Florianópolis, um exemplo saudável Classificada entre as cinco primeiras colocadas no Índice de Desempenho do SUS (IDSUS), novo indicador criado pelo governo federal para avaliar o Sistema Único de Saúde, a maioria dos estados da Região Sul mostra estar no caminho certo quanto à melhoria do acesso e qualidade dos serviços da rede pública. A capital catarinense, Florianópolis, é uma das que se destacam dentre os 6,2% dos municípios que apresentaram melhor infraestrutura e condições de atendimento à população, em comparação aos demais. O feito pode ter sido reflexo da política adotada desde 2006, cujo esforço está voltado para a atenção básica à saúde. Atualmente, cerca de 110 equipes atuam na rede de serviços voltados à saúde da família, atendendo 90% da população, fato que, segundo a Secretaria de Saúde da Prefeitura de Florianópolis, a torna a primeira capital com maior cobertura do país. Para garantir esse desempenho, Jorge Zepeda, gerente da área de Atenção Primária da Secretaria, salienta que, apesar dos avanços, é necessário enfrentar alguns percalços, entre eles a pressão da população quanto à concepção do programa. “No modelo de Atenção Primária à Saúde (termo utilizado internacionalmente, e que inspirou a Atenção Básica à Saúde, do governo federal), o primeiro passo é o paciente se consultar com um clínico geral e não com um especialista. Isso gera uma rejeição da população, que está acostumada com o modelo antigo de saúde, no qual a ida ao especialista, sem consulta prévia a um clínico, era constante. Na verdade, esse costume só prejudica a pessoa, pelo fato de aquele especialista nem sempre estar a par do histórico do paciente e induzi-lo a tratamento e gastos que talvez não fossem necessários”, explica Zepeda. Entretanto, mesmo com as dificuldades em “bancar” o modelo, os resultados já aparecem. De 2006 a 2011, o índice de mortalidade infantil na capital catarinense para crianças abaixo de um ano caiu de 9,1 para 8,4 a cada mil nascidos vivos. Houve também redução de aproximadamente 28%, entre 2008 e 2011, na taxa de internações hospitalares. As causas estariam ligadas a doenças tratadas pelas equipes de atenção básica (hipertensão, obesidade, diabetes etc.) e ao aumento de consultas a gestantes — 74% delas foram atendidas sete ou mais vezes durante os meses de gestação. O índice de dentes cariados, obturados ou perdidos também sofreu queda de 67% entre 2003 e 2008 e houve incremento de 495% de alunos de medicina e enfermagem inseridos nas unidades de atenção primária. “Conseguimos adotar um sistema para as equipes que chamamos de ‘puro-sangue’, em que cerca de 90% dos profissionais são concursados. Ao garantir estabilidade, evita-se a rotatividade de profissionais e, assim, com a experiência adquirida e conhecendo o histórico do paciente, aumentamos a capacidade e eficiência nos atendimentos”, destaca Zepeda. Para sustentar os índices, a prefeitura de Florianópolis gastou, no ano passado, 21% de seu orçamento em Saúde, sendo que, por lei, municípios devem destinar à área o valor mínimo de 15% estabelecido pelo governo federal para os municípios. “Os recursos recebidos pelo Ministério da Saúde e do governo de Santa Catarina, somados, não são suficientes para custear nem 1/3 do que se gasta em atenção básica”, aponta Daniel Moutinho, diretor da área de Atenção Primária de Florianópolis. Zapeda informa que é preciso “mais dinheiro para manter as equipes. Hoje, a maior parcela dos repasses do governo federal vai para os hospitais, ou seja, para o que chamamos de nível de atenção à saúde de alta complexidade. É o nível que tem grande visibilidade política e o que mais sofre pressão da indústria farmacêutica. O pouco que resta vai para as áreas de média e baixa complexidade”. (T.T.) Revista Conjuntura Econômica- Fundação Getulio Vargas- 03/2012