MOISES MENDES DE OLIVEIRA Inovação tecnológica e conflitos éticos no fim da vida: Quem ganha quem perde? Maceió/AL 2011 MOISES MENDES DE OLIVEIRA Inovação tecnológica e conflitos éticos no fim da vida: Quem ganha quem perde? Trabalho de conclusão de curso apresentado a Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva em forma de artigo, como requisito para a obtenção do titulo de mestre em terapia intensiva sob orientação da Dr. Katia Regina e co orientação de enf. Juliana Maceió/AL 2011 MOISES MENDES DE OLIVEIRA Inovação tecnológica e conflitos éticos no fim da vida: quem ganha quem perde? ____________________________________ Orientador Aprovado em ________ de ____________________2011 Banca examinadora ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ Maceió/AL 2011 DEDICATÓRIA Dedico esse trabalho a Deus, a minha mãe e a minha esposa, que sempre me mostraram a luz mesmo quando estava na escuridão. AGRADECIMENTOS Todo trabalho de conclusão de curso e o próprio curso são batalhas que ninguém vence sozinho, por esse motivo, agradeço através dessas palavras a todos que de alguma forma me ajudou durante essa jornada. Agradecimento especial: Em primeiro lugar a Deus, pois sempre me guiou pelo labirinto da vida. A minha mãe Maria José e minha esposa Joelma jullyanne, pelo incentivo, apoio e por sempre estarem presentes em todos os momentos. Ao meu filho Raul Gabriel, por me trazer alegria nos momentos de tristeza. A minha orientadora Dr. Katia Regina por ter me apoiado e orientado. A minha co orientadora enfermeira Juliana por ter me orientado. Ao meu amigo e mestre, Dr. Jose Élson Gama, pelo apoio, conselhos e auxílios. Ao Dr. Douglas Ferrari e Dr. Rodrigo Tadine por todo conhecimento que me foi passado. Enfim, aos que contribuíram direta e indiretamente para a conclusão desse trabalho. INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E CONFLITOS ÉTICOS NO FIM DA VIDA: QUEM GANHA QUEM PERDE? TECHNOLOGICAL INNOVATION AND ETHICAL CONFLICT AT END OF LIFE: WHO WINS WHO LOSES? Moises Mendes de oliveira*, Dr. Katia Regina**, Enfermeira Juliana***. *Especialista em Fisioterapia em Terapia Intensiva pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva - SOBRATI **Medica Intensivista ***Enfermeira docente da Universidade Federal Vale do São Francisco RESUMO Nos últimos anos a tecnologia avançada, o desenvolvimento intelectual e competências profissionais específicas se fazem presente no tratamento do paciente critico. Neste panorama a busca para prolongar a vida ou retardar a morte traz a tona dilemas éticos, sociais, profissionais e legais. A bioética do século XXI faz ressurgir discussões sobre o fim da vida, alguns pontos importantes discutidos como o avanço tecnológico da medicina, o prolongamento da vida, os dilemas sobre a santidade da vida e sua qualidade no processo da morte nos ajuda a entender os limites terapêuticos a ser rotineiramente utilizado no pacientes terminais. Este estudo analítico objetiva demonstrar que medidas terapêuticas agressivas desnecessárias, consideradas práticas distanasicas conduzem o paciente terminal a uma morte lenta, sofrida, penosa. Conclui se, pois que , os conflitos gerados são benéficos e sempre devem conduzir a uma conduta que respeite a dignidade do ser humano em fase final da vida. Palavras – chave: Distanasia, Bioética, cuidados paliativos ABSTRACT In the last years advanced technology, intellectual development and specific professional skills have been present in the treatment of critically ill patients. In this scenario, the quest to extend life or to slow death brings up ethical, social, professional and legal dilemmas. Bioethics of century xxi makes end-of-life issues come up, some important points discussed like technological advances in medicine, postponing life without any limits, sanctity of life dilemmas and life quality in the process of death help us understand the therapeutic limits to be routinely used in terminally ill patients. This analytical study aims to demonstrate that aggressive and unneeded therapeutic initiatives, considered to be practical futilities, lead terminally ill patients to a slow and painful death. The conclusion is, therefore, that the conflicts generated are beneficial and should always lead to conduct that respects dignity of human being in the final stage of life. Key - words: Distanasia, bioethics, palliative care Introdução As Unidades de Terapia Intensiva (UTI) nas ultimas décadas tem se tornado uma concentração não somente de pacientes críticos e de tecnologia avançada, mas também de uma equipe multiprofissional com desenvolvimento intelectual e competências específicas, que tomam medidas terapêuticas extremas, buscando prolongar a vida em pacientes promissores ou retardar o processo de morte em pacientes não recuperáveis, trazendo a tona dilemas éticos, sociais, profissionais e legais1-4. Neste panorama, o uso de recursos tecnológicos passou a ser empregado rotineiramente no tratamento e recuperação do paciente critico, com resultados muitas vezes desanimadores, pois não prolongam a vida e sim ampliam o curso da morte, levando a uma obstinação terapêutica, tirando o direito do paciente de morrer com dignidade 5,6. A obstinação terapêutica, mais conhecida no Brasil como distanásia, termo pouco usado entre os profissionais da saúde porem é um ato amplamente utilizado pelos profissionais, é caracterizada por um prolongamento excessivo da angustia, do sofrimento, da morte do paciente terminal. Retrata a insistência de profissionais em reabilitar pacientes fora de possibilidade de cura, causando imenso desconforto ao paciente e seus familiares 7,8. Stefanini, Rosenthal e Simon definem como pacientes em fase terminal os enfermos que se esgotaram todas as possibilidades de tratamento terapêutico no processo de cura ou para prolongar a vida de forma honrosa. O uso indiscriminado de arsenal de novas técnicas e tecnologias para manter esses pacientes terminais vivos faz ressurgir discussões sobre o direito de morrer dignamente 2, 3, 9,10. Neste contexto, a ética medica fundamenta- se na idéia de que ´ enquanto há vida há esperança ´´ não devendo de forma alguma renunciar o tratamento de um paciente. Entretanto, essa ideologia leva a um impasse em situações extremas, quando se trata de buscar a cura em indivíduos onde a morte já se faz presente. Conjunturas como estas presentes nas unidades intensivas podem gerar duvidas, dilemas espirituais, emocionais e éticos entre a equipe e os familiares quanto a adequação moral de cada escolha 9-12. Nos anos 70, o medico Van Resselaer Potter criou o termo bioética visando integrar diferentes aspectos das ciências humanas e biológicas através da ética. Segundo Potter, “a bioética é a forma de integrar a ciência e a humanidade para se atingir uma nova sabedoria através do conhecimento biológico articulado com os valores humanos” 8, 9,11. A bioética ressurgiu no século XXI com copiosa afinidade dos dilemas criado pela distanásia, fazendo emergir a necessidade de discurçoes relacionadas à tomada de decisões sobre o prolongamento ou interrupção das medidas terapêuticas no paciente critico. Assim, se faz necessário esclarecer a equipe, ao paciente e aos familiares que e normal conformar- se com o tratamento proposto pela medicina, e que a recusa de uma terapêutica obstinada não e omissão de socorro, e sim respeito pelo ser humano 5,8, 11. Como forte aliada, a re-humanização do morrer surgiu contrariando a idéia de que a morte é um inimigo a ser combatido a todo custo, busca mostrar que a morte é um processo da vida e, no enfermo, a terapêutica deve visar a qualidade e o bem estar mesmo que a possibilidade de cura não seja possível 12. A crescente utilização de novos recursos tecnológicos e modalidades terapêuticas no tratamento do paciente crítico, traz o desafio de como e a te quando intervier de forma adequada e necessária no paciente grave. Este estudo justificasse pela necessidade de demonstrar que medidas terapêuticas agressivas desnecessárias conduzem o paciente terminal a uma morte lenta, sofrida, penosa e que a melhor conduta nesses casos é o respeito à dignidade. Metodologia Foi realizada uma revisão bibliográfica do tipo analítica entre os dias 09 de outubro de 2009 e 13 de novembro de 2010, em publicações de 2003 a 2009, constatada em livros e artigos científicos, encontrados em acervos de bibliotecas da Universidade Federal Vale do São Francisco (UNIVASF), Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e base de dados na internet: BIREME, SCIELO, LILACS E MEDLINE. Discussão A terapêutica invasiva sem possibilidade de recuperação ou cura, que obriga as pessoas a um processo de morte ansiosa, lenta e sofrida sendo sua suspensão questão de bom senso e racionalismo é considerado distanásia. O Conselho Federal de Medicina diz que a distanásia é imoral e desrespeitosa para com o paciente sendo sua pratica evitada 1,5,8,. Segundo Lepargneur a distanasia reflete a atitude orgulhosa de confiança na técnica, uma idolatria a vida, receio de encarar a morte, um processo evolutivo, de tratamento para ataque contra a dignidade do ser humano 1,4. Mota discute que tratamentos fúteis são instituídos porque é difícil presenciar o curso gradativo da morte; não se percebendo o limite entre o ideal e a futilidade terapêutica quando o que se proporciona são apenas sofrimento. A obstinação médica leva em conta a duração da vida e não sua qualidade, ou seja, há casos que o prolongamento da vida só causa sofrimento 7-12. Estudioso do assunto Mota relata que ate os anos 70 a tecnologia era limitada e pouco eficiente, porém um revolução surpreendente nas últimas décadas mudou este quadro. A criação de novos medicamentos, a inovação de aparelhos e técnicas deixou o processo de morrer controlável. Com mesmo pensamento Moreira (2004) diz que a ´´tecnologia instrumentalizou também o morrer´´ 8-10 . Engelhart, diz que os argumentos para justificar a distanasia são falsos. Quando os esforços médicos não conseguem reabilitar o paciente, deve se concentrar os esforços para manter a qualidade de vida. Na busca para definir o melhor termo Gafo em 1990 chamou de ortotanasia, que significa morrer em seu tempo, sem abreviar ou prolongar o processo de morte 3,6,11. No ano de 2006, o conselho federal de Medicina emitiu a resolução 1,805/2006, que habilita ao profissional medico limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do paciente terminal;desta forma essa resolução vem contribuir para reflexões futuras do assunto 2,5,8,12. A vida é um valor absoluto, que deve ser mantida, e o impossível deve ser feito para evitar a morte. Com o desenvolvimento da tecnologia os recursos favorecem a manutenção e prolongamento do processo de morrer, então ate quando investir 1,2. Ao longo dos anos a bioética vem discutindo sobre quais devem ser os limites terapêuticos a ser rotineiramente utilizado no pacientes terminais. De maneira que foi criado uma forte linha de pensamento que se opõe a praticas distanasicas 4,8-11. A bioética do século XXI traz a tona discussões sobre o fim da vida, alguns pontos importantes discutidos como o avanço tecnológico da medicina, o prolongamento da vida sem limites, os dilemas sobre a santidade da vida e sua qualidade no curso final da morte nos ajuda a entender e a escolher a melhor terapêutica para o paciente terminal 8,10-12. Seria os cuidados paliativos uma conduta racional, um caminho a ser seguido para evitar o prolongamento sofrido do curso da morte?Estudos demonstram que pacientes gravemente enfermos que participam de programas de cuidados paliativos tem grandes chances de aliviar seus sintomas incapacitantes e melhorar sua qualidade de vida. Desta forma o cuidado paliativo surge proporcionando grandes progressos nos cuidados do fim da vida, reinstituindo o bem estar global e a dignidade ao paciente grave, a possibilitando viver sua própria morte 7-10. Segundo Restrepo, aumentar a autonomia, a qualidade de vida, a dignidade, aliviando a dor, os sintomas físicos e prestar apoio emocional e espiritual aos pacientes e seus familiares são princípios dos cuidados paliativos 4,7,11. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) os cuidados paliativos são caracterizados por melhorias na qualidade de vida do paciente e de seus familiares diante de uma doença que ameaça a vida, prevenindo o sofrimento, aliviando os transtornos psicológicos e espirituais. Cuidados globais e ativos que melhoram a qualidade de vida dos enfermos cuja doença não mais responde a propostas curativas 3,7,9. Assim como em outros países a França incentiva uma política de cuidados paliativos obrigando os estabelecimentos de saúde incorporar cuidados paliativos em seus planejamentos de atendimento. Fato importante para um país emergente como o Brasil, que ainda não possui uma política de saúde publica que incentiva e reconhece a importância dos cuidados paliativos 2,5-9. Os grandes benefícios alcançados pelo movimento do cuidado paliativo não os livraram de criticas e questionamentos. Logue em 1994 critica os programas especialmente por não discutirem sobre o direito de morrer; e questiona se os cuidados paliativos seriam o melhor para todo o paciente terminal; a autora demonstra ainda que talvez estejam havendo um endeusamento da morte 11,12. Longue vai mais afundo e relata que os pacientes que participam desses programas são ultra selecionados, que muitos em pleno sofrimento nem sequer são avaliados pelo programa e que pacientes como aidéticos em fase terminal, idosos com múltiplas disfunções entre outros não se beneficiam dos cuidados paliativos 9-12. A autora argumenta, ainda, que os programas de cuidados paliativos são muito importantes e ajudam a buscar uma boa qualidade de vida, porem está longe de ser a única resposta para as discussões sobre questões do fim da vida 9-12. Decisões a serem tomadas diante do paciente terminal conduzem a condições conflitava, onde todas as possibilidades devem ser consideradas – base das questões éticas. O estudioso Segre,recomenda que organize em ordem de importância os conflitos, visando proporcionar o melhor suporte para os que estão sob nossos cuidados 10,11. Considerando os diversos estudos, dilemas éticos e graus de debates proporcionados pela bioética, pode se observar que divergências de opiniões e conflitos éticos estão presentes no cotidiano dos que conduzem o tratamento do paciente terminal. No em tanto, os conflitos gerados devem levar sempre a uma conduta que respeite a dignidade do ser humano em fase final da vida 1-8. Conclusão As rotinas de tratamentos facilmente tornam-se vinculado ao domínio tecnológico da medicina atual. A sacralidade da vida nutri a tendência de usar o poder da medicina para prolongar a vida em condições inaceitáveis. Quando a terapia médica aplicada não consegue mais atingir os objetivos de recuperar o enfermo ou aliviar o sofrimento, novas investidas tornam-se obsoletas. A vida é um valor absoluto, que deve ser mantida, porem, a morte deve ser entendida e esperada como o último resultado dos esforços empregados, o óbito é parte do ciclo da vida humana, então, tratar o ser humano que está morrendo em sua totalidade deve fazer parte dos objetivos da terapia medica. A equipe multidisciplinar, que fundamenta sua rotina de tratamento na solidariedade e compaixão no cuidar do ser humano e, que se recusa a praticar a distanásia, pauta-se na certeza de que a deliberação livre sobre o momento de morrer é um direito inalienável do doente e que deve ser respeitado em nome da manutenção de sua dignidade. Bibliografia 1 - KOVÁCS, Maria Julia. Bioética nas questões da vida e da morte. Psicologia USP, vol. 14,n.2, São Paulo 2003. 2 – TOFFOLETTO, Maria Cecilia; ZANEI,Suely S. 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