`Nevermind` Disco do Nirvana faz 25 Anos : o Legalzinho

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'Nevermind' Disco do Nirvana faz 25 Anos
'Nevermind' nunca foi só música. E ainda hoje é muito mais do que isso. Lançado em 24 de setembro de
1991, o segundo disco do Nirvana representava a invasão do cenário pop pelo rock alternativo. O
perdedor angustiado e sensível substituindo o rockstar cheio de marra. A voz contraditória de Kurt
Cobain, um cara que ao mesmo tempo desejava o sucesso e desprezava a fama.
“Tudo que eu faço é uma tentativa consciente e neurótica de provar aos outros que sou pelo menos mais
inteligente e legal do eles pensam.” A frase escrita em 1990 está no diário de Cobain. Ele virou messias da
geração grunge e passou a ser ainda mais cultuado quando se matou em 1994, aos 27 anos.
Mas “Nevermind”, que vendeu mais de 30 milhões de cópias pelo mundo, não foi só produto de alguém
deprimido e viciado em heroína: tinha ambição ali. O biógrafo Charles R. Cross escreveu: “De modo obsessivo
– e compulsivo –, ele planejava cada direção musical ou de carreira".
Esse planejamento significou apostar na fórmula que alternava melodia e peso. Dave Grohl, baterista do
Nirvana e hoje líder do Foo Fighters, dizia que a banda queria canções “quase infantis, o mais simples
possível”. Cobain queria "uma canção pop definitiva” ao fazer “Smells like teen spirit”. E tinha a identificação
dos fãs com as letras revoltadas. O visual simplório virou uniforme de muita gente (o povo usava camisa de
flanela mesmo no verão brasileiro).
Mas todo esse senso de oportunidade talvez não tivesse dado em nada sem o que o produtor Butch Vig chamou
de “timing”: “Em arte, timing é importante porque ele é reflexo da cultura, e você não pode prever isso”.
Por que diabos os jornalistas insistem em fazer uma segunda análise freudiana das minhas letras, quando 90%
do tempo eles as transcreveram incorretamente?”
(Kurt Cobain, em carta escrita em seu diário para o crítico Lester Bangs, citada na biografia “Mais pesado que
o céu”, de Charles R. Cross)
Kurt provavelmente não iria curtir muito o faixa a faixa abaixo...
'Smells like teen spirit'
No verão de 1990, uma amiga pichou no quarto de Kurt Cobain a frase “Kurt smells like teen spirit”. Uma
brincadeira com o fato de Cobain estar de caso com uma garota que usava o desodorante da marca Teen Spirit.
Ele não entendeu a piada, achou que era sério e resolveu encarnar na música mais famosa do Nirvana o tal
“espírito jovem”.
‘In bloom'
A letra foi inspirada em um amigo de Kurt (Dylan Carlson, que sem saber acabaria comprando para o líder do
Nirvana a arma com que ele se matou). A música é o básico da fórmula. “Deixei o mais simples possível, essa
era a regra”, explicou Dave Grohl.
‘Come as you are'
A gravadora quis esta como segundo single, mas teve de insistir com Kurt. Ele sabia que “Come as you are”
era parecidíssima com “Eighties”, do Killing Joke, e tinha medo de processo. Os caras do Killing Joke
reclamaram e ameaçaram entrar na Justiça, mas não rolou. Simbolizando a paz, Grohl tocou num disco da
banda em 2003.
‘Breed'
Típico exemplo do gosto de Cobain pela escatologia, a música era inspirada nos problemas intestinais de Tad
Doyle, o gigante de 130 kg da banda Ted, com quem o Nirvana fez turnê em 1989. Nasceu chamando
“Imodium”, nome de um remédio para diarreia. Na hora de gravar, Cobain mudou o título para “Breed” e
pregou contra a ideia de casar e ter filhos.
‘Lithium'
O Nirvana apostava que a faixa “dançante” mas com nome de remédio para depressão seria o hit de
“Nevermind”. Antes da gravação, já era promessa para muita gente, inclusive músicos. Na biografia de
Cobain, Kim Thayil, do Soundgarden, lembra: “Quando ouvi ‘Lithium', aquilo ficou na minha cabeça. O nosso
baixista veio a mim e disse: ‘Essa é sucesso. Aí está uma das Top 40'”.
‘Polly'
É a música “jornalística” de Cobain. Ele ficou impressionado ao ler uma notícia de março de 1990 sobre o caso
de uma jovem raptada, estuprada e torturada depois de sair de um show. Autor da biografia de Cobain, Charles
R. Cross compara “Polly” ao livro “A sangue frio”, de Truman Capote.
‘Territorial pissing'
A mais punk e suja do disco (contraponto ao pop dominante). E um manifesto contra o machismo (refere-se
aos animais machos que urinam para demarcar território). Paixão de Cobain em 1990 e citada como musa de
“Nevermind”, Tobi Vail (depois viraria baterista do Bikini Kill) era a única mulher que, segundo ele, o fazia
vomitar de nervoso. Pregava independência, jamais assumia namoro. Com Tobi, Kurt virou feminista
militante.
‘Drain you'
Uma das favoritas de Cobain – e bem parecida com “Teen spirit”. Em 1994, já cansado de seu maior hit, ele
exaltou “Drain you” à “Rolling Stone”: “Tão boa quanto ‘Teen spirit'. Amo a letra e nunca me canso de tocála”. Segundo a biografia “Mais que pesado que o céu”, “Drain you” também foi inspirada no fim do caso com
Tobi. O primeiro verso teria uma frase dita por ela: “I'm lucky to have met you” [“Tive sorte de ter te
encontrado”].
‘Louge act'
Mais uma com citações a Tobi Vail. Agora, em versos menos sutis, em uma das faixas de menor apelo. “I hate
because you are so much like me” [“Eu te odeio porque você é tão parecida comigo”], ele canta.
‘Stay away'
“Stay away” surgiu com o nome “Pay to play” [“Pagar para tocar”]. Era Kurt protestando contra as casas de
show que obrigavam bandas a adquirir cotas prévias de ingressos. Mesmo depois de virar “Stay away”, a faixa
continuou com a revolta, com o acréscimo do último verso: “Deus é gay!”.
‘On a plain'
Lado musical francamente pop, letra atirando para todo lado: amor desfeito, depressão, viagem de droga, a
visão que Kurt Cobain tinha da mãe (“my mother died every night”) e a dificuldade para falar disso tudo numa
música. Sessão de terapia musicada.
‘Something in the way'
O produtor Butch Vig diz que esta foi a música mais difícil de gravar. Um dos problemas, segundo ele, foi
afinar os instrumentos de acordo com o violão de 5 cordas de Cobain. “A trilha está um pouquinho desafinada.
Mas isso dá um aspecto soturno, traz personalidade .”
‘Endless nameless'
Música escondida no final do “Nevermind”: o ouvinte tinha de deixar o disco rolando por 10 minutos depois
do final de “Something in the way” para poder escutar uma barulheira que nos shows servia de trilha para
quebrar instrumentos.
Depois do Nirvana, todos os principais envolvidos no disco realizaram o sonho da banda própria. Menos o
bebê, que virou artista plástico.
Post date: 2016-09-24 17:08:26
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Post modified date: 2016-09-24 17:08:55
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