QUARESMADAESPERANCA2012

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Quaresma da esperança ( 2012 )
Caros amigos:
Olá a todos. Estamos no início de mais uma caminhada Quaresmal.
Quero acompanhar-vos mais uma vez na peregrinação que Jesus nos
convida a fazer com Ele em direcção a Jerusalém. Come é habitual,
ofereço-vos uma reflexão sobre o mistério da Sua Paixão, Morte e
Ressurreição, centrada no Evangelho quotidiano. Dos vários métodos
que podemos usar para rezar e meditar sobre o Evangelho, retomo
um método que é dos meus favoritos: centrar a minha reflexão à
volta de uma palavra do Evangelho do dia que resume o seu
conteúdo principal. O tema que escolhi este ano é o da ESPERANÇA,
um dos temas que resume, a meu ver, a essência do Evangelho de
Jesus e que é, ao mesmo, um tema muito actual dadas as
circunstâncias do nosso mundo actual. A Quaresma é um presente
muito especial que Deus nos oferece, porque podemos e devemos
aprender muito com a experiência de Jesus e dos seus discípulos.
Durante esta peregrinação, somos convidados a rever, reforçar e
cimentar as nossas relações pessoais com Deus e com os outros.
Façamos então o propósito de viver estes dias com um coração
aberto e uma atitude de profunda humildade. Só assim podemos
acolher Deus no nosso coração, para depois acolher todos aqueles
que Ele coloca na nossa vida.
A todos os votos de uma boa peregrinação.
QUERO CAMINHAR CONTIGO!
Jesus, meu irmão,
Eis-me pronto para caminhar contigo
Em direcção a Jerusalém.
Tu convidas-me a ser teu discípulo
Renegando-me a mim próprio
E assumindo a minha cruz.
Sei que não é fácil, mas também sei
Que não me abandonas nunca.
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Dá-me a força para carregar a minha cruz
Com esperança, com alegria e perseverança.
Ajuda-me a ajudar os outros a carregarem a sua cruz.
Ajuda-me a pôr em prática o teu evangelho,
Para me tornar autenticamente
Teu discípulo, teu amigo e teu missionário.
E que esta peregrinação Quaresmal seja para mim
Uma confirmação do meu amor por ti
E por todos à minha volta.
Ámen.
PAI (22 Fev. – 4a feira de Cinzas)
Palavra
“Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora
a teu Pai que está em segredo; e teu Pai, que vê em segredo, te
recompensará.” (Mateus 6:6)
Meditação
Uma das revelações mais bonitas e inesperadas de Jesus é a de que
Deus é Pai. Para os Fariseus e outros líderes religiosos, tal novidade é
pura e simplesmente uma heresia. Para nós, ela exprime a essência
de Deus: Ele é amor. Como bom judeu, Jesus usa o termo “Pai” para
falar de amor e das nossas relação com Deus, mas sabemos bem que
Deus não é só Pai: é Mãe, é irmão, irmã, é amigo, é companheiro.
Deus quer partilhar quem é e o que tem com cada um de nós; por
isso, intervém na nossa história pessoal para nos ajudar a descobrir e
a compreender o sentido e o sabor autêntico da vida. Se Deus é amor,
é nas nossas relações inter-pessoais que o experimentamos. Jesus
revelou esta identidade de Deus convivendo com tantos, partilhando
com eles o seu amor e ajudando-os a redescobrir o sentido e a beleza
da vida. Por isso, sempre que dizemos “Pai nosso” estamos a aderir à
lógica do amor. E aderir significa identificar-se completamente com
Deus, para nos identificar-mos sempre e cada vez mais com o
próximo.
Acção
Que significa para mim amar como Deus ama? Quero amar como Ele?
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PERDER (23 Fev.)
Palavra
“Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a
sua vida por amor de mim, esse a salvará”. (Lucas 9:24)
Meditação
Ninguém gosta de perder, excepto quilos e rugas. Mas perder a vida
significa, curiosamente, ganhá-la. É esta a lógica de Jesus, se bem
que nada tenha a ver com a lógica humana. Para nós, perder é
perder e ponto final. Mas perder, no contexto do Evangelho, tem a
ver com ganhar/conquistar o amor do próximo, tem a ver com
partilha profunda do que somos e temos com quem é mais
necessitado do que nós, tem a ver com investir não só com as coisas
mas sobretudo no próximo, interessando-nos pelo seu bem-estar e
felicidade. Mas sabemos que é muito mais fácil e tentador olhar só
para o nosso umbigo e tornarmo-nos o centro do nosso mundo. Jesus
perdeu tudo para nos dar tudo e é neste dar-nos tudo que nos revela
o seu amor. A cruz, como tal, não é sinal de derrota mas sim de
vitória. Façamos o propósito de perder, isso sim, o nosso orgulho, a
nossa vaidade e a nossa vontade teimosa e egoísta. Neste sentido, a
nossa perda será na verdade um ganho para todos, pois nos
aproximará mais de Deus e do próximo.
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Acção
O que devo perder para ganhar o próximo?
JEJUM (24 Fev.)
Palavra
“Dias virão, porém, em que lhes será tirado o noivo, e então hão-de
jejuar.” (Mateus 9:15)
Meditação
Todos sabemos que, como cristãos e católicos, devemos rezar, jejuar
e cumprir as leis da Igreja, mas não é só a observância de preceitos e
normas que nos salva. Pelo contrário, se elas não se transformam em
actos concretos de amor, partilha e serviço deixam de ter qualquer
sentido. Por isso, jejuar significa acima de tudo abstermo-nos do
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nosso orgulho, dos nossos projectos de felicidade centrados só que
no que nós queremos. Que adianta deixar de comer isto ou aquilo se
nos “empanturramos” com atitudes que nos afastam do próximo? A
nossa consciência precisa de ser ensinada a saber distinguir quais as
atitudes em nós que causam dor e sofrimento nos outros das que são
necessárias para a nossa felicidade, não esquecendo que só podemos
ser felizes quando os outros também o são. Certo, não podemos
salvar o mundo nem mudar a vida de todos para melhor, mas
podemos e devemos começar por alguém que está a nosso lado. Que
adianta rezar pela paz no mundo se não vivo em paz comigo mesmo
e com o meu próximo? Ou que adianta rezar ao “meu Deus” se esta
oração não me aproxima mais do próximo?
Acção
Que jejum me pede Deus neste momento concreto da minha vida?
CHAMAR (25 Fev.)
Palavra
“Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores.” (Lucas 5:32)
Meditação
O verbo “chamar” é um dos que melhor descreve a relação que Jesus
tem cada um de nós. Ele chamou-nos à vida através do amor dos
nossos pais, chamou-nos à comunhão com Ele através do Baptismo e
da Eucaristia e chamou-nos à missão com os dons e qualidades que
colocou em cada um de nós. Ele continua a chamar-nos para
continuarmos a sua missão. Mas antes devemos converter-nos a Ele,
à sua lógica e assumir as mesmas atitudes que o tornaram tão
famoso e querido. Ou seja, Ele é o nosso modelo e, como tal, chamanos para nos enviar depois como modelos. Mas somos nós modelos
para os outros? Conseguimos nós falar de Deus com a nossa vida?
Vemos as igrejas esvaziarem-se cada vez mais e tentamos encontrar
razões para este fenómeno. Mas… não terão algumas destas razões a
ver connosco? Não seremos nós por vezes anti-modelos de amor, de
partilha e consolação? Mas não caiamos em pessimismos:
assumamos a nossa identidade de cristãos sem medo ou vergonha e
sejamos para esta sociedade modelos de justiça, rectidão, verdade e
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solidariedade, pois ela precisa desesperadamente de cada um de nós.
E como a sociedade é formada por famílias, é em primeiro lugar na
nossa família que devemos começar esta transformação.
Acção
A que chama Deus hoje? E a quem me envia?
TENTAÇÃO (26 Fev. – Primeiro Domingo da Quaresma)
Palavra
“E esteve no deserto quarenta dias, sendo tentado por Satanás;
estava entre as feras, e os anjos serviam-no.” (Marcos 1:13)
Meditação
É curioso vermos como Satanás tenta Jesus: mesmo sabendo com
quem estava a falar, não desiste de o tentar. Este deixar-se tentar por
Jesus é uma forma de identificação total com a nossa humanidade,
pois uma das experiências mais recorrentes na nossa vida é
precisamente a de sermos tentados a algo. Somos tentados a viver
sem Deus, a viver segundo as nossas regras e gostos, a termos tudo
aquilo que consideramos indispensável para a nossa felicidade,
trocando por vezes as pessoas por coisas materiais. E ficamos
deprimidos e tristes quando não temos tudo o que queremos,
culpando imediatamente Deus e os outros pelo “mal” que nos
acontece. Será por este motivo que Jesus colocou na oração do “Painosso” um pedido especial, bem no fim da mesma: “e não nos deixeis
cair em tentação.” Por vezes, a tentação do mal é demasiado forte,
mas se permanecemos unidos a Cristo conseguiremos vencer toda e
qualquer tentação. Ao mesmo tempo, seremos força para os outros à
nossa volta. E consideremos as tentações não como uma prova da
qual temos de fugir “como quem foge do diabo”, mas como um
momento de crescimento, pois só não é tentado quem não está vivo.
Acção
Sou consciente das minhas tentações? Que faço para não cair nelas?
IRMÃOS (27 Fev.)
Palavra
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“Em verdade vos digo que, sempre que o fizestes a um destes meus
irmãos, mesmo dos mais pequeninos, a mim o fizestes.” (Mateus 25:40)
Meditação
Jesus era um homem bastante prático. Não se perdia com “tretas”
sobre isto ou aquilo, usando palavras complicadas e acessíveis
apenas aos estudiosos. Pelo contrário, falava sempre através de
histórias simples e eficazes. E todas elas falavam de uma só tema: o
da fraternidade humana. Mesmo as parábolas que usava para explicar
o Reino dos Céus tinham como objectivo final o de ajudar as pessoas
a compreenderem que era necessário mudarem de atitude em
relação ao próximo. Sim, porque o Reino de Deus tem precisamente a
ver com relações de amor e partilha solidária. Mas Jesus não era um
charlatão: pelo contrário, era o primeiro a pôr em prática tudo quanto
dizia. Como seria bom se os nossos líderes, começando pelos políticos,
líderes financeiros e também os religiosos de todas as religiões
fossem como Ele: pessoas de palavra e de acção, pessoas coerentes
e justas, que se preocupam verdadeiramente pelo bem comum. Ora,
sabemos que é fácil apontar o dedo aos outros, mas como dizia
alguém “quando apontamos um dedo a alguém, temos quatro
apontados a nós próprios.” Comecemos então por fazer aos outros o
que esperamos que nos façam, pois só assim seremos construtores
de um mundo melhor.
Acção
Preocupo-me também com as necessidades dos outros ou fecho-me
no meu egoísmo?
ORAÇÃO (28 Fev.)
Palavra
“Portanto, orai deste modo: Pai nosso que estais nos céus, santificado
seja o vosso nome.” (Mateus 6:9)
Meditação
São muitos os que dizem “não sei rezar.” E são ainda muitos mais os
que raramente rezam. Porque será? As razões são várias: falta de
tempo, preguiça, “isso é coisa de padres e freiras… e das beatas”, etc.
Também há quem só reze quando se encontra em apuros ou vá à
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igreja nos momentos centrais da vida de todos os cristãos:
baptizados, comunhões, casamento e funerais. A definição mais
comum de oração é “falar com Deus”. Ora, porque falamos então com
Ele? E quando falamos, deixamos que Ele nos fale? Pessoalmente,
creio que a oração é acima de tudo uma relação. Ou seja, rezar é
relacionar-me com Deus. Rezar é entrar em intimidade com Ele em
todos os momentos da minha vida, de modo que a minha vida se
torne oração. Como tal, não é só na igreja que podemos rezar, nem
precisamos de ter estudado teologia para sermos mestres na arte de
saber rezar. E quando rezamos, caso comecemos pelo agradecimento,
certamente a nossa oração terá um rumo diferente do que quando a
começamos com uma longa lista de pedidos. Desta relação especial
de amor que é rezar deve nascer a nossa vontade de rezar com a
vida e de sermos a resposta de Deus aos pedidos que o nosso
próximo lhe coloca. Ou seja, rezar é ser activo, é amar.
Acção
Rezo só com os lábios? Ou também com a minha vida?
SINAL (29 Fev.)
Palavra
“Esta é uma geração perversa; ela pede um sinal, mas nenhum sinal
lhe será dado senão o de Jonas.” (Lucas 11:29)
Meditação
Um dos maiores poderes de Jesus e o que mais fascinava quem o
seguia era o de fazer milagres. Só o som desta palavra faz vibrar o
nosso coração. De facto, muitos andavam atrás dele só para verem
milagres ou serem eles próprios curados de alguma doença. Ainda
hoje há pessoas que vivem em busca de milagres, de visões de Deus
ou outros fenómenos extraordinários. E fazem-no por várias razões,
incluindo a desilusão com a vida de todos os dias, com as pessoas
que vivem com elas e com o anonimato da sua existência, para não
falar da vontade de ganhar o euro milhões. Como seria bom se Deus
respondesse a todos os nossos pedidos e nos cobrisse de milagres.
Mas como isso não acontece, só nos resta tomar consciência de que
temos em nós as capacidades para atingirmos a felicidade… mesmo
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sem milagres que tanto desejamos. Só que para tal precisamos de
rever o nosso conceito de “milagre”: se por milagre considerarmos
uma mudança de estado (por exemplo, um doente que fica curado),
veremos então que há muitas mudanças que podemos alcançar na
nossa vida. Por exemplo, um acto de perdão é um milagre, pois ele
sara as feridas e permite que o amor reine no coração de quem o
ofereceu e de quem o recebeu. Uma visita a um doente ou idoso que
vive sozinho é um milagre, porque apenas nos vêem a sua tristeza se
transforma em alegria. Uma televisão apagada para que a família
possa dialogar é um milagre, porque sem comunicação e partilha de
vida uma família passa a ser um grupo de pessoas que vivem juntas
mas não se amam. Então, estamos á espera de quê para fazer
milagres?
Acção
Espero de Deus só favores, bênçãos e milagres? Ou sou uma bênção,
um milagre para quem está a meu lado?
RECEBER (1 Março)
Palavra
“Pois todo o que pede, recebe; e quem busca, encontra; e ao que
bate, abrir-se-lhe-á.” (Mateus 7:8)
Meditação
Sendo Deus um Pai-Mãe-Irmão-Irmã-Amigo que gosta de se dar, de
partilhar connosco o que é e o que tem, certamente já nos ofereceu
muito ao longo da nossa vida. Sim, de facto recebemos muito dele,
mas nem sempre lhe agradecemos. Também recebemos muito dele
através das pessoas que ele vai colocando na nossa vida, mas nem
sempre lhes sabemos agradecer! Muitas vezes não agradecemos
porque damos por descontado ou pensamos que é uma “obrigação”
de Deus e dos outros darem-nos o que nos dão. Sim, é bom receber
carinho, amor, interesse, atenção, tempo e disponibilidade por parte
dos outros. Mas se Deus nos dá assim tanto, o que nós recebemos ao
longo da vida torna-se, ao mesmo tempo, um desafio. Sim, um
desafio à partilha, à acção, ao arregaçarmos as mangas e construir a
paz, a compaixão, a solidariedade, a fraternidade e sentido de
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comunhão à nossa volta. Se os outros recebem também de nós, Deus
continuará a ser para Ele uma fonte de vida, de esperança, de paz e
consolação. E aprendamos também a saber receber as contrariedades
da vida, pois elas são uma oportunidade para crescermos e nos
aproximarmos mais de Deus e do próximo, pois nunca estaremos sós
nem abandonados se soubermos dar e dar com gratuidade e
abundância.
Acção
Gosto mais de dar ou de receber? E quando recebo sei agradecer com
todo o coração?
RECONCILIAÇÃO (2 Março)
Palavra
“Deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai conciliar-te primeiro com
teu irmão, e depois vem apresentar a tua oferta.” (Mateus 5:24)
Meditação
Conversão e reconciliação estão intimamente ligadas, porque só
conseguimos reconciliarmo-nos com Deus e com o próximo quando
nos convertemos verdadeiramente. Converter-se significa mudar de
rumo, mudar de atitude, ver com a mente o coração. Esta mudança
implica muita humildade e a capacidade de nos mostrarmos tal como
somos. Porém, nem sempre é fácil ser humilde nem revelar quem
somos na verdade, pois cada vez mais a nossa sociedade discrimina
quem é ou aparenta ser fraco, diferente, fora do normal. A
reconciliação aproxima-nos do próximo e ajuda-nos a valorizá-lo. Não
devemos viver a vida segundo o que a publicidade nos apresenta
como ideal ou deixando-nos levar pela inveja e pela vaidade. Quando
deixarmos este mundo, nada levaremos connosco a não ser o amor
que conseguimos acumular no nosso coração. Como tal, enquanto
estamos vivos, façamos o possível por viver uma vida com sentido,
ou seja, vivendo em paz com todos, começando por nós próprios,
para podermos viver não só com a consciência tranquila como com
um coração cheio de serenidade e alegria.
Acção
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Vivo reconciliado comigo mesmo, com Deus e com o próximo?
PERFEITOS (3 Março)
Palavra
“Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celeste.”
(Mateus 5:48)
Meditação
Costumamos dizer que “perfeito só Deus”. Mas mesmo assim Jesus
não deixa de nos dizer que devemos ser perfeitos. E porque será? No
meu ver, nestas palavras está implícito o convite à acção. Ou seja,
Jesus acredita em nós e sabe que podemos ser e dar muito mais do
que somos e damos actualmente. Mas para isso temos de nos mexer,
temos de deixar de lado as nossas cobardias e preguiças e agir. Para
tal, é necessária, obviamente, uma boa dose de auto-confiança e
muito apoio e inspiração por parte de Deus. E é sobretudo no
sacramento da Eucaristia e quando fazemos as nossas orações que
recebemos esta inspiração e apoio. Mas não basta: Deus só age em
nós se o deixarmos agir. E só agiremos quando tivermos bem claro na
nossa mente qual o objectivo a alcançar. Neste caso, Jesus indica-nos
como objectivo a perfeição, ou seja, darmos o melhor de nós para
viver uma vida cada vez mais intensa, profunda e cheia de sentido.
Há pessoas que passam pela vida sem um rumo claro, sem motivos
para dar o melhor de si mesmas e chegam ao fim da vida com um
profundo sentido de falhanço, de vazio, de terem desperdiçado tudo.
Não queremos ser como elas, pois não?
Acção
Quais são as minhas prioridades na vida? E que devo fazer para as
alcançar?
AMADO (4 Março – Segundo Domingo da Quaresma)
Palavra
“Este é o meu Filho muito amado; escutai-o.” (Marcos 9:7)
Meditação
Um dos desejos mais fortes e profundos que todos levamos no
coração é este: sermos amados! Ninguém gosta de ser esquecido,
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maltratado, enganado, humilhado, discriminado, abandonado. Pelo
contrário, todos queremos ser amados, reconhecidos, valorizados.
Ora, se queremos isto para nós, é óbvio que devemos quere-lo
também para os outros. Mas aqui está uma das grandes causas de
tanta crise de valores, de tanta frustração, de tanta corrupção e
mentira: nem todos querem para os outros o que desejam para si
próprios. Se amar é uma relação, devemos rever o modo como
amamos, pois é na medida que amamos que somos amados. E, se
quando dermos muito, não recebermos em troca a mesma medida,
não importa, até porque o amor deve ser dado gratuitamente. Se o
damos esperando algo em troca, deixa de ser amor: é puro interesse.
Amar é uma arte, pois ninguém nasce ensinado. Jesus é o nosso
mestre, o qual nos ensina também através de familiares e amigos. Só
que, mais uma vez, devemos recordar que toca a nós ser os
primeiros a amar, a ir ao encontro do outro, tal como Jesus veio e
continua vindo ao nosso encontro. Só somos verdadeiramente
amados quando quem está nosso lado é amado por nós.
Acção
Que faço para que o outro se sinta amado? Ou espero que me amem,
me aceitem, me entendam, me perdoem, me motivem, me consolem
sem fazer nada por eles?
PERDOAR (5 Março)
Palavra
“Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis
condenados; perdoai, e sereis perdoados.” (Lucas 6:37)
Meditação
Na única oração que Jesus nos ensinou, o perdão tem um lugar de
destaque. Sabemos bem quanto custa perdoar ou pedir perdão,
sobretudo quando quem nos ofendeu é alguém que amamos
profundamente. Parece uma contradição, mas é no contexto familiar
que sucedem o maior número de brigas e discussões: entre marido e
mulher, pais e filhos, entre irmãos. Também porque por vezes
julgamos e condenamos com dureza e algumas vezes fazemo-lo sem
conhecer os motivos que estão por detrás do que o outro nos fez. Ora,
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o perdão é um instrumento de reconciliação, é um medicamento
eficaz para a dor causada pela ofensa, é um instrumento de paz e de
renovada harmonia. Mais uma vez, Jesus convida-nos a dar o
primeiro, ou seja, a perdoar. Mas é só quando somos humildes e
sabemos valorizar o outro, quando sabemos distinguir entre pecado e
pecador que saberemos e poderemos verdadeiramente perdoar.
Porque, precisamente, o perdão é uma expressão profunda de amor.
E só quem sabe amar verdadeiramente será capaz de perdoar e
esquecer o mal que recebeu. Sim, porque nem sempre esquecemos
mesmo quando dizemos que perdoamos. Sempre que oferecemos o
nosso perdão, estamos a fazer precisamente o que Jesus fez quando
perdoava: ele oferecia não só o perdão, mas também o seu amor, a
sua amizade e a possibilidade de um novo início.
Acção
É-me fácil ou difícil perdoar? A quem me custa mais perdoar? Porquê?
FAZER (6 Março)
Palavra
“Portanto, fazei e observai tudo o que vos disserem; mas não façais
conforme as suas obras; porque dizem e não praticam.” (Mateus 23:3)
Meditação
Sabemos que Jesus era muito crítico em relação às autoridades
religiosas do seu tempo, sobretudo dos Fariseus e Escribas. Para Ele,
o importante não é só rezar muito e saber isto e aquilo sobre Deus,
mas sim pôr em prática o que Deus ensina. Ou seja, fé sem obras
não é fé. Eis porque Jesus os criticava frequentemente. Pior ainda:
não só não praticavam a sua fé como se aproveitavam da sua posição
social não para servirem a gente, mas para serem servidos. Certo,
esta prática ainda é muito actual, pois não é só no campo da religião
que alguns falam muito e pouco ou nada fazem. Porém, não adianta
apontar dedos e encontrar culpados. Comecemos por nós próprios e
questionemos o modo como vivemos a nossa condição de baptizados.
Se calhar, não somos tão dedicados quanto poderíamos e deveríamos
ser porque criticamos este e aquele por ser assim ou assado; talvez
tenhamos razão, mas não podemos desculpar a nossa eventual falta
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de empenho e testemunho de vida acusando outros de serem piores
do que nós. Um dos valores mais apreciados por todos,
independentemente das cores políticas ou religiosas, é o da coerência.
Ou seja, viver de acordo com o bem em que se acredita. Sim, porque
mesmo quem diz não acreditar em Deus terá como critério positivo
este da coerência. Ora, somos coerentes com a nossa fé? Somos
coerentes com o facto de sermos pais, irmãos, amigos de alguém?
Criticar os outros é fácil, mas também nós dizemos que acreditamos
no amor e no serviço mas nem sempre os pomos em prática.
Acção
A minha fé baseia-se somente em palavras ou consigo exprimi-la com
actos de caridade e serviço?
CONDENAR (7 Março)
Palavra
“O Filho do homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos
escribas, e eles o condenarão à morte.” (Mateus 20:18)
Meditação
Condenar é outra atitude do coração que nos sai com muita facilidade.
É muito fácil acusar, condenar e encontrar defeitos e limites nos
outros. Obviamente, perdoar torna-se quase impossível quando nos
deixamos levar pelo ódio. Claro, perdoar não algo automático, pois
por vezes precisamos de tempo para o fazer, dado estarmos
magoados com a ofensa que cometeram contra nós. Porém, quando
condenamos, quase sempre o fazemos para esconder os nosso
próprios defeitos e culpas e, por vezes, porque nos achamos
melhores do que os outros. Mas na verdade não o somos, porque a
nossa indiferença e intolerância se tornam instrumentos de dor.
Curiosamente, quando alguém nos condena ou acusa porque
descobriu em nós algo de errado, imploramos para que não nos
condenem. Pedimos compreensão e perdão. Ora, se queremos isto
para nós, porque não ser assim para com os outros? E quando
devemos corrigir alguém, devemos faze-lo com amor: por exemplo,
quando criticamos, devemos faze-lo de um modo construtivo e não
destrutivo, pois cada um de nós nasce com o bem no coração. Certo,
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tudo isto é muito bonito quando dito, pois pô-lo em prática é bem
mais difícil. Mas quem disse que amar era fácil?
Acção
Tenho compaixão pelos outros ou condeno-os sem pensar duas vezes,
sem sequer me preocupar com as suas razões?
BENS (8 Março)
Palavra
“Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que em vida recebeste
muitos bens, e Lázaro muitos males; agora, porém, ele aqui é
consolado, e tu atormentado.” (Lucas 16:25)
Meditação
Mais uma vez, Jesus ensina-nos sobre a importância da partilha e
desta vez fá-lo com o exemplo de alguém que não soube partilhar.
Sabemos bem que a vida não é possível sem muitos dos bens
materiais que possuímos ou tentamos possuir. Mas sabemos também
que não devemos apegar-nos demasiado a eles, pois eles não mais
importantes do que as pessoas. É com as pessoas que podemos e
devemos trocar bens ou dons mais preciosos: o dom do amor, da
amizade, do carinho, de um abraço, do nosso tempo e dedicação. Os
bens que temos não são só para nosso uso e conforto pessoais;
devem ajudar-nos a aproximar-nos do próximo, não para o controlar
mas sim para o ajudar. Mas nem sempre o fazemos; pelo contrário,
esbanjamos tanto, desde dinheiro mal gasto a tempo perdido com
coisas menos importantes. Sim, por vezes desperdiçamos tempo que
podia ser usado para amar, para servir, para consolar. E os anos vão
passando e, quando damos por ela, vemos que perdemos varias
oportunidades de crescer, de sermos felizes e de fazermos felizes os
outros. Façamos então o propósito de usar bem os bens que temos,
começando pela saúde, pela criatividade, pelo tempo, pelas nossas
qualidades e possibilidades e deixemos que Deus os use para fazer
felizes todos à nossa volta.
Acção
Quais são os meus bens mais preciosos? São-no só para mim ou
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também para os outros?
MATAR (9 Março)
Palavra
“Este é o herdeiro; matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança.”
(Mateus 21:38)
Meditação
Dado que ouvimos tantas vezes falar de mortes nos noticiários e
jornais e gostamos tanto dos filmes de acção que ficamos contentes
quando o bom mata o mau da fita, a morte tornou-se uma coisa
banal. Só nos damos conta do que ela realmente significa quando
alguém nosso querido morre. Mas a morte não é somente um
fenómeno físico: também se more emocionalmente. Neste contexto,
morremos também nós muitas vezes ou, pior ainda, também nós
matamos muitos com certas palavras e gestos. Podemos matar com a
vingança, com o ódio, com a calúnia, com a mentira, com o desprezo,
com a indiferença, com a discriminação, com a inveja. Por isso o
perdão, o serviço, a consolação e outros frutos do amor são, para
mim, actos de ressurreição. Entendida num sentido mais amplo,
ressurreição quer dizer recomeço e renovação; por isso, temos, como
Jesus, o poder de “ressuscitar” quem está morto por causa do pecado,
por causa do mal e da falta de amor.
Acção
Sou causa de tristeza, de dor e de morte para alguém? Para quem? E
porquê? Ou sou normalmente causa de ressurreição e alegria?
ENCONTRADO (10 Março)
Palavra
“Regozijarmo-nos e alegramo-nos, porque este teu irmão estava
morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi encontrado.” (Lucas 15:32)
Meditação
Esta é uma das parábolas mais bonitas e significativas do Evangelho,
pois revela-nos a verdadeira identidade de Deus. Se todos os cristãos
a entendessem verdadeiramente, creio que os confessionários
estariam mais cheios e seriam mais frequentados. Certo, por vezes
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mesmo com a atitude certa somos confrontados com um sacerdote
que não entendeu o sacramento da confissão e se julga Deus. Esta
parábola não é tanto sobre o filho pródigo que regressa a casa
angustiado e arrependido, até porque na verdade ele foi um simples
oportunista: voltou para casa não porque estava arrependido, mas
porque tinha fome. Mas a parábola é toda sobre Deus e a sua
identidade: como sabemos, Jesus ensinou-nos que Deus é amor e é
este amor que o pai da parábola mostra ter pelos filhos. Sim, pelos
dois, não só pelo mais novo. Imaginemo-nos então diante de Deus e,
antes que lhe digamos o que quer que seja, Ele abraça-nos, beija-nos
e com esta atitude diz-nos que está tudo bem. Este seu amor enchenos o coração de uma paz profunda e de um bem-estar tremendo. E
quando lhe dissermos que estamos arrependidos e Ele nos perdoar,
sentiremos vontade de recomeçar com força e entusiasmos
renovados. A confissão deve ser não uma ida ao tribunal, mas um
estar em família com um pai/mãe que nos ama tal como somos e nos
encoraja a sermos melhores.
Acção
Confesso-me porque devo fazê-lo ou porque quer viver mais unido a
Deus e aos meus irmãos?
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