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Mica – Mercado das indústrias culturais da Argentina
[mesa de debate] Iberomúsicas. A música em iberoamerica:
Identidade, integração e oportunidades
12/04/2013
Iberomúsicas. A música em iberoamerica: Identidade,
integração e oportunidades
O escritor brasileiro Mario de Andrade mencionou, certa vez, que “a música
é a arte dos sons em movimento” 1 . Ao tecermos essa ideia, uma trilha
sonora educativa se compõe diariamente voltada para a circulação da
cultura e das artes no Sesc pelo Estado de São Paul o – Brasil.
Na perspectiva da linguagem musical, o propósito da instituição é contribuir,
de modo efetivo, para a ampliação do acesso à produção contemporânea, ao
mesmo tempo em que proporcionamos a difusão das obras tradicionais,
priorizando o respeito à diversidade de manifestações existentes, numa
pauta criada por experiências que se somam, se esclarecem, e, também, se
contradizem.
Uma pauta com olhar educativo pelos ritmos da cultura que nos alimenta. E
que almeja a formação do público e a ampliação de sua percepção crítica,
distante das amarras do mercado massificador. Assim pensamos e agimos:
seguindo para além do conceito de entretenimento, que condiciona e impõe
a homogeneidade artística.
Entre o registro e a difusão musical, a programação d o Sesc se revela nas
apresentações musicais: uma programação que, em 2012, propiciou o
contato com 5.870 espetáculos musicais espalhados em 41 espaços de
apresentações (18 teatros, 16 auditórios, 5 salas de espetáculo, 2 teatros
de arena), além de inúmeros palcos montados nas praças e espaços
públicos, num verdadeiro espalhamento sonoro.
Espalhamento que está presente nas ações formativas, como as oficinas,
desenvolvidas nos 32 centros culturais, esportivos e de saúde existentes na
grande São Paulo, no litoral e no interior do Estado, aberto para as mais
diversas faixas etárias e, também, nos encontros com músicos e
pesquisadores da área musical.
Na cidade de São Paulo, a instituição trabalha com dois espaços específicos
de ensino musical coletivo: os Centros de Música. Neles, disponibilizamos ao
público instrumentos de cordas (violinos, violas, violoncelos e contrabaixos
1
acústicos), sopro e percussão, além das aulas de canto, possibilitando o
estudo aprofundado da expressão.
Nestes Centros flui o convívio entre as diversas faixas etárias constituído no
processo de aprendizagem da leitura musical básica até a formação de
grupos de repertório, como, por exemplo, uma Big Band.
Valorizamos, igualmente, a preservação dos registros sonoros, por meio do
Selo Sesc, que, para além da difusão cultural, pretende fomentar discussões
e pesquisas a respeito da cultura musical brasileira e, quando possível,
geral. Nesta produção de CDs e DVDs,
seguem-se os critérios dos
significados artísticos, técnicos e estéticos musicais, incluindo o trato com a
memória étnica folclórica da cultura regional brasileira, como a recuperação
da Missão de Pesquisas Folclóricas de Mario de Andrade, de 1938.
Atualmente, o catálogo do Selo Sesc conta com 52 títulos.
Os 300 anos da história do piano foram comemorados com a produção de
um DVD contando a história do instrumento, com a participação dos
pianistas Rosana Lanzelote, Eduardo Monteiro, Maria José Carrasqueira e
André Mehmari.
Acreditamos na força que a arte tem em confundir as fronteiras e nos
aproximar da essência que nos constitui e que, justamente, nos caracteriza
como humanos.
Por este rumo, em 2003, a Mostra Sesc de Artes Latinidades acolheu a
pluralidade e diversidade que compõe o universo dos povos de origem
latina. Entre os convidados recebemos do Chile o Tiro de Gracia e, da
Venezuela, o Esamble Gurrufío.
Já em 2010, numa proposta de quase fusão das linguagens, que mistura
música, teatro, arte multimídia, tecnologia e ciência, foi criada a ópera
"Amazônia - teatro música em três partes", uma parceria entre o Sesc, a
Bienal de Munique, o ZKM Centro de Arte e Mídia de Karlsruhe, o Goethe Institut, o Teatro Nacional São Carlos, de Lisboa, e a Hutukara Associação
Yanomami.
Esses são diálogos abertos que permanecem no pr esente, pois no mês de
março recente na cidade de São Paulo, tivemos o Projeto Caros Hermanos
(no Sesc Vila Mariana), oferecendo um panorama da produção musical da
Argentina. Tango, rock, chamamé, zamba e candombe, em arranjos
contemporâneos ou em músicas folclóricas, trilhando o roteiro sonoro que
povoa Argentina, Uruguai, Paraguai e sul do Brasil. (Apresentações: Duo
2
Wagner-Taján; Hernan Crespo Cuarteto; Kevin Johansen + The Nada e
Otros Aires entre os grupos).
Para além das realizações, as aproximações. Estes vínculos ocorrem por
meio das parcerias com os corpos estáveis, como a OSESP – Orquestra
Sinfônica do Estado de São Paulo, num convênio para sua itinerância,
iniciado em 2008.
As apresentações da orquestra da OSESP acontecem em palcos nas áreas
públicas urbanas, revigorando o alcance da música clássica pelas cidades do
interior paulista. Em 2012, foram 17 cidades do interior e litoral, que
receberam os concertos da orquestra, grupos de câmara, coro e cursos de
instrumento e apreciação musical. Parcerias firmadas igualmente com a Jazz
Sinfônica, a Camerata Aberta e a Orquestra Sinfônica de Heliópolis.
Neste amálgama polifônico da cultura ibero-americana, integramos as
celebrações entre países, como a do ano Brasil em Portugal. O Sesc, nesta
participação, realizou as apresentações musicais de Milton Nascimento, da
cantora portuguesa Carminho (Maria do Carmo de Andrade) e de Antonio
Zambuja.
Proporcionamos sim, shows de grandes nomes do país, como Caetano
Veloso, Gal Costa, Virgínia Rodrigues, Gilberto Gil e Luis Melodia, ao mesmo
tempo em que acolhemos, com igual respeito, as tradições musicais, como
Dona Inah, Velha Guarda da Escola de Samba Nenê da Vila Matilde e as
comemorações dos 100 anos de Luiz Gonzaga e o Festival Música Nova
Gilberto Mendes.
Misturamos o Festival Ibero-americano de Artes Cênicas – Mirada, com
Criolo e Emicida. Bandas e fanfarras. A peça de Antunes Filho sobre
Lamartine Babo e Festivais de Jazz. Ornette Coleman. Blues. Sinfônica
Heliópolis. Ron Carter. Brad Mehldau. Choros. Tom Zé. Marchinhas. Sambaenredo. O casal de Mali, Amadou & Mariam. Paralamas do Sucesso e a
guitarra brasileira de Pepeu Gomes.
Isso tudo, junto e um tanto mexido, são os ingredientes deste caldeirão de
sons mencionado por Mario de Andrade e interpretado pelo Sesc. São
instantes e histórias na qual o conceito ibérico-americano voa para além das
delimitações geográficas, etnográficas ou ideológicas. Repousa na cultura,
nesta infindável diversidade e nas seculares origens musicais.
Danilo Santos de Miranda
Diretor Regional do Sesc São Paulo
1
Andrade, Mario de. Ensaios sobre a Música Brasileira. São Paulo: Martins
Fontes, s.d..
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