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O elogio das crises de fé (1/5)
«Mais do que uma palavra, “crise” é uma árvore de ramos incessantes». «A crise é
uma espécie de assinatura humana.» «A crise é essencial para podermos crescer.»
«Não há vida», «maturação pessoal», «crescimento espiritual» nem «consciência de
si» que «não suponha a experiência» da crise.
«Não faz sentido alimentarmos uma visão puramente negativa da crise». O que nos é
pedido, «antes de tudo, é que escutemos a sua voz», tornando-a um «lugar de
aprendizagem». «A crise aparece como um apelo e uma mensagem que é preciso
decifrar».
«O verdadeiro problema que a crise coloca é como geri-la, que uso fazer dela.» A vida
é o perde-ganha. E nesta perde inscreve-se a possibilidade surpreendente» por onde
o «imprevisto de Deus pode entrar».
O elogio das crises de fé (2/5)
«Temos, culturalmente, pouca disponibilidade para escutar a crise» e perceber que ela
«pode ser um austero mestre» que «aparece para evitar o pior», ou seja, «o
desencontro com a nossa verdade.»
A crise, seja ela de fé, económica ou de qualquer outro tipo, pode ser entendida como
«momento privilegiado de auscultação». Para isso é preciso olhar para ela «como um
caminho, e não como o fim da estrada».
Por vezes a crise convoca-nos a uma leitura «impiedosa» e «purificatória» da
existência e dos tecidos económicos, éticos e eclesiais que tínhamos por adquiridos.
«A crise obriga-nos a repensar a nossa posição no mundo».
«Neste longo, paciente – às vezes impaciente – processo de maturação interior e
crescimento espiritual temos de aceitar o que Camilo Pessanha dizia num dos seus
sonetos: “Foi bom para nós esta demora”.»
Segunda parte da conferência “O elogio das crises de fé», proferida a 17 de dezembro
em Lisboa pelo padre José Tolentino Mendonça.
O elogio das crises de fé (3/5)
Toda a crise é constituída por três andamentos. O primeiro é a separação, por vezes
violenta e inesperada. A primeira imagem que temos da crise é a de um rasgão que
descostura a vida.
O segundo momento é o do umbral: na crise somos colocados perante o inédito. A
experiência do novo acontece de uma forma surpreendente.
A crise possibilita também a reconfiguração, uma nova compreensão, uma renovada
presença no mundo e na história. A possibilidade de renascer.
É muito fácil ficarmos no primeiro passo, pensando que a crise é simplesmente a
morte. A vida pode ser bela e feliz para além das nossas ilusões. Por isso a crise pode
ser uma alavanca para uma maturação mais funda e paciente da existência.
Terceira parte da conferência “O elogio das crises de fé», proferida a 17 de dezembro
em Lisboa pelo padre José Tolentino Mendonça.
O elogio das crises de fé (4/5)
A experiência de Deus não é necessariamente de consolação ou confirmação. A
tradição bíblica fala de uma experiência de crise e de luta.
«A fé não é a construção de uma estabilidade mas é a aceitação de um combate, que
é também uma dança com o anjo de Deus.»
A experiência de Deus é de nudez, muitas vezes mudez, de fragilidade, dúvida,
silêncio e noite; é uma experiência de não saber, não ver, não conhecer, não ter, não
poder... É um não repetido que paradoxalmente acaba por se tornar lugar de encontro.
«O crente é aquele que se deixa colocar em crise.» As narrativas bíblicas do Natal são
a «invasão da crise», desde a anunciação a Maria ao anúncio aos pastores.
«Bendita noite, bendito silêncio de Deus, bendito caminho austero que a fé nos leva a
fazer.»
«O que nos é oferecido é o caminho, a viagem, o bordão e as sandálias de peregrino.»
O elogio das crises de fé (5/5)
«Não há teologia de fé que não seja teologia de crise. A fé é para nos colocar em crise,
isto é, em estado de abertura, renascimento e reconfiguração.»
A figura de Pedro é trabalha desde o início a partir do motivo da crise. Pedro olha para
a crise como um obstáculo; Jesus olha para a crise como uma oportunidade.
«Aprender a não temer e a sentir a crise como o momento do chamamento, da
vocação, do seguimento e da descoberta mais funda.»
«Também para nós a crise, “esse misterioso país das lágrimas”, não é um
impedimento. Não só as crises de fé que nos impedem de acreditar. É nosso o
conformismo, o acharmos que está tudo feito e resolvido.»
«A crise de fé é o momento privilegiado que o Espírito Santo nos dá para
mergulharmos mais profundamente na nossa existência, no nosso coração.»
Quinta e última parte da conferência “O elogio das crises de fé», proferida a 17 de
dezembro em Lisboa pelo padre José Tolentino Mendonça.
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