Ordem Direta e Ordem Inversa

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SINTAXE:ORDEM DIRETA E ORDEM INVERSA E SUAS RELAÇÕES DE SENTIDO
A SINTAXE é a parte da língua portuguesa que estuda a relação
entre as palavras.Estudar a sintaxe de uma língua significa identificar as
maneiras como se associam as palavras para formar frases.
É por isso que não podemos formar enunciados simplesmente
juntando palavras de maneira totalmente aleatória, é necessário considerar,
além da ordem, o espaço na morfologia, a pontuação e
outros fatores gráficos. Vamos, através de alguns exemplos, compreender
melhor o que quere dizer tais afirmações.
A famosa expressão ‘Não se deve pôr a carroça na frente dos bois”
pode ser bem aproveitável se inserida no estudo das relações entre
palavras. A ordem do enunciado e a organização que damos a ela é
fundamental para o que se pode inferir a seu respeito
1 - Escolher-se-á a ordem direta ou a inversa conforme a situação. E na
situação entra o sentir, o pensar, o entender, o querer e até a visualização
do falante.
Imaginemos a seguinte situação:
O João tem estado doente. Os amigos sentem a sua falta. Há também os que
conhecem o João, mas a quem ele é indiferente. Suponhamos, então, as
seguintes frases:
(1) Oh!... Vem ali o João!
(2) O João vem ali.
Geralmente, os amigos pronunciam a frase (1). Iniciaram-na por vem, porque,
naquele momento, o que lhes tocou mais a sensibilidade não foi o João em
pessoa, mas o mover-se já com saúde, isto é, o vir - o vir já pelo seu pé. Este
fato feriu de alegria o seu amigo. E então saiu-lhe muito naturalmente a frase
(1), começada por vem, com o verbo em primeiro lugar, o de mais evidência.
Mas o outro falante, para quem o João era como qualquer pessoa, possivelmente
nem se lembrava de ele ter estado doente. Saiu-lhe, então, a frase (2), na
ordem direta, a mais natural.
O primeiro construiu a frase, partindo do que sentiu; o segundo, partindo apenas
do que viu e talvez pensou.
4. - É certo que só algumas gramáticas mencionam a ordem direta e a inversa,
mas não o seu valor semântico, porque isto não é verdadeiramente gramática,
embora toque a gramática. É, sim, estilística, para cujo exame os estudiosos se
servem dos conhecimentos gramaticais.
5. - Para melhor compreendermos o emprego da ordem direta e da ordem
inversa, é indispensável termos em conta o seguinte: O povo português procede,
não raro, levado mais pelo que sente do que pelo que pensa - impera nele mais
o coração do que o cérebro. Vejamos este fato:
Tal como o nosso povo tem bem saliente a face da sensibilidade, assim a Língua
Portuguesa tem as características necessárias à expressão dessa sensibilidade.
Uma delas é aquela maleabilidade que permite escolher a ordem direta ou a
ordem inversa conforme a situação do interior do falante.
E agora, vejamos as frases em questão:
(1) Um novo programa foi para o ar no canal televisivo...
(2) Foi para o ar um novo programa no canal televisivo...
Destes dois elementos da frase, um novo programa e foi para o ar, o que nos
toca mais profundamente a sensibilidade é este: foi para o ar, pelo menos é o
que parece. E porquê? Pelo seguinte:
Novos programas há-os em várias situações: uns apenas pensados, outros
estudo inicial; há outros já em elaboração, e outros concluídos ou perto disso.
Mesmo concluídos, o elemento novo programa nada nos diz sobre a sua difusão
ou não difusão.
Perante esse elemento, permanecemos numa incerteza, nada nos diz.
O elemento foi para o ar dá-nos a certeza de tudo, e os que gostam de ver a
SIC sentem-se atraídos para o novo programa pelas tais certezas que lhes
transmite o elemento um novo programa. E quem fala ou escreve sente estas
coisas e também sente as possibilidades da nossa língua. E por isso mesmo, ele
sente (sente mas não pensa) que deve iniciar a frase pelo elemento foi para o
ar. É idêntica a explicação para a outra frase: «Uma nova revista...».
6. - NA Língua Portuguesa não só transmitirmos o que pensamos, mas também o
que e o como sentimos..
BASE TEÓRICA. A ordem direta se aproxima da ordem natural das palavras na
frase. Podemos dizer que ordem natural é a que se espera que exista na frase: 1º.
Expressão de chamamento (se houver) 2º. Tema
3º verbo 4º complemento (se
houver) 5º modificador (se houver). Enquanto a ordem inversa decorre do
emocional, a direta é ditada pelo racional. Exemplo de frase simples:
— Chegou o inverno (inversa).
O inverno chegou (direta).
— Nesse momento, aproximaram-se os operários (inversa).
Os operários aproximaram-se, nesse momento (direta).
— Com todas essas novidades, está ficando difícil a sobrevivência da locadora
da esquina (inversa)
— A sobrevivência da locadora da esquina está ficando difícil, com todas essas
novidades (direta)
— À tarde, perceberam as crianças a fuga dos pássaros (inversa)
As crianças perceberam a fuga dos pássaros, à tarde (direta).
Em frases mais complexas, podem aparecer vários modificadores. Sabemos que
devem ser colocados no final, mas em que ordem? O modificador de tempo precede o
de lugar? Sendo os modificadores de extensão aproximada, a ordem de precedência é
irrelevante, a não ser que se queira enfatizar um dos modificadores, colocando-o por
último:
Ex. O mordomo encontrou os livros naquele dia, na varanda
O mordomo encontrou os livros na varanda, naquele dia.
Caso se trate de vários modificadores diferindo em extensão, geralmente se observa
a colocação por extensão ou complexidade, na ordem ascendente, o mais longo ou
mais complexo, por último:
Ex. Antes do amanhecer, o barco se aproximou, cautelosamente, da pequena
ilha (inversa)
O barco se aproximou da pequena ilha, cautelosamente, antes do amanhecer
(direta).
Se houver na frase uma expressão de chamamento (vocativo), esta deve iniciar a
frase.
Ex. NÃO QUERO, MEUS SENHORES, NESTE MOMENTO TÃO IMPORTANTE,
DEIXAR DE EXPRESSAR, COM SINCERIDADE, MEUS AGRADECIMENTOS
(INVERSA).
Meus senhores, não quero deixar de expressar meus agradecimentos, com
sinceridade, neste momento tão importante (direta).
Deve prevalecer sempre o bom-senso. Há inversões que não podem sofrer alteração.
O modificador “não”, por exemplo, deve continuar antes do verbo. Os adjetivos que
mudam de sentido conforme a posição, devem continuar onde estão:
Ex1. Ontem não quis ofendê-lo
Não quis ofendê-lo ontem.
Ex2. Nos dias chuvosos, o pobre homem dormia sob as marquises.
O pobre homem dormia sob as marquises, nos dias chuvosos.
O que queremos que você perceba, agora, é que há modificações que são impossíveis
e outras, alteram consideravelmente o sentido do enunciado.
O detetive observava, do escritório, todo o movimento dos funcionários
O detetive do escritório observava todo o movimento dos funcionários.
Observe como muda a função sintática também no caso abaixo:
O funcionário da fábrica saiu O funcionário saiu da fábrica
(Adjunto adnominal) (adjunto adverbial)
Observe que, nas orações a seguir, os falantes empregam as mesmas palavras, porém
combinadas de forma diferente:
A blusa azul é minha.
Minha blusa é azul.
Ocorre que, a primeira frase pode ser utilizada em uma situação em que há várias
blusas de cores diferentes e o falante quer
indicar ou destacar a sua. A segunda frase, provavelmente, é empregada para
responder a uma pergunta (Que cor é sua blusa?).
E ainda:
- O homem nervoso chegou hoje.
- O homem chegou nervoso hoje.
Observe o termo destacado nas frases abaixo.
- O policial irritado deu uma advertência ao motorista.
- Irritado, o policial deu uma advertência ao motorista.
- O policial, irritado, deu uma advertência ao motorista.
Na primeira frase, o adjetivo individualiza ou aponta uma qualidade constante do
sujeito: sugere-se que, dentre vários policiais, foi o policial irritado que deu a
advertência. Nas duas outras frases, o adjetivo sugere o estado em que o policial
estava no
momento da ocorrência do fato. Perceba que não só o sentido sofre alterações como
também a função sintética do termo: na primeira
frase, irritado exerce a função de adjunto adnominal — exprime uma característica
constante — nas duas outras é predicativo dosujeito — expressa uma característica
casual, aparente, nova.
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