Relatório NEB

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DEVOLUTIVA – GERÊNCIA NORTE EIXO-BALTAZAR
VERSUS – 2015/JAN
 SEMINÁRIO DE INTEGRAÇÃO DA SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE
Foi-nos apresentado dados epidemiológicos referente ao município de Porto Alegre, em
que ficou evidenciado a situação de saúde do município. Entres as questões abordadas, a
diferença das condições de saúde no recorte entre a população negra e branca foi de extrema
valia, visto que discutimos os determinantes sociais que permeiam a população negra na
semana anterior; a necessidade do trabalho dos agentes de endemias, positivos nos resultados
obtidos com relação as demais capitais brasileiras. Foi marcante para todos os dados
epidemiológicos da tuberculose no município, principalmente das populações vulneráveis,
como a prisional. Em seguida, foi-nos apresentado o alinhamento da rede de atenção à partir
da atenção primária em saúde. Tal espaço foi interessante, pois a partir do entendimento do
sanitarista que trouxe o trabalho desenvolvido pela secretaria, pautamos a importância do
trabalho do agente comunitário de saúde, momento esse que houve um rico debate entre
estudantes e secretaria.
A tarde seguimos com a rede de urgência e emergência, em que as portarias com relação a
Unidades de Pronto Atendimento (UPA) nos foi apresentada, seguindo da importância dessas
unidades para diminuição do volume de usuários nas portas de urgências e emergências
hospitalares. Foi-nos explicado o fluxo das redes de atenção e a forma com a qual a SMS faz
seu planejamento, desde construção a operacionalização.
Por fim, o controle social fez sua apresentação, em que trouxe relatos pessoais do
envolvimento com o conselho, formas de luta, conquistas e pautas futuras. Esse momento
trouxe a importância do envolvimento dos usuários com o controle social, já que 50% das
cadeiras são dos mesmos.
Entendemos que esse espaço foi essencial para entendermos as necessidades do município e o
quanto ainda no papel de usuários e profissionais de saúde e demais áreas temos a conquistar
para uma saúde igualitária, equitativa e de qualidade; seja para além da teoria. Os dados
fomentaram debates em que os números trouxeram a realidade expressa e urgente da
população.
 APRESENTAÇÃO DA GERÊNCIA DISTRITAL
Conhecemos os profissionais que compunham parte da gerência distrital e os que nos
acompanhariam durante a vivência. O distrito Norte Eixo Baltazar foi apresentado, sendo que
é composto por três principais bairros: Rubem Berta, Sarandi e Passo das Pedras, as unidades
que o distrito contém, assim como a população atendida e algumas de suas características.
O NASF (Núcleo de Apoio a Saúde da Família) forneceu apoio fundamental devido a
interlocução entre as unidades e conhecimento da população. Nesse espaço foi apresentado
qual o trabalho desse núcleo e tivemos a oportunidade de discutir a importância do
matriciamento para as unidades.
Seguimos discutindo a Atenção Primária em Saúde, através de uma dinâmica em que os
conceitos de integralidade, coordenação do cuidado, primeiro contato, longitunalidade eram
ligados a partir das falas ouvidas de usuários. O momento foi válido para conhecermos o
atendimento dado a população, desde a sua estrutura até situações características dos bairros.
O momento da dinâmica nos remeteu a situações que vivenciamos enquanto usuários e/ou
acadêmicos, o que trouxe falas importantes.
Apreciamos muito a forma como foi conduzida a manhã, já que durante as abordagens dos
profissionais da gerência as nossas falas eram consideradas e continuadas, o vínculo que foi
criado e principalmente o preparo que houve para iniciarmos a vivência.
ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE
 ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA DOMENICO FEOLLI
Encontramos uma unidade de saúde acolhedora no que tange a estrutura da unidade. Para
as acadêmicas de Enfermagem foi interessante visualizar na estrutura a diferenciação de sala
de material sujo e limpo. Em geral, o agendamento na unidade foi uma troca positiva, através
da educação, agendamento de consultas e demanda espontânea atendida de acordo com a
capacidade. A enfermeira da unidade trouxe questões da população atendida, desde condições
de saúde, sendo os adultos os que mais procuram a unidade, a questões de violência entre
outros. Estar localizada em um território de paz teve importante papel na comunidade,
inclusive para os profissionais. Entendemos como fator positivo na unidade o acolhimento
que é realizado por todos os funcionários.
O agente comunitário de saúde Anderson, com o qual tivemos contato, apresentou-nos a
forma como sistematiza seu trabalho e a partir disso foi perceptível que o seu engajamento e
motivação em suas atribuições refletem nos resultados de suas atividades. É importante
ressaltar que tal agente foi qualificado pela ESP (Escola de Saúde Pública) para entender
territorialização, entre outros conceitos.
Através dos dados da secretaria de saúde, questionamos a questão de saúde da população
negra e a mesma tem dias específicos para prestar atendimento na unidade interligado aos
grupos realizados na mesma. Ao final da visita registramos o grafite na entrada na unidade
que ressalta a saúde da população negra, onde a mesma se identifica.
 UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE SARANDI
É interessante a distribuição de fichas de atendimento, essa que respeita a legislação de
prioridades, assim como a divisão da consulta ou procedimento que será realizado.
Ficou-nos confusa a resposta do questionamento sobre o acolhimento, onde a
coordenadora trouxe que duas técnicas de enfermagem estão sendo qualificadas para tal.
Debatemos a Política Nacional de Atenção Básica – acolhimento, em que a mesma deveria
qualificar todos os membros da equipe para a realização da escuta qualificada e da
resolutividade do problema. Acreditamos que ela quis trazer a questão da triagem, seja em
sinais vitais ou encaminhamentos.
Quanto a estrutura física, divisórias de material móvel acabam por diminuir a privacidade
do paciente, assim como as cores e a iluminação da unidade não vão de encontro a
humanização do ambiente. Já em busca dessa humanização, salas como a de vacina foram
decoradas pelos profissionais.
A unidade atingiu a meta estipulada pela secretaria de saúde e alcançou o maior número
de vacinas contra o Papiloma Vírus Humano (HPV), sendo esse resultado fruto do trabalho da
unidade junto às escolas.
Achamos interessante a organização dos prontuários, diminuindo conflitos entre a equipe
já que há também a separação por cores. Entre outros pontos positivos, encontramos a
resolutividade trazida por duas médica do Programa Mais Médicos, já que a mesma estabiliza
situações de risco antes de encaminhamentos e também prescreve medicações endovenosas
para serem administradas dentro da unidade, o que até então nos foi novidade, apesar da
Política Nacional de Atenção Básica abranger esses atendimentos e proporcionar na grande
maioria de vezes estrutura para tal atendimento.
 FARMÁCIA DISTRITAL
Em visita a farmácia distrital, encontramos como ponto negativo o pequeno espaço físico
onde ficam os materiais de distribuição e a farmacêutica responsável. O local onde é feita a
entrega da medicação também é um espaço relativamente pequeno e com pouca circulação de
ar, o que vai contra as normativas estipuladas para farmácia. Pontuamos que, ainda que os
profissionais sejam capacitados e estejam atentos, as chances de que ocorram trocas nas
medicações é pertinente devido à variedade de medicamentos, grande fluxo de atendimentos e
espaço físico pequeno.
Um fator que nos chamou atenção é o grande número de dispensação de medicações
psicotrópicas, que na realidade, expressa a debilidade da rede, já que é mais cômodo
medicalizar do que tratar através do empoderamento do paciente, assim como com
psicoterapia, modificando paradigmas culturais e biomédicos. Além disso, expressa o
adoecimento dos trabalhadores de uma forma geral e a produção da vida que está debilitada
dentro deste sistema.
REDE DE ATENÇÃO HOSPITALAR
 UPA MOACYR SCLIAR
A unidade apresenta um grave problema de infraestrutura, tornando-se discutível a
questão do valor dispendido para construção da unidade e o resultado final da obra,
considerando que foi construída há dois anos. As paredes são construídas de gesso acartonado
o que dificulta as modificações que necessitam ser feitas na unidade. Além disso, o forro em
diversas áreas da unidade já caiu por causa do ar central que não tem para onde escoar a água.
Também, o fluxo, no que tange a classificação de risco, é dificultado pela infraestrutura. Não
tem um espaço específico para nebulização – é junto à sala de administração de
medicamentos – e leito isolamento é defronte à cozinha. Há conflitos entre a equipe pela
questão do dormitório, por causa dos diferentes horários de trabalho.
A UPA vem de encontro à política de diminuição de atendimentos na Rede de Urgência e
Emergência hospitalares, descentralizando o atendimento e otimizando os fluxos, o que foi
evidenciado no Hospital Nossa Senhor da Conceição.
 EMERGÊNCIA E UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA – HOSPITAL CRISTO
REDENTOR
O acesso das ambulâncias é inadequado, visto a circulação de pedestres (não tem barreira
física) e a falta de uma rua com mão dupla. A classificação de risco utilizada é o Manchester,
o que otimiza o fluxo de atendimentos. A emergência é muito bem preparada e equipada para
receber pacientes de alta complexidade – cirurgia traumatológica e neurologia.
Na UTI, foi evidente a organização da unidade, porém não há leitos pediátricos separados
e faltam enfermeiros assistenciais. Destaca-se o empenho e dedicação da equipe de
Enfermagem no aprimoramento do serviço de saúde (kits de materiais prontos para utilizar).
Lembramos que, por mais que a estrutura oferecida seja dentro do esperado, ainda
objetivamos que o Sistema Único de Saúde seja 100% público, assim como suas gestões.
Dinheiro público em mãos de direito privado não nos representa enquanto acadêmicos e
militantes.
 EMERGÊNCIA DO HOSPITAL NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO
O HNSC é um hospital geral e, portanto, recebe uma demanda que muitas vezes excede a
capacidade permitida por absorver diferentes casos clínicos. Essa foi a nossa percepção frente
à situação com a qual nos deparamos ao chegar na urgência/emergência: sobrecarga de
trabalho para os profissionais de saúde, estrutura física mínima frente a necessidade e o
constante estresse ao qual estão expostos seus usuários.
Não há leitos suficientes, já que naquele momento, havia um número maior de trinta
pessoas internadas no corredor, em cadeiras de sala de espera. Por algumas vezes nos foi dito
que aquele número era menor do que o habitual. Foi bastante chocante depararmos pessoas
com procedimentos invasivos, como sondagem vesical de demora, ao invés do material estar
suspenso em um leito, se encontravam em contato com o chão, abaixo de uma cadeira onde se
encontra o paciente. Definimos esse usuário de paciente, assim como os outros, pela paciência
de se submeter a um quadro falido de conforto e dignidade dentro dessa área hospitalar.
Por algumas vezes nos perguntamos sobre essas condições, fluxos de internação,
absorção de casos pelas UPA’s e demais hospitais. Ficamos esperançosos ao ouvir que
diminuiu de 800 para 300 atendimentos em média de urgências e emergências/dia após a
implantação da UPA. Dessa forma, a descentralização faz aí seu papel.
Nos chama a atenção a sala de controle de câmeras ser dentro da sala vermelha, essa
que teoricamente é a que deve haver o menor risco de contaminação possível. Ainda dentro
desse quesito, já se torna positivo as paredes dos leitos de internação terem pintadas imagens
que remetem a natureza, o que humaniza o ambiente e acolhe no momento da dor. Porém,
novamente retomamos a questão do número de leitos, já que é maior o número de pacientes
que os m² oferecem. Não questionamos números de profissionais.
Foi interessante ouvir por parte dos profissionais que permeamos um diálogo, o quão
difícil é lidar com o que aprendemos e buscamos ser enquanto servidores da ponta, e as
situações que encontramos na realidade.
 CAPS II
Ao chegar no CAPS II fomos recebidos pela enfermeira que brevemente iniciou uma
conversa conosco relatando os atendimentos que lá eram realizados, as oficinas destinadas aos
usuários e serviços prestados. Neste momento, presenciamos os problemas de referência e
contra referência, principalmente de comunicação entre os serviços, os quais quem mais sofre
é o próprio usuário.
A enfermeira abriu mão de sua fala pra ouvirmos o relato de uma mãe cujo filho, também
presente, estava recebendo alta do serviço. Na sua fala a mãe retratou a desinstitucionalização,
a qual foi um dos objetivos da reforma psiquiátrica e como este processo auxiliou no
tratamento de seu filho. As tocantes palavras: “antes via meu filho internado em um hospital,
como algo sem cura. Estávamos distantes e chegou um ponto que preferia ele em surto em
casa do que lá naquele hospital. Desde então, que ele passou a frequentar o CAPS, ele fez
tratamento com várias pessoas e em bem menos tempo teve menos sintomas e hoje tem uma
vida normal ... e a família junto no tratamento.”
Ouvimos o relato de mais uma usuária referente ao serviço e nos deparamos com questões
sociais que permeiam fortemente a saúde mental. Ela trouxe a situação da família e o quanto o
CAPS foi importante nas pequenas vitórias.
Percorremos os corredores e salas da instituição, percebemos uma certa dificuldade na
questão da acessibilidade no serviço e nos questionamos o fato da piscina ser um grande vaso
de plantas ao invés de ser um espaço em potencial para atividades físicas a exemplos de
outros CAPS do estado. Importante trazer que as divisórias também são móveis, o que retira a
privacidade da psicoterapia.
Dentre as oficinas, essas utilizadas como recursos terapêuticos, a de poesia traz tocantes
mensagens subjetivas dos sentimentos dos usuários através das palavras. Há oficinas de
cinema, caminhada, arteterapia, sala de espera com a confecção de fuxicos, entre outros.
Estão aguardando um professor de musicoterapia.
Para nós, foi um momento importante, pois através da fala dos usuários reforçamos a luta
antimanicomial dentro de nós mesmos. É uma luta de todos nós
 CAPS AD III
O CAPS apresenta uma estrutura satisfatória e acolhedora, já que utiliza de materiais
feitos em suas oficinas como decoração, deixando o ambiente mais alegre. Saliento que possui
elevador para cadeirante, sendo o mais acessível comparado aos demais, porém é triste que
isso seja ao fato de anteriormente ser uma clínica particular.
O leito de observação defronte ao posto de enfermagem virou depositário, o que põe em
risco o paciente que lá se encontra em caso de surto psicótico. A equipe se demonstrou
bastante acolhedora, inclusive quando interrompemos a reunião para sermos apresentados.
O maior déficit do serviço é a falta de transporte para deslocar os pacientes entre a rede.
Além disso, a dificuldade de atendimento integral a pacientes que dispensam maior cuidado,
como diabéticos, hipertensos, entre outros.
 CAPSi
O CAPSi não trabalha com portas abertas, trabalhando com a referência da atenção básica,
o que não segue os princípios do SUS. Questionamos sobre isso e o profissional de referência
do serviço no momento nos respondeu que apenas casos agudizados.
Em questão estrutural, há um grande número de escadas inclusive sem corrimão, o que
põe em risco as crianças no serviço. A sala de oficina é a única com ar condicionado. Ainda
sim é um ambiente acolhedor, com revistas, jogos, brinquedos para as crianças.
Entre todas as conversas, as que mais nos geraram debate foram o fato de que pais
adoecidos, são crianças adoecidas e ainda há as que não tem necessidade de psicoterapia ou
medicalização e por questões de força maior acabam sendo vítimas disso.
 CRAS e CREAS
A Política de Assistência Social como um todo é muito distante da formação dos
profissionais com currículos específicos para a área de saúde. Para muitos de nós foi o
primeiro contato com a área de fato. Fomos muito bem recebidos por ambas as equipes.
Todos os profissionais são de suma gentileza.
O CREAS em específico, trabalha como a atenção secundária no SUS. Desde a violência
contra a mulher, a vulnerabilidade de crianças e adolescentes. Em diálogos, percebemos o
quão interessante foi o a troca dos trabalhadores do NASF com os profissionais da assistência
social, momento esse que foi de rico aprendizado para nós. Discutimos a importância da
valorização do sujeito, dentro de suas escolhas de modo de vida, como a de populações em
situação de rua.
FUNDAÇÃO GAÚCHA DE BANCOS SOCIAIS
Esse foi um espaço essencial para nossa formação reflexiva dentro do contexto da
vivência. A priori, a busca por tal fundação seria a de percebermos que serviços como esse
também fazem parte da saúde, já que dispensam alimentação, vestuário, órgãos, matérias de
construção, entre outros. Porém, nos questionávamos a partir das falas de presidências da
fundação, essas de diretores de banco à donos de grandes empresas: Trabalhadores explorados
enriquecem a burguesia, as mesmas adentram nas lacunas do estado, esses mesmos
trabalhadores produzem mais do que é consumido, logo esse desperdício retorna a esses
mesmos trabalhadores, incapacitados de produzirem suas próprias riquezas, o que os torna
dependentes de dispensação “voluntária” de bens consumíveis. Além disso, com o abate do
imposto de renda e do ICM, somando a boa publicidade que gera esse tipo de trabalho perante
a sociedade, a burguesia só tem vantagens ao se engajar nesse tipo de trabalho.
Quando um ex-diretor de banco, branco, que obteve todas as oportunidades possíveis
dentro da classe média alta da sociedade, se põe perante a acadêmicos para desconstruir as
necessidades da assistência social, o debate e a paciência, visto os dados positivos de tais
políticas nesse momento, são trabalhados. É com esses exemplos que tocamos a nossa luta,
cada vez mais forte e unida. Somos da revolução, como bem diria uma das gerentes distritais,
que além de exemplo, se tornou uma companheira.
Em toda aquela cena, uma assistente social da fundação, ouviu nossos desabafos e
tocada nos doou livros, esses mesmos que contemplam o que buscamos enquanto cidadãos de
luta.
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