PRODUÇÃO CIENTÍFICA DE ENFERMAGEM SOBRE DEFICIT NO AUTOCUIDADO BANHO/HIGIENE: IMPLICAÇÕES PARA A (O) ENFERMEIRA(O) DE CUIDADOS INTENSIVOS.* Josianne Marcília Vieira** Isabel Cristina F. da Cruz*** Considerando o alto índice de pacientes com diagnóstico de enfermagem de déficit de auto cuidado banho/higiene nas Unidades de Tratamento Intensivos e percebendo que este assunto é pouco explorado, realizei este estudo com a finalidade de promover uma real qualidade de assistência de enfermagem a estes pacientes. A coleta de dados foi obtida através de artigos científicos e dissertações de mestrado relacionados ao tema principal e aos dados evidenciados durante a pesquisa. Constatando a importância do auto cuidado, da avaliação do déficit de auto cuidado e da higiene corporal de pacientes com suas atividades restritas. Unitermos: Auto cuidado, Déficit no auto cuidado, banho no leito, self-care. INTRODUÇÃO: O auto cuidado (AC) é usado como sinônimo de cuidado de si próprio . É um comportamento que implica no papel ativo do cliente em prática de atividades que o indivíduo desempenha em seu próprio benefício, a fim de manter a vida, a saúde e o bem estar (OREM 1971-80). As funções humanas básicas são determinantes para a habilidade do auto cuidar, a avaliação destas funções nos mostrará se uma pessoa tem capacidade de ser independente para o auto cuidado ou se necessita de ajuda. Quando a enfermeira identifica a capacidade de auto cuidado inadequada para alcançar os requisitos de auto cuidado, existe déficit de auto cuidado(DAC). 2 O déficit de auto cuidado relacionado ao banho/higiene é o estado em que o indivíduo apresenta capacidade prejudicada para realizar ou completar as atividades de banho/higiene de si mesmo. Os problemas de higiene entre as pessoas acamadas são mais elevadas em relação as outras, pois seu confinamento no leito, o estresse e o tratamento contribuem para o acúmulo maior de secreções. Na UTI a maioria dos pacientes não apresentam capacidade para locomoção e tem maior número de limitações física o que os impedem de manter alto nível de higiene corporal. O banho no leito se torna uma necessidade humana essencial para estas pessoas, que precisam de repouso absoluto, ou cuja, mobilidade e locomoção estejam afetadas. A enfermagem é quem presta assistência direta a estes pacientes e muitas vezes o grau de dependência desses pacientes não é determinados. Há pacientes que recebem banho com ajuda maior do que necessitam enquanto outros apresentam falta de auxílio adequado. Este tema foi escolhido com o objetivo de melhorar a assistência a pacientes com déficit de auto cuidado banho/higiene e para que erros como os citados acima não ocorram mais. MATERIAL E MÉTODOS: O estudo foi realizado através de busca bibliográfica computadorizada utilizando as palavras- chave, auto cuidado; déficit de auto cuidado e banho no leito. As bases de dados, utilizadas foram: LILACS e MEDLINE. A pesquisa computadorizada e manual foram realizadas na biblioteca da UFF e UERJ. Foram analisados artigos nacionais no período de 1996 à 2001 e 2 3 dissertações de mestrado e docência, selecionando-os de forma analítica e identificando os assuntos pertinentes ao tema. Teve como objetivo principal desenvolver a prática de enfermagem na assistência ao paciente com diagnóstico de déficit de auto cuidado banho/higiene. REVISÃO DE LITERATURA: Segundo DUPAS, Dorothea Orem, enfermeira dos Estados Unidos em 1958 iniciou o estudo e começou a desenvolver um modelo conceitual para direcionar a prática de enfermagem baseada para o auto cuidado. Para ela o auto cuidado é “a prática das ações que os indivíduos iniciam e executam pôr si mesmos para manter, promover, recuperar e/ou conviver com os efeitos e limitações dessas alterações de saúde, contribuindo para sua integridade, funcionamento e desenvolvimento.” Quando um paciente apresenta déficit de auto cuidado a enfermagem mostra o quanto ela é necessária. Isto ocorre quando as habilidades do indivíduo de auto cuidado são insuficientes para satisfazer as suas demandas terapêuticas. Neste caso, o enfermeiro atua como provedor de AC. Na visão de Orem, após o enfermeiro identificar o déficit de AC, ele estabelece o plano de ação junto ao paciente, delegando a sua responsabilidade, a do paciente e a de outros profissionais, para que a demanda terapêutica do AC sejam atendidas. O grau e o tipo de intervenção de enfermagem ira variar em proporção ao poder ou as limitações na capacidade de AC do paciente. Orem diferencia três tipos de sistemas de enfermagem, que vão desenvolver a 3 4 assistência sistematizada com a finalidade de trazer o cliente a situação de (re) assumir seu próprio cuidado ou cuidado dependente. Estes três tipos de sistemas são: Totalmente compensatório: O indivíduo não tem recursos necessários para alcançar a demanda terapêutica de AC, e a satisfação desta demanda é de responsabilidade do profissional de enfermagem; Parcialmente compensatório: O paciente compartilha a responsabilidade do AC com o enfermeiro, assumindo os recursos que estão dentro de sua capacidade, ficando os demais a cargo do profissional de enfermagem; Sistema educativo de apoio: O paciente tem recursos para se auto cuidar, mas necessita da enfermagem para apoio, orientação e instrução; Na prática de enfermagem, é necessário uma avaliação contínua e atualizada do paciente, a fim de adequar o plano de assistência às necessidades e habilidades individuais. Se o agente de auto cuidado não for avaliado adequadamente, as enfermeiras não tem nenhuma base racional para fazer julgamento sobre os déficits de AC, selecionar métodos de ajuda válidos e confiáveis e prescrever e designar sistemas de enfermagem. O que também é afirmado pôr Orem que diz que a não que a enfermeira estabeleça a capacidade para o AC previamente, ela não tem base racional para fazer julgamento para o déficit de AC. Portanto, o primeiro passo na operacionalização de um processo de enfermagem segundo Orem é a identificação das limitações e/ou habilidades para o AC. determinando a capacidade de AC. 4 5 Segundo DIAS, o CADEM é um instrumento que avalia a capacidade de AC de pacientes adultos e determina a categorização dos pacientes segundo a necessidade de cuidados de enfermagem. Cada letra da palavra CADEM corresponde a uma função: C- comunicação; A- atividades diárias; D- deambulação; E- eliminações; M- mobilização. Este instrumento foi elaborado pôr enfermeiras geriátricas americanas através de uma adaptação de uma escala, onde cada uma das funções recebe pontos de 1à 5 dependendo da capacidade do paciente de realizá-las. A soma total dos pontos das cinco funções define a capacidade do paciente para o AC em quatro níveis: Independente para o AC; Hábil para o AC, porém necessita de apoio e pequena ajuda; Necessita de ajuda moderada, a grande para alcançar o AC; Totalmente dependente de ajuda. Analisando os resultados obtidos pôr meio da utilização do instrumento CADEM, foi possível verificar que estes refletiam claramente o estado do paciente quando a sua classificação com relação ao AC. Sendo assim o instrumento CADEM ajuda no sentido de planejar a assistência de enfermagem para o paciente, levando em consideração a capacidade do AC. 5 6 Déficit de Auto Cuidado Banho/Higiene: O paciente com atividades restritas passa a depender de outrem para sua higiene corporal, o que indiretamente ameaça sua auto-estima. O banho é uma atividade prazerosa para o ser humano e poder praticá-lo sozinha é uma das primeiras marcas da independência. Freqüentemente na UTI as pessoas perdem a capacidade de realizar este cuidado de forma independente, necessitando de auxílio, sendo obrigadas a abrir mão de sua privacidade e intimidade. Quando a competência para o banho está diminuída ou ausente é necessária a intervenção de enfermagem. Os déficits de AC estão associados aos tipos de componentes que formam a demanda de AC e com o número e variedades de limitações de AC, sendo identificados como completos ou parciais. O déficit de AC completo ocorre quando o paciente não tem condições de satisfazer uma exigência de AC terapêutico. O parcial pode ser classificado como extensivo ou limitados dependendo da capacidade de satisfazer um ou vários requisitos de AC. Desta forma o banho pode ser realizado total ou parcialmente pelo cliente ou pela enfermagem. Quanto maior é a dependência, mais o cliente necessita das ações de enfermagem, aproximando do sistema totalmente compensatorio, ou seja, banho no leito com dependência total. LOPES em um estudo onde foi avaliado a percepção dos pacientes em relação ao banho no leito chegou a conclusão que os pacientes apesar de achá-lo desagradável e constrangedor consideram-no indispensável. 6 7 Para uma melhor assistência de enfermagem a estes pacientes cabe ao enfermeiro maior empenho nas suas atividades de preparo do banho no leito , tanto em relação à equipe como em relação ao paciente. Para avaliarmos o tipo de banho necessário a um paciente, temos que observar sua capacidade de AC e determinar não só o que o paciente pode fazer, mas como o fará, levando em consideração suas características individuais e tendo conhecimento dos efeitos positivos e negativos do banho. O enfermeiro deve incentivar a participação ativa dos pacientes, de acordo com suas reais condições, reduzindo o banho de maior dependência da enfermagem do que a necessária e desejada pelo paciente sem, com tudo, ser iatrogênico. Os pacientes valorizam comportamento de AC que implicam maior autonomia durante sua internação, valorizando também a sua participação no banho e higiene . Recomenda-se dessa forma que se discuta com o paciente sobre sua necessidade, condições e forma de participar do banho. Assim, tornaremos nossos pacientes seres com independência, o que irá preservar sua individualidade. Sabemos que na UTI , muitos pacientes não tem capacidade de AC no banho/higiene, mas não podemos deixar de avaliarmos e atentarmos quanto a participação desses pacientes de alguma forma em seu AC. O simples ato de lavar os genitais ou pentear o cabelo faz com que os pacientes se sintam menos dependente. 7 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS: Diante da revisão de literatura apresentada, pode-se perceber que a assistência de enfermagem deve criar condições que possibilitem ao paciente manter e implementar o AC, levando em consideração a individualidade de cada paciente para que os mesmos adquiram independência no AC e convivam da melhor maneira possível com suas limitações, facilitando desta forma, sua reintrodução na vida familiar e social. Concluímos que o conhecimento das enfermeiras no que se refere ao déficit de AC banho/higiene deixa muito a desejar, pois as mesmas não dão a importância necessária a assistência de AC. Precisamos reavaliar nossos conceitos e refletirmos quanto a realização de estudos sobre o assunto. NOTAS: * Trabalho de conclusão do curso de Especialização em Enfermagem em Cuidados Intensivos da Universidade Federal Fluminense (UFF); ** Enfermeira Pós-graduanda da UFF; *** Orientadora. Doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo. Professora titular do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgico da UFF. 8 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BARBOSA, M.A.; Banho no Leito: Uma Contribuição ao Enfermeiro Baseada na Percepção do Paciente/Cliente. Rio de Janeiro, 1992. Dissertação ( Mestrado ). Universidade Estadual do Rio de Janeiro. DIAS, D. C.; et al. “Instrumento para Avaliação da Capacidade de Auto Cuidado de Pacientes Adultos – CADEM”. R. Bras. Enferm., Brasília, v.49, n.3, p.315-332, jul./set. 1996. DUPAS, Gisele; et al. “Reflexão e Síntese Acerca do Modelo Auto Cuidado de Orem”. Acta Paul. Enf., São Paulo, v.7, n.1, p. 19-26, jan./mar. 1997. GALPERIM, M. R. O. de; et. al. “Percepção de Clientes e Membros da Equipe de Enfermagem de Uma Unidade de Auto Cuidado, Acerca da Liberdade de Raiz e de Ação dos Primeiros e seus Respectivos Locus de Controle”. R. Gaúcha Enferm., Porto Alegre, 9 ( 1): 47-57, jan. 1998. LOPES, C. L. R. Avaliação da Competência e Demanda Terapêutica do Clientes Internados em Clínica Médica e Cirurgia, para seu Auto Cuidado no Banho. Rio de Janeiro, 1994. Dissertação ( Docência). LOPES, C. L. R.; et al. “Percepção dos Pacientes, sem Capacidade para Auto Cuidar-se, Sobre a Operacionalização do Banho no Leito”. Rev. Bras. Enferm. Brasília, v.49, n. 2p. 259-266, abr./jun. 1996. NEVES, E. P.; et al. “Reflexão Acerca dos Conceitos Auto Cuidado e Competência/Poder para o Auto Cuidado”. Rev. Esc. Enf. USP, São Paulo, dez. 1997. TASHIRO, M. T.; et al. “Auto Cuidado no Tratamento pelo Método de Ilizarov – Um Estudo de Caso”. R. Bras. Enferm. Brasília, v.48, n.1, p.46-50, jan/mar 1997. 9 10 PRODUCCIÓN CIENTÍFICA DE ENFERMERÍA A CERCA DEL DEFICIT EN EL AUTOCUIDADO BAÑO/ASEO: IMPLICACIONES PARA EL(LA) ENFERMEIRO(A) DE CUIDADOS INTENSIVOS.* Josianne Marcília Vieira** Isabel Cristina F. da Cruz*** Considerando el largo índice de los pacientes con diagnóstico de enfermería en déficit de auto cuidado baño/aseo en las Unidades de Tratamiento Intensivos y percibiendo que ese tema és poco investigado, he realizado ese estudio con la finalidad de promover una qualidad real de asistencia de enfermería a estos pacientes. La colecta de los datos fuera obtida en estudios científicos y disertaciones de mestrado relacionados al tema principal y a los datos evidenciados durante la pesquisa. Constatando la importancia del auto cuidado, de la averiguación del déficit de auto cuidado y de la higiene corporal de pacientes con restricción en sus actividades. Palabras llave: Auto cuidado, Déficit en el auto cuidado, baño en el lecho, self-care. NURSING SIENTIFIC PRODUCTION ABOUT SELF-CARE BATH/HYGIENE‘S DEFICIT: IMPLICATIONS TO A NURSE OF INTENSIVE CARE..* Josianne Marcília Vieira** Isabel Cristina F. da Cruz*** Considering the high level of patients that has self-care’s deficit by nursing’s diagnostic in the Intensive Treatment Units and realizing that this theme is few explored, I made this search trying to promote a real quality in the nursing’s assistance to those patients. All information was collect by scientific texts that has relation to the principal theme and by facts founded during the search. Observing self-care importance, self-care’s deficit valuation and also the importance of corporal hygienic to those patients. Key-words: self-care‘s deficit, self-care. 10 11 11