UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NÚCLEO INTERDISCIPLINAR DE PESQUISA E ESTUDOS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL - NIPEEA TÍTULO: CARTOGRAFIA MUNICIPIO DE SOCIAL CARIACICA: DA EDUCAÇÃO POSSILIDADES AMBIENTAL EMERGENTES PARA FORMAÇÃO DE COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS AUTORES: ANDREIA TEIXEIRA RAMOS SOLER GONZALEZ EIXO TEMÁTICO: PESQUISA EM PÓS-GRADUÇÃO EM EDUCAÇÃO EM MOVIMENTOS SOCIAIS CATEGORIA: PÔSTER NO/DO A INTRODUÇÃO A temática desta pesquisa se insere no contexto sócio-cultural do município de Cariacica. Marcado por origens que agregam povos indígenas, negros e imigrantes europeus, o primeiro nome do município foi Carijacica, que na língua tupi, significa "chegada do homem branco". Segundo pesquisadores, Carijacica era o nome de um rio descoberto pelos indígenas que descia do Monte Moxuara. Com o tempo a linguagem popular abreviou o nome para Cariacica. Por muito tempo Cariacica ocupava um lugar simbólico de ser uma “região” historicamente marcada por perdas e injustiças socioambientais. Atualmente o município desenvolve políticas de promoção de justiça ambiental (Acserald, 2008) e de apoio às manifestações artísticasculturais, assim como a criação de Áreas Preservação Ambiental e, principalmente a inserção da temática ambiental no contexto escolar e comunitário. Esta pesquisa apresenta algumas ações de Educação Ambiental (EA) no município de Cariacica, especificamente no que tange aos processos de Formação de Educadores(as) , potencializando políticas democráticas e participativas de gestão ambiental (Guimarães, 2004) voltadas para a formação de comunidades sustentáveis. Apresentaremos uma cartografia social (Almeida, 2007) com foco nas ações de EA realizadas no município. Buscamos com isso, dar visibilidade aos processos de produção individual/coletiva de conhecimentos, destacando a importância de tais processos na elaboração de políticas sustentáveis e de reconhecimento dos territórios vividos por grupos sociais e culturais que sobrevivem diretamente das potencialidades naturais locais. REFERENCIAL TEÓRICO A EA é entendida neste processo de pesquisa como possibilidade de ampliação da participação política dos cidadãos (Loureiro, 2002), em ações de intervenções sustentáveis, fundamentadas na concepção de um projeto socioambiental realista-utópico visando uma sociedade com justiça social e qualidade ambiental. Diante do contexto atual da sociedade contemporânea, influenciada pela transição paradigmática (Santos, 2007), os espaços educativos precisam integrar-se e rever suas ações de formação pautadas na solidariedade (Maturana, 2002) e na participação democrática. As idéias que fundamentam esse processo de pesquisa, aposta na complexidade (Morin, 2005) que permeiam os processos de hibridação cultural (Hall, 2008). Essa dimensão de realidade complexa encontra um terreno fértil de possibilidades nos processos de formação de educadores(as) (Tristão, 2004), currículo e de cultura, que articuladas com a EA podem contribuir com processos de gestão participativa, democrática e sustentável do território. A cartografia social articulada com a EA, enquanto metodologia deste processo de pesquisa, propõe a tessitura de conhecimentos, com participação social para ações de intervenção na realidade (Freire, 1986) e nos conflitos socioambientais locais (Gonçalves, 2004). Tal metodologia se preocupa mais em acompanhar processos de produção de conhecimento do que descrição de fatos, desta forma, o processo de pesquisa é por si só, uma processualidade, ou seja, um movimento de autoformação e de ampliação da concepção do mundo e da forma de se conceber o ato de pesquisar (Passos, 2010). Essa proposta metodológica da cartografia social é uma alternativa para a mobilização e organização comunitária em ações de intervenção frente aos conflitos socioambientais, potencializando processos de gestão sustentável dos territórios vividos (Santos, 1999). OBJETIVOS No percurso teórico-metodológico deste processo de pesquisa, pretendemos enfocar os seguintes objetivos: a) Elaborar a Cartografia Social das ações de Educação Ambiental do município de Cariacica; b) Compreender as potencialidasdes que abarcam as dimensões de sustentabilidades nas ações de Educação Ambiental do/no município de Cariacica; c) Contribuir com políticas locais sustentáveis de reconhecimento e valorização da complexidade dos territórios vividos do município de Cariacica; METODOLOGIA Os diálogos de saberes dos territórios vividos configuram uma dimensão importante a ser considerada em processos auto-formativos e emancipatórios em EA. Tal pesquisa inspira-se nas idéias metodológicas da Cartografia Social (Almeida, 2007), da EA para a Gestão (Guimarães, 2003) e em Santos (2007); assim como métodos já conhecidos nas ciências sociais e na educação, como por exemplo: pesquisa/observação participante, auto-narrativas e pesquisa no/do cotidiano (Ferraço, 2005; Alves, 2004). A produção de dados nesta pesquisa envolve a participação, articulando Educadores, Secretarias Municipais de Educação e de Meio Ambiente, órgãos públicos ambientais, movimentos sociais, dentre outras. O trabalho de campo no decorrer da pesquisa pressupõe uma imersão nos territórios vividos com o propósito de compreender as cartografias sociais, por meio de registros em diários de campos, análise e produção de dados visuais (fotografias e artes) e auto-narrativas. Por meio da observação participante, potencializando o diálogo entre os saberes. DESENVOLVIMENTO Contrapondo-se ao passado tortuoso marcado pelo descaso político, o município de Cariacica nos últimos anos, tem apostado em ações educativas que são politicamente articuladas ao contexto histórico atual, originando práticas socioambientais compromissadas com a cidadania e a justiça ambiental. Até bem pouco tempo o município era desprovido de Áreas de Preservação Ambiental (APA’s). Após inúmeras tentativas foram criadas Unidades de Conservação (Parque Natural Municipal do Monte Mochuara, Reserva do Desenvolvimento Sustentável do Manguezal de Cariacica e Parque Natural Municipal de Itanguá), que envolvem iniciativas de EA. Em Cariacica as ações de enraizamento da EA nos vários contextos educativos acompanham as políticas estruturantes de EA desenvolvidas pelo Ministério da Educação (MEC) e Ministério do Meio Ambiente (MMA), como por exemplo: as Conferências Infanto-Juvenis de Meio Ambiente, a implantação nas escolas das Comissões de Meio Ambiente e Qualidade de Vida – as Com-Vidas e, as Salas Verdes Itinerantes. Cariacica também cria suas ações de EA em parceria com órgãos ambientais, contemplando espaços de formação de educadores e de intervenção social, dialogando saberes, que têm como ponto comum o envolvimento da sociedade civil, destacando o reconhecimento da importância da EA em processos de formação de territórios sustentáveis. Acrescenta-se aos processos de enraizamento da EA: o Projeto Horta Escolar, o Turismo em Cariacica, o envolvimento das escolas na Feira Ambiental do município, a Estação da Ciência e a Escola do Campo que contemplam as áreas rurais do município, e, as demandas de projetos ambientais nos editais municipais da Lei João Bananeira, recentemente instituída pela municipalidade, com foco no resgate e difusão das manifestações culturais locais e de apoio à ciência. As questões ambientais em Cariacica refletem transformações, marcado pelo interesse em envolver espaços educativos nas discussões dos problemas e conflitos socioambientais por meio da EA, desencadeando ações de formação de educadores(as) (Carvalho, 2002), valorizando as manifestações culturais e a participação social. O ecossistema manguezal em Cariacica tem sido contemplado com o “Projeto Povos e Mangues”, desenvolvido desde 2007 envolvendo as Secretarias de Educação e de Meio Ambiente, com ações de EA com escolas e comunidades. Recentemente, o “Povos e Mangues” em parceria com o Instituto Marlin Azul – OSCIP – realizou em cinco escolas públicas municipais, oficinas audivisuais a partir da leitura, debate, aulas de campo e entrevistas, culminando com materiais didáticos audiovisuais com foco na preservação do manguezal e do reconhecimento dos territórios vividos dos pescadores artesanais do município. A implantação do Projeto “Povos e Mangues” possibilitou ações de intervenções locais com foco nas demandas socioambientais elencadas pelas comunidades pesqueiras, como por exemplo, a produção de um diagnóstico socioambiental dos pescadores artesanais de Cariacica, a criação de Associações de Pescadores Artesanais, a ampliação das parcerias entre secretarias municipais e estadual (Programa Maré Viva), e a formação do Grupo de Trabalho da Pesca que tem o objetivo, promover uma gestão integrada e participativa com esse importante setor de atividade socioeconômica. CONCLUSÕES A partir desses apontamentos a cerca da Cartografia Social da EA no município de Cariacica, é necessário e emergente o enfrentamento ao descaso histórico, por meio de pesquisas e políticas compromissadas com uma ética voltada para a superação do contexto marcado pela desigualdade socioambiental. Cariacica vem conquistando espaços de visibilidade na sociedade capixaba e reconhecida como cenário de importantes manifestações artísticas e culturais. A presente pesquisa, por meio da Cartografia Social da EA do município de Cariacica, tem como finalidade, ser uma alternativa teórico-metodológica fundamentada no desejo comum em dar visibilidade e reconhecimento aos modos de criar-fazer-viver, mapeando as necessidades e as potencialidades de grupos sociais, contribuindo para a formação de educadores(as) e comunidades sustentáveis comprometidas com a qualidade de vida e a justiça sócioambiental. REFERÊNCIAS ACSELRAD, Henri. Cartografia Social e Território (Org.). Rio de Janeiro, UFRJ/IPPUR, 2008, 168p. ALVES, Nilda. (Org.). Criar currículo no cotidiano. São Paulo:Cortez, 2004. ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia. Manaus /UEA Edições, 2007. CARVALHO, Janete Magalhães. Diferentes Perspectivas da profissão docente na atualidade. Vitória, EDUFES, 2002. FERRAÇO, Carlos Eduardo (Org.). Cotidiano escolar, formação de professores (as) e currículo. São Paulo: Cortez, 2005. FREIRE, Paulo &SHOR, Ira. Medo e Ousadia – o cotidiano do professor. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1986. GONÇALVES, Carlos Walter Porto. O desafio ambiental. Rio de Janeiro: Record, 2004. 179p. GUIMARÃES, Mauro. A formação de educadores ambientais: Campinas, SP: Papirus, 2004. HALL, Stuart. Da Diáspora: identidades e mediações culturais. UFMG, Belo Horizonte, 2008 LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo (Org.). Educação Ambiental: repensando o espaço da cidadania. 2ª edição, São Paulo: Cortez, 2002. MATURANA, Humberto. Emoções e linguagens na educação e na política. Belo Horizonte: UFMG, 2002. MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre: Sulina, 2005. PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia; ESCÓSSIA, Liliana da (Org.). Pistas do método da cartografia: pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre, RS: Sulina, 2010. 207 p. SANTOS, Boaventura. A Crítica da Razão Indolente: contra o desperdício da experiência. São Paulo: Editora Cortez, 2007. ________, Boaventura. Renovar a Teoria Crítica e Reinventar a Emancipação Social. São Paulo:Editora BOMTEMPO, 2007. ________ (Org.). Semear outras soluções: os caminhos da biodiversidade e dos conhecimentos rivais. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2005, v.4. SANTOS. Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 3ª ed. São Paulo: HUCITEC, 1999. TRISTÃO, Martha. A educação ambiental na formação de professores: redes de saberes. São Paulo: Annablume, 2004.