Em busca de coisas etéreas Os sufis dizem que assim como no corpo físico de um indivíduo muitos germes nascem e se desenvolvem como seres vivos, de forma análoga, existem também muitos seres no plano mental, chamados muwakkals ou elementais. Estes são entidades ainda mais etéreas nascidas do pensamento humano, e assim como os germes vivem no corpo humano, tais elementais sobrevivem de seus pensamentos. Segundo os místicos do Islã, o homem muitas vezes imagina que seus pensamentos não têm vida; ele não percebe que eles são mais vivos do que os germes físicos, e que eles também passam por nascimento, infância, juventude, velhice e morte. Eles trabalham contra ou a favor dos homens de acordo com sua natureza. Os sufis afirmam que os criam, elaboram e controlam. Um sufi os repete e os educa através de sua vida; ele forma seu exército e subjuga seus desejos. Quando Richard Dawkins elaborou o conceito dos memes em seu célebre livro, “O Gene Egoísta”, ele provavelmente nunca tinha ouvido falar dos elementais do sufismo. Para muitos, é uma deliciosa ironia que o “evangelizador do ateísmo” tenha despontado para o sucesso no meio acadêmico científico exatamente através de um conceito, muitos diriam – profundamente místico. Um meme é para a memória o análogo do gene na genética, a sua unidade mínima. É considerado como uma unidade de informação que se multiplica de cérebro em cérebro, ou entre locais onde a informação é armazenada (como livros) e outros locais de armazenamento ou cérebros. No que diz respeito à sua funcionalidade, o meme é considerado uma unidade de evolução cultural que pode de alguma forma se auto-propagar. Os memes podem ser idéias ou partes de idéias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida enquanto unidade autônoma. O estudo dos modelos evolutivos da transferência de informação é conhecido como memética. Por exemplo, a penicilina, o antibiótico descoberto pelo bacteriologista escocês Alexander Fleming em 1928, salvou inúmeras vidas durante a Segunda Guerra Mundial, pois evitou que os soldados feridos em batalha pegassem infecções em seus ferimentos, o que até pouco tempo era morte certa. Já a insulina é o cerne do tratamento contra a diabetes, uma doença muito antiga na evolução humana; sem esse tipo de tratamento, muitos diabéticos do século passado teriam morrido ainda jovens, e não teriam tido tempo de terem filhos e passar seus genes adiante. Finalmente, a descoberta das lentes divergentes no campo da ótica permitiu que pessoas com miopia pudessem enxergar normalmente pela maior parte de suas vidas; até então essas pessoas viam o mundo de forma incompleta, e tinham sérias dificuldades em sobreviver em ambientes selvagens. Pessoas feridas em batalhas, pessoas com diabetes e pessoas com problemas de visão a distância sempre existiram, mas antes de tais descobertas tinham poucas chances de passar seus genes adiante. Esse é o poder do conhecimento humano, o poder dos memes: tomar o controle da evolução biológica, muitas vezes abrindo novas possibilidades, permitindo que pessoas que antes estavam condenadas a uma vida breve e sem filhos, possam viver normalmente e – principalmente – se reproduzir normalmente. Que memes sejam idéias que se propagam como “germes etéreos”, até então não há aí um grande problema científico. Talvez, ao desvendarmos os mistérios da consciência e da forma como os pensamentos são formados, possamos quem sabe, até mesmo detectar tais memes em laboratório. Talvez sejam impulsos elétricos tão indetectáveis quanto os neutrinos ou a matéria escura, talvez sejam algo ainda mais bizarro. A questão é que o conceito não se resume aí. Segundo os adeptos da psicologia evolutiva, a cultura humana também se propaga, através dos memes, de geração em geração, sem que para isso a transmissão de conhecimento através da linguagem tenha de estar necessariamente envolvida. Nesse caso em específico, aí sim, os memes se tornam a alternativa mística aos genes, que transmitem apenas características físicas. Mas será que os memes têm mesmo esse poder? E, se tiverem, o que os difere dos elementais do sufismo, ou de conceitos similares para os quais a “ciência oficial” têm torcido o nariz a tantos anos? É isso que veremos à seguir...