Arquivos de Texto - PIB Curitiba – Intranet

Propaganda
1
APOCALIPSE 1.12-18
O Cristo Glorificado
Jaziel Guerreiro Martins
Sermão de domingo à noite 01.04.01
O livro de Apocalipse é endereçado à igreja perseguida da Ásia Menor,
onde vários cristãos estavam sendo perseguidos, mortos, alguns crucificados e
tantos outros degolados. Apocalipse quer dizer revelação, desvendamento,
descortinar; o objetivo do autor do livro não é ocultar, mas revelar uma
mensagem que somente os iniciados no cristianismo pudessem entender. A
literatura apocalíptica, comum e predominante no judaísmo, era uma forma de
escrita obscura para os infiéis, mas plenamente compreensível para os que
tinham raízes judaicas. A literatura apocalíptica é escrita através de um
elaborado sistema de símbolos secretos e de figuras de linguagem que
representam verdades espirituais. Por isso temos no Apocalipse as bestas, as
taças, as trombetas, os selos e assim por diante, cada figura e cada coisa
simbolizando uma verdade espiritual.
O livro foi escrito provavelmente nos anos 90 da era cristã. O imperador
Domiciano, que reinou entre 81 a 96, ferozmente perseguia a Igreja de Cristo
na Ásia Menor. O autor, portanto, é solicitado a enviar sete cartas, uma para
cada igreja daquela região, onde algum título sublime do Senhor Jesus Cristo,
dotado de significado particular, com elementos instrutivos, sempre aparece
na introdução da carta a cada uma das igrejas.
A apresentação particular que Cristo faz de si mesmo a cada uma dessas
igrejas é apenas uma pequena parcela de toda a visão que o autor do livro teve
do Cristo glorificado. Quando os cristãos estavam morrendo, sufocados pelo
Império, eis que o Cristo glorificado aparece, revelando que, embora tendo
sido morto, ele está vivo pelos séculos dos séculos. Nessa visão do Cristo
glorificado os cristãos podiam aprender que, embora o poder de Roma fosse
satanicamente poderoso, o poder de Jesus Cristo é superior, é total e ele tem o
controle em suas mãos, não somente do destino dos salvos que nele confiam,
mas também de toda história.
Nada poderia ter servido melhor para despertar as esperanças dos
amargurados cristãos do que esta visão do Cristo Exaltado e Triunfante. Os
cristãos da Ásia Menor poderiam estar se sentindo abandonados, à mercê do
tirano de Roma, mas eis que o Cristo ressurrecto surge para mostrar que ele, a
Rocha dos Séculos, tem a vitória em suas mãos e todos aqueles que são dele
são mais do que vitoriosos, enquanto os inimigos da cruz terão seu triste fim, à
parte de Deus.
Quando João se voltou para ver quem falava com ele, viu em primeiro
lugar os candeeiros de ouro. No santo lugar do templo dos judeus havia um
2
único candelabro, com sete lâmpadas. Também na visão de Zacarias um
candelabro com sete braços recebeu destaque. Na visão de João os candeeiros
representam a Igreja, que agora é a luz do mundo. Mas João vê sete candeeiros
separados, representando as sete igrejas. Em o Novo Testamento a Igreja não
é, como era Israel no Antigo Testamento, um povo unido externamente. Do
ponto de vista do Novo Testamento cada igreja local deve ser encarada como
a igreja universal em toda a sua plenitude. A função da Igreja, é portanto, dar
luz ao mundo, e se uma lâmpada deixasse de proporcionar luz ela era afastada.
Cada igreja local é reputada responsável pelo uso da luz de Deus, afim de
iluminar a comunidade onde se encontra. Isso significa que cada igreja precisa
cumprir com sua parte, com sua missão, nunca esquecendo seu propósito, seu
objetivo, caso contrário, será afastada do candeeiro.
Embora cada candeeiro se destaque, eles compõem uma unidade. São
uma entidade com uma manifestação plural, são a pluralidade na unidade. Os
candeeiros são sete em número, número perfeito e sagrado na literatura
apocalíptica, número que fala da participação da Igreja nas perfeições divinas,
além de representarem a Igreja de toda a Terra. Precsamos compreender que
embora sejamos várias igrejas, de várias convenções e denominações
diferentes, somos uma única Igreja de Jesus Cristo, devemos ser uma unidade,
pois todos os candeeiros estão unidos a Cristo e dele recebem luz, vida e
plenitude.
Os candeeiros são feitos de ouro, indicando preciosidade. Pertencem a
Deus. São os guardiães de sua bondade e poder. No oriente antigo ao ouro se
vinculava certo censo de caráter sagrado e até mesmo de divindade. O ouro é
um metal que fala de: grande valor, duração, incorruptibilidade e força.
Quando os magos foram ofertar presentes a Jesus, a primeira coisa que
ofertaram foi ouro. É disso que consiste o evangelho de Cristo: transforma os
homens, as mulheres, em ouro. Transforma prostituas em santas, ladrões e
assassinos em novos seres, em novas criações. Transforma a mim e a você em
Filhos de Deus, totalmente rejuvenescidos pela sua Graça.
E no meio dos candeeiros está Jesus Cristo. Este fato de estar no meio
significa não apenas presença, mas sua permanente proteção e orientação. Os
cristãos não estavam abandonados, não eram pó, não eram areia, eram rochas
vivas na presença de Deus, pois Jesus está presente, vivo com eles. A Igreja
não está abandonada, não está sozinha, Cristo está entre nós, com seu poder,
nos protegendo e nos guiando.
Ele é chamado de filho do homem, designação esta retirada do livro de
Daniel capítulo 7.13, que é um símbolo messiânico. Essa expressão Filho do
homem é amplamente usada no primeiro livro de Enoc, um livro apocalíptico
da literatura dos judeus, livro que aponta esse termo para o Messias e o faz
uma figura transcendental. Esse termo, nos evangelhos, além de falar de sua
3
humanidade, além de enfatizar a sua íntima associação com os homens,
também alude à sua missão celestial. Esse verso de Apocalipse juntamente
com Mateus 26.24, usam esse titulo para referir-se à sua missão celestial, ou
seja, o Messias vitorioso. Em João 5.27 o Filho do Homem é que executará o
julgamento. Aqui o filho do Homem, não é apenas filho do homem, mas de
acordo com as descrições que se seguem nos versículos posteriores, ele é o
Filho de Deus, o eterno, o imutável, o infinito, o Verbo que é gerado
eternamente do Pai, é o amado do Pai, o nosso Senhor, nosso Salvador, nosso
guia, nosso orientador, nossa rocha, nossa fortaleza, nossa segurança, nosso
piloto, nosso comandante, aquele em quem achamos a paz e a bonança, aquele
de quem dependemos em tudo para a nossa própria vida.
Esse filho do homem é descrito como alguém que usa vestes talares, ou
seja, suas vestes eram longas e flutuantes, estendendo-se até os pés. Tais
vestes eram usadas pelos reis e pelos sacerdotes. Por um lado então, eram
vestes reais. O Cristo é o Senhor e o Deus dos homens. Por outro lado, essas
vestes nos fazem lembrar as vestes do Sumo Sacerdote. Cristo é o nosso Sumo
Sacerdote. Ele é o sacerdote Régio, segundo a ordem de Melquisedeque, o
qual era tanto rei quanto sacerdote. As vestes longas, além dos reis ou
sacerdotes, eram também usadas por homens de autoridade e de grande
posição. As vestes longas, portanto, no antigo oriente, eram sinais de
dignidade pessoal e de honra.
Esse filho do homem, é cingido à altura do peito com um cinto de ouro.
Flavio Josefo, grande historiador do inicio da era cristã, afirma que o cinto
normalmente era usado na altura da cintura, mas os sacerdotes levitas o
usavam na altura do peito, conforme se vê neste versículo. O cinto é um antigo
símbolo veterotestamentário para indicar poder, dignidade, retidão e
veracidade. Isso nos mostra que o filho do homem que aparece na visão a João
é alguém cheio de poder, aquele que é totalmente digno, inteiramente reto e
verdadeiro. Os cintos dos sumo sacerdotes eram apenas bordados de ouro, não
eram feitos de ouro sólido. Mas esse cinto de Cristo é puro ouro, não apenas
trançado com ouro, mostrando que o antítipo ultrapassa em termos
infinitesimais ao tipo simbólico do antigo testamento. Que figura, que visão os
cristãos primitivos recebem desse Cristo, que não é apenas mais um sacerdote,
mas é o verdadeiro sumo sacerdote. Os antigos sacerdotes passaram,
morreram e seu trabalho não tem mais aplicação. Mas o sacerdócio de Cristo,
a rocha dos séculos, é o que subsiste até agora e subsistirá para todo o sempre.
No verso 14 o autor descreve esse filho do homem como tendo a cabeça
e os cabelos brancos como a branca lã, como a neve. Essas palavras podem ser
comparadas a Daniel 7.9 onde Deus aparece trajado de branco como a neve. I
Enoc 46.1 também fala na cabeça branca de Deus como a branca lã. O que foi
dito acerca de Deus Pai, nas páginas do A. T. e nos escritos apocalípticos, o
4
apóstolo João não hesita em aplicar ao Cristo glorificado. Isso é, sem dúvida
alguma, uma clara indicação da divindade de Jesus Cristo. Ele é Deus. Sempre
foi Deus e sempre será Deus. Ele é gerado do Pai desde a eternidade. Ele é o
objeto de amor do Pai desde os tempos eternos. Como Deus é amor, e sempre
Deus amou, quando não havia criaturas para serem amadas, o Filho era o
objeto do amor do Pai. A trindade não é apenas um capricho, mas uma
necessidade da própria existência de Deus, para que Deus pudesse manifestar
o seu amor. Esse amor era manifesto ao Filho, quando não havia homens e
mundo para amar. O fato dele ser Deus é a razão principal pela qual Jesus
permanece como tendo todo o poder e autoridade no céu e na terra: Ele é o
mesmo ontem, hoje e eternamente. Ele é a origem de todas as coisas, o
princípio de toda a criação, sem ele nada do que foi feito se fez, sem ele nada
subsiste. Ele é a pedra angular que os edificadores rejeitaram, mas sem ele,
nada podemos fazer.
A cor branca mostra a dignidade da idade avançada, que requer
veneração. Representa, também, a imortalidade e a eternidade, a despeito de
avançadíssima idade, o que é perfeitamente apropriado para o ancião de dias.
E, os seus olhos são como chama de fogo. Isso simboliza a sua acurada visão,
o que significa onisciência. O trecho de Daniel 10.2 e II Enoc 1.5, é que
sugeriram essa expressão. Essa expressão é também usada nos escritos latinos
e gregos a fim de descrever o terrível e penetrante aspecto dos olhos dos
deuses e dos heróis. Sim, os olhos de Cristo são perscrutadores, penetrantes,
dotados de um aspecto temível. Seu juízo está próximo, e ninguém pode
escapar ao seu exame prescrutador. Ele está pronto para precipitar a queda de
Satanás, para destruir todos os inimigos de Deus, como por exemplo, o
imperador romano, que tanto perseguia os cristãos.
No verso 15 o Cristo é retratado como tendo os seus pés de latão
reluzente que fora refinado numa fornalha. O latão reluzente seria um bronze
de mui excelente qualidade. Esse bronze pareceria rubro, vermelho, de tão
quente. Isso é o principal elemento que o autor sagrado deseja transmitir-nos.
Quando esse metal é usado nas Escrituras, simboliza o juízo prestes a sobrevir.
Seus pés como bronze derretido indicam a ira e o julgamento contra o pecado,
devido à santidade de Deus. Os pés como latão reluzente era também símbolo
de fortaleza, pois nos dias de João o latão era conhecido com o mais resistente
dos metais. Esse elemento, sem dúvida, aponta para a fortaleza de Cristo,
rocha eterna, inabalável que hoje continua firme, ninguém pode detê-lo,
destruí-lo, nem mesmo minimizar o seu poder e o seu domínio. É por isso que
ele disse que as portas do inferno não nos deteriam, não porque somos algo ou
alguma coisa, mas porque Ele é todo-poderoso e seu poder está conosco, em
nós e com essa arma, ninguém conseguirá destruir a Igreja de Jesus Cristo.
5
A voz como de muitas águas é uma outra atribuição a Cristo daquilo
que o A. T. diz acerca de Deus Pai. Aqui é salientado o poder e a
irresistibilidade dessa voz. A imagem adotada pelo evangelista salienta aquela
mesma voz cuja palavra acalmou o mar, e que aqui se assemelha às ondas do
mar, que o apóstolo ouvira serem repreendidas por Ele. Esse é o símbolo de
sua autoridade sobre todos os povos e nações. Os homens podem achar que
Ele é insignificante, podem tornar-se seus inimigos como o fez Domiciano, o
imperador da época, podem pensar que conseguem mudar e dirigir o curso da
história, mas quem realmente tem o dominio sobre a humanidade, sobre os
povos, sobre os governos é Ele. Sua voz poderosa em um segundo pode
destruir reinos, como pode levantar um povo, um reino, ou uma nação para
concretizar os seus desígnios. Aleleuia!!! Ele é o divino trazido ao nível
humano, feito homem, sujeito ao pecado, a fim de transformar a natureza
humana, pecadora, decaída, participante da natureza divina. Sua voz traz uma
estupenda mensagem aos homens, que pode envolver julgamento por um lado,
e glória do outro. Quem não ouvir a voz desse Cristo, a voz daquele que é a
Rocha dos Séculos, perderá a grande oportunidade de ouvir a voz de glória,
ficando assim desprezado, condenado a ouvir a voz de juízo, que sem dúvida,
um dia virá sobre toda a terra.
Ele tem na sua mão direita sete estrelas, que são os sete anjos das
igrejas, de acordo com o verso 20. Estando as sete estrelas em sua mão direita,
significa que estão completamente sujeitas a Cristo, para serem usadas em Seu
trabalho. Estão em sua mão e não em seus dedos, como se fossem anéis de
adorno. Esse simbolismo todo vem do judaísmo helênico que apreciava os
mitos astrológicos. A alusão aqui é às principais estrelas que fazem parte da
constelação de Ursa, ou de acordo com alguns comentaristas a alusão seria aos
corpos celestes conhecidos no passado como os sete planetas. O trecho de
Colossenses capítulo 2, afirma que os colossenses vinham adorando os
espíritos astrais do universo, personificando-os como anjos. Paulo corrigiu tal
erro dizendo que Cristo, o primogênito de toda a criação, criara todas as
coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sendo ele próprio, o
controlador desses espíritos astrais do universo.
Dentro do judaismo também se acreditava que cada sinagoga tinha um
ser angelical que a protegia e era uma espécie de intermediário entre Deus e
seus adoradores. O ensino aqui é que há grandes poderes espirituais que
exercem controle sobre a igreja, de tal modo que nunca estamos sozinhos.
Contamos com a assistência de elevados poderes espirituais. Isso não
transforma de forma alguma esses anjos em mediadores, no sentido em que
sejam mediadores de salvação. Jesus Cristo é o único mediador nessa
categoria. Mas isso significa que nossa atuação é ajudada pelo ministério dos
anjos, recebendo nós a sua proteção. Cristo é o Senhor tanto dos anjos quanto
6
nosso; eles o servem e nós também. Estamos todos guardados e dirigidos pelo
mesmo Senhor. Eles glorificam a Cristo e são mediadores de certas bênçãos
espirituais e em alguns casos, até de alguns dons espirituais. Alguns pensam
que os anjos das igrejas seriam seus pastores ou bispos, mas essa interpretação
surgiu bem mais tarde para apoiar o episcopado monástico e essa idéia é
completamente alheia à literatura da época, ao pano de fundo do judaísmo e à
estrutura da igreja do final do primeiro século. A lição que fica é que Cristo
está no controle, segurando firmemente as estrelas em sua mão. Elas
pertencem a ele e operam de acordo com seu propósito e vontade.
O verso continua a dizer que de sua boca saía uma espada afiada de dois
gumes. Aqui está em foco o poder de Cristo como Juiz, pois seu segundo
advento trará o juízo da espada que procede de sua boca. No livro de Isaías, o
Messias fere a terra com a vara de sua boca; em 2 Esdras o Messias destrói
seus adversários com a lava ardente de sua boca, com o hálito inflamado de
seus lábios, com a tempestade de fagulhas que procede de sua boca. Em 1
Enoc o Messias abaterá todos os pecadores com a palavra de sua boca. Sim,
Cristo tem toda autoridade judicial. A espada é, especificamente, a palavra de
Deus, ou a espada do Espírito, nas mãos de Jesus Cristo. E sua espada tem
dois fios, o que significa que ele brande poder especial para cumprir o
julgamento; trata-se de terrível arma. Não haverá como escapar ao juízo de
Cristo, porquanto será perfeitamente exato.
O texto também afirma que o seu rosto era como o sol na sua força. O
rosto dos justos resplandecerá como o sol, o que também sucede no caso dos
anjos. Quanto mais não brilhará o rosto do Filho de Deus?! Sua glória é
deslumbrante. Ele é o resplendor da glória de Deus Pai, o que aponta para sua
divindade autêntica. Em seu rosto ele estampa a glória de Deus, o halo da
santidade e o brilho da justiça. Essa figura mostra que seu poder desconhece
limites, sua glória e majestade não tem igual, ele ilumina os homens, é o Sol
da justiça e o resplendor da justiça divina. Sua transfiguração tornou-o um ser
esplendoroso e brilhante por algum tempo. A sua glorificação, entretanto,
tornou permanente essa transfiguração. Hoje ele está transformando os
homens, para que os remidos venham a compartilhar em termos finitos de sua
natureza e glória. Hoje reluzimos em parte essa glória, mas no mundo eterno,
refletiremos plenamente a glória dele.
Quando João o viu, caiu aos seus pés como morto. A glória do Cristo,
vista pelo homem, reduz o indivíduo a nada, dentro de si mesmo; ao mesmo
tempo, leva essa pessoa aos pés de Cristo, onde pode ser obtida grandeza
autêntica. É aos pés de Cristo, onde o eu e a carnalidade cessam, é aos pés de
Cristo que a verdadeira glória começa. A experiência de João começou com
uma avassaladora sensação de temor, mas que levou sua alma ao êxtase, pois
ao temor humano seguiu-se o fortalecimento conferido pelo ser celeste.
7
Primeiramente o tememos, para que possamos adorá-lo. A mesma mão que
segurava as 7 estrelas é que agora consola e soergue o apóstolo. Ao receber as
palavras de Cristo o apóstolo aprendeu que a visão do ser sublime visava
inspirar e não assustar; era para confirmar e não esmagar. Jesus agora se
apresenta como sendo o primeiro e o último, querendo dizer com isso que ele
é a fonte de toda vida e bem estar. É, por igual modo, o alvo de toda
existência, em quem, finalmente, nossa alma sofrida alcançará todo o bemestar.
Todas as coisas, que no grego é o todo, nos céus, na terra e debaixo da
terra eventualmente haverão de encontrar-se com Ele. Tudo haverá de ser
restaurado a Ele, em um grau que esteja de acordo com o seu agrado. Nas
palavras de Ricardo de São Vitor, “Eu sou o primeiro e o último. Primeiro por
geração, último por retribuição. Primeiro, porque antes de mim nenhum Deus
se formara; último, porque depois de mim não haverá outro. Primeiro, porque
todas as coisas procedem de mim; último, porque todas as coisas são para
mim; de mim procede o começo, até mim chega o fim. Primeiro, porque sou a
causa da origem; último, porque sou o Juiz e o supremo fim de tudo”.
O verso 18 alude a grande vitória de Cristo que foi sua ressurreição. A
primeira assertiva “o que vivo” refere-se a Cristo como o princípio mesmo da
vida, desde toda a eternidade passada. Já que nele habita o princípio da vida, e
ele é a fonte da mesma, mui naturalmente a morte não pôde retê-lo, e a sua
vida floresceu na ressurreição e na ascensão. Cristo é o vivo, e na qualidade de
quem está vivo, ele é também o doador da vida. Por isso é que ele garante, que
nós finalmente viveremos com ele, a despeito do que os homens possam fazer
conosco. Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente porque ele está
vivo pelos séculos dos séculos. Essa é uma fórmula comum para expressar a
idéia de eternidade.
E ele tem a chave da morte e do hades. Ter as chaves indica o controle
sobre algo, a fim de abri-lo ou fechá-lo. Chave é o sinal de autoridade, do
poder de uso, de instrumento de controle. Ter a chave da morte significa que
ele tem poder e autoridade para infringir a morte espiritual, bem como o poder
de livrar dela. A morte transforma tudo, mas Cristo veio alterar o conceito
inteiro da morte; ela resulta, finalmente, em vida, devido ao poder remidor de
Jesus. A morte física separa a alma do corpo; a morte espiritual separa o
espírito humano de Deus. Mas Cristo transformou a morte em portal da vida
eterna. Quando se diz que Cristo tem a chave do Hades inclui-se a idéia de que
Cristo é poderoso para livras as almas da prisão do hades, bem como é
poderoso para conferir aos remidos corpos ressurretos.
As chaves que representam o poder sobre a morte e o hades, de acordo
com o targum de Jeremias, pertence só a Deus. Elias teria solicitado essas
chaves, de acordo com o Sanhedrin, comentário dos rabinos do antigo
8
testamento, mas foi informado que existem três chaves que Deus nunca
entrega a ninguém: a chave do nascimento, a chave da chuva e a chave da
ressurreição dos mortos. A Midrash Tehillin, outro comentário dos judeus,
mostra que o Messias possuiria as chaves da morte e do Hades e portanto,
possuiria o poder de ressuscitar mortos. Daí a razão pela qual Jesus ressucitou
pessoas: para provar que Ele é o Messias.
Há um provérbio rabínico que diz que existem quatro chaves aninhadas
na mão de Deus, que ele não outorga nem a anjo nem a serafim: a chave da
chuva, a chave do alimento, a chave da mulher estéril e a chave da morte e do
hades. Portanto, Cristo, por ser o portador das chaves da morte e do hades,
possui toda a autoridade final. Essa autoridade reside nele e só nele. Ele usará
as chaves para nosso benefício, e nunca para nosso dano. O dano que
possamos sofrer da parte dos homens, quando muito, é temporário. Deus
finalmente triunfará. Esse trecho mostra claramente que a morte e o Hades não
exercem qualquer poder sobre Jesus, porquanto ele ressuscitou em poder e
glória, não tendo sido retido nem pelo Hades nem pela morte, embora
temporariamente, tenha experimentado ambas as situações. Ele possui as
chaves; ele as usou a seu próprio favor, e também a usará em nosso favor. Ele
obteve a vitória, mas não apenas para si mesmo. A sua missão é a de redenção
humana; por isso é que ele conquistou potencialmente a vitória, em favor de
todos os homens. Para os que se rebelarem, as chaves abrirão para eles a morte
e o hades, tendo eles de sofrer as terríveis conseqüências de sua rebelião. Mas
para aqueles que confiarem em Jesus, o Cristo glorificado que apareceu para
João, estes verão o Todo-poderoso livrá-los de tão temível perigo.
Prezados irmãos e irmãs em Cristo: se olhássemos para essa descrição
do Cristo glorificado em termos literais, teríamos a formação de um quadro
grotesco, mas interpretadas simbolicamente elas expressam uma verdade
sublime. Verdade insofismável que foi verdade não apenas para as igrejas da
Ásia, mas para nosso tempo e para as futuras gerações. A mensagem que fica
para nós nesta noite é: a Rocha dos Séculos, o Cristo redivivo, santo,
majestoso, onisciente, cheio de autoridade e poder, continua de pé no meio das
igrejas, tem a sorte delas em suas mãos e diz: Não temais, meu povo, eu morri
mas venci a morte e estou vivo para sempre. E mais do que isto: tenho em
minhas mãos as chaves da morte e do túmulo. Não deveis temer ir para o lugar
de onde eu tenho a chave. Podereis ser perseguidos, injuriados, maltratados até
a morte, mas eu sou ainda o vosso Rei e vos darei a vitória. Eu sou a Rocha
dos Séculos e quem confiar em mim jamais será confundido. Quem tem a
mim, tem tudo, quem não tem a mim, não tem nada!
Download