RELAÇÃO ENTRE A OSCILAÇÃO SUL (OS) E AS PRECIPITAÇÕES DA BACIA DO ALTO SÃO FRANCISCO Eber José de Andrade Pinto¹, Mauro Naghettini² e Magda L. Abreu³ Abstract – This paper presents the preliminary results of a study that intends to verify a possible influence of South Oscillation on precipitation over the 90,616 km² upper São Francisco river basin, located in southeastern Brazil. The Southern Oscillation-Precipitation relationships were evaluated by means of three methodologies. The first was described by Ropelewski and Halpert (1996) and examined the shifts of observed rainfall as a function of SO phase, effectively forming conditional probability distributions for precipitation based on historical data. Another approach to verify the Southern Oscillation-Precipitation association was the analysis of cumulative and dimensionless hyetographs of monthly precipitation for the wet season, from October to March. The third was an evaluation of correlations and regressions between the Southern Oscillation Index (SOI), sea surface temperature and anomalies of Pacific Ocean {Niño 1+2 0-10°S, 90°W-80°W; Niño 3 (5°N5°S, 150°W-90°; Niño 4 5°N-5°S, 160°Et-150°W and Niño 3.4 5°N-5°S, 170-120°W), Southern Atlantic Ocean (0°-20°S, 30°W-10°E) and Tropical Ocean (10°S-10°S, 0°-180° W and E) with mean areal precipitation over the upper São Francisco river basin. The preliminary results indicate that, Southern Oscillation does not influence 6-month precipitation volumes. However, it seems that Southern Oscillation has an effect on the time distribution of 6-month rainfall. Resumo – Este artigo apresenta os primeiros resultados de um estudo que pretende verificar a possível influência da Oscilação Sul (OS) sobre as precipitações e as vazões da bacia do Alto São Francisco, abrangendo uma área de 90.616 km². Foram realizadas três etapas na investigação da relação entre a Oscilação Sul (OS) e as precipitações da bacia do Alto São Francisco. A primeira etapa consistiu na aplicação, com algumas modificações, da metodologia definida por Ropelewiski e Halpert (1989 e 1996) para uma série regional de precipitações semestrais e trimestrais. Em seguida foi feita uma análise dos hietogramas acumulados do semestre chuvoso, de outubro a março, em função da fase da Oscilação Sul. E finalmente avaliação das correlações entre os totais pluviométricos trimestrais e semestrais com alguns indicadores climatológicos, ou seja, o índice de Oscilação Sul (SOI), as temperaturas médias mensais da superfície do mar de 4 regiões do 1 -Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais e Engenheiro Hidrológo da CPRM – Serviço Geológico do Brasil. Endereço: Avenida Contorno 842 - 8 andar CEP30110-060 Belo Horizonte, MG Brasil Fax : +(5531) 3238-1001. Email [email protected] 2 - Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Contorno 842 - 8 andar CEP30110-060 Belo Horizonte, MG Brazil Fax : +(55-31) 3238-1001 Email : [email protected] 3 - Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. Av. Antônio Carlos, 6627 - Campus da Pampulha, CEP 31.270-901 – Belo Horizonte - MG Telefone: 0xx31-34499-5433. e-mail: [email protected] Oceano Pacífico, as temperaturas médias mensais da superfície do mar do Atlântico Sul, as temperaturas médias mensais da superfície do mar de uma faixa tropical dos oceanos. Os resultados preliminares indicam que no semestre chuvoso, de outubro a março, a Oscilação Sul parece não influenciar os volumes precipitados, mas afeta a distribuição temporal das chuvas. Palavras-Chave: Oscilação Sul; El Nino; La Nina; Bacia do Alto São Francisco INTRODUÇÃO O clima apresenta uma grande variabilidade em diferentes escalas de tempo e espaço. Em geral, a variabilidade dos fenômenos com escala de tempo maior está freqüentemente associada às mudanças na circulação da atmosfera. As modificações das condições climáticas, decorrentes das alterações da circulação atmosférica, podem ocorrer sobre vastas partes de um hemisfério ou do globo sem que aparentemente estejam relacionados. As pesquisas sobre as relações entre as alterações da circulação atmosférica e seus efeitos no clima e conseqüentemente no regime hidrológico de várias regiões do planeta tiveram início no começo do século XX. Segundo Robson et al. (1998), a relação entre fenômenos em duas ou mais localidades que não apresentam uma conecção direta aparente é chamada de teleconecção. Atualmente a idéia de teleconecção é freqüentemente utilizada em associação com os índices de circulação, que são geralmente baseados na diferença de pressão entre duas localidades diferentes. De acordo com Robson et al. (1998), esses índices formam um meio eficiente de expressar movimentos atmosféricos freqüentes e complexos sobre uma área. Um dos temas mais abordados foram as influências do El Niño e La Niña sobre o clima. Esses fenômenos vêm sendo investigados desde a década de 20 quando foi sugerido que a Oscilação Sul apresentava correlação linear com as precipitações em várias partes do globo (Walker, 1923 e 1924,Walker e Bliss, 1932, mencionados por Ropelewski et al., 1989 e 1996). Os primeiros trabalhos realizados procuraram estabelecer as relações dos diferentes indicadores climáticos com as precipitações. As análises eram realizadas com técnicas estatísticas mais simples, tais como análise de correlações e a investigação das alterações nas precipitações, principalmente em relação às médias, quando ocorriam modificações na circulação da atmosfera. Um grande avanço ocorreu com os trabalhos desenvolvidos principalmente por Ropelewisk e Halpert (1989 e 1996) que passaram a comparar os percentis da distribuição de probabilidade das precipitações ajustadas para o período completo de dados com os percentis da distribuição ajustada aos dados do período de ocorrência de fenômenos associados com alterações na circulação atmosférica. Este artigo apresenta os primeiros resultados de um estudo que pretende verificar a possível influência da circulação de larga-escala, especificamente a Oscilação Sul (OS) e as temperaturas da superfície do mar do oceano Atlântico, sobre as precipitações e as vazões da bacia do Alto São Francisco, especificamente a área de drenagem do reservatório de Três Marias, situado em uma zona climática tropical na região sudeste do Brasil com área aproximada de 51.000 Km2. Entretanto, em função da necessidade de séries históricas mais representativas, nas análises realizadas foram utilizadas informações de precipitação que abrangem uma área de 90.616 km². OSCILAÇÃO SUL Robson e Henderson-Sellers (1998) definem a Oscilação Sul como uma flutuação na atmosfera intertropical e na circulação hidrodinâmica que configura uma variação quase periódica (2-4anos) na pressão atmosférica ao nível do mar, nos ventos de superfície, na temperatura da superfície do mar e a precipitação sobre grandes extensões do Oceano Pacífico. A Oscilação Sul pode ser medida através do Índice de Oscilação Sul (SOI). Tradicionalmente, este índice é calculado baseado na diferença da anomalia de pressão atmosférica entre o Taiti e a localidade de Darwin, na Austrália. Em geral, as séries temporais suavizadas de SOI correlacionam muito bem com as mudanças das temperaturas do oceano através do Pacífico tropical leste. A fase negativa do SOI representa pressões abaixo do normal no Taiti e acima do normal em Darwin. Períodos prolongados de valores negativos do SOI coincidem com aquecimento anormal das águas do Pacífico tropical leste que é típico dos episódios de El Nino ou fase quente da Oscilação Sul. Enquanto que períodos mais duradouros de valores positivos do SOI coincidem com esfriamento anormal das águas do Pacífico tropical leste, que é típico dos episódios de La Nina fase fria da Oscilação Sul. As fases quente e fria da Oscilação Sul caracterizam mudanças de larga escala na circulação atmosférica através do Pacífico tropical que estão associadas a modificações no clima de diferentes regiões da Terra. CPC (2003) registra várias dessas associações. METODOLOGIA A metodologia utilizada na investigação da relação entre a Oscilação Sul (OS) e as precipitações da bacia do Alto São Francisco foi constituída por três etapas. A primeira se refere a aplicação, com algumas modificações, da metodologia definida por Ropelewisk e Halpert (1989 e 1996) para uma série regional de precipitações semestrais e trimestrais. Em seguida foi feita uma análise dos hietogramas acumulados do semestre chuvoso, outubro a março, em função da fase da Oscilação Sul. E finalmente, foi realizada a avaliação das correlações entre os totais pluviométricos trimestrais e semestrais com alguns indicadores climatológicos, ou seja, o índice de Oscilação Sul (SOI), as temperaturas médias mensais da superfície do mar de 4 regiões do oceano Pacífico, as temperaturas médias mensais da superfície do mar do Atlântico Sul, as temperaturas médias mensais da superfície do mar de uma faixa tropical dos oceanos. Comparação de precipitações em diferentes percentis Primeiramente, foram calculados através do método de Thiessen os totais mensais médios de precipitação sobre a bacia hidrográfica. Esses totais mensais formaram séries temporais sazonais (três e seis meses). A seguir foram montadas séries referentes aos períodos comuns de ocorrência de precipitação e as fases quente, fria e neutra da Oscilação Sul. Os períodos de ocorrência das fases da Oscilação Sul estão apresentados na Tabela 1. Tabela 1 – Fases da Oscilação Sul por trimestre. ANO JFM AMJ JAS OND ANO JFM AMJ JAS OND ANO 1941 Q Q Q Q 1962 N N N N 1983 1942 Q N N N 1963 N N QQ 1984 1943 N N N N 1964 N N FF 1985 1944 N N N N 1965 FN Q Q+ 1986 1945 N N N N 1966 Q Q- QN 1987 1946 N Q Q Q 1967 N N N N 1988 1947 Q N N N 1968 N N N Q- 1989 1948 N N N N 1969 Q Q- QQ- 1990 1949 N N N N 1970 QN N F 1991 1950 F F F F 1971 F FFF- 1992 1951 F N N Q- 1972 N QQ Q+ 1993 1952 N N N N 1973 Q N FF+ 1994 1953 N Q- QN 1974 F+ F FF- 1995 1954 N N FF 1975 FFF F+ 1996 1955 F FFF+ 1976 F N N Q- 1997 1956 F F F F- 1977 N N N Q- 1998 1957 N QQ Q 1978 QN N N 1999 1958 Q+ Q QQ- 1979 N N N N 2000 1959 QN N N 1980 QN N N 2001 1960 N N N N 1981 N N N N 2002 1961 N N N N 1982 N QQ Q+ 2003 JFM AMJ JAS OND Q+ Q N FFFN FFFN N N N QQ Q Q Q+ Q QN FF+ F+ FN N N N QQQQQ Q Q+ Q+ QQQQ Q QN N Q Q Q N N FFN N N N Q Q+ Q+ Q+ Q FF F+ F FF F FN FFN N N N QQ Q QN N N Q Fase Quente; N neutro; F Fase Fria; + Forte e – Moderado. O período de 1950 a 2003 refere-se à classificação divulgada pelo Climate Prediction Center do National Weather Service do Estados Unidos da América. Nos anos anteriores a 1950 considerou-se a ocorrência da fase quente quando a média móvel de cinco meses do SOI permaneceu pelo menos 5 meses acima do percentil 70% da distribuição histórica. A ocorrência da fase fria foi adotada quando a média móvel de cinco meses do SOI permaneceu pelo menos cinco meses abaixo do percentil 30% da distribuição histórica. Os meses que não estavam nessas faixas foram classificados como neutros. Em seguida, foi ajustada uma distribuição Gama aos dados semestrais e trimestrais de precipitação de cada uma das fases da Oscilação Sul e do período completo. Segundo Haan (1977), a função densidade da distribuição Gama é dada por: f ( x; ; ) x 1e x ( ) x, , 0 (1) onde, é o parâmetro de escala, é o parâmetro de forma e ( ) é a função Gama. A função acumulada da distribuição Gama é: t 1e t dt ( ) 0 x F ( x; ; ) (2) A média, a variância e o coeficiente de assimetria da distribuição Gama são calculados através das seguintes equações: E( X ) Var ( X ) (3) 2 2 (4) (5) Através do método dos momentos, os parâmetros da distribuição Gama são estimados por: ˆ X S2 (6) ˆ X2 S2 (7) onde, X e S são, respectivamente, a média e o desvio-padrão amostrais Depois foram calculados os percentis de 10%, 30%, 50%(mediana), 70%, 90% e a diferença entre os percentis de 90% e 10%, obtidos a partir das distribuições ajustadas aos períodos completo e das fases quente, fria e neutra da Oscilação Sul. Finalmente foi feita uma comparação entre os percentis calculados. Análise dos hietogramas acumulados Outra abordagem na verificação das possíveis influências das diferentes fases da Oscilação Sul consiste na análise dos hietogramas de precipitações mensais acumuladas para o período úmido da região, que corresponde aos meses de outubro a março. Os hietogramas acumulados foram definidos para cada semestre chuvoso do período completo e das diferentes fases da Oscilação Sul. Foram calculados os hietogramas médios, medianos e de percentis 25 e 75% para comparação. Também foram realizadas as mesmas comparações para os hietogramas acumulados adimensionais. Estes são obtidos a partir da divisão dos valores acumulados até o tempo t pela precipitação total do semestre. Verificação das correlações Foram calculadas as correlações simples e analisados os diagramas de dispersão entre as temperaturas da superfície do mar do Oceano Pacífico (SST 1+2, SST 3, SST 4 e as respectivas anomalias) e do oceano Atlântico, o índice de oscilação sul (SOI) com os dados de precipitação média sobre a bacia do Alto São Francisco. Utilizou-se como medida da correlação o coeficiente linear de Pearson, definido como: r cov( x, y) sx s y (8) onde, r é coeficiente de correlação linear (-1 r 1), cov(x,y) é a covariância entre as variáveis, sx e sy são os desvios-padrão das amostras. As correlações são calculadas considerando séries semestrais e trimestrais contínuas e séries de semestres e trimestres específicos, sem defasagem (0), e com diferentes defasagens, (-1), (-2) etc. ÁREA EM ESTUDO A bacia do Alto São Francisco compreende as nascentes do rio São Francisco e os rios Pará, Paraopeba, Indaiá, Borrachudo, Abaeté e Velhas e seus afluentes. A região está localizada entre os paralelos 17º e 21º de latitude sul e os meridianos 43º30’ e 46º40’ de longitude oeste na região central de Minas Gerais (Figura 01). Possui uma área de aproximadamente 90.616 km2. A área em estudo apresenta temperatura média anual variando entre 19 e 23ºC, sendo que as menores temperaturas são encontradas ao sul da bacia devido à influência orográfica, ocorrendo um aumento gradativo assim que se alcançam as latitudes mais baixas. O mês mais quente, janeiro, apresenta média das máximas variando entre 28 e 30ºC. Já no período outono-inverno ocorre um significativo decréscimo de temperatura, sendo que a média das mínimas do mês mais frio, julho, varia entre 8º e 10ºC. Com relação às precipitações observam-se duas estações bem definidas, uma úmida de outubro a março e a outra seca, de abril a setembro. Os totais pluviométricos anuais variam, de forma geral, entre 1.700mm nas cabeceiras da bacia a 1.100mm na região mais a jusante da bacia. O trimestre mais chuvoso contribui com cerca de 55 a 60% do total anual precipitado, correspondendo, para a quase totalidade da bacia, aos meses de novembro-dezembro-janeiro. A exceção ocorre na extremidade ocidental da bacia, onde os meses mais chuvosos são dezembro, janeiro e fevereiro. Já o trimestre mais seco, correspondente aos meses de junho, julho e agosto, contribui com menos de 5% da precipitação anual. Figura 1 – Localização da bacia do Alto São Francisco PRIMEIROS RESULTADOS A série de precipitação média mensal sobre a bacia do Alto São Francisco, referente ao período de out/1958 a dez/2000, foi calculada com os dados das 26 estações pluviométricas apresentadas na Figura 2. Esta figura também mostra os polígonos de Thiessen utilizados na estimativa da precipitação média mensal. A Figura 3 apresenta as precipitações anuais da bacia do Alto São Francisco adimensionalizadas pela média com a indicação dos anos em que ocorreu a fase quente ou a fria nos meses de outubro a março. Figura 2 – Polígonos de Thiessen Figura 3 – Precipitação Anual Adimensional sobre a bacia do Alto São Francisco Os parâmetros da distribuição Gama para as precipitações semestrais e trimestrais foram estimados com as Equações 6 e 7. A média, a variância e o coeficiente de assimetria da distribuição Gama foram calculados com Equações 3, 4 e 5, respectivamente. A Tabela 02 apresenta os parâmetros estimados para cada uma das séries de precipitações semestrais e trimestrais. Os gráficos com as distribuições empíricas e teóricas das precipitações trimestrais estão na Figura 4. Tabela 02 – Parâmetros da Distribuição Gama para as séries de precipitações Esc Completo Neutro Fase Quente Fase Fria Completo Neutro Fase Quente Fase Fria 0,03522 0,03445 0,03410 0,04025 0,03946 0,05252 0,04464 0,02337 Escala Trimestre JFM 0,01775 AMJ 0,04298 JAS 0,03404 OND 0,03340 JFM 0,01979 AMJ 0,04623 JAS 0,02843 OND 0,03685 JFM 0,02102 AMJ 0,05182 JAS 0,04309 OND 0,03009 JFM 0,01246 AMJ 0,04197 JAS 0,09550 Semestre Abr-Set Out-Mar Abr-Set Out-Mar Abr-Set Out-Mar Abr-Set Out-Mar Forma- 5,695 40,613 5,019 50,653 7,776 59,563 7,275 26,781 E(X) 161,7 1178,9 147,2 1258,3 197,1 1134,1 163,0 1146,0 Var (X) 4590,8 34220,8 4317,0 31258,6 4993,3 21594,6 3650,4 49036,5 0,838 0,314 0,893 0,281 0,717 0,259 0,741 0,386 DP 67,8 185,0 65,7 176,8 70,7 147,0 60,4 221,4 Mediana 153,5 1145,8 147,8 1172,3 209,0 1121,6 174,5 1108,3 Forma- 10,394 4,229 2,155 19,806 12,277 4,170 2,042 23,613 12,456 6,587 2,780 15,793 6,512 3,461 3,810 E(X) 585,5 98,4 63,3 592,9 620,3 90,2 71,8 640,9 592,6 127,1 64,5 524,9 522,6 82,5 39,9 Var (X) 32978,7 2289,2 1859,3 17749,7 31337,0 1951,2 2526,0 17393,2 28196,5 2453,0 1497,0 17446,7 41937,0 1964,8 417,7 0,620 0,973 1,362 0,449 0,571 0,979 1,400 0,412 0,567 0,779 1,200 0,503 0,784 1,075 1,025 DP 181,6 47,8 43,1 133,2 177,0 44,2 50,3 131,9 167,9 49,5 38,7 132,1 204,8 44,3 20,4 Mediana 557,2 87,2 61,2 578,3 615,5 82,3 68,2 629,6 550,2 111,8 69,8 521,6 485,3 75,0 37,2 OND 0,05428 33,926 625,0 11512,8 0,343 107,3 588,8 Observa-se que as médias e as medianas das precipitações do semestre chuvoso nas diferentes fases da Oscilação Sul são semelhantes à média e a mediana do período completo de dados. No período seco, de abril a setembro, a média e a mediana da fase quente da OS foram pelo menos 22% maiores que as do período completo. Na fase fria, a média da precipitação semestral é muito próxima a do período completo e a mediana é superior em 14%. Na fase quente, as precipitações médias e medianas dos trimestres AMJ foram pelo menos 28% superiores as do período completo e nos outros trimestres ficaram na faixa de 15%. Na fase fria, as precipitações média e mediana do trimestre JAS são 37% inferiores as do período completo e nos outros trimestres os valores são próximos. Na fase neutra, somente a precipitação média do trimestre JAS se afasta mais de 10% do período completo. Quando se considera as precipitações medianas dessa fase, somente a do trimestre JAS é mais de 10% superior a do período completo. Análise de Freqüência - Completo GAMA GAMA OND JAS Análise de Freqüência - Neutro GAMA GAMA JFM AMJ 1200 1200 1000 1000 Precipitação (mm) Precipitação (mm) JFM AMJ 800 600 400 OND JAS GAMA GAMA 800 600 400 200 200 0 0 1 10 Tr (anos) 1 100 Análise de Freqüência - Fase Quente JFM AMJ GAMA GAMA OND JAS 10 Tr (anos) 100 Análise de Freqüência - Fase Fria GAMA GAMA 1200 1200 1000 1000 Precipitação (mm) Precipitação (mm) GAMA GAMA 800 600 400 200 0 JFM AMJ GAMA GAMA OND JAS GAMA GAMA 800 600 400 200 0 1 10 Tr (anos) 100 1 10 Tr (anos) 100 Figura 4 – Ajuste das distribuições das precipitações trimestrais Os percentis calculados para as precipitações semestrais estão apresentadas na Tabela 03. Analisando o semestre seco observa-se que na fase quente a precipitação é maior em todos os percentis, no mínimo 15% superior a do período completo. A fase fria apresentou resultados muito semelhantes ao período completo e na fase neutra os percentis foram inferiores, variando de 86 a 93% dos valores estimados para o período completo. No semestre chuvoso, os percentis calculados para as fases da OS estiveram na faixa de 92 a 109% das precipitações estimadas para todos os percentis do período completo. Tabela 03 – Precipitações semestrais em diferente Percentis (mm) Período 10% Completo 83,2 Normal 71,7 Fase Quente 113,6 Fase Fria 91,9 Preríodo Completo Normal Fase Quente Fase Fria 10% 948,9 1037,7 950,4 872,9 Abril a Setembro 30% 50% 70% 120,6 152,3 189,3 107,1 137,5 173,4 154,8 188,7 227,1 126,7 155,6 188,5 Outubro a Março 30% 50% 70% 1075,3 1169,2 1268,5 1159,9 1250,0 1344,7 1052,7 1127,8 1206,4 1020,3 1131,7 1251,0 90% 90% - 10% 252,3 169,1 235,2 163,4 291,3 177,7 243,6 151,7 90% 90% - 10% 1421,3 472,4 1489,5 451,8 1326,1 375,7 1437,3 564,4 Os percentis estimados para as precipitações trimestrais estão na Tabela 04 e as comparações na Figura 5. Analisando o trimestre JFM observa-se que as diferenças entre as precipitações das fases quente e neutra da OS com o período completo são inferiores a 12% em todos os percentis. Na fase fria, as precipitações trimestrais são menores que as do período completo, com diferenças superiores a 10% nos percentis 10, 30 e 50%. Os resultados do trimestre AMJ mostram que as precipitações trimestrais na fase quente são superiores as do período completo em todos os percentis, variando de 19 a 57%. As precipitações da fase neutra são semelhantes as do período completo e as precipitações da fase fria são de 13 a 25% inferiores. No trimestre JAS, as precipitações na fase quente são maiores que as do período completo nos percentis de 10 a 50%, com diferenças de 6 a 25%. A fase neutra mostrou resultados semelhantes à do período completo e, na fase fria, as precipitações são sempre inferiores com diferenças de 6 a 44%. As precipitações do trimestre OND nas fases fria e neutra são superiores às do período completo em quase todos os percentis, exceção feita à fase fria para o percentil 90%. Entretanto, as diferenças entre as precipitações da fases da OS e período completo são inferiores a 15%. Na fase quente, as precipitações trimestrais são inferiores as do período completo em todos os percentis, com as diferenças variando de 9 a 15%. Tabela 04 – Precipitações trimestrais em diferentes Percentis (mm) Completo Normal Fase Quente Fase Fria Completo Normal Fase Quente Fase Fria Completo Normal Fase Quente Fase Fria Completo Normal Fase Quente Fase Fria Janeiro-Fevereiro-Março 10% 30% 50% 70% 90% 368,1 478,4 566,8 665,5 826,9 406,9 516,7 603,5 699,5 855,2 390,2 494,5 576,9 667,9 815,4 283,2 399,1 496,1 607,7 796,1 Abril-Maio-Junho 10% 30% 50% 70% 90% 44,2 68,9 90,8 116,8 162,5 40,2 63,0 83,1 107,2 149,4 69,2 97,3 120,7 147,7 193,3 33,2 54,9 74,7 98,8 141,9 Julho-Agosto-Setembro 10% 30% 50% 70% 90% 18,0 35,9 53,8 77,1 121,0 19,5 39,8 60,5 87,6 139,0 22,5 40,2 57,0 78,0 116,4 16,9 27,2 36,5 47,6 67,3 Outubro-Novembro-Dezembro 10% 30% 50% 70% 90% 429,9 516,5 583,0 654,9 768,8 478,7 565,7 631,8 702,9 814,6 364,3 448,5 513,9 585,4 699,7 492,0 564,6 618,8 676,5 765,8 90% - 10% 458,8 448,2 425,3 512,9 90% - 10% 118,3 109,2 124,1 108,7 90% - 10% 103,0 119,5 93,9 50,3 90% - 10% 338,9 335,9 335,4 273,8 Figura 5 – Comparação das precipitações trimestrais em diferentes percentis A Outra abordagem na verificação das possíveis influências das diferentes fases da Oscilação Sul foi a análise dos hietogramas de precipitações mensais acumuladas para período de outubro a março. A Figura 6 mostra os hietogramas acumulados e adimensionais médios e as respectivas relações entre o período completo de dados e as fases da Oscilação Sul. Analisando essa figura observa-se que até 50% do tempo total, que corresponde ao trimestre OND, os volumes precipitados na fase fria são superiores ao do período completo enquanto que na fase quente são inferiores. A partir desse ponto no eixo das abscissas, os volumes acumulados na fase quente aumentam e tendem a se aproximar dos valores do período completo. Para ilustrar o comportamento temporal diferenciado das fases da Oscilação Sul, a Tabela 05 apresenta as relações entre os volumes acumulados nas fases quente e fria em diferentes percentis. Tabela 5 - Relação entre a Precipitação Acumulada na Fase Quente e na Fase Fria Hietograma Acumulado % Tempo 16.7 % 33.3 % 50.0 % 66.7 % 83.3 % 100.0 % Hieto. Médio 0,72 0,77 0,83 0,98 1,01 0,99 Hieto. Mediano 0,70 0,73 0,87 0,96 1,05 1,01 Percentil 25% 0,55 0,73 0,84 0,95 1,05 1,00 Percentil 75% 0,79 0,78 0,85 0,99 0,99 0,95 Hietograma Acumulado Adimensional % Tempo 16.7 % 33.3 % 50.0 % 66.7 % 83.3 % 100.0 % Hieto. Médio 0,68 0,75 0,83 0,99 1,02 1,0 Hieto. Mediano 0,67 0,83 0,83 0,95 1,01 1,0 Percentil 25% 0,57 0,65 0,85 1,00 0,98 1,0 Percentil 75% 0,74 0,79 0,88 1,01 1,06 1,0 Figura 6 – Hietogramas Considerando os resultados das correlações entre as precipitações com os indicadores climatológicos utilizados, ou seja, o índice de Oscilação Sul (SOI), as temperaturas médias mensais da superfície do mar de 4 regiões do oceano Pacífico, as temperaturas médias mensais da superfície do mar do Atlântico Sul, as temperaturas médias mensais da superfície do mar de uma faixa tropical dos oceanos, verificou-se comportamentos bastante diferenciados em função da duração, tal como se descreve a seguir. a) Correlações Semestrais As variáveis climáticas que apresentaram maiores correlações com as precipitações foram as temperaturas da superfície do mar da região Niño 1+2, variando de -0,4657 a 0,4994, e as temperaturas da superfície do mar na região Atlântico Sul com valores entre -0,6037 e 0,6078. As correlações são cíclicas e sempre acima de 0,45, as defasagens de maiores correlações são de (-4) para o Atlântico Sul e (0) para o Niño 1+2. b) Correlações com o semestre de abril a setembro Considerando as precipitações, as variáveis com maiores correlações foram a temperatura da superfície do mar na região Nino 1+2 e sua anomalia, com valores de 0,4775 e 0,4790 respectivamente. As maiores correlações foram obtidas sem defasagem. c) Correlações com o semestre de outubro a março As temperaturas da superfície do mar nas regiões Niño 1+2 e Tropical e as respectivas anomalias foram as variáveis que apresentaram maiores correlações com as precipitações. Os valores máximos variaram de 0,31 a 0,3219 com defasagem de (-4). d) Correlações trimestrais As maiores correlações com as precipitações ocorreram com as temperaturas da superfície do mar nas regiões Atlântico Sul, Niño 1+2 e Niño 3, com valores 0,8356, -0,7319 e -0,6166 respectivamente. As correlações são cíclicas com os maiores valores nas defasagens (-3), (-5) e (-7). e) Correlações com o trimestre JFM As temperaturas da superfície do mar nas regiões Niño 1+2 e as suas anomalias com defasagem (-8) foram as que apresentaram as maiores correlações com as precipitações, 0,3274 e 0,3258. O Índice de Oscilação Sul (SOI), defasagem (-1), é a variável de maior correlação, -0,2286, para as menores defasagens. f) Correlações com o trimestre AMJ As precipitações apresentaram maiores correlações com as temperaturas da superfície do mar nas regiões Niño 1+2, Niño 3 e suas respectivas anomalias quando não houve defasagem, com os valores máximos variando de 0,3291 a 0,3712. Considerando as outras defasagens, a maior correlação encontrada foi com o SOI, -0,2988, e defasagem (-1). g) Correlações com trimestre JAS A temperatura da superfície do mar na região Niño 1+2 e sua anomalia, ambas com defasagem (-1), apresentaram as maiores correlações com as precipitações, respectivamente 0,3613 e 0,3645. h) Correlações com o trimestre OND Todas as correlações com as precipitações foram inferiores |0,3|. As maiores foram encontradas na defasagem (-6) com as temperaturas da superfície do mar nas regiões Niño 1+2 e Niño 4 (-0,2870 e 0,2754) e suas anomalias (-0,2772 e 0,2752). Em defasagem menores, a temperatura da superfície do mar no Atlântico Sul e sua anomalia, ambas com defasagem (-3), apresentaram as maiores correlações, 0,2417 e 0,2412. CONCLUSÕES As correlações obtidas com séries contínuas, semestrais ou trimestrais, são maiores que aquelas calculadas para semestres ou trimestres específicos. As variáveis temperaturas da superfície do mar nas regiões Niño 1+2 e no Atlântico Sul foram as que apresentaram, na maioria dos casos, as maiores correlações com as precipitações. As anomalias das temperaturas da superfície do mar nas regiões Nino, principalmente o Niño 1+2 e Niño 3 apresentam maiores correlações quando se utiliza séries de períodos específicos. Mesmo considerando as incertezas inerentes às metodologias aplicadas, principalmente, em relação ao tamanho das amostras disponíveis e suas conseqüências para as análises de freqüência, é plausível fazer os seguintes indicativos sobre as possíveis influências das fases da Oscilação Sul nas precipitações médias da bacia do Alto São Francisco. Em relação às precipitações semestrais A fase quente parece interferir nos volumes precipitados do semestre de abril a setembro. O valor esperado e a mediana da distribuição ajustada para esta fase são superiores aos dos outros períodos, além de apresentar o menor coeficiente de assimetria. As distribuições ajustadas aos semestres chuvosos, outubro a março, apresentam valores esperados e coeficientes de assimetria semelhantes. Entretanto, é importante ressaltar que os parâmetros da distribuição associada à fase fria da Oscilação Sul diferem bastante dos estimados para os outros períodos. Estes resultados parecem indicar que a Oscilação Sul não influencia os volumes precipitados. Todavia, parece afetar a distribuição temporal das chuvas, como pode ser verificado na Figura 6. Na fase fria a precipitação acumulada no início do ciclo chuvoso, principalmente nos três primeiros meses, tende a ser maior que as dos outros períodos. Na fase quente ocorre o contrário, os volumes acumulados são superiores no final do ciclo, de janeiro a março, e inferiores no início. A redução da precipitação no início do período chuvoso provavelmente está associada ao fortalecimento do Jato Sub-tropical decorrente do aumento do gradiente de temperatura entre o Equador e os Pólos durante a fase quente. A intensificação desses jatos cria uma barreira para os sistemas frontais que chegam ao sul do país, dificultando o avanço destes sistemas até o sudeste. Além disto durante esta fase a precipitação no leste da Amazônia é reduzida, o que inibe a associação entre a convecção continental e os sistemas frontais a qual se estende por todo o norte, centro e sudeste brasileiro. Este fenômeno ocorre principalmente na primavera (OND) do ano em que a fase quente se inicia. O contrário é observado na fase fria quando as precipitações neste trimestre são superiores às do período completo. Em relação às precipitações trimestrais Os parâmetros de forma das distribuições da fase fria são muito distintos dos estimados para os outros períodos em todos os trimestres. Além disso, o valor esperado para a fase fria é menor em três trimestres, JFM, AMJ e JAS. Comparando os valores esperados das distribuições ajustadas ao trimestre AMJ, verifica-se que o maior valor ocorre na fase quente da Oscilação Sul. Este resultado indica que esta fase parece influenciar o trimestre AMJ aumentando os volumes precipitados. Analisando a Figura 4 observa-se que as fases quente e fria da Oscilação Sul apresentam comportamentos opostos durante os trimestres de OND e JFM. Os totais precipitados durante a fase quente no trimestre de JFM são superiores aos do trimestre de OND em todos os tempos de retorno. Enquanto que na fase fria o volume precipitado no trimestre de OND é superior ao do trimestre JFM até em percentis superiores a 90%. No trimestre de OND parece haver uma tendência de precipitações menores na fase quente da Oscilação Sul uma vez que a distribuição ajustada apresenta o menor valor esperado e analisando a Figura 5 observa-se que os volumes precipitados são inferiores em todos os percentis. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CPC 2003 (Climate Prediction Center–National Weather Service). The Enso Cycle. Available at: <http://www.cpc.ncep.noaa.gov/products/analysis_monitoring/ensocycle/enso_cycle.html> Acesso em 03 feb. 2003. CPRM/DNAEE. 1995 Projeto Análise de Consistência de Dados Pluviométricos - Bacia do Alto São Francisco - Sub-Bacia 40 a 44. Relatório Técnico Parcial Sub-Bacia 40. Belo Horizonte, 3v. Haan, C. T. 1979 Statistical Methods in Hydrology. 2nd ed. The Iowa State University Press/Ames. 378 p. Ropelewski, Cf., Halpert, M.S. 1989 Precipitation patterns associated with the high index phase of the Southern Oscillation. In: Journal of Climate. Vol. 2, pag. 268—284. 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