Pesquisa Narrativa sobre Saúde e Doença Editado por Brian Hurwitz, Trisha Greenhalgh, Vieda Skultans Copyrights 2004 por BMA 6: O PROJETO DIPEX: COLETANDO EXPERIÊNCIAS PESSOAIS SOBRE DOENÇAS E ASSISTÊNCIA À SAÚDE ANDREW HERXHEIMER, SUE ZIEBLAND Como surgiu o DIPEx O Banco de dados das Experiências Pessoas de Saúde e Doenças, (DIPEx) lançou seu site na rede da web em Julho de 2001 (http://www.dipex.org)i. Este capítulo descreve como e por que surgiu, o que ele cobre e as discussões principais que o projeto levantou sobre metodologia de coleta de narrativas de pacientes. Andrew Herxheimer (um farmacologista clínico) e Ann McPherson (uma GP em Oxford) teve a idéia original de estabelecer um banco de dados de relatos de pessoas sobre suas experiências de tratamentos hospitalares. O banco de dados tinha a intenção de complementar a Biblioteca Cochrane (que contém relatos sobre os melhores resultados dos estudos sobre tratamentos médicos) e de ajudar pessoas a que estão lidando com decisões de tratamentos a tomar decidir o que fazer. Caixa 6.1. Poema escrito após a substituição total de um joelho Renovação Após 70 anos, o joelho estava cansado, fraco, rebelde, ainda que ainda um amigo e parte de mim. Eles substituíram osso por plástico e aço, fixos aos ossos velhos, ligados por músculos fiéis e pele, novas partes de mim em fase de aprovação. Eu o dobrei ao meu desejo de fazê-lo ser totalmente um membro do meu time; um joelho feliz e confiante, apenas disparando alguns alarmes. Os fins precisam dos meios, disse o pé para a mão. Leia seus lábios, disse o quadril, rangendo seus dentes. (Andrew Her xheimer, 1996) A idéia do banco de dados veio da própria “experiência com doença” de Ann e Andrew – Ann recebeu tratamento para câncer de mama em 1995 e Andrew teve uma substituição de joelho em 1996. Ann havia escrito sobre suas perspectiva pessoal no BMJ1 e Andrew, um poema sobre seu novo joelho (Box 6.1). Tais experiências moldaram suas consciências sobre o valor de ouvir de outras pessoas sobre suas experiências de terem ficado doentes e seus tratamentos. Em 1996, Andrew solicitou à Associação de Consumidores, com a qual ele havia trabalhado por anos, um pequeno empréstimo de £1000 para ajudar a desenvolver a idéia do banco de dados de Experiências de Pacientes (DIPEx). A aprovação do comitê de ética de pesquisas locais foi obtida para a distribuição de um questionário para completar. Foi pedido que os médicos e os consultores do hospital dessem esse questionário a pessoas que estavam sob tratamento hospitalar. Rachel Miller (uma pesquisadora sobre saúde) juntou-se ao grupo para auxiliar a pesquisa e Barbara Sackett (do Canadá, temporariamente em Oxford) forneceu suporte administrativo. Um pôster que introduzia a idéia da DIPEx e resultados da pesquisa foram apresentados no Cochrane Colloquium em Amsterdam, em outubro de 1997. As respostas do questionário desapontavam de várias formas. Os médicos se esqueceram de pedir aos pacientes para completá-lo. As pessoas que o preencheram escreveram pouco sobre suas experiências e sentimentos sobre doença – tendendo a tratar o questionário como uma pesquisa de satisfação do paciente (“a comida era horrível e as enfermeiras foram adoráveis”). O grupo, então, decidiu que eram necessários outros métodos e pediu conselhos sobre como conduzir entrevistas a pacientes a Sue Ziebland (uma socióloga que trabalha em Oxford). Sue recomendou métodos qualitativos de pesquisa para conduzir estudos sistemáticos e rigorosos de cada doença incluída no DIPEx. Isso iria requerer o uso de métodos de amostragem intencional (ou de variação máxima), para garantir que uma variedade maior possível de experiências fosse incluída. Rachel havia utilizado métodos similares antes, e nós começamos a planejar o DIPEx como um bom conjunto de estudos publicáveis que também seriam um recurso para pacientes disponível em um site na internete.Nós todos lemos “As Narrativas sobre doenças”, de Arthur Kleinman (The Illness Narratives.2). Andrew e Sue participaram de um curso de história oral, da Wellcome History of Medicine, no verão de 1998, o qual nos influenciou no uso de uma abordagem muito desestruturada de “história oral” para coletar as narrativas das pessoas. Nós também aprendemos a partir de métodos de permissão e direitos autorais que historiadores orais costumam depositar entrevistas no Arquivo Britânico de Sons na Biblioteca Britânica. Eles formara m a base da futura aprovação do comitê de ética de pesquisas multicentrais. Nesse estágio, as reuniões da DIPEx eram muito informais e aconteciam na cozinha de Ann. Andrew e Rachel estavam em Londres e tinham que dirigir para ir às reuniões a cada 4 ou 6 semanas. Sasha Shepperd (uma pesquisadora de saúde então estabelecida Londres, no Imperial College, London) juntou se ao grupo para aconselhar sobre informações de saúde. DIPEX: O que é e o que faz: DIPEX é um fundo de caridade registrado com um grupo de pesquisa com base no Departamento de Primeiros Socorros Universidade de Oxford. Seu objetivo principal é descrever a maior variedade possível de experiências individuais de pessoas com relação à saúde e doenças, e fornecer fartos recursos de informações para pessoas afetadas por doenças e também para aqueles que as cuidam. O grupo diretor, responsável pelo planejamento estratégico e pelas políticas, compreende o co-fundador (AH e Ann Mc, também diretor médico), o diretor de pesquisas (SZ), uma consultora médica (Rachel Miller), um membro sênior da equipe de pesquisa (Alison Chapple), o diretor do fundo de caridade DIPEx e um representante de pacientes/usuários (Gill Needhaam). O grupo de pesquisa de nove componentes são todos experientes em pesquisa qualitativa com background em sociologia médica, antropologia, história ou pesquisas políticas , e cada um deles é responsável por coletar dados e analisar um módulo. Cada pesquisador tem o apoio de outro pesquisador qualitativo do DIPEx e por uma das nossas equipes médicas, assim como por membros do seus próprio painel consultivo. Muitos pesquisadores falaram sobre como gostaram de fazer parte de um projeto que trouxe tantos benefícios tangíveis ao grupo de pacientes com o qual estiveram envolvidos no estudo. (Esses benefícios são contrastados por vezes com alguns dos resultados mais nebulosos de pesquisas acadêmicas). Box 6.2 U m a h i s t ó r i a d o b a n c o d e d a d o s d e c â n c e r d e m a m a d o DIPEx Okay n o ú l t i m o m ê s d e a g o s t o , e m u m a t a r d e d e s á b a d o , e u m e i n c l i n e i e m minha mesa de trabalho ara pegar uma caneta e eu senti uma dor lancinante em meu peito, dentro da minha mama direita. Antes, eu tinha tido uma coceira, o mamilo coçava muito, muito, e eu não pensei muito sobre isso, coceira no mamilo n ão significada nada de suspeit o. Foi então que eu senti uma dor e um caroço, então eu fiquei imediatamente chocada, com medo e com um mau pressentimento, e não sabia o que fazer. Minha família tida viajado para visitar uns parentes e eu tive uma noite terrível, mas tinha uma consulta no dia seguinte para alguma coisa totalmente sem relação com isso. Quando fui ao médico no dia seguinte, no dia seguinte depois de encontrar o caroço, quando ele acabou a consulta anterior eu contei a ele sobre o caroço na mama e que eu estava terrivelmente assustada. Ele me enviou para a enfermeira e ela basicamente disse que isso era hormonal, que na minha idade, “80% dos caroços na mama não são nada, não se preocupe, vá para casa e faça um diário”. Eu fui para casa e continuei a me sentir muito ansiosa, e muito preocupada e mantive um diário. Isso foi em uma segunda -feira, na quinta-feira, eu não havia dormido por duas noites, eu me senti a muito mal e telefonei novamente para a enfermeira. Então ela disse: “precisamos de uma consulta comigo e com o médico, então você pode vir na terça-feira? Isso era 8 dias após a consulta original, eu concordei. Eu fui a cirurgia naquele dia e sentei na e nfermaria por 22 minutos, seminua, sentindo-me totalmente pavorosa. Ela veio e me disse que o médico estava muito ocupado para me ver naquele dia. Isso foi como se alguém cravasse um punhal em mim. Ela tirou sangue e disse que isso tudo era hormonal e que eu não tinha com o que me preocupar, que eu fosse para casa. Eu fui para casa, eu saí da clínica e estava com o coração partido quando fui para o carro. Eu ainda não gosto de falar sobre essa parte do tratamento porque eu me senti não merecedora de ser vi sta por um médico naquela época. Ouvir que o médico está muito ocupado para ver você quando você tem uma consulta, quando você está preocupada quando você tem uma mama que nem cabe mais no seu sutiã, foi terrível. Enfim, eu fui para casa, e minha irmã, q ue é mamógrafa, não estava em casa no feriado. Ela voltou no sábado e eu contei tudo a ela. Nesse ponto, a minha vida havia se transformado. Ela me fez prometer que eu iria a um médico e exigiria uma consulta e exames. Eu fiz isso na terça feira. Eu tinha uma consulta para pegar o resultado do exame de sangue e eu fui até o médico, coloquei o diário em sua mesa e disse “exijo um exame”. O médico disse que havia me examinado, eu disse que não, então ele disse “Okay, vamos examiná -la, vou chamar a enfermeira” . Antes disso, a enfermeira tinha me dito que ela não era qualificada para examinar mamas, mas naquela consulta ela examinou minhas mamas com o médico. Novamente, eu me senti não merecedora da atenção do médico, aquele médico estava se esquivando de novo, mas finalmente ele fez a coisa certa e me mandou direto para o hospital. As primeiras duas coleções DIPEx (“módulos”) lidavam com hipertensão e câncer de próstata. Agora, em abril de 2004, oito novos módulos foram adicionados, sobre câncer de mama, de intestinos, pulmões, testículos e cerviz, epilepsia, falha cardíaca, e com muitas crianças com doenças cardíacas congênitas. O trabalho com 12 outros módulos está em andamento (ver tabela 6.1). Nós temos uma lista com 100 doenças que gostaríamos de cobrir nos próximos 5 anos, mas para isso nós dependemos de financiamento. Existem questões (por exemplo, experiências com sintomas sem explicações médicas) as quais, embora sejam importantes, não estão vinculadas a um grupo de voluntários específico ou a alguma área de financiamento do Departamento de Saúde, enquanto os módulos sobre câncer atraíram financiamento de várias fontes (ver tabela 6.1). Nome do Módulo Artrite reumatóide Fim da vida Saúde sexual de pessoas saudáveis Dor crônica Triagem de mama Pessoas com demência responsáveis Depressão Triagem pré-natal Câncer de ovários Cuidados pré-natal Abortos por anomalias fetais Câncer em adolescentes Conclusão esperada Financiado por Outono de 2004 Verão de 2004 Verão de 2004 Arthritis and Rheumatism Council Gatsby Charitable Fund Depar tment of Health Junho de 2004 Outono de 2004 Outono de 2004 The Health Foundation National Screening Committee Alzheimer’s Society (par t) Agosto de 2004 Outubro de 2004 Primavera de2005 Primavera de 2005 2005 Depar tment of Health National Screening Committee Cancer Research UK National Screening Committee National Screening Committee Verão de 2005 Wooden Spoon Vários outros pesquisadores ingleses vêem o site como um meio de divulgação pública e valor para suas próprias pesquisas sobre saúde e doenças e, portanto, coletam entrevistas que são compatíveis e cujos com direitos autorais cedidos ao DIPEx. Estamos ansiosos para apoiar tais colaborações. Nós também promovemos o uso dos recursos do DIPEx em comunicações clínicas para o ensino e métodos de pesquisa qualitativa, e para análises secundárias feitas por pesquisadores. O DIPEx utiliza o método qualitativo de entrevistas abrangentes. Os participantes são encorajados a falar sem interrupções sobre todos os aspectos de suas experiências que forem importantes para eles. Esse tipo de “narrativa da doença” fornece dados brutos que tem sido utilizado há muito tempo em análises de ciências sociais. Na vigésima quinta edição de Aniversário do Jornal Sociologia da Saúde e da Doença (2003), Julia Lawton revisa como entrevistas em profundidade foram largamente utilizadas por sociólogos da medicina, muitas vezes para perspectivas de “pacientes campeões”, muitas vezes colocando-os no centro das atenções (página 25.). Entretanto, sociólogos gravam simplesmente pontos de vista e perspectivas das pessoas e os apresentam sem comentários. Pesquisas informadas por sociólogos da medicina geralmente examinam o contexto no qual os comportamentos de doenças e de saúde ocorrem, e procuram compreender como a sociedade, o ser e agentes físicos, moldam as experiências de doença. Noções explanatórias importantes que surgiram dessa abordagem explanatória incluem análises cuidadosas que levaram à perspectiva de Charmaz de “perda de si mesmo”, ao conceito de Bury de “ruptura biográfica”, e à noção de Williams de “reconstrução narrativa”. Tais conceitos auxiliaram a entender experiências de doenças, e inspiraram pesquisas sobre diversas doenças. A riqueza de dados qualitativos por trás de cada módulo DIPEx nos convenceu de que construir um site não é suficiente para alertar um público diverso sobre o significado de nossas descobertas. Artigos, anúncios e capítulos relatando nossas descobertas poderiam ajudar a todos os que se comunicam e lidam com pacientes, assim como algumas comunidades de pesquisadores, e o tempo para escrevê-los está construído no programa DIPEx. Nós desejamos que o programa DIPEx contribua para as ciências sociais qualitativas, e também para a prática clínica. Dessa forma, nosso objetivo é publicar nossos resultados em jornais com leitores diferentes, cobrindo grupos de auto -ajuda, GPS, enfermeiras, especialistas clínicos variados, pesquisadores, sociólogos de medicina e gerentes. Exemplos de descobertas do DIPEx Os pesquisadores do DIPEX realizaram, analisaram, compararam e indexaram mais de 750 entrevistas narrativas até agora. Nós listamos, abaixo, alguns exemplos de descobertas que acreditamos que disseminaram implicações para o gerenciamento de pacientes e para o projeto e fornecimento de serviços de saúde. Coletando a informação correta Muitas pessoas ainda não sabem como encontrar as informações de que precisam quando se deparam com um diagnóstico ou um dilema. Isso se aplica a pessoas com doenças comuns, como câncer de mama ou de próstata, sobre os quais se escreve ou se fala bastante e, para os quais, os recursos de informações e grupos de auto-ajuda são bem estabelecidos. Profissionais da saúde não são muito bons em orientar pessoas em um estágio inicial de suas doenças quanto a fontes relativas a necessidades e preferências pessoais. Na nossa avaliação, baseadas com grupos de pacientes com câncer de mama ou de próstata, aqueles que responderam relataram que informações dadas pelos profissionais de saúde foram “desiguais, inconsistentes, contraditórias e acidentais”. Como um homem com câncer de próstata relatou, “as informações existem, mas não são colocadas à sua disposição livremente e de forma geral a menos que você vá e as puxe do sistema”. Muitos participantes viam os profissionais da saúde como uma fonte confiável de informações médicas, mas muitos apontaram que era difícil encontrar informações neutras sobre tratamentos de consultores, que pareciam frequentemente, talvez com certo grau de razão, estar favorecendo certo tipo de tratamento que estavam defendendo e oferecendo. As pessoas que entrevistamos distinguiram, entre os conselhos médicos, os quais eles disseram que não aceitariam, dos conselhos-não qualificados, e as informações práticas e experimentais e apoio que eles podiam receber de outros pacientes. Eles avaliaram o DIPEx porque ele oferece acesso às experiências de outras pessoas sem as demandas emocionais envolvidas nas interações pessoais. Algumas pessoas ficam felizes em juntarem-se a um grupo de apoio, mas outros hesitam em se expor a demandas emocionais percebidas adicionais. O acesso privado a informações pessoais através de recursos da internet pode ajudar aqueles que são tímidos, inseguros, ou simplesmente não estão convencidos de que poderiam se beneficiar de um grupo de ajuda. Acompanhamento – qualidade e freqüência Serviços especializados em câncer na Inglaterra estão sob pressão considerável, prestando atenção à necessidade de acompanhamento médico hospitalar apropriado e com bom custo-benefício. Quando existem poucas evidências para dar suporte ao acompanhamento especializado, uma preferência individual de um paciente é muito importante. Nós exploramos as necessidades de acompanhamentos e preferências expressas nas entrevistas de câncer de intestinos do DIPEx, e também estudamos práticas de acompanhamento em hospitais britânicos dentro de serviços colaborativos de câncer colo-retal. Nós descobrimos uma grande variedade de padrões de acompanhamento, envolvendo diferentes testes, períodos de tempo, e pessoal, e muito poucas políticas a que nos referimos (3/35(<10%)), para afirmar que os pacientes deveriam ter a escolha sobre o padrão e o tipo de acompanhamento. Análises das entrevistas do DIPEx indicam que nem todos os pacientes vêem acompanhamento com bons olhos. Alguns acreditavam pouco nos testes oferecidos por especialistas, ficavam ansiosos com visitas a hospitais, ou pensavam que pacientes com câncer de intestinos deveriam receber melhores informações sobre sintomas e deveriam ser motivados a relatar quaisquer problemas aos seus GPS ou enfermeiros especialistas. As necessidades dos pacientes eram raramente julgadas como uso demasiado de recursos: geralmente, os entrevistados desejavam médicos responsivos e interessados, orientação sobre como encontrar informações e apoio de setores voluntários, e conselhos claros e consistentes sobre a dieta. Compreendendo o significado de “triagem” Entrevistas com homens com câncer de próstata revelam que muitos haviam feito o teste de Antígeno Específico de Próstata (PSA), frequentemente parte de um a triagem de rotina da saúde privada, sem terem sido totalmente informados das implicações dos resultados do teste. O Comitê Nacional de Triagem da Inglaterra não recomenda um programa de triagem nacional porque há evidências insuficientes, ou sobre os efeitos de triagem, ou sobre o tratamento, ou sobre morbidez ou mortalidade a longo prazo. Entretanto, nós descobrimos que homens com câncer de próstata sentiram-se mais fortes do que homens saudáveis que seriam testados com o teste PSA, mesmo sabendo que o teste não tem muita precisão e que um diagnóstico precoce não se mostrava conclusivo para levar a tratamentos mais específicos. Informantes do DIPEx sabiam que o diagnóstico precoce iria redu zir a mortalidade, melhorar a qualidade de vida e economizar dinheiro do NHS. Eles argumentaram que o teste deveria ser disponibilizado porque (a) sintomas podem ser ambíguos, (b) testagem é algo visto como um comportamento de saúde responsável e poderiam encorajar homens a cuidar da sua saúde, e (c) existe uma triagem equivalente para cânceres que afetam mulheres. Essas perspectivas explicam por que grupo de apoio a câncer de próstata faz campanha para estabelecer um programa de triagem PSA. Nossos métodos de amostragens requerem que incluamos a maior variedade possível de pontos de vista, mas a nossa equipe teve de fazer esforços consideráveis parar encontrar homens para serem entrevistados que não fossem a favor de triagem PSA. O nosso estudo também incluiu entrevistas com homens que se arrependem bastante de terem sido testados pelo PSA, pois os resultados do teste dominaram seus pensamentos e, em alguns casos, levaram a tratamentos invasivos com implicações desconfortáveis. Uma vez que um PSA fosse encontrado, e tinha de ser acompanhado por medidas repetidas regulares, o homem e sua família preocupavam-se e sentiam que “alguma coisa deveria ser feita”. Tamanha pressão pode ser difícil de ser suportada, mas esperamos que o equilíbrio cuidadoso entre os pontos de vista expressos no módulo do câncer de próstata do DIPEx possa levar os homens a tomar uma decisão mais informada sobre fazer o teste PSA ou não. Escolhas de tratamento (des)informadas Os relatos das pessoas sobre os tratamentos que lhe eram oferecidos revelaram que algumas escolhas potencialmente apropriadas não eram, frequentemente, mencionadas. Algumas vezes, tais escolhas somente eram consideradas quando o paciente obtinha informações independentes (geralmente da internete). Isso é compreens ível para tratamentos novos, mas um homem com câncer de próstata expressou a sua frustração compartilhada por outro homem, quando ele afirmou que era difícil obter uma avaliação neutra sobre os prós e contras do tratamento, pois cirurgiões tendem a favorec er a cirurgia, e os radio terapeutas tendem a favorecer a radioterapia: O problema com as opiniões é que elas eram muito, muito compartimentadas. Quando eu ia ver o cirurgião, eu acho que a sua opinião era que fazer a prostatectomia era o certo. E isso é o que eu escutada de todo mundo, pois todos os urologistas são basicamente cirurgiões, e como dizem, para um martelo, tudo se parece com uma unha, e eu acho que é muito por aí. E então, você sabe, se eu fosse falar com ele, ele somente me daria informações sobre cirurgia. Fui colocado em contato com uma pessoa que estava envolvida em radioterapia, e ele me deu muitas informações sobre radiação de feixe externo. (Testemunho de um homem de 51 anos de idade que escolheu fazer braquiterapia em 2000). Um exemplo do estudo de câncer cervical é de uma mulher a quem foi oferecido histerectomia, mas soube através do seu marido – que era um médico – sobre uma nova operação, traquelectomia, que deixaria seu útero intacto e assim não descartaria uma futura gravidez. A paciente consultou o cirurgião que estava introduzindo essa operação em outro hospital, e ela ficou feliz em ser a primeira paciente na Inglaterra a passar por esse procedimento. Em dois cenários impressionantes pareceu bem comum aos pacientes não ter sido oferecida uma opinião de tratamento bem estabelecido. A primeira foi quando a “espera vigilante” (também conhecida como “monitoramento ativo”) para homens com câncer de próstata foi julgada apropriada como alternativa à cirurgia ou a radioterapia, ca da um com drawback potencialmente graves. O segundo exemplo diz respeito ao gerenciamento de câncer testicular. Próteses testiculares são disponibilizadas desde a década de 70, e os homens devem ser informados, antecipadamente, sobre a possibilidade de ins erção de uma prótese no momento da orquidectomia. Entretanto, um número de homens relata que não foram informados que próteses estavam disponíveis, e alguns dos que tinham sido informados não receberam tempo para decidir o que fazer. O que as pessoas dizem sobre os seus medicamentos Na prática comum, os médicos focam em questões específicas, por exemplo, se o paciente está tomando a medicação, se efeitos especiais ocorreram. As entrevistas do DIPEx diferem de tais conversas pois os participantes não tem qualquer relacionamento clínico com os pesquisadores sociais que os entrevistaram, eles foram entrevistados em casa, e podem ter ficado menos inibidos quando falavam sobre suas percepções acerca de um medicamento e do seu uso, do que se estivessem falando em uma instituição de saúde. As crenças, compreensões e rotinas das pessoas frequentemente se tornam claras quando elas se sentem livres para falar sobre os medicamentos e quaisquer outras coisas que sejam importantes para elas, sem interrupção e pelo tempo que quisessem. O Box 6.3 sumariza os benefícios percebidos e preocupações sobre medicamentos para hipertensão, e as seguintes citações do estudo ilustram algumas dessas questões chave. Box 6.3 Percepções sobre tomar medicação anti-hipertensão Benefícios Sentir-se protegido contra derrame Fim das dores de cabeça Percepção de que os sintomas diminuem Preocupações Efeitos colaterais, presentes e futuros Aversão por tomar medicamentos Questionamento sobre a necessidade de tomar medicamentos Não conseguir esquecer sobre a hipertensão Um médico de 61 anos de idade entrevistado para o módulo de hipertensão explicou a razão pela qual ele não queria tomar os bloqueadores beta, embora a impotência por ele temida não seja, estatisticamente, um problema notável desse medicamento: Eu nunca quis usar bloqueadores beta porque eles eram a coisa principal que parecia causar impotência. Eram os que tinham o maior perfil de impotência. E sendo assim, eu poderia parar com essa preocupação... eu acho que sou altamente sugestionável e uma vez que você lê que os bloqueadores beta podem tornar você impotente... eu disse: “Oh, não, pro inferno com isso. É melhor eu tentar algo que seja menos evidente sobre isso.” Uma mulher trabalhadora de 60 anos descreveu como lhe desagradou tomar bloqueadores beta e como a sua perspectiva sobre os efeitos do medicamento era diferente da visão do médico trainee que ela consultou: Eu consultei um médico novo, na verdade eu não acho que ele tenha se formado ainda, ele disse: “pressão sanguínea alta, sem problemas, nós daremos bloqueadores beta a você”. E fez isso imediatamente e mediu minha pressão uma ou mais semanas depois e ela tinha baixado para 120 por 80. Ele disse: “Que bom, resolvemos o problema”. E eu disse: “Sinto-me péssima, muito pior do que quando não estava tomando nada e não acho que os bloqueadores beta são adequados para mim, podemos tentar outra coisa? E ele disse: “ Não, eles funcionam. Qual é o seu problema?” E eu fique completamente enraivecida pois ele não estava me escutando, a minha qualidade de vida estava sendo acabada por causa dessa medicação. Eu me sentia fisicamente exausta, mal podia subir as escadas. Era uma dose bem baixa, 20 mg. Eu mal podia subir as escadas sem que minhas pernas doessem de ta l forma que eu desejava entrar em colapso, e me sentia deprimida... É assim que é a depressão... eu lembro disso muito vividamente. E isso estava ligado diretamente à medicação. É bastante possível pensar que a medicação protege contra uma doença, enqua nto levanta bastante preocupação quanto aos efeitos colaterais. Entretanto, alguns participantes questionavam se eles realmente precisavam tomar o medicamento prescrito, e suspeitavam ter hipertensão “jaleco branco”, a qual se manifesta somente em uma clínica. Participantes com monitores de pressão em casa podiam ficar certos de que realmente tinham hipertensão, o que removia a preocupação sobre tomar a medicação sem necessidade. Para essa mulher na faixa dos 50 anos, o desgosto por medicamentos é tão sério a ponto de fazê-lo pensar em não tomar nenhum: Estou pensando seriamente em não tomar os comprimidos. Eu sinto... Eu acordo de manhã e me sinto bem, e então eu tomo a pílula e perco um pouco de energia. Não sei se estou imaginando isso, mas parece que não tenho mais aquela força de viver que tinha antes de tomar as pílulas e não sei se é por que eu, secretamente, não gosto de remédios – você entende o que quero dizer? E obviamente não sou estúpida e sei que, se os riscos não fossem incrivelmente altos, eu poderia dizer:”Bem, eu prefiro estar aqui do que não estar, estar me sentindo um pouco estranha do que não estar”, e então eu os tomo. O que vem à tona é algo mais complicado e mais interessante do que “conformidade” ou “concordância” vistos mecanicistamente. Por exemplo, muitas pessoas com hipertensão, por muitas razões, escolheram não tomas as pílulas ao menos em parte do tempo. Algumas –dentre elas um médico – “esqueceram” de tomar a medicação, porque não queria se lembrar de que havia algo errado. Outros sentiam que os efeitos colaterais da medicação eram maiores e não justificavam os riscos de não tomá-los. Um homem argumentou que, já que há um grande número de pessoas com hipertensão sem tratamento, se ele abandonasse suas pílulas, ele não seria diferente dessas pessoas. Como as pessoas procuram informações sobre sua saúde, e por que As entrevistas do DIPEx contém muitos relatos sobre como, e por que as pessoas procuraram informações. Muitos dos que responderam usaram a internet – seja diretamente ou através de um parente ou amigo – para tentar descobrir algo sobre sua doença. Suas experiências são interessantes porque poucas pesquisas empíricas examinaram até agora os possíveis efeitos das informações sobre saúde na internet, ainda que haja muita especulação. Nós analisamos as diversas formas pelas quais as pessoas com câncer falam sobre o uso da internete, e identificamos não somente um uso bastante mais largo do que se imaginava, mas verificamos o que significa para os pacientes ter acesso a i nformações sobre saúde. As pessoas usam a internet para verificar a importância de sintomas, descobrir sobre testes diagnósticos, checar se estão recebendo os melhores tratamentos, saber como outras pessoas contaram às crianças sobre suas doenças, para dar e receber apoio, e para compartilhar informações e campanhas. Elas também descrevem o cuidado considerável na interpretação dessas informações encontradas na internet, comparando -as com várias outras fontes, e sendo céticos em relação a conteúdos encontra dos em apenas um site. Nós concluímos que essa facilidade possibilita às pessoas mostrar - para familiares, amigos, profissionais de saúde, assim como aos pesquisadores – sua perícia, assim mantendo o senso de “aptidão social”, o qual pode ser ameaçado por uma doença grave. Esses aspectos positivos do uso da internet podem ter escapado à observação de muitos outros comentadores, que estavam mais preocupados com os perigos de informações erradas e imprecisas da internet ou ameaças percebidas a identidades profissionais na medicina. Tópicos desconfortáveis Os médicos reconhecem que alguns aspectos das doenças são importantes, mas frequentemente acham que eles são muito desconfortáveis para se discutir, dentre eles estão a incontinência, estigmatização, sexo, e como contar a uma criança quando um pai ou mãe está gravemente doente. Pessoas que tiveram câncer descrevem como dificuldades sexuais foram conduzidas, e como elas lutaram para manter as suas personalidades anteriores. Por exemplo, embora o câncer de intestino seja uma doença considerada “embaraçosa”, as entrevistas sugerem que a palavra é bem inadequada, haja vista a humilhação em último grau e a perda da identidade adulta que muitos pacientes experimentam quando perdem o controle dos intestinos. Muitos profissionais que não compreendem correm o risco de soarem volúveis e inacessíveis quando dão conselhos. Histórias sobre com as pessoas contaram que tinham (ou que tiveram) doenças às crianças ajudam a outros a decidir o que fazer. Seria difícil para nós imaginar como uma mãe conta a seu filho de quatro anos que ela tem câncer de intestinos. Um tema importante nas histórias sobre câncer de próstata é o de que “drogas à base de hormônios atacam os homens em cada departamento que os fazem sentirem-se homens” – impotência, humor instável, falta de energia, inabilidade para o trabalho. Os pacientes podem não ser avisados sobre esses possíveis efeitos, e quando eles tiverem se tratado já é tarde demais. Isso contraste com a experiência de homens que tiveram câncer de próstata, que raramente relatam se sentirem menos masculinos após o tratamento. A maioria pode voltar à vida normal, incluindo vida sexual. Uma descoberta inesperada, que poderá ajudar nas consultas, diz respeito à forma como eles usaram piadas. M uitos dos que perderam um testículo contam piadas para gerenciar sentimentos, para esconder embaraços, para diminuir a tensão, para compartilhar um senso de solidariedade com outros e para encorajar outros a se examinarem. Esses homens também descrevem a sua reação frente a piadas contadas por outros, a qual era geralmente positiva; as piadas ajudavam a dissipar a tensão e a garantir a eles que estavam sendo tratados normalmente pela sua família e amigos. As exceções eram os homens nascidos com apenas um te stículo e que desenvolveram câncer, aqueles que perderam dois testículos, e um homem que não podia ejacular. Esses homens ficavam bravos com piadas feitas por outras pessoas, ou pela idéia de se fazer piadas, temendo humilhação, estigma e preconceito. Aind a que a habilidade de “aceitar uma piada” seja uma parte importante da identidade masculina jovem na Inglaterra, esses resultados mostram a necessidade que os clínicos tem de serem cuidadosos ao usar o humor até que estejam confiantes na perspectiva do pac iente. Atitudes frente ao Serviço Nacional de Saúde Relatos positivos de experiências dentro do SNS inglês foram reassuring em uma época em que a fraqueza de prover serviços de saúde estava recebendo larga cobertura da imprensa. Por exemplo, pais de crianças com doenças cardíacas congênitas expressaram admiração entusiástica pelos serviços de saúde, e a forma como o predicament o foi conduzido, e pareceram não contaminados pelos relatos dos eventos de Bristol e no Hospital de Alder HEy em Liverpool. Esse foi um contraste reconfortante frente à onda de críticas ao SNS na época (2002-3), que diziam que o sistema não era funcional e previam colapso. Em alguns casos, alguma anormalidade era detectada durante a gravidez, em outros, isso não era corretamente previsto. Qualquer que seja a história, os pais elogiavam a atenção solidária e as explicações que receberam; e quando era necessário alguma cirurgia, eles eram muito agradecidos em especial ao apoio da equipe de enfermagem da ala cardíaca, que poderia ser encontrada a qualquer tempo. Os pais contam que nunca sentiam que suas chamadas eram consideradas desnecessárias, e que a resposta recebia era sempre pronta e adequada. Unidades de Terapia Intensiva também foram universalmente admiradas: as menções incluem visitas antecipadas que eram oferecidas aos entrevistados, a atenção constante individual (uma enfermeira por paciente), e a impressionante tecnologia de ponta utilizada. Cirurgias de coração aberto foram realizadas em hospitais terciários, frequentemente longe das residências dos familiares, com potencialidade de despesas e rupturas domésticas. De forma atenciosa, foram providenciados fundos para deslocamentos (em um dos casos a visita de parentes demandou viagem de avião) e em alguns locais foram providenciadas acomodações para pais e outras crianças, quando necessário, com aparelhos de bipes para que os pais fosse o mais rápido possível para junto dos leitos dos filhos quando necessário. Os participantes do DIPEx com câncer de pulmões foram questionados se a sua experiência modificou a perspectiva sobre o sistema nacional de saúde – uma pergunta colocada de forma neutra, possibilitando respostas positivas e negativas. Seja implicitamente (pelo uso de frases como “não encontrei erros”) ou explicitamente e m seus relatos, os pacientes contrastaram as suas próprias experiências (geralmente positivas) de atendimento com suas expectativas (pobres) sobre o que encontrariam no SNS. As expectativas baixas incluíam: levaria um tempo muito grande para ter consulta c om o especialista necessário, ou que precisariam esperar pelo tratamento; e que médicos e enfermeiras estariam muito ocupados para dar explicações. Questões metodológicas e teóricas A iniciativa do DIPEx levantou uma série de questões metodológicas e teó ricas acerca da coleta, análise e publicação de histórias de pacientes. Desde o começo, havia a preocupação de que uma entrevista longa e detalhada fosse chatear alguns pacientes. Reviver problemas não resolvidos e experiências pode ser algo doloroso; a ex posição pública de reflexões particulares pode causar danos. Essas possibilidades não podem ser totalmente prevenidas, mas os riscos são diminuídos pela ação exclusiva de pesquisadores habilidosos em lidar com questões delicadas, e pelo método de entrevist a. No início de cada entrevista DIPEx, é pedido ao participante que conte a história a partir do primeiro momento em que o/a paciente sentiu que havia algo errado. Os pesquisadores formam uma audiência para a história, evitando interrupções, até que o relato chegue no presente, no dia da entrevista. Alguns participantes são capazes de relatar uma história coerente e longa cobrindo os pontos principais que gostaríamos idealmente de ouvir, enquanto outros tem menos segurança em contar o que lhes aconteceu. Nós descrevemos essa seção da narrativa como a história oral ou parte “narrativa”, por que o participante é totalmente livre para contar a história da forma que lhe melhor aprouver. O pesquisador pode, então, pedir esclarecimentos ou uma ampliação de algun s tópicos levantados, antes de utilizar algumas questões semi-estruturadas adicionais e pontos para explorar questões que nos interessam (por exemplo, idéias sobre causas, medicamentos, efeitos colaterais, onde informações foram buscadas, e opiniões sobre o SNS e comunicação médica), assim como questões mais aprofundadas sobre doenças em questão, identificadas pela revisão da literatura e por outras entrevistas. Diferentemente de outros estudos que partiram de uma única pergunta de pesquisa, esse tipo de pesquisa qualitativa tem por objetivo compreender as perspectivas diferentes, prioridades e interpretações dos participantes das entrevistas. As entrevistas duraram de uma a seis horas e algumas vezes envolveram mais de uma visita. Elas constituem -se em uma fonte muito rica de dados para diferentes tipos de análises. Em uma entrevista de narrativa, o respondente controla a sua estrutura, duração, e conteúdo, e questões intrusivas são evitadas. Para se proteger contra a publicação de material no site que poderia causar embaraços, nós fomos cuidadosos em relação a procedimentos de permissão e direitos autorais. Após detalhada explicação sobre a natureza da pesquisa e sobre a intenção da publicação, os participantes assinam um formulário de permissão antes da entrevista, mas só pedimos que assinem formulário de direitos autorais (que permite que as entrevistas sejam utilizadas em radiodifusão, aulas e pesquisas) mais tarde. Os participantes recebem uma cópia da gravação e são livres para retirar a entrevista, limitar as seleções para escritos anônimos ou clipes de áudio, ou para identificar partes a serem retiradas. Até o momento, apenas 10% dos participantes decidiu remover parte de suas entrevistas, muito poucos decidiram retirar toda a entrevista. Os pesquisadores estão, agora, categorizando as seções removidas (por exemplo, detalhes pessoais sobre si mesmo ou sobre a família; comentários pejorativos sobre profissionais da saúde) para elucidar com mais profundidade que tipo de informações as pessoas retiraram . Em contraste com a maioria dos estudos qualitativos, como questionários projetados para responder um número limitado de perguntas precisas e pré-definidas, a natureza relativamente desestruturada das entrevistas significa que as entrevistas para os pro jetos DIPEx podem ser utilizadas para muitas análises qualitativas diferentes. Uma entrevista de narrativa individual pode ser o foco de uma análise (utilizando, por exemplo, métodos sociolingüísticos) ou pode-se olhar para as entrevistas do ponto de vista das coleções por doenças de 30 a 50 entrevistas, ou um tema específico pode ser estudado através de várias coleções. Cada uma das coleções DIPEx é selecionado como uma amostra de variação máxima (escolhidas por incluir pessoas cujas experiências possam se r diferentes em razão de fatores específicos de cada doença, assim como das escolhas usuais de idade, gênero, etnia e escolha de tratamento), sem a intenção de ser numericamente representativo da população de onde são retirados. Análises com base no pressuposto de uma amostra estatisticamente representativa seriam enganosas, ainda que números relativamente grandes poderiam ser alcançados pela combinação de coleções diferentes. Os pacientes que contam histórias tem um senso de altruísmo e solidariedade co m outros, analogamente à doação de sangue. Nós nos surpreendemos em como eles se sentem mais parte de uma comunidade maior por haver compartilhado suas histórias; alguns podem ainda ganhar mais auto-compreensão e auto-estima. Muitos participantes sentiram-se entusiasmados com o DIPEx e sentiram-se ligados a ele. Nós também nos sentimos ligados àqueles que contribuíram, e desejamos manter algum contato com eles. Nós demos vários almoços para vários dos módulos, quando participantes das entrevistas foram convidados e muitos compareceram. Participantes que haviam contribuído para módulos recentes e seus convidados vieram para um evento ocorrido na House of Lords em março de 2003. Muitos gostaram de encontrar outros participantes do DIPEx – algumas pessoas nunca antes haviam conversado com outras pessoas com a mesma doença. Conclusão Nós acreditamos que as coleções DIPEx trazem às pesquisas qualitativas em saúde descobertas para os médicos e para o público e, no processo, faz uma ponte dos pontos de vista, interesses e opiniões desses públicos diferentes. Há um interesse considerável em promover a compreensão da ciência pelo público – acreditamos que um empreendimento paralelo seria um aprofundamento da compreensão do público pela ciência. Para esse fim, nós encorajamos o uso das entrevistas DIPEx para cursos de graduação e pós-graduação de médicos e de outros profissionais da saúde. As experiências de pacientes são uma pedra de toque importante para o Sistema Nacional de Saúde moderno, mas mesmo assim existe pouca concordância sobre como incorporá-las e fazer uso delas. Muitos comitês hoje em dia tem como rotina representantes dos pacientes, mas há preocupações de que eles sejam verdadeiramente representantes do seu grupo de identidade. As coleções DIPEx são disponibilizadas gratuitamente para todos e são uma forma poderosa e direta dos representantes dos pacientes de fortalecimento para sua compreensão das experiências de outros pacientes – incluindo aqueles que nunca desejariam ou poderiam fazer parte de um c omitê. Conforme novos módulos são publicados, muitos comitês de serviços médicos diferentes poderão retirar dados do DIPEx para identificar as perspectivas dos pacientes. A seleção de amostras nacionais, de variação máxima em todas as coleções da DIPEx é i mportante para esse propósito e deve fortalecer a habilidade dos representantes dos pacientes em contribuir com seus comitês. Nós estamos também ansiosos em persuadir cientistas clínicos e seus financiadores a incluir um componente qualitativo centrado no paciente nas pesquisas. Nós demos o início propondo uma ligação entre revisões individuas de Cochrane e o módulo DIPEx correspondente. Por exemplo, a revisão sobre a quimioterapia em câncer avançado de cólon seria linkado ao sumário do que os pacientes que foram submetidos a tal tratamento tinham a dizer sobre ele nas entrevistas do DIPEx. Até a presente data, as coleções DIPEx incluíram apenas participantes que moram na Inglaterra – ainda que grupos de minorias étnicas tenham sido incluído em todos os nossos estudos. Existe, entretanto, potencial considerável de colaborações internacionais e nós estamos ansiosos por encorajar grupos a começar a colecionar entrevistas de narrativas compatíveis de pacientes nos seus países, utilizando as línguas locais. I sso poderia possibilitar a comparação de experiências sobre doenças em culturas e em sistemas de saúde diferentes. O primeiro passo nessa direção foi publicar relatos do projeto em outras línguas importantes – artigos agora apareceram em Alemão, Italiano, Japonês, Espanhol e Chinês. Agradecimentos Nós somos gratos a todos os participantes das entrevistas, e aos nossos colegas pela sua ajuda neste capítulo. Nota final: 1 O nome original era “Banco de dados de Experiências Individuais”, mas achamos que “individual” é uma palavra que poucas pessoas utilizam, então a substituímos por “pessoais”. Em 2004, nós finalmente nos demos conta que “DIPEx” não significa nada para as pessoas, então adotamos um endereço de internet adicional www.personalexperiences.org , o qual redireciona ao mesmo site. References 1 McPherson A. The quality of the b(r)east. BMJ 1995;310:1339. 2 Kleinman A. The illness narratives: suffering, healing and the human condition. New York: Basic Books, 1988. 3 Lawton J. Lay experiences of health and illness: past research and future agendas Sociol Health Illness 2003;25:23–40. 4 Charmaz K. Loss of self: a fundamental form of suffering in the chronically ill. Sociol Health Illness 1983;5:168–95. 5 Bury M. Chronic illness as biographical disruption. Sociol Health Illness 1982;4:167–82. 6 Williams G. The genesis of chronic illness: narrative reconstruction. Sociol Health Illness 1984;6:175–200. 7 Rozmovits L, Ziebland S. What do patients with prostate or breast cancer want from an internet site? A qualitative study of information needs. 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