UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA Disciplina: FLG 435 Trabalho de Campo em Geografia Professor: Dr. Ariovaldo U. de Oliveira Aluna: Janaina Yamamoto Santos Período: Diurno Fichamento - O Geógrafo e a Pesquisa de Campo Bernard Kayser in Seleção de textos AGB - Revista 11 - Teoria e Método O trabalho de Kayser remete-se à reflexão do método de investigação utilizado na Geografia. Com a frase de MAO TSÉ-TUNG, ele visa discutir o materialismo dialético. Kayser prioriza o trabalho de campo como fundamental no método de investigação. Também reflete sobre o estatuto político do pesquisador e da pesquisa; sobre a responsabilidade do pesquisador. Percebe que o mesmo deve aderir à realidade que pretende estudar, pois somente assim poderá compreendê-la, estando dentro do fenômeno que pretende estudar. Porém percebe que a pesquisa muitas vezes vezes é feita por ela mesma, promovendo destaques acadêmicos de um indivíduo e ou de um grupo e muitas vezes não tem nenhuma aplicação. Consegue definir uma tipologia das pesquisas de campo: * Levantamentos estatísticos convencionais; * Levantamentos mecânicos; * Levantamentos comerciais; * Levantamentos de justificação; * Levantamentos de preparação; * levantamentos setoriais ou temáticos; * Levantamento social - A ser trabalho no texto. Questiona-se se existe realmente uma pesquisa geográfica de campo específica. Na verdade o objetivo do geógrafo é mais amplo do que os pré-determinados, pois trata-se de descobrir dento de sua complexidade e globalidade, a realidade de um subsistema social localizado, ou seja de um verdadeiro levantamento do terreno, penetrando nas forças e nas relações de produção, explorando os níveis ideológicos, político e cultural da dinâmica social. Kayser propõe que seja feita uma pesquisa que se consiga tecer conclusões gerais, que se amarre com um “todo”, que faça sentido um contexto mais amplo, é o que denomina de “análise de situação”. Ir ao fundo das coisas e compreender o que se passa na base, ou seja através da pesquisa de campo podemos ter contato com a base, tecer análises das classes, conhecendo a situação das mesmas. Porém, surge a dúvida de como realizar uma pesquisa que dê conta de realizar uma boa análise de situação; a pesquisa de campo é um meio e não um objetivo em si mesmo. É a pesquisa indispensável à análise da situação social. Trata-se, repetimos, de situação social e não de situação espacial.. O espaço não pode ser estudado pelos geógrafos como uma categoria independente de vez que ele é nada mais que um dos elementos do sistema social. A situação social é o produto da história ou seja há todo um processo por detrás. A análise de situação deve levar tudo em conta, ou seja é a análise de sistema. É preciso, pois, o apreender em termos sistêmicos, recusando o inventário dos determinantes - o trabalho geográfico comum - e o estudo cartesiano das estruturas para ir direto ao funcionamento, aos processos. Ressalta a importância de construirmos uma análise crítica e política do objeto a ser estudado; é claro que a fundamentação teórica é importante, no entanto ela tem que ser apreendida e não imposta, somente assim conseguiremos analisar uma situação. Também é importante que façamos parte de uma equipe que divida idéias e a partir das quais possamos levantar hipóteses. A hipótese de trabalho é uma das primeiras armas a se usar no preparo da pesquisa de campo. A repercussão dessas hipóteses sobre a realidade modelará dialeticamente a análise. A dinâmica social é revelada pelos conflitos. A identificação dos problemas e dos conflitos que agitam a sociedade estudada é o primeiro trabalho de quem realiza a pesquisa, é graças a ele que poderá orientar seu estudo, começar a compreender e realizar trabalhos úteis. Para fazer essa identificação devemos falar com as pessoas, tendo contato de maneira lenta, sendo absorvido gradualmente pela realidade que o cerca, que compreenda a história, articulando a memória coletiva e individual. Mais tarde trabalharemos esses dados, utilizando as técnicas necessárias, não confundindo os meios e os fins do trabalho. Ao realizar o trabalho de campo devemos nos atentar para o que acontece no cotidiano, pois a análise social só pode ser feita a partir daquilo que faz parte da vida das pessoas, do que condiciona a existência atual e seu futuro, do que o passado fez deles. Daí a importância dos níveis culturais e político. O pesquisador deve se prevenir com o que é estranho, particular. As preocupações de análise devem partir das preocupações das pessoas, tentar prender-se ao estudo de seus problemas, observar os conflitos nos quais eles estão implicados, identificar os laços que os ligam e os fluxos existentes que integram seu subsistema social geral, o realizador do trabalho escolhe o seu campo. Nessa cena social, existem diversa categorias de atores. Temos que saber identificálas de modo a perceber os conflitos existentes; esta é uma etapa difícil de ser realizada, pois acaba por penetrar na subjetividade das coisas. Saber articular o local com o global é a maior dificuldade estratégica da análise. Somente o estudo da inserção do subsistema local no meta sistema, pode dar um sentido à análise local, logo, à pesquisa de campo. Para refletir: o trabalho de campo “ serve” a uma classe burguesa, pois queira ou não uma classe limitada terá acesso às pesquisas realizadas. Tudo isso é permeado por questões políticas que dificultam a aplicação de um trabalho de campo com fins mais sociais e democráticos e por isso revolucionários.