Estimando o Valor Energético dos Alimentos Data - 18/08/00 Os alimentos podem ser analisados para um grande número de constituintes que definem seu valor nutritivo. Todavia, o valor energético, a característica que normalmente define grande parte do valor econômico do alimento, não é um constituinte químico e portanto não pode ser analisado. O dilema forneceu estímulo para o desenvolvimento de numerosas equações e sistemas que pretendem estimar o valor energético dos alimentos baseado nos níveis de um ou mais constituintes químicos. Estas equações e sistemas podem ter funcionado bem, ou nem tanto, embora seja impossível avaliá-las criticamente já que os valores energéticos dos alimentos não têm sido regularmente medidos em vacas de leite desde a década de 70. Há muito tempo foi reconhecido que os fatores determinantes do valor energético de um alimento são seu teor de lipídeos (gordura ou óleo), devido a seu alto valor energético; e a digestibilidade de sua fibra (estimada na forma de fibra detergente neutro - FDN), devido ao seu alto teor nas forragens. Gorduras e óleos podem ser avaliados por análises químicas; por outro lado a fibra já demonstrou ser uma tarefa mais complicada. Na América do Norte, a tendência tem sido confiar na similaridade da fibra (FDN) de um mesmo tipo de alimento, para desenvolver equações que estimam o teor energético de cada alimento (esta filosofia e equações têm sido adotadas também por aqui). Um problema com este procedimento é que a descrição botânica da forragem precisa ser conhecida para que se decida qual equação utilizar. Isto traz complicações de difícil solução quando se trata de misturas de forragens. Somado a isto, estas equações tendem a ser específicas para a região onde foram originadas. Isto pode ser um problema para alguns tipos de feno, por exemplo, que são transportados para mercados distantes (e um problema ainda maior para as nossas forragens, que são produzidas em um país com características totalmente distintas da origem das equações). Para finalizar, estas equações fornecem pouco ou nenhum auxílio quando se utiliza subprodutos que podem variar em sua composição, ou misturas de alimentos, como as rações completas. Em contraste com os EUA, os países europeus deram preferência ao uso da digestibilidade in vitro da FDN para estimar a real digestibilidade da fibra. Este procedimento elimina preocupações com a correta classificação botânica do alimento, mas introduz a complexidade, custo e incerteza desta técnica. No entanto, novas técnicas para análise in vitro , e uma consequente maior disponibilidade comercial deste processo, têm superado estes problemas. O tradicional, e ainda comum, método para estimar o valor energético tem sido calcular o valor do NDT baseado nos componentes de fácil análise nos alimentos. As equações atualmente aceitas calculam o NDT como a soma da proteína bruta (PB) digestível, extrato etéreo (EE) digestível (multiplicado por 2,25), FDN digestível, e carboidratos não estruturais (CNE) digestíveis, todos corrigidos para um custo metabólico de digestão. O NDT, calculado desta forma, pode então ser utilizado para estimar o valor da energia líquida para lactação (EL-l), assumindo que ela é proporcional ao NDT. O maior problema para este tipo de estimativa para alimentos com alto teor de fibra é que a digestibilidade do FDN varia entre diferentes amostras, por uma série de razões. Procedimentos analíticos como a determinação do teor de lignina têm sido usados para estimar a digestibilidade do FDN, mas este método não é preciso devido a erros analíticos e à baixa correlação entre a lignina e a digestibilidade do FDN. O único método comercialmente disponível para estimar com precisão a digestibilidade ruminal do FDN é o processo in vitro . As equações abaixo usam análises químicas comercialmente disponíveis para estimar os valores de NDT e EL-l de alimentos fornecidos a baixos níveis de ingestão - nível de manutenção (1xM) - bem como as formas de correção destes valores para vacas com maiores ou menores níveis de ingestão. Os valores de NDT e EL-l no nível de ingestão de manutenção (1xM) podem ser calculados a partir de um pequeno grupo de nutrientes, todos possíveis de se obter por análises laboratoriais. NDT (1xM) = ((PB - PIDA) x (TA/5) x 0,98) + ((PB - PIDA) x (1-(TA/5)) x 0,8) + ((EE - 1) x 0,98 x 2,25) + (FDN dFDN) + (0,98 x (100 - MM - EE - FDN - PB))) EL-l (1xM), Mcal/kg de MS = ((NDT (1xM) x 0,0266) - 0,12), onde: PB = proteína bruta (% da MS); PIDA = proteína insolúvel na FDA (% da MS); TA = tipo de alimento ( silagens = 1; subprodutos úmidos = 2; outros = 3); EE = extrato etéreo (% da MS); FDN = FDN livre de minerais, analisado com sulfito de sódio e amilase (% da MS); dFND = digestibilidade do FDN in vitro ou in sacco em 30 horas (% do FDN); MM = matéria mineral (% da MS). Todavia, a maioria das vacas tem consumo muito acima daquele necessário à manutenção. Conforme a ingestão aumenta, o teor energético dos alimentos tende a diminuir. A extenção da mudança, chamado de desconto energético, quantifica esta mudança. O desconto reflete o teor de FDN e CNE e podem ser calculados como "unidade porcentual da ingestão de energia" (como uma porcentagem dos requerimentos energéticos de manutenção da vaca): Desconto = ((0,033 + (0,132 x FDN(%MS))) - (0,033 x EL-l (1xM, Mcal/kg))) + (CNE (%MS) x 0,05), onde: FDN = fibra detergente ácido livre de minerais (% da MS); EL-l = valor da energia no nível de manutenção (1xM); CNE = carboidratos não estruturais calculado como: 100-MM-EE-FDN-PB. O desconto de energia é importante por definir a taxa de alteração do valor energético do alimento, em relação à alteração na ingestão de alimentos, tendo como referência a ingestão para manutenção. Os valores de EL-l para 3 vezes a manutenção (considerado como o consumo energético de vacas de alta produção), pode ser calculado do valor energético para manutenção (1xM) e do desconto como: EL-l (3xM), Mcal/kg de MS = EL-l (1xM) - [EL-l (1xM) x (Desconto x 2/100)] Estas equações se baseiam em análises químicas e determinação da digestibilidade in vitro do FDN e são aplicáveis a todos potenciais alimentos para vacas de leite. Comentário Milkpoint: a adoção da digestibilidade in vitro da FDN pode diminuir em grande parte o erro decorrente da utilização de equações "importadas" para cálculo do valor energético dos alimentos. Isto por que as principais diferenças de nossas forragens(tropicais) em relação às temperadas são relacionadas ao teor e digestibilidade da fibra. Fonte: Adaptado de Robinson, P.H., 2000. Predicting the energy value of feeds. Revista Hoard’s Dairyman, Mach 10.