pela concessão da bolsa de pesquisa e ao meu orientador, Prof. Dr. Paulo Guilhermeti pela sua dedicação e amizade neste um ano de pesquisa. Bibliografia ADORNO, Theodor W. Educação e emancipação. Tradução de Wolfgang Leo Maar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. ADORNO, T. Teoria da Semicultura. Educação e Sociedade. Revista Quadrimestral de Ciência da Educação, ano 17, n. 56. Campinas: Ed. Papirus, 1996. Tradução Newton Ramos de Oliveira. BRASIL. MEC. Educação profissional: referenciais curriculares nacionais da educação profissional de nível técnico, Brasília: MEC, 2000. BRASIL. MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n. 9394, de 20 de dezembro de 1996. Belo horizonte: UFMG, 1997. FREITAG, Bárbara. A teoria crítica: ontem e hoje. São Paulo: Brasiliense, 2004. FREITAG, Bárbara. Política educacional e indústria cultural. São Paulo: Cortez, 1987. FRIGOTTO, Gaudêncio. 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