Divórcio no Brasil: Proposta de uma Taxa de Coorte Carolina Galdino Ramalho1 Mestranda de Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais Escola Nacional de Ciências Estatísticas Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 1. Introdução Manchetes anunciando o aumento do divórcio no Brasil são cada vez mais comuns e o estudo desse tema tem se tornado cada vez mais importante para a demografia e áreas afins. O divórcio foi instituído no Brasil no ano de 1977 e seus dados começaram a ser divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, em 1984. Em sua publicação sobre as Estatísticas do Registro Civil, o IBGE relata que a Taxa Geral de Divórcio (TGD) teve um crescimento superior a 200%, de 1984 a 2008. No Brasil só se dispõe da informação do estado civil da população no Censo 2000 e, por isso, usualmente, utiliza-se a Taxa Geral de Divórcios, dada pelo quociente entre o número de divórcios ocorrido em determinada localidade e a população de 15 anos ou mais dessa localidade. A taxa adequada para estudar a tendência do divórcio deve levar em consideração a população exposto ao mesmo. Ou seja, ao invés de estudar os divórcios em relação a população de 15 anos ou mais, deve-se analisar os divórcios em relação a população casada ou exposto a este fenômeno. O presente estudo tem como objetivo analisar o divórcio no Brasil, em suas Grandes Regiões e em cada uma de suas Unidades da Federação, utilizando os microdados do Registro Civil. Para isso, utilizou-se uma taxa para estudar o divórcio que levasse em consideração a população exposta a ele. 2. Fonte de dados e metodologia A partir dos microdados do Registro Civil, foi possível construir uma taxa de coorte para o divórcio baseada na duração dos casamentos, denominada Taxa de Divórcio por Duração (TDD). Tomando como base a metodologia proposta por Santini em 1992 (apud FERRO e SALVINI, 2007), as TDD‘s foram 1 Orientadoras: Maysa S. de Magalhães e Aída Verdugo Lazo (ENCE/IBGE). construídas através do quociente entre os divórcios, classificados pela duração do casamento, di (i=0,1,2,...), ocorridos em um determinado ano t, e a média dos casamentos celebrados nos anos t-di e t-di-1, conforme apresentado na equação 1: (1) onde, é o número de divórcios ocorridos no ano t, de casamentos com duração de di anos. é o número de casamentos celebrados no ano t-di e é o número de casamentos celebrados no ano t-di-1. 3. Resultados Iniciais O gráfico 1 apresenta as TDD´s para o Brasil para diversos momentos no tempo, no período compreendido entre 1984 e 2004. Através desse gráfico pode-se observar que, apesar das curvas manterem padrões similares, estas variam no nível, aumentando sua elevação ao longo do tempo, o que confirma a tendência de crescimento dos divórcios desde a sua instituição. Além disso, observa-se que para os anos entre 1984 a 1988, inclusive, estas curvas apresentam um maior crescimento a partir dos 5 anos de duração dos casamentos. Por outro lado, a partir de 1989 este crescimento se observa a partir do segundo ano de duração do casamento. Gráfico 1 Fonte: IBGE. Microdados do Registro Civil 1984 a 2004. Somando-se as taxas de divórcio por duração dos casamentos, para todas as durações calculadas, consegue-se obter a Taxa de Divórcio Acumulada (TDA) para cada um dos anos em estudo. Contudo, o IBGE somente disponibiliza os microdados de casamentos a partir do ano de 1974 e de divórcios a partir do ano de 1984, ambos até o ano de 2004. Desta forma, só foi possível construir as TDA’s de até 10 anos de duração e, para os anos de 1984 a 2004. O gráfico 2 ilustra o crescimento dessa taxa no período considerado. Gráfico 2 Fonte: IBGE. Microdados do Registro Civil 1984 a 2004. Procurando entender melhor o crescimento dos divórcios no Brasil, desmembrou-se as TDA’s pelas Grandes Regiões, a fim de se verificar possíveis diferenças regionais. Os resultados obtidos, apresentados no gráfico 3, mostram que a Região Sudeste se comporta praticamente igual ao Brasil, sendo sua curva, no entanto, um pouco mais elevada, o que reflete maiores taxas de divórcio na Região Sudeste do que para a média nacional. Já a Região Nordeste é a que apresenta a curva mais baixa, demonstrando que esta ainda é uma região conservadora, em relação ao restante do país, ao menos no que diz respeito à instituição do casamento. Outra região que apresenta as taxas abaixo da média nacional é a Região Sul, com um crescimento próximo ao da Região Nordeste, mantendo-se bastante próxima a esta região a partir do ano 2000. A Região Norte se destaca por apresentar um dos maiores crescimentos ao longo dos anos. No entanto, é a Região Centrooeste a que mais se diferencia das demais, já que suas TDA’s apresentam valores bastante superiores às demais regiões, a partir do início da década de 1990. Gráfico 3 Fonte: IBGE. Microdados do registro civil 1984 a 2004. Nota: Séries suavizadas pelo método das médias móveis. 4. Considerações Finais Após esta análise, considerou-se relevante realizar um breve exame das TDA´s de cada uma das Unidades da Federação (UF), a fim de buscar uma maior compreensão das diferenças encontradas entre as Grandes Regiões. Referências Bibliográficas: FERRO, Irene; SALVINI, Silvana. Separazione e divorzio in Italia. Le tendenze e le differenze regionali. Popolazione e Storia. V.1, pp. 125. 2007. IBGE. Estatísticas do Registro Civil. Rio de Janeiro, v. 35, p.1- 170, 2008. SANTINI, A. Analisi demografica: Fondamenti e metodi. Ed. La Nuova Italia, Florença. 1992.