Profissionais de turismo e viajantes devem se proteger do sarampo Vacina contra a doença está disponível nas unidades de saúde do País O Brasil já chegou a registrar mais de 50 mil casos de sarampo em um único ano. Hoje, após as intensas campanhas de vacinação em massa, a situação é bem diferente. Não são registrados casos no País desde 2000. No entanto, o risco de reintrodução do sarampo ainda preocupa as autoridades sanitárias. É que em alguns países, como Japão, Alemanha e algumas nações da África, responsáveis por um número considerável de visitantes ao Brasil, a cobertura vacinal em relação a essa doença não é muito ampla. Diante disso, o Ministério da Saúde recomenda aos empresários de turismo que organizem, junto às secretarias estaduais e municipais de Saúde, um esforço para intensificar a vacinação dos profissionais da área. Recomenda também aos brasileiros que tenham como destino países endêmicos que se vacinem antes de embarcar. O diretor de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), Expedito Luna, afirma que, no País, há uma segurança razoável da imunização contra o sarampo em crianças. Já em relação aos adultos, não se pode dizer o mesmo. Isso se deve ao fato de a cobertura vacinal contra a doença ter sido intensificada no Brasil a partir do final da década de 1980. Praticamente todos os bebês nascidos desde então foram vacinados, mas quem tem mais de 20 anos pode não ter recebido a dose e, assim, estar suscetível à contaminação. “Por isso, é importante que todos os profissionais dos aeroportos, desde os aeroviários e taxistas até quem trabalha dentro das lojas ou das lanchonetes, tomem a vacina”, ressalta Luna. Turistas, agentes de viagens, guias turísticos, funcionários dos hotéis e profissionais do sexo também devem procurar os postos. A aplicação da dose nessas pessoas deve ser realizada, principalmente, nas cidades que atraem mais turistas estrangeiros, como Rio de Janeiro, Florianópolis e capitais do Nordeste. A vacina está disponível em qualquer posto de saúde, mas os próprios empresários de turismo, associações ou sindicatos do ramo podem procurar as representações do Programa Nacional de Imunizações (PNI) das secretarias estaduais de Saúde e elaborar ações de vacinação para grupos específicos. Nesses casos, o PNI disponibiliza doses da vacina para aplicação nos profissionais. A tendência de os empresários de turismo acharem que os negócios são afetados quando se fala em vacinação e em doença tem sido um problema para a ação de controle epidemiológico. Expedito Luna afirma que os empresários precisam entender que a vacina contra o sarampo é do interesse deles. “Se vacinarem e prevenirem, os empresários não vão ter problema algum”, observa. Em algumas cidades do litoral, já aconteceram ações de imunização de trabalhadores do ramo de turismo contra o sarampo, mas é preciso que esse trabalho se estenda à maioria dos estados. Todo o cuidado é necessário para impedir a entrada da doença no País. Em novembro do ano passado, houve a importação de um caso de sarampo. Um brasileiro foi a negócios para a Inglaterra e lá contraiu a doença. Mesmo sendo um caso isolado, isso demonstra que o risco de importação do sarampo é real. Controle – Desde a década de 1950, os países do continente americano associados à Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) vêm trabalhando em conjunto para a erradicação de doenças. Primeiramente, esses países se comprometeram a erradicar a varíola, nos anos 50. Já nos anos 80, o esforço foi voltado para o controle da poliomielite e da transmissão do sarampo. Segundo Expedito Luna, todos os países do continente americano se comprometeram a eliminar o sarampo, inclusive o Brasil. Nos últimos 20 anos, o País evoluiu muito em relação ao controle de doenças transmissíveis. Hoje, conta com um programa de imunizações que é referência para o mundo. Mesmo com a extensão geográfica do Brasil, as campanhas de vacinação conseguem atingir os habitantes das grandes cidades e do interior, até os lugares mais remotos da Floresta Amazônica. “Trata-se de uma ação de saúde que chega a toda a população brasileira”, destaca Expedito Luna. Em 1997, por um erro na estratégia de vacinação em alguns estados, o País teve uma epidemia de sarampo. “Muitos municípios acharam que não era necessário fazer campanha naquele momento, pois já tinham o controle da transmissão da doença”, explica Luna. A epidemia foi causada pela vinda de pessoas contaminadas da Europa. Depois dessa lição, o Brasil vem conseguindo, com as campanhas de vacinação realizadas a cada cinco anos, manter o controle da transmissão da doença. Com o trabalho de vigilância epidemiológica, é possível ainda identificar rapidamente os casos e, assim, evitar o aparecimento de epidemias. Para aumentar o acesso às vacinas, uma parceria entre os ministérios da Saúde e das Minas e Energia vai possibilitar a criação de postos permanentes de vacinação na Região Amazônica. O objetivo é fazer com que a aplicação de vacinas chegue às populações rotineiramente. “A falta de energia regular impossibilita a manutenção de postos permanentes de vacinação, por isso algumas comunidades só recebem a vacina nas campanhas feitas durante o ano”, observa Expedito Luna. “Com a parceria, vai haver energia para instalação dos postos”, acrescenta. Resultados – Na última campanha de vacinação contra o sarampo, realizada em agosto deste ano, o Ministério da Saúde obteve uma cobertura vacinal de quase 94%. A meta era chegar a 95%. “O resultado foi considerado satisfatório, ficando apenas 1% abaixo da meta”, afirma Luna. “Tivemos dificuldades em alguns estados, principalmente na Região Norte. O estado do Amazonas teve um desempenho bem inferior aos demais”, completa. O Ministério pretende identificar quais os municípios em que a vacinação não foi satisfatória para tentar recuperar o trabalho de imunização contra a doença. Segundo Expedito, o reforço da vacina nesses estados é uma das prioridades da SVS. “Não podemos deixar nenhum grupo de pessoas sem a vacina, pois basta um único caso de sarampo para se ter o risco de disseminação da doença”, explica. Doença é considerada grave No Brasil, o sarampo chegou a ser considerado uma das principais causas de mortalidade infantil antes do primeiro ano de vida e continua sendo assim em países africanos. As pessoas infectadas apresentam, em sua maioria, febre alta, fadiga, dores de cabeça, tosse intensa, coriza, conjuntivite e pele com placas ásperas avermelhadas. O sarampo é causado pelo vírus conhecido como morbillivírus. Sua transmissão se dá por meio de gotículas de secreção respiratória e até mesmo o ar com o vírus ainda vivo pode disseminar a doença. A confirmação do diagnóstico deve ser feita por meio de exame de sangue, realizado por todos os laboratórios centrais (Lacen), localizados nos estados. Na maioria das vezes, o tratamento do sarampo é voltado para a diminuição dos sintomas e para a prevenção das complicações. A doença é considerada a mais severa entre aquelas comuns na infância: complicações graves e morte ocorrem em até 3 em cada mil casos.