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Avaliação do nível de estresse de Doentes Renais Crônicos em tratamento
hemodialítico
Assessment of Chronic Kidney Patients stress in hemodialysis
Evaluación de estrés de los pacientes renales crónicos en hemodiálisis
Eliane Santos Cavalcante. Enfermeira. Doutoranda em enfermagem pela Universidade
Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. Professora da Escola de Enfermagem de
Natal/UFRN. Natal (RN), Brasil. E-mail: [email protected]
Richardson Augusto Rosendo da Silva. Enfermeiro. Professor Doutor do Departamento de
Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, do Centro de Ciências da
Saúde, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. Natal (RN), Brasil. E-mail:
[email protected]
Ana Elza Oliveira de Mendonça. Enfermeira. Doutoranda em Ciências da Saúde pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. Professora Mestre da Graduação em
Enfermagem da Universidade Faculdade de Ciências, Cultura e Extensão do RN
(UNIFACEX). Natal (RN), Brasil. E-mail: [email protected]
Mayara Mirna do Nascimento Costa. Acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem
do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN.
Natal (RN), Brasil. E-mail: [email protected]
Francisco Arnoldo Nunes de Miranda. Enfermeiro. Professor Doutor do Departamento de
Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, do Centro de Ciências da
Saúde, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. Natal (RN), Brasil. E-mail:
[email protected]
Autor responsável pela troca de correspondência
Richardson Augusto Rosendo da Silva. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Campus Central. Departamento de Enfermagem. Lagoa Nova, S/N, Natal/RN, CEP: 59078970, Telefone: (84) 3215-3615.
RESUMO
Objetivo: avaliar os níveis de estresse apresentado por pacientes renais crônicos
submetidos a tratamento hemodialítico em uma Clínica de Hemodiálise em Natal/RN.
Método: estudo descritivo, exploratório, com abordagem quantitativa com uma amostra de
2
104 pacientes no período de agosto a outubro de 2010. Aplicou-se o Inventário de Sintomas
de Estresse para Adultos de Lipp (2000) para verifica a presença ou não de sintomas de
stress. Utilizou-se como critérios de inclusão: pacientes atendidos no setor de hemodiálise
no período no período de agosto a outubro de 2010, de ambos os sexos, maiores de dezoito
anos de idade e que aceitaram participar da pesquisa como voluntários por meio da
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A pesquisa teve aprovação do
Comitê de Ética em Pesquisas sob o n° do CAAE - 0066.0.051.294-09. Os dados foram
analisados por meio da estatística descritiva. Resultados: a análise dos dados obtidos do
Inventário de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) mostrou que 75% da amostra apresentaram
estresse e 25% não indicaram sintomas estressantes significativos. Dos pacientes que
apresentavam estresse, 56,4% encontravam-se na fase de quase-exaustão, 20,5 % com
sintomas de Exaustão, 14,1% na fase a de resistência e 9,0 % na fase de alerta. Conclusão:
diante do exposto o cuidado do enfermeiro ao paciente com Insuficiência Renal Crônica
deve ser direcionado no sentido de evitar as complicações decorrentes da redução da
função renal e auxiliar no enfrentamento do estresse e ansiedade de lidar com uma doença
com risco de morte. Descritores: unidades hospitalares de hemodiálise; estresse
psicológico; cuidados de enfermagem; qualidade da assistência à saúde.
ABSTRACT
Objective: To assess levels of stress presented by chronic renal failure patients undergoing
hemodialysis in a Hemodialysis Clinic in Natal / RN. Method: A descriptive, exploratory
study with a quantitative approach with a sample of 104 patients from August to October
2010. We used the Inventory of Stress Symptoms by Lipp (2000) to verify the presence or
absence of symptoms of stress. We used the following inclusion criteria: patients treated at
the hemodialysis in the period from August to October 2010, of both sexes, over eighteen
years of age and who agreed to participate as volunteers by signing the of Consent. The
research was approved by the Research Ethics Committee under No. of CAAE 0066.0.051.294-09. Data were analyzed using descriptive statistics. Results: The analysis of
data obtained from the Survey of Stress by Lipp (ISSL) showed that 75% had stress and 25%
indicated no significant stressful symptoms. Of the patients who had stress, 56.4% were in
the near-exhaustion, 20.5% with symptoms of exhaustion, 14.1% in the endurance phase and
9.0% in the alert phase. Conclusion: the exposed face of nursing care to patients with
3
chronic renal failure should be directed to avoid the complications of decreased kidney
function and help in coping with stress and anxiety of dealing with a life-threatening
disease. Descriptors: hemodialysis units, hospital; stress, psychological; nursing care;
quality of health care.
RESUMEN
Objetivo: Evaluar los niveles de estrés presentados por pacientes con insuficiencia renal
crónica sometidos a hemodiálisis en una clínica de hemodiálisis en Natal / RN. Método:
Estudio descriptivo, exploratorio, con abordaje cuantitativo con una muestra de 104
pacientes entre agosto y octubre de 2010. Se utilizó el Inventario de Síntomas de Estrés por
Lipp (2000) para verificar la presencia o ausencia de síntomas de estrés. Se utilizaron los
siguientes criterios de inclusión: pacientes atendidos en la hemodiálisis en el período de
agosto a octubre de 2010, de ambos sexos, mayores de dieciocho años de edad y que
aceptaron participar como voluntarios con la firma del de Consentimiento. La investigación
fue aprobada por el Comité de Ética de Investigación en virtud del número de CAAE 0066.0.051.294-09. Los datos fueron analizados utilizando estadística descriptiva.
Resultados: El análisis de los datos obtenidos de la Encuesta de Estrés por Lipp (ISSL)
mostró que el 75% tenía estrés y el 25% indicó no presentan síntomas de estrés significativo.
De los pacientes con estrés, el 56,4% estaban en el cercano agotamiento, el 20,5% con
síntomas de agotamiento, el 14,1% en la fase de resistencia y un 9,0% en la fase de alerta.
Conclusión: la cara expuesta de la atención de enfermería a pacientes con insuficiencia
renal crónica deben ser dirigidas a evitar las complicaciones de la función renal disminuida
y ayuda para lidiar con el estrés y la ansiedad de tratar con una enfermedad
potencialmente mortal. Descriptores: unidades de hemodiálisis en hospital; estrés
psicológico; atención de enfermería; calidad de la atención de salud.
INTRODUÇÃO
A doença renal crônica (DRC) constitui, atualmente, um importante problema
de saúde pública no Brasil. Estudo recente demonstrou que a prevalência de
pacientes mantidos em programas assistenciais destinados ao controle e tratamento
de IRC dobrou nos últimos anos.1 Nesse sentido, entre 2000 e 2006, o crescimento
do número de pacientes em diálise foi cerca de 9%, sendo o sistema único de Saúde
4
(SUS) responsável por 89% do financiamento desse tratamento.2
Estima-se que cerca de dois milhões de brasileiros sofram de doenças renais sem ter
conhecimento de sua condição, fato este atribuído, em parte, a sua evolução silenciosa e
assintomática até que os rins percam aproximadamente 50% de sua capacidade funcional.2
Sabe-se que a depuração ou filtração do sangue no paciente renal pode ser obtida por
meio das terapias renais substitutivas, como hemodiálise e diálise peritoneal ou por um
transplante renal.
3
Rotineiramente, os pacientes em tratamento hemodialítico permanecem em média 40
horas mensais na unidade de hemodiálise, o qual enfrenta inicialmente a difícil aceitação da
doença, associados aos sentimentos de tristeza, raiva, agressividade e hostilidade e
posteriormente, desgaste físico e estresse emocional relacionados às limitações impostas
pelas condições da cronicidade da doença e a dependência do tratamento doloroso de
duração e consequências incertas.4
Assim, a condição crônica e o tratamento hemodíalitico se constituem como fontes de
estresse e apresentam consequências, tais como: isolamento social, perda da capacidade
laboral, dependência da Previdência Social, impossibilidade parcial de locomoção e lazer,
diminuição da atividade física, necessidade de adaptação, perda da autonomia, alterações
da imagem corporal e ainda, um sentimento ambíguo entre o medo de viver e morrer.5
Nesse sentido, o estresse emerge de forma processual em três etapas que se
diferenciam pela sintomatologia. Na primeira, o organismo tem uma excitação de agressão
ou de fuga ao estressor, que pode ser entendida como um comportamento de adaptação. Na
segunda, entendida como a fase de alerta, o organismo altera seus parâmetros de
normalidade e concentra a reação interna em um determinado órgão-alvo, desencadeando a
Síndrome de Adaptação Local (SAL) com manifestação de sintomas da esfera psicossocial,
tais como: ansiedade, medo, isolamento social, oscilação do apetite, impotência sexual.6-7
Na terceira, o indivíduo encontra-se na fase de quase-exaustão, caracterizada por um
enfraquecimento da pessoa que não consegue adaptar-se ou resistir ao estressor.8 Na última
ocorre a Exaustão e o organismo encontra-se extenuado pelo excesso de atividades e pelo
alto consumo de energia ocorrendo a falência do órgão mobilizado no SAL, o qual se
manifesta sob a forma de doenças orgânicas.6
Nesse contexto, a assistência de enfermagem no cuidado ao paciente em hemodiálise
5
requer do profissional habilidades técnicas e o desenvolvimento de competências voltadas
ao atendimento integral do usuário e família, bem como sua adaptação, atentando para as
transformações exigidas pelo tratamento e condição crônica. 9
Frente ao exposto e a vivência profissional dos autores nessa área, objetivou-se no
presente estudo, avaliar os níveis de estresse apresentado por pacientes renais crônicos
submetidos a tratamento hemodialítico em uma Clínica de Hemodiálise em Natal/RN.
MÉTODO
Pesquisa exploratório-descritiva, com abordagem quantitativa, a fim de responder o
seguinte questionamento: Qual o nível de estresse de pacientes renais crônicos que realizam
hemodiálise? Quais as causas do estresse durante o tratamento hemodialítico?
A pesquisa foi realizada no Instituto do Rim em Natal/RN, clínica destinada ao
tratamento de Doenças Renais e conveniada ao Sistema Único de Saúde (SUS).
O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital
Universitário Onofre Lopes (CEP-HUOL) sob o n° do CAAE - 0066.0.051.294-09 e protocolo
322/2009 de acordo com as diretrizes da Resolução 196/96 e complementares do Conselho
Nacional de Saúde.10
Para a coleta dos dados, utilizou-se um roteiro de entrevista estruturado com
questões
para
caracterização
sócio-demográficas
e
relacionadas
ao
tratamento
hemodialítico. Além disso, aplicou-se o Inventário de Sintomas de Estresse para Adultos de
Lipp (2000), composto por uma lista de sintomas físicos e psicológicos agrupados em três
quadros, cada quadro correspondendo a uma das fases do Estresse. Este inventário avalia a
presença de stress, a fase do stress (alerta, resistência, quase-exaustão e exaustão) e o tipo
de sintoma mais freqüente (físico ou psicológico).11
Utilizou-se como critérios de inclusão: pacientes atendidos no setor de hemodiálise
no período no período de agosto a outubro de 2010, de ambos os sexos, maiores de dezoito
anos de idade e que aceitaram participar da pesquisa como voluntários por meio da
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Da população de 109 usuários
atendidos no setor de hemodiálise no período no período de agosto a outubro de 2010, cinco
se recusaram a participar do estudo, sendo a amostra composta por 104 pacientes.
Analisou-se os resultados por meio da estatística descritiva, sendo apresentados em
tabelas com frequências e percentuais.
6
RESULTADOS
A amostra foi composta por 104 pacientes em tratamento de hemodiálise, sendo
53,8% pertencente ao sexo masculino e 46,2%, ao sexo feminino. A faixa etária variou de 21
à 62 anos. Em relação à escolaridade, cerca de 60% possuíam o Ensino Fundamental
incompleto, 25% o Ensino Médio completo, 10% analfabetos e 5% com Ensino Superior
incompleto. O estado civil característico desta população foi de casados (52,8%), seguidos
por solteiros (27,2%) e separados (20%). Quanto à ocupação, 65% dos pacientes eram
aposentados, 25% trabalhavam como autônomos e 10% nunca possuíram qualquer tipo de
profissão. De forma que em 35% da amostra, a renda familiar corresponde a um salário
mínimo e em 65% com 2 a 3 salários mínimos. No que diz respeito ao tempo de tratamento,
4% dos pacientes iniciaram a hemodiálise a menos de um ano, 6% de 1 a 2 anos, 8% de 3 a 4
anos, 29% de 5 a 6 anos e 53% mais de 7 anos.
Na análise dos dados obtidos pelo Inventário de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) a
maioria dos pacientes 75% apresentaram estresse e 25% não indicaram sintomas
estressantes significativos, conforme demonstra a tabela 1:
Tabela 1. Distribuição dos usuários atendidos na Clínica de Hemodiálise, segundo a
presença de estresse. Natal/RN, 2010. (n=104)
Presença de Estresse
Sim
Não
Total
Fonte: Dados da pesquisa
N
%
78
26
104
75,0
25,0
100,0
Dos 78 pacientes que apresentavam estresse, 9,0 % encontravam-se na primeira fase,
ou seja, a fase de Alerta; 14,1% na segunda fase, a de Resistência;
56,4% na Quase
exaustão e 20,5 % já com sintomas de Exaustão. Conforme apresenta a tabela 2:
Tabela 2. Distribuição dos usuários atendidos na Clínica de Hemodiálise, segundo a fase de
estresse. Natal/RN, 2010. (n=104)
Fases do Estresse
Alerta
Resistência
Quase-Exaustão
Exaustão
TOTAL
Fonte: Dados da pesquisa
N
%
7
11
44
16
78
9,0
14,1
56,4
20,5
100,0
7
Em relação aos fatores que dificultam o tratamento de hemodiálise identificou-se
que 58% informaram ser à distância de sua residência para a clínica de hemodiálise,
32% referiu o fato de não ter entretenimento durante o período de hemodiálise, e 10% não
poder conciliar a hemodiálise com o trabalho secular.
No que se refere á causa do estresse durante o tratamento, 36% apontaram às quatro
horas exigidas para o tratamento de hemodiálise, 24% a punção mais de uma vez para a
introdução do cateter, 28% querer ir embora e não poder e 12% por não identificarem
melhora no quadro da doença após a seção de hemodiálise.
Quanto aos sentimentos manifestados no transcurso da hemodiálise, 38% informaram
a vontade de abandonar o tratamento, 37% sentiam-se tristes por estarem submissas a um
tratamento contínuo, 13% medo de morrer conectados a maquina e 12% sentiam alegria por
estarem vivas.
DISCUSSÃO
A partir do momento que a pessoa se depara com a realidade da doença crônica, as
atividades cotidianas são comprometidas e as debilidades físicas provocam mudanças
significativas, levando a pessoa a tornar-se dependente do tratamento e desencadeando
situações de estresse em seu cotidiano.12
Nesse sentido, o tratamento da doença renal crônica, altera a rotina diária do
enfermo, pois não se restringe apenas à hemodiálise, mas inclui uma série de cuidados na
alimentação e restrição de ingesta hídrica, além das repercussões psicológicas pela
realização periódica das sessões de hemodiálise.13
No que diz respeito a principal consequência advinda com o tratamento
hemodialítico, a maioria da amostra estudada, ressaltou o fato de está impedido de
trabalhar. As mudanças nos hábitos de vida e a necessidade de deixar de fazer o que
proporciona prazer pela vida são ressaltadas pelos pacientes como dificuldades decorrentes
da doença. Dentre as mudanças destacam a impossibilidade de trabalhar como algo que
intimida e marginaliza. Além da falta de realização pessoal, ocasionada pela privação do
trabalho, as dificuldades financeiras decorrentes preocupam sobremaneira essas pessoas.12
Em relação aos fatores que dificultam o tratamento de hemodiálise identificou-se
que a maioria relatou ser à distância de sua residência para a clínica de hemodiálise, isso é
destacado na literatura como desencadeante de estresse, e apresentado como um fator que
8
apresenta ligação direta com a adesão ao tratamento hemodialítico e qualidade de vida do
paciente.14
Os pacientes relatam dificuldades em relação à necessidade de se deslocarem para
outra cidade para realizarem as sessões de hemodiálise. Se por um lado a hemodiálise lhe
permite uma ilusão de independência da doença durante o tempo entre uma sessão de
diálise e outra, por outro lado, no momento em que o paciente está “ligado” à máquina, as
limitações da doença e sua dependência do aparelho aparecem com toda a sua
intensidade.12
O tratamento interfere nas atividades de vida diária (AVD), e isso muitas vezes é um
grande causador de estresses. Alguns apresentaram transtornos na AVD e outros no processo
saúde/doença, sendo que de alguma forma todos os pacientes com IRC foram afetados na
sua condição de vida durante o tratamento.14
A análise dos dados obtidos pelo Inventário de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
demonstrou que a maioria dos pacientes apresentou estresse, e desses, a maior parte
estava na fase de quase exaustão do estresse. A fase de quase exaustão ocorre no momento
em que a pessoa não mais consegue adaptar-se ou resistir ao estressor, podendo começar o
aparecimento de doenças devido ao enfraquecimento do organismo.
É importante reconhecer que a saúde do indivíduo que convive com a DRCT não
depende apenas do sucesso do tratamento hemodialítico, viabilizado pela máquina de
hemodiálise, mas, também, das respostas que a rede de atenção em saúde pode dar ao
conjunto dessas necessidades de saúde, originadas ou não na sua condição de doente
renal.15
No presente estudo, a principal causa do estresse foi atribuída à longa duração da
sessão de hemodiálise, cerca de quatro horas ligados a uma máquina, as repetidas punções,
não observar melhora no quadro da doença e querer abandonar o tratamento.
Em outro estudo, evidenciou-se o medo da máquina, as frequentes solicitações para
realizar procedimentos de rotina, os receios frente a possíveis efeitos colaterais do
tratamento e as cobranças pela equipe de profissionais de saúde como causas de estresse.
Destacando também, algumas preocupações com relação à preservação do funcionamento
das fístulas, controle hídrico, restrição alimentar, mudanças nas atividades de toda a vida
resultam em angústia, sofrimento, estresse e interferindo na relação cotidiana de vida.12
Devido ao tratamento para DRC, o paciente acaba tento que sobreviver e se adaptar
9
à sua nova condição física. Seu corpo passa a possuir cicatrizes geradas pelas fístulas,
cateteres, exames e cirurgias, pele pálida e seca, manchas hemorrágicas e múltiplas16. A
mudança na imagem corporal é relatada como uma das dificuldades enfrentadas pela
pessoa em tratamento de hemodiálise. A alteração da autoimagem, com a formação
cirúrgica da fístula artério-venoso ou com a inserção do cateter duplo lúmen, torna-se mais
um fator a ser vivenciado, podendo ser um potencial causador de transtornos psicológicos,
como o estresse.
12
Muitas vezes o excesso de medicamentos provoca alterações na vida sexual, que o
homem passa a ter dificuldades na ereção e a mulher no orgasmo. Seguir a termo a dieta
oral prescrita, para o paciente hemodialisado é um dos grandes desafios. A dieta especial
pode necessitar de mudanças significativas nos hábitos alimentares e no padrão
comportamental do paciente. Os pacientes com DRC têm suas atividades físicas diminuídas
e aumentam suas necessidades de repouso, devido ao tratamento, e isso é visto como fonte
de estresse.16
Estudo mostrou que as mulheres apresentaram maior número de estressores,
apontando a interferência da doença no trabalho, o cansaço e o tratamento prolongado todos estressores fisiológicos - como os três mais freqüentes. No grupo de homens, a
limitação das atividades físicas, as mudanças na aparência física e a perda da função
corporal/física foram os mais freqüentes.13 Este estudo identificou repercussões do
tratamento hemodialítico relacionadas ao apoio social e aos estressores vinculados à
qualidade de vida do paciente renal crônico; os homens apresentam melhores índices de
qualidade de vida do que as mulheres que, por sua vez, encontram-se mais estressadas.
Portanto os homens têm melhores condições, uma vez que quanto maior o índice de
qualidade de vida, melhores condições possui para enfrentar os estressores relacionados à
doença.13
Um estudo destacou a presença da música durante a hemodiálise, e constatou-se que
a terapia mostrou-se positiva quanto à alteração na percepção do tempo, favorecendo
sensações de bem-estar, alegria, felicidade e relaxamento, além de representar
entretenimento, mudança de rotina, ausência de sintomas, recordações positivas,
companhia e redutor do estresse.17 Nota-se a importância e a mudança que a música realiza
nesses pacientes, demonstrando a necessidade da implementação da terapia musical como
uma estratégia no cuidado de enfermagem destinado aos pacientes em tratamento
10
dialítico.17
O estudo está em conformidade com a literatura nacional, ao perceber-se o quanto o
tempo de tratamento influencia no cotidiano dos pacientes renais crônicos, sendo gerador
de estresse por acarretar grandes dificuldades para o desenvolvimento de atividades da
vida diária, com reflexos em sua autoestima (o comprometimento do desenvolvimento das
AVDs faz com que se sintam inúteis) e prejuízo também em seu convívio social, tendo em
vista que muitos necessitam se deslocar de cidades vizinhas para o tratamento, passando,
às vezes, o dia inteiro longe de seu lar e de seus familiares.17
Percebe-se a necessidade de a enfermagem estar preparada para proporcionar
conforto e apoio para esses pacientes, tendo em vista que o enfermeiro é o profissional que
está diretamente ligado aos cuidados a lhes serem dispensados durante as sessões, o que o
torna capaz de passar maior intimidade e confiança, se assim se dispuser.17-8
É importante destacar que o paciente renal crônico precisa de um atendimento
humanizado e multidisciplinar, pois a partir do momento que recebem o diagnóstico passam
a sofrer fortes tensões emocionais, sociais e físicas, geradoras de estresse.16
Investir na atenção ofertada a esses pacientes é investir na melhoria da sua
qualidade de vida. O enfermeiro deve traçar metas e objetivos que possam contribuir para
a diminuição de fatores estressores, como ofertar algum meio de distração durante a
realização da hemodiálise, visto que foi uma dificuldade bastante citada pelos pacientes do
estudo.
19
CONCLUSÃO
Constatou-se por meio do Inventário de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) que 75%
dos pacientes apresentaram estresse, sendo que 9,0 % encontravam-se na primeira fase, ou
seja, a fase de Alerta; 14,1% na segunda fase, a de Resistência; 56,4% na Quase exaustão e
20,5 % já com sintomas de Exaustão. No que se refere á causa do estresse durante o
tratamento, 36% apontaram às quatro horas exigidas para o tratamento de hemodiálise, 24%
a punção mais de uma vez para a introdução do cateter, 28% o desejo de querer ir embora e
não poder e 12% por não identificarem melhora no quadro da doença após a seção de
hemodiálise.
Ressalta-se que os profissionais de enfermagem devem buscar compreender as
11
modificações trazidas com a condição de cronicidade da doença na vida do paciente renal
como intuito de promover estratégias técnicas, éticas e humanísticas capaz de minimizar os
fatores relacionados ao desenvolvimento do estresse, tais como uma escuta qualificada,
acolhimento e humanização do ambiente de tratamento.
Por fim, necessitam oferecer aos indivíduos os esclarecimentos sobre sua
enfermidade, orientações sobre prevenção de complicações, fortalecendo e favorecendo
uma mudança de comportamento ajustada as limitações impostas pela doença, com vistas a
uma melhor qualidade de vida.
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