Análise crítica da proposta didática sobre

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Mestrado em Português Língua Não Materna
Unidade Curricular Interculturalidade e Comunicação (52016)
Atividade 3:
Análise crítica da proposta didática
sobre profissões artísticas brasileiras.
Níveis A1-A2
Trabalho do grupo 4 realizado por:
Adelino de Sousa
António Soares
Cláudia Taveira
Débora Paulino
Ano Letivo 2011 / 2012
Introdução
Genericamente, a planificação da aula de língua estrangeira deve procurar
associar conteúdos linguísticos, comunicativos e culturais. Uma vez que se pretende a
aquisição e desenvolvimento de habilidades escritas e orais mas, também o
reconhecimento e valorização da diversidade. A fim de garantir o sucesso do plano de
uma aula de língua e cultura estrangeira, é fundamental que o professor efetue uma
análise tão estruturada e detalhada quanto possível.
Este trabalho tem como base uma proposta didática sobre as profissões artísticas,
elaborada para alunos uruguaios aprendentes de português no nível A1, pretendendo
desenvolver simultaneamente as competências linguísticas e culturais. O nosso objetivo é
o de produzir uma análise crítica desta proposta didática, tendo em conta as orientações
gerais para o ensino da cultura, a check list e o modelo de Byram.
1. Análise de acordo com as orientações gerais para o ensino da cultura
1.1. Esta proposta integra conteúdos culturais e linguísticos. Ela pretende realizar
uma primeira observação da função do pretérito perfeito do modo indicativo do verbo ser
e nascer, no contexto da leitura de textos autênticos (biografias de artistas populares
brasileiros).
1.2. Trabalha-se a descrição ou apresentação oral de um artista através dos verbos
ser, e nascer no pretérito perfeito do modo indicativo por exemplo: “João Guimarães
Rosa foi escritor, ele nasceu em Minas Gerais”).
1.3. A reflexão dos alunos é solicitada perguntando-lhes o que entendem por
“profissão”, se “a arte é uma profissão” e se “os artistas são profissionais” para assim
elaborar uma definição coletiva. Como trabalho de casa é pedido aos alunos para
escolherem um artista representativo da cultura nacional numa das artes trabalhadas na
aula, procurarem informação e redigirem um texto biográfico.
1.4. São apresentadas aos alunos biografias de personagens populares da cultura
brasileira como um diretor de filme, uma pintora, um escritor, um cantor e uma bailarina.
Mas esta apresentação é feita unicamente a partir de textos sem recurso a ilustrações,
imagens ou fotos dos quadros ou mesmo canções e vídeos com o trailer do filme e a
dança, que possibilitariam um contacto cultural mais profundo e a oportunidade de os
aprendentes observarem e estabelecerem um paralelo entre a sua cultura e a brasileira.
Esta abordagem cultural é assim feita de forma superficial, sem que haja um verdadeiro
contacto com as áreas culturais apresentadas, contrariamente ao que é defendido por
Byram.
1.5. Existe uma tentativa de relacionar o léxico sobre as profissões artísticas no
contexto de manifestações de língua autênticas, neste caso as biografias de artistas
populares brasileiros. Contudo, não são explorados os significados paralelos dos
conceitos das palavras, como poderia ser o vocábulo artista. Exemplo: sentido denotativo
– artífice / sentido conotativo – alguém que (re)criar um mundo de verdades não
mensuráveis.
1.6. Existe unicamente uma alternância entre trabalho de grupo e trabalho individual.
Primeiro os alunos formam grupos e colocam questões sobre qual seria a profissão do artista
descrito no texto. Depois, individualmente, os alunos escolhem uma das duas personagens
propostas para redigirem uma biografia. Não parece existir uma verdeira interrelação entre os
alunos, uma vez que a atividade proposta não o proporciona. O contacto com a língua alvo é
feito por intermédio da escrita, descurando assim a oralidade.
1.7. Na planificação desta atividade limitada a 90 minutos, não aparece a
socialização das produções realizadas.
1.8. A avaliação da competência cultural adquirida não está explicitamente
formulada. O trabalho de casa pedido (redigir um texto biográfico) parece apenas
pretender avaliar a formatação do género biografia e o uso do pretérito perfeito.
2. Análise de acordo com o modelo de competência comunicativa intercultural de
Byram
O modelo de Byram pretende que os alunos sejam capazes de refletir sobre a
língua alvo e de alcançar uma certa autonomia partindo de uma exposição e colocação
dos próprios perante situações reais. A realização deste tipo de atividades representam
situações factuais/fictícias que, se permitem por um lado abordar o tema da cultura, não
representam, verdadeiramente, um contacto dos alunos com a língua e com o emprego do
pretérito - perfeito. Apesar de uma tentativa de incluir e proporcionar tarefas ligadas às
diversas competências como o saber, saber-ser, saber-fazer...não se vislumbra o saberenvolver-se defendido por Byram. Mais do que apenas pedir aos alunos uma definição da
palavra artista, o saber envolver-se pede que os alunos sejam capazes, por exemplo, de
reconhecer a importância ou não da arte, de estabelecer paralelos entre os diferentes
aspetos ou semelhanças culturais de um e outro país. Nesta perspetiva só alguns aspetos
da competência comunicativa intercultural de Byram são visíveis nesta proposta didática.
A aula pretende que os alunos acedam ao Saber abordando um panorama da cultura
brasileira, através de biografias de artistas populares. O saber ser não transparece nesta
proposta porque não vemos as atitudes e a capacidade de reflexão distanciada dos
uruguaios sobre a sua própria cultura e sobre a cultura brasileira. Olhar para os pontos de
encontro entre as duas culturas é um primeiro passo, mas não sabemos se existe uma
abertura, empatia e aceitação dos valores da cultura brasileira. O saber compreender é
solicitado quando os aprendentes formam grupos e colocam questões sobre qual seria a
profissão do artista descrito na biografia e o que entendem por “profissão”. Também são
convidados a olharem para os pontos de encontro entre ambas as culturas (uruguaia e
brasileira) nomeadamente a semelhança entre um artista uruguaio e outro brasileiro na
artes trabalhadas. O saber aprender e o saber fazer está presente nas várias etapas da
proposta. Supõe-se que os aprendentes adquirem novos conhecimentos sobre a cultura
uruguaia e brasileira e poderão agir de forma adequada em situações de comunicação
intercultural. A atividade proposta não permite verdadeiramente uma reflexão sobre a
dimensão intercultural. Existe no entanto um leve contacto entre ambas as culturas.
Bibliografia
Byram, Michael (2009) “Intercultural Competence in Foreign Languages – The Intercultural
Speaker and the Pedagogy of Foreign Language Education” in Darla Deardorff, The Sage
Handbook of Intercultural Competence, Los Angeles / London / Nova Delhi / Singapore /
Washington DC: Sage Publications, pp. 321-332.
Pelissoni, Adriane M. Soares (2009) Objetivos Educacionais e avaliação da
aprendizagem. Anuário da Produção Acadêmica Docente, Vol. III, Nº5, Faculdade
Anhanguera de Campinas.
Aulas de Português Online, (sd) Sentido conotativo e sentido denotativo. Disponível na
internet em: http://sites.google.com/site/aulasdeportuguesonline/modulo-3/conotacao
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