1 Avaliação do nível de estresse de Doentes Renais Crônicos em tratamento hemodialítico Assessment of Chronic Kidney Patients stress in hemodialysis Evaluación de estrés de los pacientes renales crónicos en hemodiálisis Eliane Santos Cavalcante. Enfermeira. Doutoranda em enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. Professora da Escola de Enfermagem de Natal/UFRN. Natal (RN), Brasil. E-mail: [email protected] Richardson Augusto Rosendo da Silva. Enfermeiro. Professor Doutor do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. Natal (RN), Brasil. E-mail: [email protected] Ana Elza Oliveira de Mendonça. Enfermeira. Doutoranda em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. Professora Mestre da Graduação em Enfermagem da Universidade Faculdade de Ciências, Cultura e Extensão do RN (UNIFACEX). Natal (RN), Brasil. E-mail: [email protected] Mayara Mirna do Nascimento Costa. Acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. Natal (RN), Brasil. E-mail: [email protected] Francisco Arnoldo Nunes de Miranda. Enfermeiro. Professor Doutor do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. Natal (RN), Brasil. E-mail: [email protected] Autor responsável pela troca de correspondência Richardson Augusto Rosendo da Silva. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Campus Central. Departamento de Enfermagem. Lagoa Nova, S/N, Natal/RN, CEP: 59078970, Telefone: (84) 3215-3615. RESUMO Objetivo: avaliar os níveis de estresse apresentado por pacientes renais crônicos submetidos a tratamento hemodialítico em uma Clínica de Hemodiálise em Natal/RN. Método: estudo descritivo, exploratório, com abordagem quantitativa com uma amostra de 2 104 pacientes no período de agosto a outubro de 2010. Aplicou-se o Inventário de Sintomas de Estresse para Adultos de Lipp (2000) para verifica a presença ou não de sintomas de stress. Utilizou-se como critérios de inclusão: pacientes atendidos no setor de hemodiálise no período no período de agosto a outubro de 2010, de ambos os sexos, maiores de dezoito anos de idade e que aceitaram participar da pesquisa como voluntários por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A pesquisa teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisas sob o n° do CAAE - 0066.0.051.294-09. Os dados foram analisados por meio da estatística descritiva. Resultados: a análise dos dados obtidos do Inventário de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) mostrou que 75% da amostra apresentaram estresse e 25% não indicaram sintomas estressantes significativos. Dos pacientes que apresentavam estresse, 56,4% encontravam-se na fase de quase-exaustão, 20,5 % com sintomas de Exaustão, 14,1% na fase a de resistência e 9,0 % na fase de alerta. Conclusão: diante do exposto o cuidado do enfermeiro ao paciente com Insuficiência Renal Crônica deve ser direcionado no sentido de evitar as complicações decorrentes da redução da função renal e auxiliar no enfrentamento do estresse e ansiedade de lidar com uma doença com risco de morte. Descritores: unidades hospitalares de hemodiálise; estresse psicológico; cuidados de enfermagem; qualidade da assistência à saúde. ABSTRACT Objective: To assess levels of stress presented by chronic renal failure patients undergoing hemodialysis in a Hemodialysis Clinic in Natal / RN. Method: A descriptive, exploratory study with a quantitative approach with a sample of 104 patients from August to October 2010. We used the Inventory of Stress Symptoms by Lipp (2000) to verify the presence or absence of symptoms of stress. We used the following inclusion criteria: patients treated at the hemodialysis in the period from August to October 2010, of both sexes, over eighteen years of age and who agreed to participate as volunteers by signing the of Consent. The research was approved by the Research Ethics Committee under No. of CAAE 0066.0.051.294-09. Data were analyzed using descriptive statistics. Results: The analysis of data obtained from the Survey of Stress by Lipp (ISSL) showed that 75% had stress and 25% indicated no significant stressful symptoms. Of the patients who had stress, 56.4% were in the near-exhaustion, 20.5% with symptoms of exhaustion, 14.1% in the endurance phase and 9.0% in the alert phase. Conclusion: the exposed face of nursing care to patients with 3 chronic renal failure should be directed to avoid the complications of decreased kidney function and help in coping with stress and anxiety of dealing with a life-threatening disease. Descriptors: hemodialysis units, hospital; stress, psychological; nursing care; quality of health care. RESUMEN Objetivo: Evaluar los niveles de estrés presentados por pacientes con insuficiencia renal crónica sometidos a hemodiálisis en una clínica de hemodiálisis en Natal / RN. Método: Estudio descriptivo, exploratorio, con abordaje cuantitativo con una muestra de 104 pacientes entre agosto y octubre de 2010. Se utilizó el Inventario de Síntomas de Estrés por Lipp (2000) para verificar la presencia o ausencia de síntomas de estrés. Se utilizaron los siguientes criterios de inclusión: pacientes atendidos en la hemodiálisis en el período de agosto a octubre de 2010, de ambos sexos, mayores de dieciocho años de edad y que aceptaron participar como voluntarios con la firma del de Consentimiento. La investigación fue aprobada por el Comité de Ética de Investigación en virtud del número de CAAE 0066.0.051.294-09. Los datos fueron analizados utilizando estadística descriptiva. Resultados: El análisis de los datos obtenidos de la Encuesta de Estrés por Lipp (ISSL) mostró que el 75% tenía estrés y el 25% indicó no presentan síntomas de estrés significativo. De los pacientes con estrés, el 56,4% estaban en el cercano agotamiento, el 20,5% con síntomas de agotamiento, el 14,1% en la fase de resistencia y un 9,0% en la fase de alerta. Conclusión: la cara expuesta de la atención de enfermería a pacientes con insuficiencia renal crónica deben ser dirigidas a evitar las complicaciones de la función renal disminuida y ayuda para lidiar con el estrés y la ansiedad de tratar con una enfermedad potencialmente mortal. Descriptores: unidades de hemodiálisis en hospital; estrés psicológico; atención de enfermería; calidad de la atención de salud. INTRODUÇÃO A doença renal crônica (DRC) constitui, atualmente, um importante problema de saúde pública no Brasil. Estudo recente demonstrou que a prevalência de pacientes mantidos em programas assistenciais destinados ao controle e tratamento de IRC dobrou nos últimos anos.1 Nesse sentido, entre 2000 e 2006, o crescimento do número de pacientes em diálise foi cerca de 9%, sendo o sistema único de Saúde 4 (SUS) responsável por 89% do financiamento desse tratamento.2 Estima-se que cerca de dois milhões de brasileiros sofram de doenças renais sem ter conhecimento de sua condição, fato este atribuído, em parte, a sua evolução silenciosa e assintomática até que os rins percam aproximadamente 50% de sua capacidade funcional.2 Sabe-se que a depuração ou filtração do sangue no paciente renal pode ser obtida por meio das terapias renais substitutivas, como hemodiálise e diálise peritoneal ou por um transplante renal. 3 Rotineiramente, os pacientes em tratamento hemodialítico permanecem em média 40 horas mensais na unidade de hemodiálise, o qual enfrenta inicialmente a difícil aceitação da doença, associados aos sentimentos de tristeza, raiva, agressividade e hostilidade e posteriormente, desgaste físico e estresse emocional relacionados às limitações impostas pelas condições da cronicidade da doença e a dependência do tratamento doloroso de duração e consequências incertas.4 Assim, a condição crônica e o tratamento hemodíalitico se constituem como fontes de estresse e apresentam consequências, tais como: isolamento social, perda da capacidade laboral, dependência da Previdência Social, impossibilidade parcial de locomoção e lazer, diminuição da atividade física, necessidade de adaptação, perda da autonomia, alterações da imagem corporal e ainda, um sentimento ambíguo entre o medo de viver e morrer.5 Nesse sentido, o estresse emerge de forma processual em três etapas que se diferenciam pela sintomatologia. Na primeira, o organismo tem uma excitação de agressão ou de fuga ao estressor, que pode ser entendida como um comportamento de adaptação. Na segunda, entendida como a fase de alerta, o organismo altera seus parâmetros de normalidade e concentra a reação interna em um determinado órgão-alvo, desencadeando a Síndrome de Adaptação Local (SAL) com manifestação de sintomas da esfera psicossocial, tais como: ansiedade, medo, isolamento social, oscilação do apetite, impotência sexual.6-7 Na terceira, o indivíduo encontra-se na fase de quase-exaustão, caracterizada por um enfraquecimento da pessoa que não consegue adaptar-se ou resistir ao estressor.8 Na última ocorre a Exaustão e o organismo encontra-se extenuado pelo excesso de atividades e pelo alto consumo de energia ocorrendo a falência do órgão mobilizado no SAL, o qual se manifesta sob a forma de doenças orgânicas.6 Nesse contexto, a assistência de enfermagem no cuidado ao paciente em hemodiálise 5 requer do profissional habilidades técnicas e o desenvolvimento de competências voltadas ao atendimento integral do usuário e família, bem como sua adaptação, atentando para as transformações exigidas pelo tratamento e condição crônica. 9 Frente ao exposto e a vivência profissional dos autores nessa área, objetivou-se no presente estudo, avaliar os níveis de estresse apresentado por pacientes renais crônicos submetidos a tratamento hemodialítico em uma Clínica de Hemodiálise em Natal/RN. MÉTODO Pesquisa exploratório-descritiva, com abordagem quantitativa, a fim de responder o seguinte questionamento: Qual o nível de estresse de pacientes renais crônicos que realizam hemodiálise? Quais as causas do estresse durante o tratamento hemodialítico? A pesquisa foi realizada no Instituto do Rim em Natal/RN, clínica destinada ao tratamento de Doenças Renais e conveniada ao Sistema Único de Saúde (SUS). O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes (CEP-HUOL) sob o n° do CAAE - 0066.0.051.294-09 e protocolo 322/2009 de acordo com as diretrizes da Resolução 196/96 e complementares do Conselho Nacional de Saúde.10 Para a coleta dos dados, utilizou-se um roteiro de entrevista estruturado com questões para caracterização sócio-demográficas e relacionadas ao tratamento hemodialítico. Além disso, aplicou-se o Inventário de Sintomas de Estresse para Adultos de Lipp (2000), composto por uma lista de sintomas físicos e psicológicos agrupados em três quadros, cada quadro correspondendo a uma das fases do Estresse. Este inventário avalia a presença de stress, a fase do stress (alerta, resistência, quase-exaustão e exaustão) e o tipo de sintoma mais freqüente (físico ou psicológico).11 Utilizou-se como critérios de inclusão: pacientes atendidos no setor de hemodiálise no período no período de agosto a outubro de 2010, de ambos os sexos, maiores de dezoito anos de idade e que aceitaram participar da pesquisa como voluntários por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Da população de 109 usuários atendidos no setor de hemodiálise no período no período de agosto a outubro de 2010, cinco se recusaram a participar do estudo, sendo a amostra composta por 104 pacientes. Analisou-se os resultados por meio da estatística descritiva, sendo apresentados em tabelas com frequências e percentuais. 6 RESULTADOS A amostra foi composta por 104 pacientes em tratamento de hemodiálise, sendo 53,8% pertencente ao sexo masculino e 46,2%, ao sexo feminino. A faixa etária variou de 21 à 62 anos. Em relação à escolaridade, cerca de 60% possuíam o Ensino Fundamental incompleto, 25% o Ensino Médio completo, 10% analfabetos e 5% com Ensino Superior incompleto. O estado civil característico desta população foi de casados (52,8%), seguidos por solteiros (27,2%) e separados (20%). Quanto à ocupação, 65% dos pacientes eram aposentados, 25% trabalhavam como autônomos e 10% nunca possuíram qualquer tipo de profissão. De forma que em 35% da amostra, a renda familiar corresponde a um salário mínimo e em 65% com 2 a 3 salários mínimos. No que diz respeito ao tempo de tratamento, 4% dos pacientes iniciaram a hemodiálise a menos de um ano, 6% de 1 a 2 anos, 8% de 3 a 4 anos, 29% de 5 a 6 anos e 53% mais de 7 anos. Na análise dos dados obtidos pelo Inventário de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) a maioria dos pacientes 75% apresentaram estresse e 25% não indicaram sintomas estressantes significativos, conforme demonstra a tabela 1: Tabela 1. Distribuição dos usuários atendidos na Clínica de Hemodiálise, segundo a presença de estresse. Natal/RN, 2010. (n=104) Presença de Estresse Sim Não Total Fonte: Dados da pesquisa N % 78 26 104 75,0 25,0 100,0 Dos 78 pacientes que apresentavam estresse, 9,0 % encontravam-se na primeira fase, ou seja, a fase de Alerta; 14,1% na segunda fase, a de Resistência; 56,4% na Quase exaustão e 20,5 % já com sintomas de Exaustão. Conforme apresenta a tabela 2: Tabela 2. Distribuição dos usuários atendidos na Clínica de Hemodiálise, segundo a fase de estresse. Natal/RN, 2010. (n=104) Fases do Estresse Alerta Resistência Quase-Exaustão Exaustão TOTAL Fonte: Dados da pesquisa N % 7 11 44 16 78 9,0 14,1 56,4 20,5 100,0 7 Em relação aos fatores que dificultam o tratamento de hemodiálise identificou-se que 58% informaram ser à distância de sua residência para a clínica de hemodiálise, 32% referiu o fato de não ter entretenimento durante o período de hemodiálise, e 10% não poder conciliar a hemodiálise com o trabalho secular. No que se refere á causa do estresse durante o tratamento, 36% apontaram às quatro horas exigidas para o tratamento de hemodiálise, 24% a punção mais de uma vez para a introdução do cateter, 28% querer ir embora e não poder e 12% por não identificarem melhora no quadro da doença após a seção de hemodiálise. Quanto aos sentimentos manifestados no transcurso da hemodiálise, 38% informaram a vontade de abandonar o tratamento, 37% sentiam-se tristes por estarem submissas a um tratamento contínuo, 13% medo de morrer conectados a maquina e 12% sentiam alegria por estarem vivas. DISCUSSÃO A partir do momento que a pessoa se depara com a realidade da doença crônica, as atividades cotidianas são comprometidas e as debilidades físicas provocam mudanças significativas, levando a pessoa a tornar-se dependente do tratamento e desencadeando situações de estresse em seu cotidiano.12 Nesse sentido, o tratamento da doença renal crônica, altera a rotina diária do enfermo, pois não se restringe apenas à hemodiálise, mas inclui uma série de cuidados na alimentação e restrição de ingesta hídrica, além das repercussões psicológicas pela realização periódica das sessões de hemodiálise.13 No que diz respeito a principal consequência advinda com o tratamento hemodialítico, a maioria da amostra estudada, ressaltou o fato de está impedido de trabalhar. As mudanças nos hábitos de vida e a necessidade de deixar de fazer o que proporciona prazer pela vida são ressaltadas pelos pacientes como dificuldades decorrentes da doença. Dentre as mudanças destacam a impossibilidade de trabalhar como algo que intimida e marginaliza. Além da falta de realização pessoal, ocasionada pela privação do trabalho, as dificuldades financeiras decorrentes preocupam sobremaneira essas pessoas.12 Em relação aos fatores que dificultam o tratamento de hemodiálise identificou-se que a maioria relatou ser à distância de sua residência para a clínica de hemodiálise, isso é destacado na literatura como desencadeante de estresse, e apresentado como um fator que 8 apresenta ligação direta com a adesão ao tratamento hemodialítico e qualidade de vida do paciente.14 Os pacientes relatam dificuldades em relação à necessidade de se deslocarem para outra cidade para realizarem as sessões de hemodiálise. Se por um lado a hemodiálise lhe permite uma ilusão de independência da doença durante o tempo entre uma sessão de diálise e outra, por outro lado, no momento em que o paciente está “ligado” à máquina, as limitações da doença e sua dependência do aparelho aparecem com toda a sua intensidade.12 O tratamento interfere nas atividades de vida diária (AVD), e isso muitas vezes é um grande causador de estresses. Alguns apresentaram transtornos na AVD e outros no processo saúde/doença, sendo que de alguma forma todos os pacientes com IRC foram afetados na sua condição de vida durante o tratamento.14 A análise dos dados obtidos pelo Inventário de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) demonstrou que a maioria dos pacientes apresentou estresse, e desses, a maior parte estava na fase de quase exaustão do estresse. A fase de quase exaustão ocorre no momento em que a pessoa não mais consegue adaptar-se ou resistir ao estressor, podendo começar o aparecimento de doenças devido ao enfraquecimento do organismo. É importante reconhecer que a saúde do indivíduo que convive com a DRCT não depende apenas do sucesso do tratamento hemodialítico, viabilizado pela máquina de hemodiálise, mas, também, das respostas que a rede de atenção em saúde pode dar ao conjunto dessas necessidades de saúde, originadas ou não na sua condição de doente renal.15 No presente estudo, a principal causa do estresse foi atribuída à longa duração da sessão de hemodiálise, cerca de quatro horas ligados a uma máquina, as repetidas punções, não observar melhora no quadro da doença e querer abandonar o tratamento. Em outro estudo, evidenciou-se o medo da máquina, as frequentes solicitações para realizar procedimentos de rotina, os receios frente a possíveis efeitos colaterais do tratamento e as cobranças pela equipe de profissionais de saúde como causas de estresse. Destacando também, algumas preocupações com relação à preservação do funcionamento das fístulas, controle hídrico, restrição alimentar, mudanças nas atividades de toda a vida resultam em angústia, sofrimento, estresse e interferindo na relação cotidiana de vida.12 Devido ao tratamento para DRC, o paciente acaba tento que sobreviver e se adaptar 9 à sua nova condição física. Seu corpo passa a possuir cicatrizes geradas pelas fístulas, cateteres, exames e cirurgias, pele pálida e seca, manchas hemorrágicas e múltiplas16. A mudança na imagem corporal é relatada como uma das dificuldades enfrentadas pela pessoa em tratamento de hemodiálise. A alteração da autoimagem, com a formação cirúrgica da fístula artério-venoso ou com a inserção do cateter duplo lúmen, torna-se mais um fator a ser vivenciado, podendo ser um potencial causador de transtornos psicológicos, como o estresse. 12 Muitas vezes o excesso de medicamentos provoca alterações na vida sexual, que o homem passa a ter dificuldades na ereção e a mulher no orgasmo. Seguir a termo a dieta oral prescrita, para o paciente hemodialisado é um dos grandes desafios. A dieta especial pode necessitar de mudanças significativas nos hábitos alimentares e no padrão comportamental do paciente. Os pacientes com DRC têm suas atividades físicas diminuídas e aumentam suas necessidades de repouso, devido ao tratamento, e isso é visto como fonte de estresse.16 Estudo mostrou que as mulheres apresentaram maior número de estressores, apontando a interferência da doença no trabalho, o cansaço e o tratamento prolongado todos estressores fisiológicos - como os três mais freqüentes. No grupo de homens, a limitação das atividades físicas, as mudanças na aparência física e a perda da função corporal/física foram os mais freqüentes.13 Este estudo identificou repercussões do tratamento hemodialítico relacionadas ao apoio social e aos estressores vinculados à qualidade de vida do paciente renal crônico; os homens apresentam melhores índices de qualidade de vida do que as mulheres que, por sua vez, encontram-se mais estressadas. Portanto os homens têm melhores condições, uma vez que quanto maior o índice de qualidade de vida, melhores condições possui para enfrentar os estressores relacionados à doença.13 Um estudo destacou a presença da música durante a hemodiálise, e constatou-se que a terapia mostrou-se positiva quanto à alteração na percepção do tempo, favorecendo sensações de bem-estar, alegria, felicidade e relaxamento, além de representar entretenimento, mudança de rotina, ausência de sintomas, recordações positivas, companhia e redutor do estresse.17 Nota-se a importância e a mudança que a música realiza nesses pacientes, demonstrando a necessidade da implementação da terapia musical como uma estratégia no cuidado de enfermagem destinado aos pacientes em tratamento 10 dialítico.17 O estudo está em conformidade com a literatura nacional, ao perceber-se o quanto o tempo de tratamento influencia no cotidiano dos pacientes renais crônicos, sendo gerador de estresse por acarretar grandes dificuldades para o desenvolvimento de atividades da vida diária, com reflexos em sua autoestima (o comprometimento do desenvolvimento das AVDs faz com que se sintam inúteis) e prejuízo também em seu convívio social, tendo em vista que muitos necessitam se deslocar de cidades vizinhas para o tratamento, passando, às vezes, o dia inteiro longe de seu lar e de seus familiares.17 Percebe-se a necessidade de a enfermagem estar preparada para proporcionar conforto e apoio para esses pacientes, tendo em vista que o enfermeiro é o profissional que está diretamente ligado aos cuidados a lhes serem dispensados durante as sessões, o que o torna capaz de passar maior intimidade e confiança, se assim se dispuser.17-8 É importante destacar que o paciente renal crônico precisa de um atendimento humanizado e multidisciplinar, pois a partir do momento que recebem o diagnóstico passam a sofrer fortes tensões emocionais, sociais e físicas, geradoras de estresse.16 Investir na atenção ofertada a esses pacientes é investir na melhoria da sua qualidade de vida. O enfermeiro deve traçar metas e objetivos que possam contribuir para a diminuição de fatores estressores, como ofertar algum meio de distração durante a realização da hemodiálise, visto que foi uma dificuldade bastante citada pelos pacientes do estudo. 19 CONCLUSÃO Constatou-se por meio do Inventário de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) que 75% dos pacientes apresentaram estresse, sendo que 9,0 % encontravam-se na primeira fase, ou seja, a fase de Alerta; 14,1% na segunda fase, a de Resistência; 56,4% na Quase exaustão e 20,5 % já com sintomas de Exaustão. No que se refere á causa do estresse durante o tratamento, 36% apontaram às quatro horas exigidas para o tratamento de hemodiálise, 24% a punção mais de uma vez para a introdução do cateter, 28% o desejo de querer ir embora e não poder e 12% por não identificarem melhora no quadro da doença após a seção de hemodiálise. Ressalta-se que os profissionais de enfermagem devem buscar compreender as 11 modificações trazidas com a condição de cronicidade da doença na vida do paciente renal como intuito de promover estratégias técnicas, éticas e humanísticas capaz de minimizar os fatores relacionados ao desenvolvimento do estresse, tais como uma escuta qualificada, acolhimento e humanização do ambiente de tratamento. Por fim, necessitam oferecer aos indivíduos os esclarecimentos sobre sua enfermidade, orientações sobre prevenção de complicações, fortalecendo e favorecendo uma mudança de comportamento ajustada as limitações impostas pela doença, com vistas a uma melhor qualidade de vida. REFERÊNCIAS 1. Queiroz MVO, Dantas MCQ, Ramos IC, Jorge MSB. Tecnologia do cuidado ao paciente renal crônico: enfoque educativo-terapêutico a partir das necessidades dos sujeitos. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2008 Jan/Mar [cited 2012 Mai 23]; 17(1): [about 9 p.]. Available from: http://www.scielo.br/pdf/tce/v17n1/06.pdf 2. Bastos MG, Bregman R, kirsztajn GM. Doença renal crônica: frequente e grave, mas também prevenível e tratável. Rev Assoc Med Bras [Internet]. 2010 [cited 2012 Mai 24]; 56(2): [about 6 p.]. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ramb/v56n2/a28v56n2.pdf 3. Szuster DAC, Caiaffa WT, Andrade EIG, Acurcio FA, Cherchiglia ML. Sobrevida de pacientes em diálise no SUS no Brasil. Cad saúde pública [Internet]. 2012 Mar [cited 2012 May 23]; 28(3): [about 10 p.]. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csp/v28n3/02.pdf 4. Sesso R, Lopes AA, Thomé FS, Bevilacqua JL, Romão JEJ, Lugon J. Resultados do censo de diálise da SBN, 2007. J bras nefrol [Internet]. 2007 Dec [cited 2012 May 23]; 28(4): [about 6 p.]. Available from: http://www.jbn.org.br/audiencia_pdf.asp?aid2=128&nomeArquivo=29-04-03.pdf 5. Farias GM, Mendonça AEO. Comparando a qualidade de vida de pacientes em hemodiálise e pós-transplante renal pelo “whoqol-bref”. REME rev min enferm [Internet]. 2009 Oct/Dec [cited 2012 May 23]; 13(4): [about 6 p.]. Available from: http://www.enf.ufmg.br/site_novo/modules/mastop_publish/files/files_4c1220c4cae6d.pd f 6. Terra, Souza de Fábio, et al. Os sentimentos apresentados pelos renais crônicos durante a permanência na clínica de hemodiálise. Rev Enfermagem atual. 2008; 46(3):15-8. 7. Machado LRC, Car MR. A dialética da vida cotidiana de doentes com insuficiência renal crônica: entre o inevitável e o casual. Rev Esc Enferm USP (Online) [Internet]. 2003 [cited 12 2012 May 23]; 37(3): [about 9 p.]. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v37n3/04.pdf 8. Koepe GBO; Araújo STC. A percepção do cliente em hemodiálise frente à fístula artério venosa em seu corpo. Acta paul enferm [Internet]. 2008 [cited 2012 May 23]; 21(nº esp.): [about 5 p.]. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ape/v21nspe/a02v21ns.pdf 9. Selye H. A Syndrome Produced by Diverse Nocuous Agents. J Neuropsychiatry Clin Neurosci [Internet]. 1998 [cited 2012 May 23]; 10 (2): [about 2 p.]. Available from: http://neuro.psychiatryonline.org/data/Journals/NP/3855/230.pdf 10. Brasil. Ministério da Saúde. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa [Internet]. Normas para pesquisa envolvendo seres humanos (Resp. CNS 196/96 e outras); 2003 [cited 2012 May 23]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/normas_pesquisa_sereshumanos.pdf 11. Lipp MEN. Inventário de sintomas de stress de Lipp (ISSL). São Paulo: Casa do Psicólogo; 2000. 12. Oliveira SM, Ribeiro RCHM, Ribeiro DF, Lima LCEQ, Pinto MH, Poletti NAA. Elaboração de um instrumento da assistência de enfermagem na unidade de hemodiálise. Acta paul enferm [Internet]. 2008 [cited 2012 May 23]; 21 (nº esp.): [about 5 p.]. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-21002008000500006&script=sci_arttext 13. Pereira LP, Guedes MVC. HEMODIÁLISE: a percepção do portador renal crônico. Cogitare Enferm [Internet]. 2009 [cited 2012 set 4]; 14(4):689-95. Available from: http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/cogitare/article/view/16384/10864 14. Rudnicki T. Preditores de qualidade de vida em pacientes renais crônicos Estudos de Psicologia. Estud. psicol. (Campinas) [Internet]. 2007 [cited 2012 set 4]; 24(3): 343-351. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103- 166X2007000300006 15. Scatolin BE, Vechi AP, Ribeiro DF, Bertolin DC, Canova JCM, Cesarino CB, Ribeiro RCHM. Atividade de vida diária dos pacientes em tratamento de diálise peritoneal intermitente com cicladora. Arq Ciênc Saúde [Internet]. 2010 [cited 2012 Set 4]; 17(1):15-21. Available from: http://www.cienciasdasaude.famerp.br/racs_ol/vol-17-1/IDL2_jan-mar_2010.pdf 16. Fujii CDC, Oliveira DLLC de. Fatores que dificultam a integralidade no cuidado em hemodiálise. Rev. Latino-Am. Enfermagem [Internet]. 2011 Jul – Ago [cited 2012 Ago 14]; 19(4):[07 telas]. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v19n4/pt_14.pdf 13 17. Cuker GM, Fragnani ECSF. As dimensões psicológicas da doença renal crônica. TCC (graduação em psicologia). Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, 2010 [cited 2012 Set 4]. Available from: http://www.bib.unesc.net/biblioteca/sumario/000044/0000440B.pdf 18. Horta ÂCC, Santos AVP dos, Santos LKX dos, Barbosa IV. Produção científica de enfermagem sobre hemodiálise. Rev enferm UFPE on line [Internet]. 2012 Mar [cited 2012 Ago]; 6(3):672-9. Available from: HTTP://www.ufpe.br/revistaenfermagem/index.php/revista/article/view/1911/pdf_1030. 19. Pacheco GS, Santos I, Bregman R. Cliente com doença renal crônica: avaliação de enfermagem sobre a competência para o autocuidado. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2007 Mar [cited 2012 May 23]; 11 (1): [about 8 p.]. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v11n1/v11n1a06.pdf