Santo Tomás Becket – 29 de dezembro

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Santo Tomás Becket – 29 de dezembro.
Santo Tomás foi martirizado na catede Cantuária.
Origens e Ascensão
Santo Tomás Becket nasceu em Londres, no ano de 1118, filho de um nobre
cavaleiro, Gilbert de Londres, e de Matilde, que não parece ter sido filha de um
sarraceno chamado Amurat, como referem algumas narrações. Seja fomo for, em Tomás
nós vemos se enlaçar harmoniosamente características bem diferentes, como por
exemplo um ardente entusiasmo aliado a uma fria reflexão, como se ele fosse
descendente de diferentes raças.
Filho de nobres, teve uma educação esmerada, primero em Londres, depois em Paris;
posteriormente, aperfeiçoou seus conhecimentos jurídicos num dos centros mais
conhecidos da época, a cidade de Bolonha, e depois em Auxerre, na França. Já então,
seus talentos foram reconhecidos pelo então Arcebispo de Cantuária, Teobaldo,
tornando-se Tomás seu conselheiro de confiança. A seu serviço, foi duas vêzes a Roma,
resolvendo com eficácia questões difíceis.
Por influência do mesmo Teobaldo, obteve em 1155 o título de Lord Chanceler do
Rei da Inglaterra, Henrique II, e se tornou ainda educador do príncipe herdeiro, o que
demonstrava a confiança que o monarca nele depositava. Exercia importantes missões,
como a de acertar os desponsais do filho do monarca inglês com a filha do rei da
França, para o que foi a este último país, ostentando uma pompa impressionante por
onde passava, de tal modo que o povo se perguntava qual seria a pompa e a riqueza do
rei, se seu chanceler era assim...
Mas se exteriormente o chanceler demonstrava um tal luxo e riqueza, o homem de
religião (era clérigo), não deixava de cumprir suas obrigações, inclusive levando uma
vida de discreta piedade. Sua atividade de defensor dos direitos da coroa fê-lo ganhar
prestígio diante do Rei, e quando o Arcebispo de Cantuária morreu, Henrique II pôs os
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olhos naquele que, pensava seria um dócil instrumento de seus inteesses. Em 1162,
Henrique II lhe confiou mais uma importante missão, e disse-lhe:
- Serás o novo Arcebispo de Cantuária.
Tomás, sorrindo, mostrou ao Rei suas ricas roupas, dizendo:
- O senhor quer confiar esse cargo importante a um belo santo... Mas se o senhor
quer de verdade isto, eu hei de recusar a promoção, pois se seu fosse Arcebispo, nós
deixaríamos de ser amigos; pois o senhor pediria coisas que eu nunca lhe concederia, e
o ódio tomaria o lugar da amizade entre nós.
Palavras proféticas, cujo alcance não discerniu Henrique II, pensando tratar-se de
uma brincadeira. A influência real pesou fortemente na eleição, e os religiosos de
Cantuária elegeram Tomás, ainda que esses últimos duvidassem se o candidato reunia
as condições necessárias.
Tomás Becket resistiu a princípio, mas a vontade do Rei e a insistência do legado
pontifício terminaram por convencê-lo a aceitar o cargo. Ele se tornava assim o segundo
homem mais importante da Inglaterra depois do Rei, já que Cantuária era a sede
primacial da Inglaterra.
Disputa com o Poder Real.
A partir do momento em que foi elevado ao mais alto posto da hierarquia inglesa,
ocorreu com Tomás Becket o que os autores espirituais costumam chamar de “segunda
conversão”, quer dizer, a passagem de uma vida cristâ “comum”, a uma vida cristâ
fervorosa, onde se procura ardentemente a santidade, tornando-se esta busca a principal
preocupação da existência. Tomás renunciou ao cargo de chanceler, deu adeus a todas
as honras e luxos da vida passada, iniciando uma vida de austeridades e penitências, e
também de grande caridade para com os pobres e enfermos. O que era antes defensor
dos direitos da coroa, tornou-se um incansável defensor dos direitos da Igreja na
Inglaterra. Assim, o conflito com a coroa era inevitável.
E porque?
Durante toda a Idade Média, a Igreja teve que afrontar diversas tentativas de
demolição do equilíbrio laboriosamente conseguido entre os poderes civil e eclesiástico.
Este equilíbrio dependia em grande parte da fidelidade dos governantes aos
compromissos assumidos diante da Igreja, mas também da correspondência dos
próprios membros desta, que infelizmente esqueciam às vêzes de sua condição de
consagrados para usufruir dos bens eclesiásticos como se fossem mundanos. E
frequentemente acontecia que estes últimos se associassem aos primeiros, de modo que
os pastores fiéis tinham que afrontar, além da prepotência dos governantes, a malícia ou
fraqueza de seus próprios confrades.
Henrique II era um desses reis que queriam pôr a Igreja a seu serviço, para poder
dominar de maneira absoluta no seu reino. Logo no ano seguinte à sagração de Tomás
Becket, em 1163, ele convocou uma assembléia de bispos e barões do reino, em
Westminster, onde ele insistiu para que se abolisse ou se diminuisse o privilegium fori
(direito dos clérigos de serem julgados somente por um tribunal eclesiástico), ao que o
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Arcebispo de Cantuária reagiu, unindo em torno de si a maior parte dos Bispos.
Chegou-se a um acordo que não era suficiante para satisfazer as ambições do monarca
inglês. Este procurou então dividir os Bispos, desterrou alguns amigos do Primaz, e
divulgou cartas falsificadas do Papa que pareciam justificar suas pretensões.
No ano seguinte, mais fortalecido, Henrique II reuniu uma outra assembléia, em
Clarendon, onde logrou sancionar 16 artigos que continham os chamados “antigos
costumes” do reino; na verdade, tratava-se de um conjunto de medidas que iam muito
além da mera abolição do privilegium fori ; elas levariam à perda da liberdade da Igreja
em todo o reino, pois estabeleciam a jurisdição civil sobre todas as pessoas e coisas
eclesiásticas, coisa inteiramente nova naquele tempo. Já minados, os Bispos aceitaram
os artigos, e mesmo Tomás teve a fraqueza de condescender com o Rei, embora não
tenha posto o seu sêlo sobre esse acôrdo. Deu-se logo depois conta de seu êrro, impôsse uma espécie de suspensão, abstendo-se de celebrar Missa, até que o Papa Alexandre
III lhe desculpou, alegando que ele tinha agido de boa-fé.
Enquanto isso, o ardiloso Henrique II escreveu ao Papa pedindo a aprovação dos
artigos de Clarendon, e também a dignidade de legado para toda a Inglaterra para o
Arcebispo de York (submisso a Henrique II e inimigo de Tomás), que com isso tornarse-ia superior a Tomás. Mas Alexandre III recusou-se a fazer a vontade do Rei nestas
duas coisas. Henrique II, que era terrivelmente irascível, voltou sua raiva contra Tomás
de Cantuária, atribuindo-lhe a recusa papal. Seguiram-se diversas perseguições reais,
Tomás tentou fugir uma vez da Inglaterra, mas uma tormenta marítima o impediu. Foi
convocado ao Concílio de Northampton, para responder a acusações de desprezo para
com a pessoa do Rei, Demonstrou a inconsistência da acusação, mas foi condenado à
perda dos bens e multas. Já então ele fôra abandonado pelos outros Bispos ingleses.
Mas nem a perseguição, nem o isolamento quebrantaram seu ânimo, fortalecido que
estava pela oração e penitência. Convocado a juízo em 13 de outubro de 1164,
apresentou-se diante dos Bispos, dos Barões e do próprio Rei levando diante de si a
cruz arquiepiscopal, o que causou grande intimidação. Mas terminou senmdo
hostilizado pelos seus irmãos no episcopado e injuriado pelos grandes do reino. Por
outro lado, a multidão que estava fora o recebeu com admiração. Aconselhado por
amigos, Tomás dessa vez conseguiu fugir da Inglaterra, indo parar na cidade de Sens,
onde se encontrava o soberano pontífice Alexandro III. Henrique II exigiu o desterro de
Tomás, mas o Rei da França, Luís VII, recusou-se a isto.
O Arcebispo renunciou a seu Primado junto ao Papa, mas este o confirmou na sua
dignidade, condenando 10 dos 16 artigos de Clarendon. O Papa indicou-lhe também o
mosteiro de Pontigny, na Borgonha, onde Tomás passaria algum tempo até que o litígio
se acalmasse.
A vida monástica serviu para robustecer ainda mais as convicções do Arcebispo. As
notícias que chegavam revelavam-lhe o triste estado da Igreja na Inglaterra, cada vez
mais perseguida e sujeita ao arbítrio de Henrique. Em meados de 1166 subiu ao púlpito
em Vezelay, falou ao povo sobre a contenda, excomungou os ministros do Rei que
favoreciam suas violências, condenou os artigos de Clarendon, desligando os Bispos da
promessa feita de observá-los.
Este ato de coragem surtiu efeito; Henrique temeu reações da parte da França
(Henrique era vassalo de Luís, e possuía muitas terras no outro lado do Canal da
Mancha). Por outro lado, o Papa Alexandre III estava às voltas com um antipapa, o que
lhe impedia de tomar medidas mais enérgicas (Henrique II poderia acabar apoiando o
antipapa, arrastando a Inglaterra ao cisma). Em 1169, foi feita uma tentativa de
reconciliação em Montimirail, onde se encontraram os reis da França e da Inglaterra,
mais o Arcebispo de Cantuária e os enviados do Papa. O santo Arcebispo chegou a se
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humiliar atirando-se aos pés do monarca, declarando que cederia em tudo por amor à
paz, contanto que se salvaguardasse a honra divina. Isto bastou para abortar toda
tentativa de paz. Mesmo Luís VII se mostrou contrariado, e retirou as ajudas que dava a
Tomás, que passou a viver das esmolas dos sacerdotes e do povo, que sempre o
admirava devido à sua firmeza e humildade. Henrique II tentou de tudo para
desacreditar o Arcebispo de Cantuária junto ao Papa, oferecendo-lhe tanto dinheiro que
com isto ele poderia acabar com o cisma e retomar todos os estados da Igreja. Mas
Alexandre III recusou-se absolutamente a abandonar o mais fiel defensor dos direitos da
Igreja.
No ano seguinte, 1170, nova contenda. Henrique II fez coroar de maneira ilegal seu
filho, o mesmo que tinha sido educado por Tomás. O privilégio de coroamento
pertencia ao Arcebispo de Cantuária, mas foi o Arcebispo de York que coroou o filho de
Henrique II. Para piorar as coisas, a esposa deste, Margarida, filha do rei francês, não
foi coroada. Irado, Luís VII invadiu a Normandia (que naquele tempo pertencia ao reino
inglês). Após as querelas, conseguiu-se uma trégua, na qual se estabelecia um novo
coroamento, desta vez na forma devida. Portanto, caberia ao Arcebispo de Cantuária o
direito de coroar. Henrique II necessitava de uma reconciliação.
No dia 22 de julho de 1170, perto de la Ferte Villeneuve, houve uma nova reunião
entre o santo Arcebispo e o Rei, que desta vez estava em melhores disposições, ao
menos aparentemente. Henrique II aceitou conceder tudo o que Tomás lhe pedia, a paz,
a segurança, a devolução das propriedades da Igreja, a satisfação das injúrias. Quis
mesmo pagar a viagem de volta de Tomás, que retornou finalmente à sua diocese.
O martírio
Infelizmente, a paz era mais aparente que real. Tomás logo constatou que o Rei não
cumpria suas promessas. O Arcebispo encontrou sua diocese em péssimo estado, com
as propriedades dilapidadas, e suas rendas embargadas pelo poder real, mesmo depois
da reconciliação. O filho de Henrique II recusou-se terminantemente a recebê-lo.
Funcionários do reino exigiam que ele retirasse a excomunhão fulminada quando ele
ainda estava na França. Os partidários do Rei, incluindo eclesiásticos, continuavam
semeando a discórdia entre o Arcebispo e o Rei. A crise final veio quando Tomás
pronunciou a sentença de excomunhão contra os Arcebispos de York, Londres,
Salisbury e Rochester, que tinham coroado o filho de Henrique II (os três últimos como
assistentes), violando assim os direitos da Sé de Cantuária.
- Nunca haverá paz na Inglaterra enquanto Tomás estiver vivo! – exclamou o
Arcebispo de York diante de Henrique II. A aplicação do direito eclesiástico vigente era
considerada uma provocação.
Henrique II, em mais uma de suas crises de cólera, lamentou-se amargamente:
- Eu sustento e favoreço em meu reino homens tão miseráveis e covardes, que
toleram vergonhosamente ofensas que um clérigo plebeu faz a seu senhor.
Foi então que quatro cavaleiros (Reginaldo Fitz Urse, Guilherme de Tracy, Hugo de
Moreville e e Ricardo Brito), juraram a morte de Tomás, e rapidamente se dirigiram a
Cantuária a fim de consumar o crime.
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No dia 29 de dezembro de 1170, esses homens entraram nos aposentos do
Arcebispo, sentando-se ali sem saudar-lhe. Depois exigiram com ameaças a absolvição
dos prelados excomungados. Com tranquilidade, o Arcebispo respondeu:
- O papa excomungou o Arcebispo de York, e só ele pode o absolver. Quanto aos
demais Bispos, eu os absolverei desde que eles prestem o juramento de costume.
Mesmo que todas as espadas da Inglaterra ameaçassem minha cabeça, não me
intimidariam, e sempre me achariam de pé firme na luta por Deus.
- Faremos mais que ameaçar. – Respondeu Urse, e com isso todos se afastaream para
pegar em armas.
Aproveitando a saída dos cavaleiros, facharam-se as portas do castelo, mas os sicários
começaram a arrombá-las. Tomás, sempre tranquilo, anuiu aos rogos dos monges para
que se refugiasse na igreja, Era a hora de rezar Vésperas. Queriam fechar as portas da
igreja, mas Tomás lhes proibiu. Os cavaleiros, armados e com as espadas
desenbainhadas, penetraram então no templo, aos gritos:
- Onde está o Arcebispo ?! Onde está o traidor?!
Tomás exclamou:
- Aqui estou eu, o Bispo, porém não o traidor!
E recusando mis uma vez submeter-se às exigências ímpias dos assassinos, pereceu a
golpes de espada (o clérigo Eduardo Grim, que tentou defendê-lo, terminou com o braço
cortado). Suas últimas palavras foram a célebre exclamação do Salvador antes de
morrer: “Senhor em vossas mãos entrego o meu espírito”. Os assassinos terminaramm
seu crime saqueando o palácio arquiepiscopal.
Ao tomar conhecimento do ocorrido, Henrique II, que estava na Normandia, deu-se
conta das consequências horríveis de sua ira; ele se fechou durante vários dias nos seus
aposentos, parecendo estar com o juízo alterado. Mas terminou pedindo perdão e se
reconciliando com o Papa. Ele também anulou os estatutos de Clarendon, causa maior
de toda a contenda entre os poderes eclesiástico e civil.
O santo começou logo a receber as homenagens do povo. A canonização veio em
1172, pelo próprio Papa Alexandre III, um ano antes da canonização de São Bernardo.
Antes do fim do século XII já havia templos deste santo até na Espanha. E em 1174, o
próprio Henrique II se dirigiu ao sepulcro do santo como peregrino.
A tumba de São Tomás Becket seguiu sendo honrada pelo povo inglês, até que, em
1538, um outro perseguidor da Igreja, que infelizmente não se converteu, Henrique
VIII, ordenou a profanação desta.
A memória de São Tomás Becket é honrada no calendário romano trdicional no dia
29 de dezembro, no Ofício Divino (Laudes), e na Missa lida ou conventual.
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