VERSUS – Vivências e Estágios na Realidade do SUS Relatório Devolutivo de Vivência: Equipe Novo Hamburgo Novo Hamburgo, 08 de fevereiro de 2014 Acadêmicos Participantes Equipe Novo Hamburgo Facilitadores Mateus Boff: Fisioterapia - Feevale Regina Pedroso: Saúde Coletiva - UFRGS Viventes Alice Miyuki Imura Schaurich: Nutrição - PUCRS Ana Paula Nascimento do Santos: Nutrição - Unilasalle Evandro Fernandes: Direito - Ulbra Canoas Fabiana Krause: Fisioterapia - Unisinos Jacson Fantinelli dos Santos: Psicologia - Unijuí Luiza Nolasco: Enfermagem - Unipampa Manoel Victor Costa Santos: Enfermagem - Aespi (Piauí) Victoria Dias Gonçalves: Psicologia - PUCRS Dia 03 de Fevereiro 2013 O início da vivência iniciou na Feevale, com as boas vindas das representantes da Secretaria de Saúde, Kity e Mara. A seguir, conversamos também com o Secretário de Saúde do município de Novo Hamburgo, Luis Carlos Bolzan. Com um discurso bastante idealista e antropológico, defendeu sua gestão e o SUS como um modelo contra hegemônico, mas não foi sucinto quando questionado. Em sua fala, sugeriu que a nossa experiência fosse provocativa, preservando a criticidade. No momento da tarde visitamos o CAPS AD, onde fomos recepcionados pela Assistente Social Caroline. O serviço tem foco na prevenção, promoção e reinserção social do usuário de álcool e outras drogas, atendendo o dobro de sua capacidade. Com acolhida aberta, o mesmo encontra-se em período de transição para um CAPS III que será construído no Bairro Canudos. Discutimos temas como plano terapêutico singular, internação compulsória, cuidado do cuidador, tratamento em família e política de redução de danos. Em relação a internação compulsória, o serviço realizou uma parceria com o poder judiciário, diminuindo assim as ações judiciais. Assim, todos os casos são analisados pelos promotores e encaminhados para avaliação do CAPS AD para verificar a gravidade do caso e a necessidade de internação. A maior incidência de abuso de substâncias (em torno de 60%) é de álcool, em pessoas com faixa etária entre 25 a 50 anos. Logo após, nos encaminhamos a UBS Liberdade, que está mudando para USF/ESF. Consideramos a unidade mal sinalizada e praticamente vazia. A justificativa para tal foi que a distribuição de fichas ocorre no turno da manhã e que sobram horários para as consultas. Conhecemos a Médica Cubana Milardes, que emocionou a todos com seu discurso vocativo e humanizado. Nos deixou uma reflexão através de sua fala: “Trabalhem pensando com o coração, e não em encher o bolso.” Dia 04 de Fevereiro de 2014 Em nosso segundo dia de vivência, visitamos primeiramente a Unidade de Vigilância Sanitária, que em Novo Hamburgo tem a definição de Gerência de Vigilância a Saúde, englobando as Vigilâncias Sanitária, Ambiental e Epidemiológico. Foi nos relatado que esse ano inicia a vacinação Nacional contra o vírus HPV em meninas de 11 a 13 anos. A respeito do controle da dengue no município, nos informaram que a FEEVALE é parceira atuando na mecânica de controle e prevenção juntamente com a Vigilância Sanitária. A estrutura do serviço é composta de 40 funcionários de níveis multidisciplinares, mas ainda insuficiente às ações necessárias de controle e prevenção, inclusive com falta de veículo para o deslocamento de fiscalização. Uma novidade apresentada é que irão inserir dentro do quadro funcional da Gerência um médico do trabalho, mas ainda sem definição de data. No momento, devido a grande demanda, o foco das atividades é voltado à solução de problemas, deixando as ações preventivas em segundo plano. Na segunda vivência do dia conhecemos o SAE (Serviço de Atendimento Especializado). Verificamos na entrada a falta de sinalização específica da unidade. O serviço realiza em média 320 coletas de sangue para testagem do HIV. A Unidade também mantém palestras regulares sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis e Educação Sexual. Antes do almoço visitamos o almoxarifado da Secretaria da Saúde. Observamos que a Prefeitura Municipal mantém estoques de fraldas geriátricas para utilização em ações judiciais e diversos tipos de leites em pó especiais, que atendem o NUTRIR, evitando assim algumas dessas ações. Na parte da tarde estivemos no Hospital Geral de Novo Hamburgo. A emergência utiliza a Classificação de Manchester, avaliando o risco do usuário na triagem utilizando cores, sendo os estes encaminhados aos locais específicos de atendimento. O hospital é referência em algumas especialidades como Cardiologia e Traumatologia e por esse motivo atende a paciente de 11 municípios da Região. O número de nascimentos é em média de 160 a 180 ao mês. Um ponto que chamou a atenção é a existência de somente um Psicólogo para atender toda a demanda do município, que possui uma população de mais de 300 mil habitantes. Há um projeto para a unificação das informações entre a Rede de Atenção a Saúde do município. O Hospital Geral de NH é 100% SUS e é gerenciado pela Fundação Pública de Direito Privado em Saúde de Novo Hamburgo. Esta Fundação administra 28 serviços de saúde, e pretende inserir futuramente tratamento odontológico, que atualmente possui uma estrutura deficitária. No terceiro momento da visita ao Hospital, fomos apresentados ao Projeto Amigos do Bebê, que existe há 16 anos. O objetivo inicial do projeto era acompanhar todos os nascidos do município durante seu primeiro ano de vida. Porém a realidade é bem distante do início, que contava com dois Técnicos de Enfermagem, dois Enfermeiros, um Assistente Social e dois carros para deslocamento. Hoje existem apenas duas Técnicas de Enfermagem e uma coordenadora, tendo dificuldade na utilização do único carro disponível. A solução encontrada por elas para continuar os atendimentos foi realizar uma entrevista com a mãe ainda no hospital, para avaliar e visitar os casos de alto risco. Mesmo assim não é possível acompanhar todos os selecionados. Nesse contexto, somente 10% dos casos estão sendo atendidos e os demais casos são encaminhados para o PIM, CRAS ou Conselho Tutelar, dependendo da necessidade. A Prefeitura prevê que até março de 2014 seriam contratados mais dois Técnicos de Enfermagem e a disponibilização mais de um veículo para atendimento. 05 de Fevereiro de 2014 No primeiro momento da manhã, visitamos a Secretaria de Educação e Desporto do município. Uma das discussões foi o Pacto pela Educação, que tem como princípios básicos desenvolver ações nas unidades de educação, desenvolvimento social, saúde e combate a violência, com um olhar humanizado diante da vulnerabilidade social, questões neurológicas e democratização do acesso a educação de qualidade. Existe também um foco na redução da reprovação escolar, pois isto impacta diretamente nos recursos investidos e no desenvolvimento do estudante. O Secretário Alberto Carabajal nos relatou que em cada escola municipal existe uma sala de recursos, com a finalidade de auxiliar situações e necessidades específicas. Um ponto crucial do debate foi a dificuldade dos professores de compreender as diferentes realidades sociais dentro de sala de aula e como os mesmos lidam com isso, independente da educação permanente que recebem e do aconselhamento psicológico profissional. Tudo isso afeta diretamente o novo plano de aprendizagem cíclica. Posteriormente visitamos a Secretaria de Saúde, que está lotada no mesmo prédio. Conhecemos os gerentes dos inúmeros setores e programas voltados à saúde. O sistema de informação do município esta em estágio de finalização, que terá todos os seus dados interligados, facilitando o fluxo do usuário no sistema. À tarde, foi realizada uma exposição sobre o Projeto Mais Médicos do Ministério da Saúde, juntamente com a equipe VERSUS de Estância Velha. Estavam presentes o Secretaria de Saúde, os médicos cubanos Barbara e Angel, e o diretor do ICS da Feevale, César. Novamente, a paixão destes profissionais pela sua luta e ideologia nos emocionou. Houve uma preparação intensa destes servidores para atuarem na Atenção Básica de todo o nosso país. Conversamos sobre humanização, a interação que eles possuem entre os especialistas médicos em Cuba, valorização dos Médicos da Família em seu país de origem e importância de trabalhadores engajados na melhoria do SUS. O diferencial positivo do seu atendimento é o quanto levam em consideração a subjetividade do usuário, considerado estes seres Biopsicossociais e não uma doença. Em Cuba, eles têm maior liberdade de atuação devido a normas do contrato firmado entre governos, como a não revalidação dos seus diplomas. 06 de fevereiro de 2014 Durante a manhã grupo se dividiu entre dois serviços: - CAPS I: Cinco integrantes do projeto foram recebidos no CAPS Infantil. Todas as quintas feiras pela manha há expediente interno para reunião de equipe. O serviço possui acolhida aberta, mas também trabalha com encaminhamentos da assistência social, educação, especialidade neurológica e conselho tutelar. Debatemos sobre o histórico do serviço, que com muita luta adquiriu um carro próprio. Conversamos sobre como funciona o tratamento terapêutico singular, o diálogo com os familiares das crianças e adolescentes, matriciamento e a abordagem aos usuários de drogas que lá chegam. Buscam aprimorar a qualidade do atendimento através de visitas domiciliares e acompanhamento terapêutico. - UPA Canudos: Pela manhã, os outros cinco integrantes visitaram a Unidade de Pronto Atendimento Canudos (UPA tipo II), onde nos recebeu a coordenadora. Um dos tópicos comentados foi que em torno de 95% dos atendimentos são de classificação “azul”, que a princípio deveriam ser atendidos na UBS. O número de atendimentos é em média de 300 usuários/dia. Nesta unidade há a possibilidade de fazer a estabilização e observação dos pacientes, que pode durar até 24hrs. Caso o usuário necessite transferência ao hospital e não há leito disponível, o paciente é mantido por mais horas para não ficar sem o acompanhamento. Foi relatado que a unidade dispõe de um plantão completo durante 24hrs, com a possibilidade de realizar exames laboratoriais e Raio X, porém com um teto máximo. A coordenação se mostrou com um discurso bastante humanizado realizando reuniões de equipe esporádicas, mas com interesse de implantar a educação continuada. Durante a tarde conhecemos a USF Iguaçu, localizada no Bairro Canudos. Conversamos com a Enfermeira e Técnica de enfermagem da unidade, que nos deram um panorama do funcionamento do serviço. Falamos também com a Médica Argentina Eliana, que nos esclareceu alguns pontos referentes ao programa Mais Médicos. Este possui algumas peculiaridades devido ao regime político em Cuba. Por fim, conversamos com a Agente Comunitária Mara, que mesmo sem treinamento especifico e continuo para a função, nos mostrou o potencial e importância do seu trabalho. Vimos que há apenas três agentes para cobrir a área no momento, com a previsão da chegada dos novos selecionados. Uma das reclamações mais ouvidas pela agente ainda é a demora para o agendamento de consultas especializadas como Neurologia e Traumatologia. O acompanhamento realizado pela mesma é reconhecido pelos usuários atendidos, principalmente gestantes, hipertensos, diabéticos, acamados e pessoas de pouca instrução escolar. À noite, fomos recebidos novamente pelo Secretário de Saúde de Novo Hamburgo e pelo diretor de Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Feevale, para realizar um seminário sobre o SUS (Sistema Único de Saúde). Um dos temas levantados pelos alunos foi a modalidade de ensino EAD e a necessidade de inserção de disciplinas sobre o SUS nos cursos de Graduação em Saúde. O Secretário de Saúde reforçou a importância da militância e responsabilidade dos estudantes em multiplicar. Também explanou sobre as Políticas Públicas vigentes. Em contrapartida, os estudantes relataram a dificuldade na abertura de campos de estágio na Saúde. 07 de Fevereiro de 2014 A equipe visitou pela manhã a Oficina de Geração de Renda, que tem como objetivo a reinserção dos usuários de Saúde Mental no mercado de trabalho através das vias comuns, Lei de Cotas, Política Nacional para a Integração de Pessoas com Deficiência e Lei da aprendizagem. Também exercem a Economia Popular Solidária. Há a necessidade de um profissional em Psicologia, e o serviço aguarda a chegada de dois oficineiros. Foi relatado que a maior dificuldade do serviço é não saber a quem setor se reportar quando necessitam de apoio institucional. Hoje não há no município um Centro de Convivência, gerando uma certa confusão nos encaminhamentos recebidos. A equipe julga este tipo de serviço muito importante, pois atenderia a demanda reprimida que a Oficina de Geração de Renda não comporta. Conclusões e Observações Finais: Foi verificado pelos estudantes participantes do VERSUS um contraponto entre as verbas de investimento e o pouco recurso para o custeio de mão de obra especializada na atenção primária; Verificamos a necessidade de mais psicólogos atuando no Hospital Geral do município; O Projeto Amigos do Bebê é extremamente relevante e pouco valorizado pela Gestão; Seria de suma importância a criação de um NASF (Núcleo de Apoio a Saúde da Família), inexistente hoje no município; Há uma reclamação geral dos serviços no que se refere a utilização dos seus veículos, que são constantemente desviados para outras funções; Constatamos que não há nenhuma ação voltada ao cuidado do cuidador, pois o adoecimento do profissional prejudica todo o sistema; Observamos o grande comprometimento dos profissionais da Atenção Básica com o serviço, mesmo diante das adversidades cotidianas; Há a necessidade de maior divulgação do Sistema de Saúde à população e capacitação aos próprios profissionais; Sugerimos que Educação em Saúde seja prioridade a partir da Educação Básica, através de programas como o PSE (Programa Saúde na Escola) e PIM (Primeira Infância Melhor); Gostaríamos que a Humanização preconizada pelos profissionais Cubanos fosse um exemplo a ser seguido pelos outros profissionais da área médica.