1 DESAFIOS DA ENFERMAGEM NA ASSISTENCIA HUMANIZADA

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DESAFIOS DA ENFERMAGEM NA ASSISTENCIA HUMANIZADA NA UNIDADE
DE TERAPIA INTENSIVA
Iolanda Gonçalves de Alencar Figueiredo1
Douglas Ferrari2
1. Introdução
A hospitalização é um evento estressante tanto para o cliente quanto para os familiares
sendo esta caracterizada como uma situação tensa, fisiológica e/ou psicológica, podendo
afetar as pessoas em todas as suas dimensões.
No caso do processo de internamento na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), pode
haver a emergência de uma série de sinais e sintomas de desestabilização físico-emocional.
Os fatores para que isso aconteça são muitos, podendo ser citados o afastamento temporário
entre eles, o risco de vida, a incerteza quanto ao tratamento e recuperação, o imaginário que
ronda o sucesso e o fracasso das tentativas, bem como as limitações na prestação de suporte
psicossocial (LEMOS, 2002).
O cuidado de enfermagem é o ponto chave da hospitalização, uma vez que permite
estabelecer intervenções terapêuticas centradas no paciente/família e, dessa forma, torna-se
possível o aprimoramento de uma relação interpessoal enfermeiro/paciente/família.
Apesar do grande esforço que os enfermeiros possam estar realizando no sentido de
humanizar o cuidado em UTI, esta é uma tarefa difícil, pois demanda atitudes às vezes
individuais contra todo um sistema tecnológico dominante. A própria dinâmica de uma UTI
não possibilita momentos de reflexão para que seu pessoal possa se orientar melhor, no
entanto compete a este profissional lançar mão de estratégias que viabilizem a humanização
em detrimento a visão mecânica e biologicista que impera nesses setores de assistência.
A humanização representa um conjunto de iniciativas que visa à produção de cuidados
em saúde capaz de conciliar a melhor tecnologia disponível com promoção de acolhimento e
respeito ético e cultural ao paciente, de espaços de trabalhos favoráveis ao bom exercício
técnico e à satisfação dos profissionais de saúde e usuários.
Considerando-se tais desafios, torna-se fecundo repensar as ações da enfermagem
neste âmbito, visando à humanização da assistência em UTI.
1 Enfermeira especialista em Saúde pública. Professora da Universidade Federal do Piauí. Enfermagem - Campus de Picos.
2 Presidente da Associação Brasileira de Terapia Intensiva - SABRATI
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Partindo desse princípio, esse trabalho se propôs a realizar uma busca na literatura
científica especializada para identificar as dificuldades e desafios enfrentados pela
enfermagem para a assistir de forma humanizada em unidades de terapia intensiva.
2. Metodologia
Estudo descritivo e exploratório, de natureza bibliográfica, desenvolvido com base em
um exame minucioso da literatura científica especializada publicada. A revisão integrativa da
literatura trata-se de uma metodologia que proporciona a síntese do conhecimento e a
incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática (SILVEIRA,
2005).
Este método constitui basicamente um instrumento da Prática Baseada em Evidências
(PBE), envolvendo a definição do problema clínico, a identificação das informações
necessárias, a condução da busca de estudos na literatura e sua avaliação crítica (GALVÃO,
SAWADA e TREVIZAN, 2004). Para a construção deste tipo de revisão é necessário
percorrer seis passos: a) identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa;
b) estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos; c) categorização dos
estudos; d) avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa; e) interpretação dos
resultados; e f) síntese do conhecimento (MENDES, SILVEIRA e GALVÃO, 2008).
A partir da escolha do método, definiu-se como questão norteadora: que desafios a
enfermagem enfrenta para assistiria de forma humanizada na unidade de terapia intensiva? A
busca dos artigos foi feita na base eletrônica de referências considerada de ampla abrangência
e que inclui os principais periódicos nacionais de Enfermagem.
Os critérios adotados para a inclusão dos artigos foram: estudos com humanos,
publicado nos últimos dez anos (2002 a 2011) em periódicos científicos indexados (livros e
artigos) na base de dados BIREME – MEDLINE, SCIELO E LILACS no idioma português; e
que tratassem dos desafios da enfermagem na assistência humanizada em unidade de terapia
intensiva - UTI.
A coleta de dados foi iniciada pela leitura de todos os 110 títulos e resumos dos artigos
resultantes da busca, para identificar o tema abordado. Nessa primeira etapa foi feita uma
seleção prévia dos artigos cujos títulos e/ou resumos foram julgados pertinentes. Na etapa
posterior, esses artigos foram obtidos e lidos na íntegra para verificar se continham resposta
para a pergunta norteadora desse estudo e se atendiam aos critérios de inclusão adotados.
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Todas as publicações incluídas foram submetidas a novas leituras para o
preenchimento de um instrumento especificamente construído para esse fim, contendo os
seguintes itens: temas abordados, periódico, ano de publicação, objetivos. Os resultados
foram apresentados de maneira descritiva e analisados quantiqualitativamente. Foi montado
um quadro sinóptico para melhor visualização dos artigos discutindo sua relação com o tema,
tipo de estudo e ano de publicação.
3- Resultados
Dos 100 artigos encontrados na busca, 78 foram excluídos após a leitura dos resumos
pelos seguintes motivos: estudos realizados em UTI pediátrica e neonatal (29), não
abordavam desafios da enfermagem (38), estudos com intervenções em ambientes externos à
UTI (8), trabalhos que não contemplavam intervenções com familiares (5). Na segunda
triagem, foram lidos 30 textos completos, dos quais apenas 22 foram considerados adequados
aos objetivos do estudo e incluídos na revisão.
Gráfico 1 - Distribuição do número de artigos por revista. Picos PI, 2012
Gráfico 2 - Distribuição do número de artigos por tema abordado. Picos PI, 2012
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Gráfico 3 - Distribuição do número de artigos por ano de publicação. Picos PI, 2012
Gráfico 4 - Distribuição dos artigos por tipo de estudo. Picos PI, 2012
No Gráfico 1, que mostra os artigos selecionados para o estudo Entre as publicações
incluídas, todas são nacionais conduzidas nas várias regiões do país. Dos vinte e dois
trabalhos incluídos no estudo, vinte foram publicados em periódicos de enfermagem e dois
em revistas não específicas de enfermagem, mas em periódicos especializados em cuidados
críticos ou intensivos.
Os vinte e dois artigos tiveram como objetivo, em comum, avaliar os desafios da
assistência humanizada em unidades de terapia e do cuidado de enfermagem realizado com
pacientes de UTI e seus familiares. Quanto ao tipo de estudo dos artigos selecionados onze
eram de abordagem qualitativa, um quantitativo, dois estudos de caso, dois etnográfico,
quatro de revisão e dois sobre forma de relatos de experiência.
No que tange à temática proposta pelos objetivos dos artigos selecionados observamos
que oito deles apresentam a tecnologia como sendo um dos fatores de maior desafio a ser
superados quando relacionamos assistência humanizada e terapia intensiva, por outro lado a
comunicação estabelecida tento entre os profissionais e usuários quanto como aos familiares
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destes usuários também são apontados como deflagradores de ações desumanizantes da
equipe de enfermagem além disso merece destaque também o próprio cuidado dispensado
pela enfermagem,a formação, qualificação, experiência e relação equipe paciente-família são
pontuados como merecedores de atenção e cuidado.
4. Discussão
4.1 Contextualizando os desafios do cuidado de enfermagem na Unidade de Terapia
Intensiva
O aspecto humano do cuidado de enfermagem, com certeza, é um dos mais difíceis de
serem implementados. A rotina diária e complexa que envolve o ambiente da Unidade de
Terapia Intensiva faz com que os membros da equipe de enfermagem, na maioria das vezes,
esqueçam-se de tocar, conversar e ouvir o ser humano que está à sua frente. Embora se
observe um grande esforço dos enfermeiros em humanizar o cuidado em UTI, esta é uma
tarefa difícil, pois demanda atitudes, às vezes individuais, contra todo um sistema tecnológico
dominante. A própria dinâmica de uma UTI não possibilita momentos de reflexão para que
seu pessoal possa se orientar melhor.
Vale ressaltar que apesar destes profissionais estarem envolvidos na prestação de
cuidados diretos ao paciente, em muitos momentos existe uma sobrecarga das atividades
administrativas em detrimento das atividades assistências e de ensino.
Essa realidade vivenciada pela enfermagem vem segundo Galvão, Trevizan e Sawada
(2008) ao encontro da literatura quando se analisa a função administrativa do enfermeiro no
contexto hospitalar e aborda se que este profissional "tem se limitado a solucionar problemas
de outros profissionais e a atender às expectativas da instituição hospitalar, relegando a plano
secundário a concretização dos objetivos do seu próprio serviço”.
Nesse pensar, o processo de humanização no trabalho da enfermagem é uma questão a
ser refletida, pois a maioria dos profissionais enfrenta situações difíceis em seu ambiente de
trabalho, além das já mencionadas, vale acrescentar as baixas remunerações, a pouca
valorização da profissão e o descaso frente aos problemas identificados pela equipe,
especialmente quanto ao distanciamento entre o trabalho prescritivo, o preestabelecido
institucionalmente e aquele realmente executado junto ao cliente e tudo isso converge para
uma assistência fria e desumana inevitavelmente.
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Nascimento e Caetano (2007) ressalva que humanizar a assistência em terapia
intensiva é transformar este ambiente marcado historicamente como sendo um ambiente frio,
hostil, melancólico, repleto de máquinas e aparelhos, em um ambiente harmonioso. Deste
modo, falar em humanização dos serviços, como um direito do paciente, torna-se um desafio,
uma busca de novos valores, principalmente em uma UTI.
Assim, com vistas à valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de
produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores e, visando uma mudança neste
panorama, o Ministério da Saúde criou, em 2001, o Programa Nacional de Humanização da
Assistência Hospitalar (PNHAH), com simples objetivo de humanizar a assistência prestada
aos pacientes atendidos em hospitais públicos. Em 2003, torna-se uma Política Nacional de
Humanização, ou Humaniza-SUS, abrangendo a saúde como um todo.
Para Oliveira (2006) A humanização do ambiente de trabalho é um subproduto da
necessidade de incorporar o amor nas relações profissionais e interpessoais; é a administração
dos ressentimentos. Entendida, ainda, como a capacidade de se colocar no lugar do outro, a
equipe passa a cuidar o cliente com respeito e dignidade numa medida que vise, sobretudo,
tornar efetiva a assistência ao indivíduo criticamente doente, considerando-o como um ser
biopsicossocioespiritual.
Entretanto, observando o contexto real da terapia intensiva podemos perceber
claramente a dicotomia existente entre a teoria e prática. Vila e Rossi defendem que, apesar de
conceituarem o cuidado humanizado como respeito, amor, carinho, mantendo o diálogo,
dando atenção à família, ainda é bastante visível atitudes, comportamentos e condutas que
caracterizaram a UTI como um ambiente mecânico e desumano com o paciente, a família e a
própria equipe de enfermagem. Apresenta-se no contexto do trabalho na Unidade de Terapia
Intensiva uma série de nuances, concordâncias e contradições que se referem ao sistema
cultural da prática do cuidar em enfermagem.
A estruturação de Unidades de Terapia Intensiva cada vez mais sofisticada e
burocratizada é inevitavelmente despersonalizante. Pacientes estão à mercê de estranhos cujas
funções e papéis desconhecem, de máquinas, de aparelhos de testes e rotinas totalmente
desconectadas dos seus hábitos. O cliente torna-se somente um paciente a mais, outra
patologia, outro tratamento, outro prontuário, ele é solicitado a descartar sua identidade e
tornar-se um paciente (BARRA, 2005).
Para Bastos (2002) existe uma enorme contradição entre o que é falado com o que é
vivido. No contexto real, transparecem as raízes de um cuidado despersonalizado, centrado na
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execução de tarefas e agressivo com o paciente, a família e a equipe multiprofissional com a
prevalência das ações curativas, voltadas para a valorização das tecnologias. Assim o objeto
da enfermagem estava mais centrado na tarefa a ser executada do que com paciente.
Vila e Rossi (2002) ainda afirmam que o estresse e o cansaço causados pela
sobrecarga de trabalho que envolve o ambiente da UTI é bastante instável, com dias
tranquilos, mas também, dias agitados, com paciente graves, que exigem atenção e cuidado
rigorosos de toda a equipe.
O que se observa nessa afirmação dos autores é que a equipe de enfermagem está,
provavelmente, mais exposta a um nível de estresse que qualquer outra do hospital, porque
deve lidar não somente com a assistência a seus pacientes e familiares, mas também com suas
próprias emoções e conflitos. A UTI é uma unidade geradora de estresse, sendo as principais
manifestações apresentadas pela equipe à fadiga física e emocional, tensão e ansiedade.
4.2 O desafio de humanizar com tecnologia
Outro grande desafio, se não o maior, a ser superado na UTI é a grande diversidade
tecnológica utilizada pela enfermagem na assistência ao paciente. Esses recursos, ao passo em
que auxilia na manutenção da vida é uma realidade que ao mesmo tempo encanta e assusta.
Não obstante, apresenta aos profissionais que lidam com ela constantes desafios e questões,
exigindo-lhes profundas e constantes reflexões acerca da sua aplicabilidade no cuidado.
A apropriação de tecnologias, em particular aquelas entendidas como duras, é
considerada por Silva, Porto e Figueiredo (2008) como fundamental para cuidar e assistir,
pois elas contribuem sobremaneira na ampliação da capacidade natural de sentir, embora exija
da enfermagem um alto grau de qualificação profissional.
De acordo com Nascimento (2008) tais equipamentos tecnológicos favorecem o
atendimento imediato, possibilitando segurança para toda a equipe da UTI. Porém, em
contrapartida, podem contribuir para tornar as relações humanas mais distantes, fazendo com
que o cliente se sinta abandonado, levantando a premissa de que talvez saibamos mais sobre a
máquina e pouco sobre o cliente que estamos cuidando, tratando-o às vezes como objeto das
determinações ou do cuidado.
Nesse sentido, acredita-se que a dimensão desumanizante da ciência e tecnologia se
dá, portanto, na medida em que se fica reduzido a objetos da própria técnica e objetos
despersonalizados de uma investigação que se propõe fria e objetiva. O saber técnico supõe
saber qual é o bem de seu paciente, independentemente de sua opinião.
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Para Figueiredo (2008) cuidar de máquinas não é um discurso teórico-prático tão
absurdo, pois se ela em muitos casos mantém o cliente vivo, isso só é possível porque direta
ou indiretamente cuidamos delas também. Programar as máquinas bem como ajustar seus
parâmetros e alarmes e supervisionar seu funcionamento são para nós exemplos de cuidados
para com elas e com os clientes que delas se beneficiam.
No entanto, ao fazermos isso, lançamos mão de conhecimentos técnicos e racionais
que fundamentam nossas ações no trato com as máquinas, contribuindo para que essas ações
sejam interpretadas como práticas desumanas, principalmente quando estes cuidados
provocam no corpo do cliente sinais de dor, sofrimento e desconforto.
Assim, vale destacar que precisamos entender que os conceitos de cuidado de
enfermagem e as definições que interessam para a profissão são dinâmicos e deverão variar de
acordo com o contexto, com o movimento do mundo e, consequentemente, com as
reconfigurações do humano. Portanto, o que se opõe ao cuidado é o descuidado, e isso de fato
poderá estar ocorrendo e equivocadamente sendo denominada desumanização.
Para Meyer (2005) a tecnologia é entendida como um fator desumanizante tanto para
as pessoas que a manipulam quanto para as que se utilizam dela. Isso ocorre, pois a luta contra
a morte faz com que a máquina seja confundida com o paciente e este seja tratado de forma
mecânica. Acredita-se que essa luta não deve despersonalizar ou mecanizar o atendimento
hospitalar, pois o paciente deve manter-se prioridade nessa nova estrutura. As UTI’s, por
excelência, apresentam algumas características peculiares como a de ser um ambiente
permeado de tecnologia de última geração, situações iminentes de emergência e necessidades
de agilidade e habilidade no atendimento ao cliente onde muitas vezes o cuidado humanizado
foge às necessidades intensivas.
Para Casate (2005) a tecnologia pode e deve ser compreendida de forma ampliada: a
tecnologia representada por máquinas e aparelhos (tecnologia dura), a tecnologia que engloba
o saber profissional que pode ser estrutura e protocolizado (tecnologia leve-dura) e a
tecnologia leve que se refere à cumplicidade, à responsabilização e ao vínculo manifestado na
relação entre usuário e trabalhador de saúde.
Assim, se considerarmos as tecnologias leve-dura, estas não podem ser enxergadas
como desumanizante uma vez que envolvem o saber e o fazer. Nesse sentido produzir
tecnologia é buscar a produção de “coisas” que podem ser materiais como produtos
simbólicos
que satisfaçam
necessidades
salientando assim
conhecimento
para o
desenvolvimento de tais facilidades.
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Em virtude da complexidade do cuidado na terapia intensiva, pela presença desses
recursos tecnológicos cada vez mais avançados, os enfermeiros precisam de um desempenho
técnico e científico com maior atenção. Então, a experiência orienta o modo de cuidar da
enfermagem, de tal modo que a qualidade do cuidado se relaciona com a experiência da
enfermagem e suas impressões adquiridas a partir da experiência profissional (SILVA, 2009).
4.3 Superando as dificuldades da relação paciente-profissional-família
Para Leite (2007) cuidar em terapia intensiva, representa muitas vezes lidar com a
morte, com a família, com a falta de recursos materiais e com a dificuldade para se trabalhar
em equipe. Esses fatores são encarados como desafios no processo do cuidado de
enfermagem.
A equipe de enfermagem, em sua prática, lida constantemente com as perdas alheias,
portanto é necessário aprender a superá-las ou desenvolver mecanismos de adaptação,
fortalecendo-se como pessoa para, dessa forma, apoiar os pacientes e familiares nos
momentos de suas perdas.
Para Leite (2007) a atenção dispensada à família na UTI é outro fator que precisa ser
superado. A enfermagem, muitas vezes, fica alheia às condições emocionais dos familiares.
Isso pode ser percebido, por exemplo, quando os visitantes entram na UTI, recebem a ordem
para lavar as mãos, mas não é explicado a eles que esse procedimento permitir-lhes-á tocar o
paciente, sem risco de contaminá-lo, além disso, não se informa previamente o estado do
paciente aos familiares, os quais, normalmente, não estão preparados para ver o doente sedado
e com tantos equipamentos. Consequentemente, os familiares, ao entrarem, ficam chocados
com o cenário e saem desesperados e chorosos, sem receber, muitas vezes, uma explicação ou
um consolo por parte da equipe multiprofissional.
Outra situação que nos chama a atenção na unidade de terapia intensiva e que
necessita de reavaliação refere-se à inflexibilidade das normas e rotinas relacionadas com o
horário de visitas além. (GOES, 2005).
Não é suficiente permitir a entrada da família na UTI. É necessário prepará-la e
acompanhá-la durante a visita, identificando e esclarecendo suas dúvidas, observando as
reações e comportamentos e, especialmente, compreendendo seus sentimentos. Os
profissionais, em particular a enfermagem, precisa reconhecer que, nesse momento, a família
também está ansiosa e sente-se isolada, com medo da morte e sem controle da situação.
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Outro importante aspecto apontado por Goes e Deslane (2005) foi a dificuldade para
se trabalhar em equipe. Saber o que esperam do nosso trabalho é algo que diminui a
ansiedade. Dessa forma, dizer o que esperamos de cada um da equipe, encorajar o profissional
a ser responsável pelos próprios atos e deixar claro o impacto que esse trabalho tem para a
equipe como um todo é essencial para uma assistência de qualidade.
4.4 A Comunicação como Instrumento de Humanização
A comunicação é estratégia básica para a humanização da assistência, que consiste em
perceber cada ser humano como um indivíduo único, com necessidades específicas,
otimizando o exercício de sua autonomia, facilitando a interação entre eles por meio de
diálogo aberto entre quem cuida e quem é cuidado.
Para que as interações possam ser adequadas e produtivas, a enfermagem deve
lembrar-se que a comunicação envolve a linguagem verbal e não verbal, ou seja, que essa se
processa além das palavras, através de gestos, expressões faciais, movimentos do corpo,
distâncias mantidas entre as pessoas, por exemplo.
Os aspectos verbais considerados importantes para uma comunicação efetiva entre
equipe, família e paciente são representados segundo Marque, Silva e Mais (2008) pelo
vocabulário acessível, onde as informações precisam ser dadas constantemente, inclusive pela
equipe de Enfermagem, que é a que permanece mais tempo ao lado do paciente, e que haja
um diálogo receptivo. Já os aspectos não-verbais citados como adequados e importantes para
a comunicação efetiva na postura da equipe não foram descrição de gestos, expressões faciais,
posturas corporais, mas conceitos que são expressos através de uma comunicação não-verbal
pertinente: como respeito, a educação, a atenção e a empatia.
Hudak & Gallo (2002), defendem que através do toque de uma forma expressiva,
genuína e sincera, os enfermeiros podem claramente transmitir cuidados e apoio aos clientes e
às suas famílias. E que através da compreensão do poder do toque em interações, os
enfermeiros podem inseri-lo com sucesso em suas assistências e desenvolver suas próprias
habilidades, incluindo-o em processos de comunicação.
Assim, a enfermagem necessita criar estratégias de comunicação para atender às
necessidades de familiares estressados com a súbita e inesperada internação de seu familiar,
pois se sabe que em situações de estresse a capacidade de absorver as informações fica
reduzida. Estudos mostram que horários rígidos para a permanência da família, na unidade de
internação, com limitado espaço físico e indisponibilidade profissional para esclarecimento de
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dúvidas dos parentes, falta de compartilhamento de sentimentos a respeito da situação em que
a família se encontra e a insatisfação de necessidades emergentes, são algumas das barreiras
encontradas na interação com a equipe.
Para Gotardo (2005) certas intervenções, como deixar um familiar, 24 horas ao lado
do paciente, não significam atender suas carências; pelo contrário, ter um familiar presente
nessa situação com uma equipe de saúde mal preparada para atender às necessidades dos
familiares, pode promover consequências adversas, tais como agressividade por parte dos
familiares que não entendem o porquê dos procedimentos realizados e insegurança em relação
aos profissionais.
O preparo da equipe de enfermagem para receber esses familiares é de basilar
importância, pois a rotina de seu trabalho, em muitas situações, tem se constituído em fonte
de sofrimento psíquico, interferindo no modo como o profissional interage com os pacientes,
os familiares e a própria equipe.
O apoio à família muitas vezes é negligenciado pela enfermagem diante da falta de
recursos e pela grande carga de trabalho tendenciando a direcionar seus cuidados somente
para os pacientes, ignorando as necessidades das famílias, gerando insatisfação com a
assistência, o que pode exacerbar o stress e impedir que a família desenvolva maneiras de
ajudar o paciente (ARONE, 2007).
Nesta perspectiva, esses indivíduos se tornam passiveis de toda uma equipe que, por
despreparo, o tratam de forma impessoal e descompromissada sendo necessária a qualificação
dos profissionais envolvidos no cuidado para a mudança deste cenário.
A falta de informação e a incerteza da família quanto ao quadro clínico do paciente são
causadores de ansiedade, apreensão e aflição que geram, dentro deles, o sentimento de falta de
controle da situação. A maioria dos familiares prefere que a verdade a respeito do estado de
saúde do paciente seja dita, mesmo que isso faça com que a esperança deles seja
comprometida. Nesse momento, o acolhimento é percebido por eles como algo essencial, pois
é através da confiança adquirida pela criação do vínculo estabelecido que a família sente-se
segura ao deixar naquele ambiente, seu ente querido (SCHNEIDER et al., 2008).
O relacionamento entre o profissional de enfermagem e a família deve ser um
encontro de subjetividade do qual emergem novas compreensões e interpretações,
contribuindo para o sucesso do tratamento e a superação da crise ocorrida durante a
hospitalização.
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O acolhimento é um método imprescindível para criar uma relação humanizada entre
cuidador e quem é cuidado. Para conseguir um acolhimento efetivo da enfermagem, não deve
focar apenas na doença, pois esse não é o objetivo, mas sim transcender os aspectos
biológicos, culturais, socioeconômicos e éticos. Desta forma, respeita-se o direito que
possuem mantendo sua autonomia, cidadania e direito de expressão (AMESTOY, 2006).
Nesse pensar, a humanização do cuidado de enfermagem vai além das permissões
dadas às visitas, incluindo também a detecção das necessidades dos familiares, após
estabelecer uma relação de confiança e de ajuda. Essa interação enfermeiro/familiares
facilita esse processo beneficiando também o paciente.
Considerações Finais
O estudo acena para a maior incidência da tecnologia e da comunicação como suportes
essenciais para o cuidado, embora a tecnologia seja apontada por muito como fator de
desumanização ela é necessária ao cuidado intensivo.
O empenho dos profissionais de enfermagem em UTI para a humanização da
assistência deve partir do autoconhecimento, quando ao se conhecer e perceber, o indivíduo
será capaz de valorizar e intuir as necessidades essenciais do cliente. Deve saber lidar com
seus limites, preconceitos, receios e com seu corpo, para interagir empaticamente com o
cliente, família e comunidade.
Neste estudo pudemos observar que o ambiente e as rotinas de visita foram indicados
como menos geradores de estresse para essa população. Conhecer a população atendida e os
fatores tidos como estressantes para os familiares pode facilitar as estratégias de humanização
hospitalar, propiciando alternativas para reduzir os níveis de estresse e alterações psiquiátricas
subsequentes.
Ao analisar as necessidades dos familiares de pacientes internados na UTI, em relação
à comunicação com a equipe de enfermagem, pode-se perceber que parte das famílias
atendidas necessita de mais clareza de informações essenciais, relacionadas ao ambiente da
UTI, mais tempo junto ao seu ente querido e apoio emocional, identificando a equipe de
enfermagem como uma possível referência para lhe dar esse suporte, justamente por
reconhecerem sua maior proximidade e permanência junto aos pacientes.
Observa-se também que durante os horários de visita, fica claro para alguns autores
que os familiares, quando são realmente acolhidos pela equipe, apesar do medo, da ansiedade
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e da tristeza presentes em decorrência da própria situação de seu ente querido, demonstram
satisfação e alegria pelo trabalho desempenhado, reconhecendo sua dificuldade e ficando
gratos.
A diversidade das máquinas é uma realidade que encanta e assusta ao mesmo tempo e
que apresenta constantes desafios para os profissionais que deverão refletir na necessidade
real de seu uso. A tecnologia presente nas UTI’s, apesar de indispensáveis para o tratamento
do paciente, é insuficiente para alcançar o cuidado holístico. Buscar alternativas baseadas em
valores pessoais e humanos para melhorar a assistência ao paciente e atingir a totalidade do
cuidado é uma estratégia, pois os profissionais ainda não estão conscientes da verdadeira
importância de humanizar e da necessidade de se aliar a técnica a outros fatores.
Acredita-se que a humanização da assistência da enfermagem é a solução para a
concretização desses aspectos e, atualmente, merece uma atenção especial de toda equipe
multidisciplinar a discussão de transformar o ambiente da UTI.
Outro ponto importante para estabelecer este processo consiste em nos colocarmos no
lugar do outro, partindo da nossa própria humanização, compreendendo que também somos
seres humanos com sentimentos, capazes de amar, de chorar e de buscar a contínua
compreensão do processo de viver, adoecer e morrer.
Enfim, com a humanização será possível fazer com que o paciente e a família se
sintam mais acolhidos e seguros para enfrentar de maneira mais positiva um dos momentos
mais difíceis da vida.
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