Segunda Guerra Mundial(A RAF Inicia a Ofensiva Aerea)

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Luta no Ar
A RAF inicia a ofensiva aérea
Ofensiva aérea aliada contra a Alemanha
Setembro, 3, de 1939. A última tentativa realizada pela Inglaterra e pela França para evitar um conflito armado
com a Alemanha fracassa. O vencimento do prazo do ultimato sem resposta da Alemanha concretiza uma
realidade que assusta, porém à qual já não se pode fugir: a guerra.
Poucos minutos depois de vencido o ultimato, numa base do sul da Inglaterra, um bombardeiro bimotor
Blinheim entra lentamente na pista, toma velocidade e decola. É a primeira missão de guerra que um avião
inglês realiza. Seu destino: a base naval de Wilhelmshaven, na Alemanha. Sua missão: obter fotografias da
frota de guerra alemã. O aparelho, voando a uma altura de 7.200 metros, sobrevoa o objetivo e, sem ser atacado,
cumpre a sua missão. Ao regressar, às 16h50, o comandante redige o seu informe no livro de operações da
base: “Operação cumprida, 75 fotos obtidas da frota alemã. Primeiro avião da RAF que cruzou a fronteira
alemã”.
No dia seguinte, baseada nos informes obtidos pelo Blenheim de observação, uma força de ataque, integrada
por bombardeiros Blenheim e Wellington, num total de 29 aviões, rumou para o porto de Wilhelmshaven. O
tempo estava sumamente adverso. Durante a travessia, a formação se dispersou. Cinco Blenheims, contudo,
alcançaram o alvo. Dois deles, que voavam na retaguarda, perderam contato com os outros. Os três aparelhos
da frente, emergindo de entre as nuvens, avistaram o encouraçado alemão Admiral Graf von Scheer. O chefe
da esquadrilha conseguiu dirigir o seu avião para o navio e em vôo rasante, lançou uma de suas bombas de 227
kg sobre a coberta. O projétil atingiu o alvo e, com a explosão, fez voar parte da superestrutura do encouraçado.
A esse primeiro ataque seguiu-se outro, mais tarde, realizado por outros cinco Blenheims. Quatro desses
aparelhos foram abatidos, aparentemente pela explosão de suas próprias bombas.
Esta incursão foi a primeira que a RAF realizou. Não seria, contudo, a última. Os escassos bombardeiros
daquela ação inicial seriam substituídos por inúmeras formações. Os bombardeiros, relativamente pequenos,
se converteriam mais tarde, em gigantescos aparelhos. As bombas, que mal passavam de 200 kg, seriam
substituídas por gigantescos projéteis de mais de 10.000 kg (Grand Slam). O número de projéteis, de poucas
dezenas, passaria a milhares. O efeito dos bombardeiros iria aumentando gradativamente, até alcançar limites
incríveis. A RAF responderia, assim, aos devastadores ataques alemães contra a Inglaterra.
A primeira fase
Durante os primeiros meses da guerra, o comando de bombardeio da RAF concentrou os esforços dos seus
aviões em torno da frota alemã que se encontrava no Mar Báltico. Nessas operações foram empregados os
antiquados bimotores que a RAF possuía, na época. Esses aparelhos careciam de armamentos defensivos, eram
lentos e levavam uma carga de bombas muito reduzida. Os ataques, portanto, não eram bastante eficientes. No
transcurso de sucessivos reides, somente conseguiram afundar duas embarcações alemães, sofrendo a perda de
22 aviões.
Simultaneamente, a RAF realizou operações de reconhecimento e de observação sobre o território alemão. Até
esse momento a aviação britânica, tal como sua similar alemã, havia evitado realizar missões de bombardeio
sobre objetivos não militares. Em sucessivos “ataques” contra o território metropolitano alemão, a frota de
bombardeiros britânicos se limitou a lançar milhões de panfletos de propaganda antinazista. Na noite de 1 o de
outubro de 1939, aviões ingleses sobrevoaram Berlim no cumprimento de uma dessas missões. Este foi o
período das operações improvisadas, durante o qual a RAF não contou, em momento algum, com uma força de
mais de 100 bombardeiros em operações.
A 10 de maio de 1940, as forças alemães iniciam a penetração no território da Bélgica, Holanda e da França.
A guerra passa então a uma segunda etapa. Termina a “guerra de mentira”. Encerram-se os amáveis diálogos
entre alemães e franceses. Começa a ação. E junto com o estrépito das lagartas dos carros blindados alemães,
ouve-se o rugir dos motores da aviação. A verdadeira guerra começara. No entanto, os objetivos civis ainda
não constituem “prioridade” nas missões de bombardeio. A Luftwaffe concentra os seus ataques sobre as forças
inimigas e, principalmente, sobre as vias de comunicação, estradas de ferro e pontes. Quando uma cidade,
grande ou pequena, é bombardeada, deve-se isso a um erro ou a uma imprescindível necessidade do AltoComando. A RAF, operando da mesma maneira, não ataca centros povoados, e limita suas incursões às estradas
de ferro, pontes, viadutos, etc.
Estende-se a guerra aérea
Na manhã de 12 de agosto de 1940, a Luftwaffe iniciou uma série de ataques contra estações de radar
localizadas na costa sul da Inglaterra. Começou assim, a “batalha aérea da Inglaterra”. Também na sua primeira
fase, esta luta se limitaria aos alvos militares, porém a sua intensidade levou os alemães a estender as operações
e bombardear, indiscriminadamente, cidades e centros industriais da Inglaterra.
Na noite de 24 de agosto, 170 bombardeiros alemães se desviaram de sua rota por causa de um erro de
navegação e lançaram suas bombas em pleno centro de Londres. A reação britânica foi imediata. Convencidos
que o ataque fôra intencional, os ingleses enviaram uma força de 81 bombardeiros, na noite seguinte, com a
missão de atacar Berlim. Esse ataque foi repetido em mais de duas oportunidades. Uma incursão contra
Hamburgo completou o quadro dos ataques de represália realizados pela RAF. A guerra aérea começou assim
a adquirir a violência que, passo a passo, chegaria a incríveis extremos: o do bombardeio indiscriminado,
aterrorizador, sem objetivos concretos, mas apenas para desmoralizar o inimigo.
Em fins de 1940, os alemães, após o fracasso de sua ofensiva aérea diurna, recorreram aos bombardeios
noturnos, e efetuaram devastadores ataques com bombas incendiárias, contra Londres e outras cidades. Os
ingleses, em seguida, replicaram, utilizando os mesmos métodos, com um primeiro ataque que teve por objetivo
a cidade de Manheim, ainda que em escala muito menor. Enquanto isso a RAF havia desenvolvido novos tipos
de aviões e contava com poderosos quadrimotores. A Luftwaffe, paralelamente, não dispunha de aparelhos
desse tipo. O primeiro grande avião de bombardeio britânico utilizado foi o Stirling, empregado num ataque a
objetivos militares na cidade de Roterdã, em fevereiro de 1941. Numa missão similar, objetivando o porto
francês de Le Havre, atuaram pela primeira vez os quadrimotores Halifax. Ainda no ano de 1941, a RAF
aumentou o poderio de suas bombas, utilizando projéteis de 2.000 kg; essas bombas foram lançadas sobre a
cidade alemã de Endem. As operações tinham, cada vez maior alcance, numa réplica aos ataques alemães.
Na noite de 8 para 9 de maio, a RAF avançou sobre o céu da Alemanha, com uma força de ataque de 500
bombardeiros, incursionando sobre Berlim, Bremen e Hamburgo. Noutro reide, efetuado na noite de 12 para
13 de junho sobre o Ruhr, os bombardeiros da RAF lançaram 400 toneladas de bombas (a maior quantidade
até esse momento). Todas essas ações não eram mais do que o preâmbulo da grande ofensiva que se iniciaria a
partir de 1942.
Os Aliados planejam a ofensiva
Entre 23 de dezembro de 1941 e 14 de janeiro de 1942, Churchill e Roosevelt mantiveram, em Washington, a
conferência na qual foram rebatizados a aprovados os primeiros planos destinados a levar a guerra aérea ao
coração da Alemanha. Os líderes aliados consideraram que um bombardeio intenso e continuado contribuiria
para criar as condições favoráveis de uma futura invasão do continente. Decidiu-se, portanto, enviar com
urgência unidades de bombardeio americanas às bases britânicas. Essa medida, no entanto, por diversas razões
de ordem técnica, não se pôde cumprir até meados de 1942. Outra decisão de grande importância foi a criação
de um Estado-Maior combinado, integrado por representantes britânicos e americanos. No tocante à força aérea,
os membros foram o Marechal Charles Portal, da RAF, e o General Arnold, da aviação americana. O comando
combinado emitiu, a 8 de agosto de 1942, uma ordem para as operações de bombardeio diurno, que seria posta
em prática pela 8a Força Aérea americana, cujas unidades estavam se agrupando na Inglaterra. Nessa
determinação ficaram palpáveis as diferenças entre os pontos de vista britânicos e americanos, no tocante à
orientação da guerra aérea. Na verdade, ficava sem solução o principal problema que havia brotado entre ambos
os aliados; isto é, a discussão surgida entre a técnica de bombardeio defendida pelos britânicos, de ataque
noturno, em grandes formações, com bombardeio indiscriminado de grandes áreas, e a tática sustentada pelos
americanos, de bombardeio diurno de precisão, sobre objetivos predeterminados, e com grande proteção de
caças. Tampouco se conseguiu organizar um comando unificado. Decidiu-se, unicamente, nomear o Marechal
britânico Portal, diretor do bombardeio estratégico, porém somente com poderes de coordenador.
No dia 23 de julho de 1942 iniciou-se o translado das primeiras unidades da aviação americana para a Inglaterra.
Uma formação de 18 Fortalezas-Voadoras B-17 cruzou o Atlântico e aterrissou nos aeródromos ingleses. Estes
aviões formaram o núcleo inicial da 8a Força Aérea americana. A seu cargo estava, em união com a RAF, o
início da ofensiva aérea contra a Alemanha. O chefe dessa força foi o General Spaatz, e o comandante das
unidades de bombardeio, o General Eaker. Sob o comando deste último, a 17 de agosto de 1942, as FortalezasVoadoras realizaram seu primeiro ataque contra território inimigo, com tripulações americanas. Dezoito B-17
bombardearam os entroncamentos ferroviários de Rouen e voltaram às suas bases sem sofrer baixas.
Durante o transcurso do ano de 1942, no entanto, a participação da 8a Frota Aérea não teve relevância e foi
puramente simbólica; na verdade, achava-se ainda em processo de formação e carecia de experiência e número
suficiente de aparelhos.
Harris assume o comando
A 22 de fevereiro de 1942, o Marechal-do-Ar Arthur Harris assumiu o comando de bombardeio da RAF,
substituindo o Marechal Peirse. A designação deste chefe marcou uma etapa decisiva no desenvolvimento das
operações aéreas contra a Alemanha. A essa altura, esse comando contava com apenas 69 quadrimotores de
bombardeio. Harris, desde o primeiro instante, dedicou seus esforços a melhorar o material de vôo, substituindo
os aviões antiquados por novas unidades, especialmente quadrimotores Halifax e Lancaster. Dez dias depois
de sua nomeação, a 2 de março de 1942, foram incorporadas à força operativa as duas primeiras esquadrilhas
de Lancaster, a 44a e a 97a. Na noite de 10 de março, dois Lancaster da 44a Esquadrilha, participaram da sua
primeira ação de guerra, bombardeando a cidade de Essen.
Harris foi o principal propulsor da tática de bombardeio maciço das grandes cidades e centros industriais. Esse
tipo de bombardeio, denominado “de alfombra”, causaria, com o tempo, a devastação de enormes zonas
povoadas e o extermínio de grandes setores da população civil; arrasaria também com grande parte da indústria
alemã.
O novo chefe dedicou os seus esforços, paralelamente, a aperfeiçoar a técnica de bombardeio noturno,
principalmente no que se refere à orientação e identificação dos objetivos; para isso, nos primeiros momentos,
contou com o sistema denominado GEE baseado nas emissões de rádio de uma estação emissora principal e
duas secundárias; na interseção das ondas emitidas, o avião determinava sua posição. A falta de aparelhos
aplicáveis aos sistema GEE fez com que Harris determinasse a sua instalação em alguns aviões, e que estes
servissem de guias ao resto das formações; o sinal de “objetivo localizado” seria dado pelos aeroplanos guias
com projéteis luminosos. A fim de comprovar a eficiência do sistema, realizaram-se experiências na ilha de
Man, na Inglaterra, na noite de 13 de fevereiro de 1942. Seus aviões equipados com aparelhos GEE adiantaramse ao resto da força de bombardeio e, efetuando passagens sobre o alvo, lançaram bengalas luminosas. Esta
primeira experiência não deu resultados favoráveis por falhas em uma das emissoras terrestres. Realizou-se um
segundo exercício, dias depois, que alcançou pleno êxito. Os britânicos decidiram, então, utilizar o sistema
regularmente.
Na noite de 8 para 9 de março, uma força de bombardeiros guiada pelo sistema GEE atacou a cidade de Essen,
no Ruhr. A operação não teve êxito, pois a força bombardeira atrasou-se e, ao chegar sobre o alvo, já se haviam
apagado as bengalas lançadas pelos aviões de sinalização. Na noite seguinte repetiu-se a incursão, porém com
uma diferença: para a sinalização não foram utilizadas bengalas, mas sim bombas incendiárias. O ataque não
teve o êxito esperado, porém facilitou a concentração dos aviões incursores, e o seu posterior regresso às bases.
Na noite de 29 para 30 de março a RAF voltou a empregar o sistema GEE, num ataque realizado contra o porto
de Lubeck. Participaram da ação 234 bombardeiros. Os aviões de sinalização adiantaram-se da força principal,
identificaram o objetivo, e aguardaram a chegada dos bombardeiros, para efetuar a sinalização. O resultado foi
plenamente satisfatório. Em três horas, a formação britânica lançou 160 toneladas de bombas explosivas e
incendiárias e arrasou 14 hectares de edifícios. A seguir, os britânicos realizaram um violento reide contra a
cidade de Rostock. Em duas noites consecutivas, uma força de ataque integrada por 521 aviões lançou uma
chuva de bombas explosivas e incendiárias e destruíram o centro da cidade. Esse foi o primeiro ataque que
igualou em intensidade e danos aos efetuados pela Luftwaffe contra Coventry. Como salientou um oficial da
RAF, “É o começo do nosso domínio da terrível ciência de destruir uma cidade por meio do fogo”.
O ataque a Augsburgo
No mês de abril de 1942, ante as alarmantes perdas sofridas pela navegação aliada em virtude dos contínuos
ataques dos submarinos alemães, Churchill ordenou ao Marechal Harris que organizasse uma ação aérea
destinada a golpear a indústria de submarinos. Harris emitiu imediatamente a ordem para selecionar um
objetivo, cuja destruição causasse uma substancial redução na fabricação de submersíveis. A escolha recaiu na
grande fábrica de motores Diesel Mann, situada na cidade de Augsburgo, no extremo sul da Alemanha. Esse
ataque exigia uma grande precisão e nisso residia seu grande obstáculo. Não poderia ser realizado de noite;
portanto, obrigaria os aparelhos britânicos a expor-se ao mortífero fogo dos caças alemães. Isso era
particularmente perigoso, pois, dada a grande distância a percorrer (quase 1.000 km), os bombardeiros não
podiam contar com a proteção dos caças. Harris, contudo, acreditava que o novo quadrimotor Lancaster, por
causa de seu poderoso armamento e sua velocidade relativamente elevada, poderia realizar a incursão em
condições moderadamente seguras. O principal perigo que as formações deveriam enfrentar era representada
pelas numerosas esquadrilhas de caças alemães, estacionadas na região do Canal da Mancha. Contava-se,
contudo, distrair a defesa alemã, realizando, paralelamente, uma operação simulada, o que permitiria aos
Lancaster penetrar no interior da Alemanha, cruzando a costa a baixa altura, e escapando assim, à detecção
possível por parte da defesa. Planejou-se ainda realizar o ataque nas horas do entardecer, com o objetivo de que
a viagem de regresso pudesse ser amparada pela escuridão da noite. Para cumprir a missão, foram selecionados
14 aviões Lancaster, pertencentes às esquadrilhas 44a e 97a. Desses, dois aparelhos seriam mantidos na reserva,
para substituir eventualmente os aviões que não pudessem decolar. O ataque, portanto, seria realizado por 12
aviões, divididos em quatro setores de três aparelhos cada um. A partir de 14 de abril iniciou-se o treinamento
das tripulações, sem determinar qual seria o objetivo a atingir. Os Lancaster realizaram vôos sobre a Inglaterra
e a Escócia, a baixa altura, cobrindo uma distância de cerca de 2.000 km. No dia 17 de abril, às 11 horas da
manhã, as tripulações foram reunidas nos seus comandos e receberam comunicação dos detalhes do reide. A
formação levantaria vôo às 15 horas, e alcançaria o objetivo por volta das 20h15, durante o anoitecer, porém
ainda com suficiente luz natural.
Rumo ao objetivo
Na hora fixada, os Lancaster, divididos em dois grupos de seis aparelhos cada um, comandados respectivamente
pelos Esquadron Leader John Nettleton e Sherwood, levantaram vôo de duas bases no sul da Inglaterra.
Separados por uma distância de alguns quilômetros, os dois grupos atravessaram o Canal da Mancha e
penetraram em território francês, voando a poucas dezenas de metros do solo. Paralelamente, trinta aviões
Boston partiram numa ação de despistamento. A bordo dos Lancaster as tripulações observavam, impacientes,
o horizonte. Os pilotos, rigidamente sentados diante dos seus visores, apertavam com mão firme os comandos
e pressionavam lentamente os aceleradores. Os metralhadores, com suas armas prontas, faziam-nas oscilar
sobre os suportes. Os radioperadores, tensos, percorriam a faixa, em busca de emissões aliadas ou inimigas. A
terra, passando velozmente sob os aviões, apenas permitia entrever algumas casas, colinas e bosques. Os
camponeses, surpresos com a rápida aparição, somente conseguiam divisar a causa dos aviões já desaparecendo
atrás dos bosques vizinhos. Algumas baterias antiaéreas, alertadas, abriram fogo ao acaso. Dois dos aviões
atingidos pelos disparos sofreram danos. O êxito não acompanhou, no entanto, os incursores. Com efeito, duas
esquadrilhas de caças alemães, que regressavam às suas bases após interceptar os bombardeiros Boston,
cruzaram com a formação comandada por Nettleton. Os Me 109 e os Fw 190 travaram combate com os aviões
britânicos, mantendo-os fora do alcance das metralhadoras dos bombardeiros. Os Lancaster, tratando de escapar
ao ataque, desceram ainda mais e acelerando ao máximo os seus motores. Os caças alemães os acossavam e
disparavam sem cessar as suas armas. Um dos Lancaster, de repente, envolto em fumaça, perdeu altura. Uma
horrível explosão marcou o instante em que se chocou contra o solo. Outro, com uma asa incendiada, viu-se
obrigado a aterrissar num campo de trigo, sendo em seguida, destruído pela sua tripulação. Segundos depois,
um terceiro avião, com a fuselagem crivada de balas inimigas, e os quatro motores em chamas, precipitou-se à
terra, destroçando-se. Restavam em vôo apenas três aviões. Um deles, atingido pelos disparos alemães, também
caiu envolto em chamas, roçando na sua queda, os dois aparelhos restantes. Nesse momento, os caças alemães
tiveram que abandonar a luta, por falta de combustível. Os dois Lancaster, apesar de avariados, mantiveram o
rumo e prosseguiram o vôo para o objetivo. A formação comandada por Sherwood, em troca, sem encontrar
nenhuma oposição, continuava em vôo para Augsburg.
Nas horas seguintes, nenhum incidente se interpôs na marcha dos aviões britânicos. O aparelho do comandante
Nettleton foi o primeiro a chegar ao objetivo. De repente apareceu diante dele uma colina. Nettleton puxou
para si os comandos do gigantesco quadrimotor, e lentamente tomou altura. Atrás da colina, inesperadamente,
os britânicos avistaram a cidade de Augsburgo. Roçando os tetos, os aviões se dirigiram para o rio, cujo curso
os orientaria até o alvo. A esta altura dos acontecimentos, a defesa antiaérea havia intensificado a sua ação e já
uma mortífera cortina de fogo se estendia diante dos atacantes. À sua vista apareceu a grande fábrica de
motores, perfeitamente identificável, apesar da camuflagem. Rompendo o violento fogo da artilharia antiaérea,
os Lancaster sobrevoaram o alvo lançando suas bombas. Um dos aviões atacantes, atingido pelo fogo antiaéreo,
foi rapidamente envolvido pelas chamas. O piloto, ante a impossibilidade de dominar o incêndio, decidiu tentar
uma aterrissagem forçada. Com a tripulação reunida no posto de comando, o comandante orientou o avião para
terra. Voando a poucos metros de altura, quando a fumaça, invadindo a cabine, os cegou. Um dos tripulantes,
quebrando uma das janelas, conseguiu dissipar a nuvem de fumaça no preciso momento em que conseguiram
antever o grupo de árvores para onde se dirigiam a toda velocidade. O piloto, desesperadamente, acelerou, e
levantou o aparelho no último instante. Em seguida, uma nova massa de fumaça invadiu a cabine cegando-os
novamente. Assim, em meio às trevas, e calculando haver passado já as árvores, o piloto desceu e conseguiu
aterrissar às cegas. Nettleton, entretanto, regressou dessa incursão sem ser atingido. Posteriormente foi
condecorado com a Cruz Vitória.
A formação liderada por Sherwood, por sua vez, atacou em seguida. Os aviões lançaram suas bombas sobre o
alvo, apesar da encarniçada oposição da artilharia antiaérea alemã. Dois aviões foram derrubados, entre eles o
que comandava Sherwood, que, milagrosamente, salvou a sua vida.
A tripulação do seu aparelho, entretanto, pereceu carbonizada. O reide, em que pesem as baixas sofridas, havia
alcançado êxito. A produção das fábricas Mann não foi interrompida totalmente, porém a destruição causada
pelas bombas, nas seções de montagem e nos bancos de provas, impediram, durante seis meses que o trabalho
se realizasse com o ritmo normal.
Mil aviões atacam Colônia
Em meados de 1942, o Marechal Harris programou a realização de uma série de gigantescos ataques contra as
cidades alemães. A primeira dessas operações, batizada com o nome de Milênio, teria Colônia por objetivo. A
incursão serviria para por em prática os métodos táticos elaborados por Harris e seus colaboradores. Previam
eles a concentração de uma vasta força de cerca de mil aparelhos que, em ininterrupta corrente, sobrevoariam
o alvo num período breve, lançando um verdadeiro dilúvio de bombas. O sistema permitia supor que a defesa
antiaérea inimiga seria desorganizada pela intensidade do ataque, e que se alcançaria um máximo de destruição
com um mínimo de perdas. A tática podia resumir-se numa frase: “Golpear o mais forte possível, no mais curto
espaço de tempo”.
Na noite de 30 de maio de 1942, em centenas de aeródromos do sul da Inglaterra, uma gigantesca frota aérea
começou os preparativos para decolar. O mundo haveria de ter conhecimento, brevemente, do mais
extraordinário bombardeio aéreo jamais realizado. Ao todo, 1.047 aviões estavam prontos para partir. Deles,
337 pertenciam ao comando de bombardeio, 336 ao comando de treinamento, 250 às escolas de transformação,
39 ao comando de caça, 15 ao comando de cooperação, e 40 a outras unidades menores. Harris, conseguira
reunir uma massa de aviões, nunca vista até esse dia. A experiência, única, conseguira concentrar a maior parte
dos aparelhos ingleses disponíveis.
Atravessando as defesas alemães, e semeando o caos nas guarnições antiaéreas inimigas, a imensa formação
britânica internou-se em território alemão. O objetivo foi alcançado por 900 aviões que, apesar da formidável
defesa antiaérea, que incluía mais de 500 canhões de todos os tipos e 120 refletores, além de várias esquadrilhas
de caças noturnos, realizaram, sem maiores contratempos, sua mortífera tarefa. Sobrevoando a cidade à razão
de 10 aviões por minuto, lançaram 1.445 toneladas de bombas explosivas e incendiárias em 90 minutos.
Atingiu-se assim, uma concentração de fogo de 17.5 toneladas por minuto, e 30% dos projéteis lançados caíram
sobre a cidade. Gigantescos incêndios se prolongaram até cinco dias depois do ataque. Mais de um terço da
cidade foi devastado. 250 fábricas ficaram totalmente destruídas. 10.000 pessoas morreram e mais de 50.000
perderam seus lares. A RAF, por sua vez, perdeu apenas 37 aviões e 260 homens. Isso representava apenas
3.3% da força empregada. A teoria de Harris estava provada. Os terríveis efeitos do bombardeio comprovaram
a sua exatidão. Iniciava-se assim a destruição da Alemanha pelo ar.
Continuando os seus planos de bombardeio maciço, os britânicos realizaram um segundo ataque na noite de 1o
para 2 de junho de 1942. Desta vez, o objetivo foi a cidade de Essen, no Ruhr. Não se repetiu o episódio
Colônia. O êxito não acompanhou as formações inglesas. As nuvens, muito baixas, resultaram num obstáculo
intransponível para os aviões britânicos, que careciam de radares. Viram-se então obrigados a lançar suas
bombas ao acaso, sem obter resultados apreciáveis.
A última operação desse tipo teve lugar na noite de 25 para 26 de junho, quando se efetuou o bombardeio do
porto de Bremen. Os caças alemães noturnos conseguiram, desta vez, cumprir uma eficiente tarefa de
interceptação. Dos mil bombardeiros atacantes, 57 foram derrubados. A porcentagem foi considerada, nos
meios britânicos, como muito elevada, dada a difícil reposição dos aparelhos perdidos.
Após a execução dos três reides citados, que haviam requerido um grande esforço da RAF, sobreveio uma
pausa. Durante o resto do ano apenas se realizaram operações de menor importância, nas quais se empregaram
poucos aviões (em redor de uma centena). Contudo, a experiência adquirida capacitava a RAF a desenvolver
novas técnicas de bombardeio; efetivamente, isso ocorreria mais tarde.
Anexo
Arthur Harris
Sólido, forte, de temperamento firme, Harris aparece como a verdadeira imagem do lutador indomável. Filho de um
funcionário inglês, muito jovem viaja para a África do Sul, onde se dedica à busca do ouro. Ao começar a Primeira Guerra
Mundial, alista-se como corneteiro; ao término da campanha, volta à Inglaterra e ingressa na aviação, como tenente.
Depois da guerra, tomou parte, sempre como aviador, na repressão de revoltas ocorridas nas colônias. Regressa mais tarde
à Inglaterra e se incorpora à Escola de Guerra. É designado para o Ministério do Ar e, em 1938, assume a direção do
Comando de Bombardeiros. Quando estoura a Segunda Guerra Mundial, é chefe do 5 Grupo de bombardeio. Em fevereiro
de 1942, com a idade de 49 anos, é elevado a marechal e encarregado do comando geral da aviação de bombardeio
estratégico. Ao assumir o posto, Harris depara com uma força que possui ao todo 69 aviões de bombardeio pesado. A
partir desse momento, Harris luta incansavelmente para obter mais e melhores aviões. Os Witley passam a atuar como
aviões de transporte, os Blenheim são substituídos por Boston; os Manchester permanecem ainda em serviço, os Stirling,
Halifax e Lancaster em desenvolvimento e aperfeiçoamento, são a sua principal preocupação.
Sob a direção de Harris, o Comando de Bombardeio vê crescer seus efetivos da seguinte maneira: em 1942, consegue
formar 23 esquadrões novos; até dezembro de 1942 o total de bombardeiros alcança 261 aviões; em 1943, se eleva a 570;
durante 1944 os aviões totalizam 1.119 pesados e 97 leves. A partir de 1943, o Lancaster constitui o principal avião de
bombardeio das formações inglesas, seguido pelo Halifax. Durante o curso da guerra, a indústria britânica chegou a
construir 9.000 Lancaster e 6.000 Halifax. Em todos esses setores Harris foi o cérebro motor da evolução e
desenvolvimento dos bombardeiros. A ele, e à sua luta permanente, deveu-se o ímpeto com que a aviação de bombardeio
atacou a Alemanha. A ele também se devem as novas táticas de bombardeio “de alfombra”. Harris permaneceu no seu
cargo durante toda a guerra, até o final.
o
Plano de ataque
O comando combinado do Estado-Maior aliado, integrado por chefes militares britânicos e americanos, emitiu, a 8 de
dezembro de 1942, a seguinte determinação para o bombardeio diurno da Alemanha, a ser efetuado pela 8 Força Aérea
americana.
Propósito:
1. O propósito do bombardeio diurno das Forças Aéreas aliadas com base na Inglaterra é alcançar a continuidade da
ofensiva de bombardeio contra as potências do Eixo.
Determinação de responsabilidades:
2. O instrumento responsável pelo bombardeio aéreo noturno é o Comando de Bombardeio britânico. O bombardeio diurno
terá responsabilidade direta da 8 Força Aérea americana.
Métodos para atingir o propósito:
3. Os métodos de bombardeio noturno permanecerão na forma definida pela orientação atual do Ministério do Ar ao
Comando de Bombardeio britânico. O método para realizar o propósito de bombardeio diurno visa a destruição dos
objetivos de precisão, vitais para o esforço de guerra das potências do Eixo.
Desenvolvimento da ofensiva diurna:
4. A ofensiva de bombardeio diurna será desenvolvida nas seguintes três fases:
a - fase I:
As forças americanas de bombardeio diurno, sob a proteção de caças britânicos (reforçados pelas forças de caças dos
EUA) atacarão os objetivos adequados, dentro do raio de ação da cobertura britânica dos aviões de caça.
b - fase II:
As forças dos EUA de bombardeio diurno, sob a proteção de caças americanos e britânicos, atacarão os objetivos
apropriados dentro do raio de ação dos tipos de caças dos EUA e britânicos. Nesta fase, a proteção direta das formações
de bombardeio, será proporcionada pela força americana de caça. As forças britânicas de caça serão empregadas,
principalmente, para incursões de despistamento e cobertura de retiradas. Durante esta fase, o alcance característico do
tipo de caça dos EUA será explorado para aumentar a profundidade de penetração da força de bombardeio e também para
ampliar a frente de ataque. Será responsabilidade da 8 Força Aérea o desenvolvimento das modalidades táticas de
penetração profunda na defesa diurna de caça do inimigo.
c - fase III:
A 8 Força Aérea desenvolverá sua ofensiva diurna recebendo o apoio e a colaboração que possa requerer da força britânica
de curto alcance.
a
a
a
a
A caça alemã noturna
Por volta de 1940 apareceu uma nova técnica de combater na aviação alemã: a caça noturna. Essa nova tática foi
considerada pelos pilotos de caça como muito insegura. Os aviadores estavam acostumados a lutar de dia, visualizando o
objetivo. De noite, ao contrário, seria difícil ou impossível localizar o inimigo. Além disso, o piloto sentia uma apreensão
constante ao ter que aterrissar em campos mal iluminados, no meio da obscuridade. Chegou-se ao extremo de não
encontrar, nos primeiros tempo, nenhum voluntário para as primeiras missões noturnas. A escuridão para o combate,
oferecia perigos de todos os tipos. No princípio, Goering determinou pessoalmente que os pilotos escolhessem o tipo de
caça a que se dedicariam, diurna ou noturna. Porém o acaso interveio e inclinou muito para o trabalho noturno.
Efetivamente, o Coronel Streib, um dos ases alemães, recebeu a Cruz de Ferro em virtude de suas vitórias noturnas (um
avião inimigo derrubado em cada missão). Muitos, então, quiseram imitar suas façanhas.
A vida do piloto de caça noturna era sumamente dura. Freqüentemente o aviador precisava ficar dando voltas e voltas,
durante longo tempo, sem que tivesse a oportunidade de encontrar o inimigo. Depois, se o aparelho incursor não era
derrubado com as primeiras rajadas de metralhadora, o piloto devia travar um verdadeiro duelo aéreo, em plena escuridão.
Isso requeria nervos de aço, físico privilegiado e boa sorte...
O desenvolvimento e aperfeiçoamento do caça noturno resultou na criação de uma arma altamente especializada e,
portanto, na de um grupo de homens que pertenciam a uma “elite”. Nem todos eram capazes de integrar-se nelas. Deu-se
mesmo o caso de excelentes pilotos que fracassaram na caça noturna, e, paralelamente, pilotos medíocres que, voando de
noite, alcançaram a categoria de ases. Muitos fatores, conhecidos e desconhecidos, influíam para que tal fato acontecesse.
Um dos heróis da caça noturna foi o tenente alemão Lent. O jovem oficial, depois de haver realizado 35 saídas sem haver
localizado um só avião inimigo, solicitou licença, convencido de seu fracasso. Incitado a ficar até completar 50 missões,
e autorizado a abandonar a arma depois, se assim o desejasse, permaneceu nela e foi abatido, quando já havia obtido 107
vitórias.
Visão de um ataque
Relato feito pelo Tenente Hector Hawton, da Real Força Aérea Britânica:
“Os pilotos que tomaram parte nesses ataques gigantescos nunca deixaram de impressionar-se com a violência deles. Ao
chegar sobre a área determinada, inicia-se o lançamento dos cartuchos de iluminação; se a visibilidade é muito boa, a
cidade condenada à destruição parece uma miniatura de brinquedo. É claro que as bombas antiaéreas estouram e
numerosos refletores esquadrinham os céus na esperança de iluminar um atacante. O resplendor dos fogos e dos refletores
é de fazer cegar. Tudo parece fantástico, irreal; os dedos de luz que buscam entre as trevas, e os fogos artificiais, constituem
um espetáculo macabro, tanto em terra como nas alturas. Há uma pausa angustiante, à medida que a grande força de ataque
dá voltas sobre a cidade. Na terra, o bramido de centenas de bombardeiros quadrimotores e o estrondo das baterias
antiaéreas são ensurdecedores.
“De repente, há um ruído que supera todos os demais. O próprio céu parece sacudido por súbita e catastrófica explosão,
cada vez que os pilotos, impacientes, se lançam com seus aparelhos, como uma manada de lobos sobre a sua presa. Um
dilúvio de bombas incendiárias e altos explosivos se precipita para baixo. Um anel de incêndios se ergue dos pontos
visados. As explosões, visivelmente, parecem fazer a cidade voar pelos ares.
...
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