06 A 08 DE OUTUBRO DE 2016 CORREÇÃO CIRÚRGICA DE HIPERPLASIA GENGIVAL – RELATO DE CASO CLÍNICO Especialidade: Periodontia Alana Rubia Balbinot1 Gabriela Modanês Prior¹ Nayara Borba Werich¹ Muriel Machado Marquez Zampiva2 Patricia Oehlmeyer Nassar3 Carlos Augusto Nassar3 Modalidade: Caso Clínico RESUMO: Objetivo: Relato de um caso clínico para correção de hiperplasia gengival, através da técnica de gengivectomia associada à gengivoplastia como forma de tratamento escolhido. Relato de Caso: Paciente do sexo masculino, 12 anos. Portador de aparelho ortodôntico fixo apresenta gengivite generalizada e hiperplasia gengival devido à má higiene oral. Após exames periodontais de rotina, constatou-se profundidade de sondagem e nível de inserção adequado para a indicação da técnica da gengivectomia associada à gengivoplastia. Após o procedimento cirúrgico obtevese um nível gengival mais apical sem exposição radicular. Conclusão: Procedimentos periodontais básicos (raspagem e alisamento radicular de superfície) devem preceder os atos cirúrgicos a fim de se remover os fatores etiológicos, preparando o meio cirúrgico. A gengivectomia e a gengivoplastia, são técnicas cirúrgicas indicadas para o tratamento de hiperplasia gengival, visto que elas são de fácil execução e com pósoperatório relativamente tranquilo e bem aceito pelos pacientes. Palavras-chave: hiperplasia gengival; gengivectomia; gengivoplastia. INTRODUÇÃO A hiperplasia gengival aparece da forma mais variada possível, sendo capaz de estar associada a diferentes fatores etiológicos. Ela pode resultar de uma reposta inflamatória crônica devido ao acúmulo de placa ou cálculo (fatores locais), ou devido ao uso de medicamentos, doenças crônicas e até mesmo variação hormonal (fatores sistêmicos) (KINA et al., 2009; PARAGUASSÚ et al., 2012). Segundo CARRANZA et.al. (2007), a característica clínica inicial é a proeminência das papilas interdentárias e da gengiva marginal, sendo que muitas vezes esse crescimento acaba cobrindo parte da coroa clínica. Geralmente esse tipo 1Graduanda em Odontologia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, [email protected] 2 Mestranda em Odontologia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. 3 Professor Doutor da Disciplina de Periodontia I e II da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. XVIII JAOU – 06 a 08 de agosto de 2016 - Cascavel/PR 06 A 08 DE OUTUBRO DE 2016 de hiperplasia é indolor e progride de forma lenta, com exceção se ocorrer infecção aguda ou trauma. Pacientes que estão em fase de tratamento ortodôntico e que fazem uso do aparelho fixo possuem uma propensão maior de desenvolver hiperplasia gengival inflamatória crônica, visto que o aparato aumenta o acúmulo de placa bacteriana e dificulta a eliminação e controle da mesma (PEDRON et al., 2008). O tratamento para hiperplasia gengival baseia-se no controle da placa bacteriana e eliminação ou controle dos fatores de riscos. Entretanto, muitas vezes não ocorre regressão espontânea da gengiva após a terapia periodontal básica, sendo assim torna-se necessário tratar as sequelas com cirurgias periodontais corretivas, como a gengivectomia associada ou não a gengivoplastia (MIKSZA et al. 2009; PAVONE et al., 2006; CARRANZA, 2007). Essas cirurgias ressectivas, têm como objetivo obter condições anatômicas que permitam o controle da placa bacteriana subgengival, devolvendo assim saúde gengival ao paciente (DUARTE et al., 2002). OBJETIVO O Objetivo do presente trabalho é o relato de um caso clínico para correção de hiperplasia gengival, através da técnica de gengivectomia associada à gengivoplastia como forma de tratamento buscando um melhor quadro clínico. RELATO DE CASO CLÍNICO Paciente sexo masculino, 12 anos, xantoderma e portador de aparelho ortodôntico fixo compareceu a clínica de periodontia II da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, com a queixa principal de que “sua gengiva sangrava”. Durante a realização do exame clínico periodontal, observou-se um quadro generalizado de gengivite e que a profundidade de sondagem na região dos dentes antero inferiores, era de 4 mm, além disso, essa mesma região, apresentava-se com sangramento à sondagem e com característica de hiperplasia gengival devido a má higiene e o uso deficiente do fio dental. Ao exame radiográfico, verificou-se que não houve perda óssea alveolar. Devido ao diagnóstico do paciente, foi orientado ao mesmo técnicas de higiene oral para melhorar sua saúde gengival e, consequentemente, avaliar melhor o quadro de hiperplasia na região que abrange os elementos 33 ao 43. Após 15 dias da consulta inicial, constatou-se significativa melhora da gengivite, porém não ocorreu o mesmo em relação à hiperplasia, visto que o paciente não conseguia passar fio dental na região hiperplásica (Figura 1). Sendo assim, com parte da saúde gengival restaurada, optou-se como tratamento para a região entre os caninos inferiores, a técnica de gengivectomia associada à gengivoplastia apenas nas faces vestibulares. Para a execução do procedimento cirúrgico, foi realizada anestesia local infiltrativa e demarcação do tecido gengival que se encontrava em excesso, utilizando-se a sonda periodontal Carolina do Norte, para orientar a incisão (Figura 2). Após este passo, foi efetuada a primeira incisão com o gengivótomo de Kirkland, com angulação de 45° em relação aos dentes (Figura 3). Em seguida, realizou-se a incisão secundária, com o gengivótomo de Orban, em movimento de serra, para remoção do tecido interproximal (Figura 4). Com o auxílio de uma cureta de McCall 13/14, foi removido o tecido incisado (Figura 5) e procedeu-se então, a plastia gengival utilizando o gengivótomo de Kirkland em toda a superfície incisada. Após feita a plastia foi utilizado cimento cirúrgico sem Eugenol (Pericem) para a proteção de toda a área (Figura 6). O paciente XVIII JAOU – 06 a 08 de agosto de 2016 - Cascavel/PR 06 A 08 DE OUTUBRO DE 2016 permaneceu com este cimento por 7 dias, sob controle de placa com agente químico Clorexidina a 0,12% sem álcool (Periogard®), para bochechos. E o mesmo retornou para avaliação após 7 (Figura 7) e 21 dias, relatando satisfação não só em relação a higiene oral, mas também em relação a estética. Figura 1 Fonte: Balbinot, 2016. Figura 2 Fonte: Balbinot, 2016. Figura 3 Figura 4 Fonte: Balbinot, 2016. Fonte: Balbinot, 2016. Figura 5 Fonte: Balbinot, 2016. Figura 6 Fonte: Balbinot, 2016. (Figura 7) Fonte: Balbinot, 2016 XVIII JAOU – 06 a 08 de agosto de 2016 - Cascavel/PR 06 A 08 DE OUTUBRO DE 2016 DISCUSSÃO As doenças gengivais e periodontais geralmente causam mudanças no tecido gengival que prejudicam a excursão normal dos alimentos e atuam como fatores retentivos de placa, agravando o processo da doença. Além disso, as alterações hormonais, que muitas vezes ocorrem na adolescência, são consideradas, por vários autores, como componentes sistêmicos que podem influenciar significativamente as doenças periodontais (LUZZI, 2009; ALMEIDA, 2015). No caso clínico em questão, o acúmulo de biofilme dental foi o principal responsável pela hiperplasia gengival, porém como o paciente se encontra no início da adolescência, podemos considerar que além do fator local, a placa bacteriana, o fator sistêmico, no caso a variação hormonal, pode estar associado ao aumento gengival, visto que a exacerbação da inflamação gengival, devido às mudanças hormonais durante a adolescência é um fenômeno reconhecido (LUZZI, 2009). Portanto, o diagnóstico correto e o conhecimento acerca de cada um dos fatores causadores são indispensáveis para a elaboração de um tratamento eficaz (ALMEIDA, 2015). Quanto à terapia proposta, seu objetivo foi de remover os fatores determinantes para a manutenção da inflamação gengival, e incluir instrução de higiene oral, terapia periodontal básica e cirurgia periodontal (gengivectomia associada à gengivoplastia), conforme visto em CARRANZA et al. (2007) e LINDHE (2010). Desta forma, foi devolvido um contorno gengival que favoreceu o controle de placa dental (ANDRADE, 2004). As cirurgias periodontais ressectivas proporcionam um ambiente anatômico favorável para que o paciente mantenha sua higiene bucal de forma efetiva (NASSAR et al., 2012). Isso é condizente à afirmação de ALMEIDA (2015), que entendem que as bolsas gengivais (falsas bolsas) são decorrentes de um processo inflamatório crônico em que não há regressão após a terapia periodontal básica. Segundo LUZZI (2009) a literatura relata inúmeros artigos da inter-relação entre periodontia e ortodontia. Sendo importante ressaltar que no transcorrer do tratamento ortodôntico, a escovação tem papel fundamental na manutenção da higiene e integridade dentária e periodontal, visto que o aparelho ortodôntico fixo dificulta o controle de biofilme bacteriano. Portanto, o aparato ortodôntico acaba se tornando um fator relacionado à hiperplasia gengival. O sucesso do tratamento de hipertrofias gengivais está diretamente ligado à terapia periodontal básica prévia ao tratamento cirúrgico, em razão de que o controle da inflamação proporciona um quadro pós-operatório favorável e de maior tranquilidade (DUARTE, 2002). Outro fator, de extrema importância, que leva ao sucesso da terapêutica é a participação do paciente, uma vez que o paciente não colaborar na realização de procedimentos de higiene bucal, todos os tratamentos administrados no consultório irão falhar. Assim, o paciente deve ser recrutado como “co-terapeuta” e deve estar ciente da importância de sua participação. Geralmente é difícil obter esta cooperação, pois cada indivíduo tem seus próprios interesses ou desinteresses relacionados à sua saúde bucal (ALMEIDA, 2015). Baseando-se nessa breve discussão e na proservação do caso clínico, observou-se que para se obter sucesso na terapia ortodôntica é preciso que o aparelho ortodôntico seja instalado e ativado respeitando os limites biológicos dos tecidos periodontais. Em relação ao clínico geral ou periodontista, deve haver um XVIII JAOU – 06 a 08 de agosto de 2016 - Cascavel/PR 06 A 08 DE OUTUBRO DE 2016 acompanhamento do caso, orientando uma higienização adequada, realizando raspagem e profilaxia, e principalmente, motivando o paciente, a fim de evitar que o acúmulo de biofilme bacteriano, associado à retenção dos aparatos ortodônticos, desencadeie o comprometimento do periodonto de proteção e/ou sustentação. CONCLUSÕES O conhecimento da história odontológica do paciente é de suma importância para o estabelecimento de um diagnóstico correto, que acarreta em um plano de tratamento adequado para cada caso em especial. Procedimentos periodontais básicos (raspagem e alisamento radicular de superfície) devem preceder os atos cirúrgicos a fim de se remover os fatores etiológicos, preparando o meio cirúrgico. A gengivectomia e a gengivoplastia, são técnicas cirúrgicas indicadas para o tratamento de hiperplasia gengival, visto que elas são de fácil execução e com pós-operatório relativamente tranquilo e bem aceito pelos pacientes. Porém, atenção deve ser dada quanto à necessidade de oportunidade de intervenção, colaboração do paciente e terapia de suporte periodontal, uma vez que a hiperplasia gengival pode recidivar se não houver o monitoramento do biofilme bacteriano. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, L. L. et.al. Tratamento cirúrgico periodontal em paciente com hiperplasia gengival inflamatória crônica: um relato de caso. 2015. Trabalho de conclusão apresentado ao Curso de Odontologia da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. ANDRADE, C. M. et.al. Sorriso gengival: diagnóstico e possibilidades de tratamento. Só Técnicas Estéticas, v. 1, n. 2, p. 57-60, 2004. CARRANZA, F. A. et al. Periodontia Clínica.10 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p. 909-915. DUARTE, A. D. et al. Cirurgia periodontal: pré-protética e estética. São Paulo: Santos, 2002. p. 22-32. KINA, J. et al. A importância da integração orto-perio durante o tratamento ortodôntico: relato de caso clínico. Revista dental press periodontia e implantologia, v. 3, n. 3, p.82-91, jul/set. 2009. LINDHE, J. et al. Tratado de Periodontia Clínica e Implantodontia Oral. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. p. 3-47. LUZZI, L. I. T.; MANTOVANI, V. Tratamento de hiperplasia gengival fibrótica associada à terapia ortodôntica na adolescência caso clínico. Revista Varia Scientia, v. 07, n. 13, p. 125-133, 2009. MIKSZA, T. F. et al. A importância da integração orto-perio durante o tratamento ortodôntico. Revista Dens, v.17, n.2, novembro/abril 2009. XVIII JAOU – 06 a 08 de agosto de 2016 - Cascavel/PR 06 A 08 DE OUTUBRO DE 2016 NASSAR, C. A.; BITENCOURT, A. P.; NASSAR, P. O. Evaluation of chlorhexidine effects on periodontium healing after gingivoplasty surgery. Sputh Brazilian Dentistry Journal (RSBO), v. 9, n. 2, p. 56-61, 2012. PARAGUASSÚ, G. M. et al. Aspectos periodontais da hiperplasia gengival modificada por anticonvulsionantes. ClipeOdonto – UNITAU, v. 4, n. 1, p. 26-30, 2012. Disponível em <periodicos.unitau.br>. Acesso em 24 de set. 2016. PAVONE, C. et.al. Correção cirúrgica de hiperplasia gengival em pacientes com aparelho ortodôntico. Revista de Odontologia da UNESP, v. 35 (Número Especial), 2006. PEDRON, I. G. et al. Hiperplasia gengival em pacientes sob tratamento ortodônticoindicações terapêuticas. Revista da Sociedade Paulista de Ortodontia, v. 41, n. 1, p. 33-37, jan/mar 2008. XVIII JAOU – 06 a 08 de agosto de 2016 - Cascavel/PR