Reinaldo Azevedo Publicado na revista Veja em 13 de Setembro, 2007 Não há nenhum pensamento importante que a burrice não saiba usar, ela é móvel para todos os lados e pode vestir todos os trajes da verdade. A verdade, porém, tem apenas um vestido de cada vez e só um caminho, e está sempre em desvantagem. Robert Musil em O Homem sem Qualidades A hora dos analfabetos Respeitem os meus cabelos — não muitos — brancos. Não me peçam anuência à tese de que políticos atrapalham o Brasil. Isso é coisa de energúmenos. Os políticos, sob certo ponto de vista, atrapalham todos os países. Platão queria uma República sem poetas na suposição de que eram despidos do necessário senso prático. E os que se pensam especialistas em economia acreditam haver uma contradição essencial entre “a vida como ela é” e a “política”. Coisa de fascistinha cretino ou de comunistinha cretino. Ou de cretino simplesmente. Excesso de opinião. Falta de leitura. Algumas das “conquistas” da economia brasileira — ainda que sejam menores do que poderiam ser — derivam de escolhas que são, vejam só, políticas. É o sistema que organiza o poder que levou o próprio núcleo duro do PT a preservar a área econômica da sanha dos companheiros. E por isso o Brasil pôde e pode ser sócio menor da expansão da economia mundial. Não dá para depurar o processo afirmando: “Isso é coisa de político; aquilo é coisa da economia”. Investir, diga-se, no descolamento entre a economia e a política corresponde a decretar que a segunda é território de larápios, enquanto a primeira fica reservada aos virtuosos. Calma lá! O dinheiro que irriga a lambança da política vem da economia, e o universo de trapaças da segunda não é menor do que o da primeira. Aliás, como a política não gera dinheiro — mas gasta —, não é preciso ser muito sagaz para inferir onde é maior a tentação de ir além do que está na letra da lei. Exaltar as glórias supostas da economia brasileira como se fossem a outra face do Brasil dos políticos corresponde a flertar com a ditadura. No caso aplicado, com a ditadura lulista. É coisa de idiotas rematados e de quem pretende estrear no universo da polêmica dizendo uma estupidez que, de tão robusta, corre o risco de se confundir com um pensamento original. O Tirano de Siracusa já foi inventado. É só pesquisar um pouquinho. Lixo.