Saúde controla aumento de casos de malária Ações conjuntas do Ministério da Saúde, estados e municípios evitam expansão de epidemia no Amazonas, Acre e Rondônia De acordo com dados do Ministério da Saúde, os estados da Amazônia Legal (região Norte, Maranhão e Mato Grosso) registraram, entre janeiro e julho de 2005, 286 mil casos de malária. Esse número representa cerca de 20% a mais do que foi notificado no mesmo período do ano passado. Para intensificar as ações contra a doença e reverter o quadro, o governo federal repassou equipamentos e treinou técnicos da vigilância e controle da malária. Os investimentos nessas ações totalizam R$ 13 milhões. A lista de equipamentos repassados pelo governo aos estados e municípios para o combate à malária inclui 292 veículos, 196 kits de informática, 30 geradores e 1,5 mil bicicletas. Também foram elevados os valores repassados anualmente para os estados do Acre (R$ 1 milhão), Amazonas (R$1,3 milhão), Amapá (R$ 927 mil), Pará (R$ 929,5 mil) e Roraima (R$ 754,8 mil) destinados às ações de controle e prevenção de endemias. Ao todo, para o desenvolvimento das ações de vigilância em saúde, o Ministério da Saúde repassa anualmente aos estados da Amazônia Legal aproximadamente R$ 140 milhões. A Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do ministério também realizou duas reuniões de avaliação dos programas estaduais e municipais de controle da malária, para manter o monitoramento das ações de prevenção da doença, que devem sempre ser aprimoradas e continuadas. Segundo o Programa Nacional de Controle da Malária, o aumento do número de casos se concentrou principalmente nas periferias de cidades como Manaus (AM), Porto Velho (RO) e Cruzeiro do Sul (AC). Técnicos do Ministério da Saúde acreditam que o crescimento ocorreu por uma série de fatores, entre eles o desenvolvimento acelerado das cidades e o aumento do extrativismo, que leva pessoas a ocuparem áreas de risco, onde os mosquitos têm seus criadouros. Além desses fatores, as condições climáticas da Amazônia favorecem o desenvolvimento do mosquito transmissor. O diretor técnico de Gestão da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), Fabiano Pimenta, destaca a complexidade do controle da malária na região, que além dos fatores já mencionados, também é influenciado pelo regime de chuvas. As autoridades em saúde recomendam para as pessoas que vivem nas áreas endêmicas que evitem banhos nos igarapés, principalmente no final da tarde e durante a noite. Quando possível, é conveniente usar mosquiteiros, telas nas janelas e portas das casas, que também funcionam como proteção contra o mosquito transmissor da doença. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a malária um grave problema de saúde pública. Cerca de 40% da população de mais de 90 países convivem com o risco de contágio da malária. Em todo o mundo, entre as doenças infecciosas, somente a aids supera a malária em número de mortes. Sem vacinas – A malária tem como causa o protozoário Plasmodium. No Brasil, três espécies causam a doença: P. vivax, P. malariae e a P. falciparum, responsável pela forma mais grave, que atinge aproximadamente 20% das pessoas infectadas. Não existe vacina contra a doença e se a infecção não for tratada de forma oportuna e corretamente pode levar o paciente à morte. A malária apresenta como sintoma mais marcante a febre. Mas há outros: calafrios, fadiga, náuseas, dor de cabeça e, em alguns casos, anorexia (falta de apetite). Conforme o tipo de infecção, os sintomas podem aparecer entre sete e 30 dias após a picada do mosquito. Crianças e idosos – com sistema imunológico mais frágil – são mais vulneráveis ao tipo mais agressivo, capaz de trazer complicações como malária cerebral, hipoglicemia e edema agudo do pulmão. Já as mulheres grávidas correm o risco de sofrer aborto ou parto prematuro, em conseqüência da doença. Também conhecida como paludismo, a malária tem como transmissor, fêmeas de mosquitos do gênero Anopheles, que picam as pessoas, principalmente ao entardecer e à noite. Quando um mosquito pica alguém infectado, leva consigo o parasita. O plasmodium desenvolve parte de seu ciclo no inseto e, quando alcança as glândulas salivares, está pronto para ser transmitido para outro ser humano. A transmissão é mais comum no interior das habitações, em áreas rurais e semi-rurais, mas pode ocorrer no meio urbano, principalmente em periferias. Como o plasmodium fica na circulação sanguínea, a transmissão da malária também pode ocorrer a partir de transfusões, de transplantes de órgãos, da utilização compartilhada de seringas por usuários de drogas e de mãe para o filho (malária congênita), antes ou durante o parto. Diagnóstico precoce – O Ministério da Saúde, em parceria com as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, investe no diagnóstico precoce e no tratamento adequado para evitar o crescimento do número de casos e, principalmente, a ocorrência de formas graves e mortes pela doença. Trata-se da principal estratégia de controle. “Quanto mais tarde o diagnóstico for feito, maior a possibilidade de complicação”, alerta Fabiano Pimenta, do Ministério da Saúde. “No caso de febre, deve-se procurar imediatamente ajuda de um profissional de saúde e jamais se automedicar”, alerta. O método mais utilizado no Brasil para diagnóstico da malária, o gota espessa, é feito em um simples exame de sangue e, por isso, apresenta custo baixo. Com a análise do material coletado, em um microscópio visualiza-se o parasita. O tratamento também é simples, principalmente nos casos de diagnóstico precoce. Para cada espécie de plasmódio há medicamentos ou associações de medicamentos específicos, em dosagens adequadas à situação de cada doente. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece gratuitamente toda a medicação para o tratamento da malária. No Brasil há maior incidência de malária na Amazônia, que reúne mais de 99% dos casos. Dados da SVS indicam que, no ano passado, registraram-se mais de 400 mil casos da doença, com cerca de 90 mortes. Em outros estados, fora da Região Amazônica, há menos risco de transmissão. A maioria dos casos da doença nesses locais vem da Amazônia Legal ou de outros continentes, como a África. Situação da malária na Amazônia Legal - 1999 – 2004 (número de casos por ano) 1999 2000 2001 2002 2003 2004 635.646 613.241 388.303 348.259 408.300 463.792 Mobilização Mundial Hoje a malária preocupa o mundo inteiro. Como parte dos 60 anos de sua fundação, a Organização das Nações Unidas (ONU) promoverá um show no próximo sábado, dia 8 de outubro, em Genebra (Suíça). O evento tem como objetivo arrecadar recursos para combater a malária, que mata cerca de três mil crianças por dia em todo o mundo. A programação do show, intitulado "Unidos Contra a Malária", conta com artistas de cinco continentes, incluindo o ministro da Cultura brasileiro, Gilberto Gil. Os recursos arrecadados se somarão a US$ 1 milhão obtido pela atriz norte-americana Sharon Stone no Fórum Econômico Mundial de Davos (Suíça), em janeiro, para financiar um projeto piloto na Tanzânia. A iniciativa vai fornecer mosquiteiros tratados com inseticidas a todas as famílias que vivem nas duas costas do país. A malária atinge cerca de 500 milhões de pessoas por ano e mata de dois a três milhões, sendo que 90% das vítimas fatais pertencem à África Subsaariana. A doença tira a vida de uma criança africana a cada 30 segundos, segundo a ONU.