O PROBLEMA DA “ESCRITURA” TEM JEITO? DOES THE PROBLEM OF WRITING HAVE A SOLUTION? LEMOS, Simone MESCKA, Paulo Marçal RESUMO Objetiva-se com este artigo relatar e descrever o processo de elaboração e desenvolvimento do projeto “Ensino de Redação: Problemas e Perspectivas”, trabalhado em parceria com os professores de Língua Portuguesa do Ensino Médio, insertos na 15ª CRE. O trabalho centra-se na elaboração de material didático apropriado para ser desenvolvido, especificamente, na construção de uma seqüência didática, orientada ao ensino da produção de textos do gênero jornalístico-opinativo, aplicação dessa proposta aos alunos e a avaliação dos efeitos na produção de textos desse gênero. O projeto foi aplicado a partir da adoção de uma concepção enunciativa de linguagem, na qual, entre outras, a noção de gênero do discurso é norteadora das atividades didáticopedagógicas. Palavras-chave: ensino de redação, aprendizagem significativa, gênero jornalístico-opinativo. ABSTRACT This article aims to report and to describe the process of elaboration and development of the project: “Teaching writing: Problems and Perspectives”, which was performed together with Portuguese teachers from 15ª CRE that work in high school education. The work is based on the elaboration of suitable didactic materials to be developed specifically on the construction of a didactic sequence towards teaching text production on journalistic-opinionative genre, the application of this proposal to students and the evaluation of the effects on the production of texts of this genre. The project was applied from the adoption of an enunciative conception of the language, in which, among others, the notion of the genre of discourse is the guide of didactic-pedagogical activities. LEMOS, Simone MESCKA, Paulo Marçal Key words: teaching of writing, significant learning, journalistic-opinionative genre. 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS: Ao se tematizar o ensino e aprendizagem da língua escrita na escola, automaticamente se reporta às dificuldades enfrentadas tanto pela escola e professores, quanto pelos alunos, que, não raramente, são reprovados nesse quesito por não se manifestarem de forma clara o seu discurso. Vive-se a crise da produção escrita! Será que o problema da “escritura” tem jeito? Atualmente, os caminhos da leitura e produção textual na escola estão sendo repensados por muitos estudiosos, sugerem que o professor de língua materna observe a linguagem como meio de interação e a língua como um objeto heterogêneo, visando o texto como artifício básico do ensino-aprendizagem. O docente, enquanto responsável por esse processo dinâmico, deve possibilitar a seus alunos edificarem o seu próprio conhecimento e sua concepção de mundo, entendendo e respeitando o fato de que todo e qualquer indivíduo possui saberes importantes adquiridos fora da escola, bem como cultura e diversidade lingüística. Cabe à instituição escolar propiciar aos alunos condições para que se insiram, com eficiência, em eventos de letramento que necessitam a ação (leitura e produção) de gêneros textuais diversos, objetivando uma formação adequada e proficiente. Observa-se, porém, uma disparidade entre a teoria e a prática efetiva nas escolas, ocasionada, em geral, pela falta de clareza das concepções e crenças que orientam o fazer de um educador. Ou seja, embora, acredite possuir conhecimentos teóricos derivados de sua formação acadêmica e contínua, grande parte dos professores permanecem ainda hoje adotando posições que demonstram a compreensão da linguagem como mero instrumento de comunicação. Deste modo, muitos educadores analisam a língua como um código formal, composto por estruturas lingüísticas que “transmitem” de maneira imparcial, conhecimentos e experiências, restringindo as aulas de português ao ensino de gramática limitada à apresentação de nomenclaturas e inúmeros exercícios de classificação de palavras e orações. Outros, são adeptos ao estudo da frase como unidade máxima e incontestável de análise, aderem com assiduidade a exercícios independente de qualquer contexto, objetivando fazer analogia à gramática LEMOS, Simone MESCKA, Paulo Marçal textual, simplesmente por identificar e/ou classificar morfossintaticamente os elementos ou segmentos selecionados. Não há preocupação, por exemplo, com as escolhas lingüísticas procedentes das condições em que os textos são produzidos (quem diz, o que diz, para quem diz, em que situação o faz?). Como conseqüência, percebe-se que a escrita torna-se algo distante e pouco significativo, justamente por ser um segmento de propostas artificiais, incapazes de permitir ao aluno, sentir-se realmente motivado a escrever, já que em geral, seu texto é avaliado pela troca de consoantes, falta ou excesso de acentuação e quantidade de acertos gramaticais, parece não haver o real interesse pelo conteúdo, a forma como foi escrita, se atingiu ou não os elementos da macroestrutura demonstrando domínio quanto à estrutura do texto e seus componentes essenciais. Dessa forma, o aluno passa a pensar que não há razão efetiva para produzir, já que não possui um interlocutor preocupado com o que está sendo expresso, mas sim, se as aulas de gramática surtiram efeito. Constitui-se, assim, a triste idéia de inutilidade ou de artificialidade das aulas de língua portuguesa. Logo, a concepção que se adquire é de que: “O objetivo da escola é ensinar o português padrão, ou, talvez mais exatamente o de criar condições para que ele seja aprendido. Qualquer outra hipótese é um equívoco, político e pedagógico”, (GERALDI, 1995, p.33). Imerso nesse contexto, surge a figura do professor que, apreensivo com o resultado das produções de seus alunos, sente-se perdido quanto a que estratégias deve assumir visando uma produção eficaz e coerente. Em meio à insatisfação de alunos e educadores surge o projeto “Ensino de Redação: Problemas e Perspectivas” cuja característica é a de projeto-ação, comprometido com essa realidade, que visa a elaboração de material didático apropriado, almejando a construção de uma seqüência didática, dirigida para o ensino da produção de textos, pertencentes ao gênero jornalístico-opinativo, aplicação dessa proposta aos alunos e a avaliação dos efeitos na produção de textos do referido gênero. O projeto foi aplicado a partir da adoção de uma concepção enunciativa de linguagem, especificamente, a noção de gênero do discurso que segundo Kaufman e Rodríguez (1995) caracteriza-se como unidades comunicativas, que manifestam diferentes intenções do autor: objetivando informar, convencer, seduzir, entreter e sugerir estados de ânimo, etc. Bakhtin (1997) assume a concepção de gênero, como sendo tipos relativamente estáveis de enunciados que são elaborados pelas diferentes esferas de utilização da língua. Esses aspectos, entre outros, norteiam as atividades didáticas organizadas no decorrer desse projeto. LEMOS, Simone MESCKA, Paulo Marçal A escolha do gênero jornalístico-opinativo se dá pelas inúmeras possibilidades de reflexão sobre o texto selecionado, permitindo que o aluno compreenda e se posicione à frente das realidades sociais, sabendo olhar para elas a partir de diferentes pontos de vista, confrontando e analisando-as, a fim de construir os próprios argumentos, além de instigar a criatividade, a curiosidade e a capacidade de observação dos alunos, possibilitando haver um ensino-aprendizagem realmente eficaz e dinâmico em sala de aula. Para Marcuschi (2005, p.26) “a produção dos gêneros textuais na sociedade mostra como a própria sociedade se organiza em todos os seus aspectos. Os gêneros são um tipo de gramática social, isto é, uma gramática de enunciação”. Percebe-se, portanto, que este trabalho visa a inserção de uma proposta de produção escrita calcado no gênero jornalístico-opinativo, realmente eficaz, que motive o aluno a pensar reflexivamente através das leituras realizadas, objetivando provocar reações em um interlocutor definido, ou seja, que o aluno se sinta instigado a escrever, e que escrevendo possa se expressar enquanto cidadão crítico e racional, passando a perceber a escrita e a leitura como ensinamentos fundamentais de seu conhecimento e não como mera exigência curricular. 2. A PRODUÇÃO TEXTUAL NAS ESCOLAS DA REGIÃO Há anos vem se discutindo nas Instituições Escolares qual a melhor maneira de se promover entre os alunos uma escrita que corresponda aos objetivos da macroestrutura e que promova um senso crítico e observador no articulista. Quando se aproxima a data do concurso vestibular, essas preocupações são compartilhadas por todos os jovens, que ao sair do Ensino Médio, aspiram uma vaga na universidade. Essa mesma aflição também é vivenciada pelos professores que, muitas vezes, se sentem constrangidos com a exigência dos alunos e familiares quanto ao bom desempenho de leitor e escritor, que deve ser comprovado nos mais diversos concursos. Essa angústia é inteiramente compreensível, ponderando-se que, em pesquisa executada no ano de 2001, nomeada “Análise dos Aspectos Macroestruturais das Redações do Vestibular da URI - Campus de Erechim” verificou-se que somente 15% dos textos elaborados atendiam plenamente às questões macroestruturais. Com base nos resultados dessa pesquisa fez-se necessário a criação e execução do LEMOS, Simone MESCKA, Paulo Marçal projeto “Ensino de Redação: Problemas e Perspectivas”, que contou em sua primeira fase com a colaboração de três escolas da região, aqui denominadas A, B e C. A partir da observação de como eram propostas as produções, a correção, e os debates e/ou atividades posteriores à criação, constatou-se a importante relação entre a metodologia utilizada em sala de aula e o desempenho dos alunos. Foram vários os aspectos analisados, entre eles, cabe ressaltar a artificialidade relacionada à produção textual, seja na escola A, na qual havia um trabalho contínuo com a escrita, destinando dois períodos semanais à redação ou nas escolas B e C em que esse trabalho mostrou-se esporádico, visto que era efetuada apenas uma produção textual por semestre. Além disso, verificou-se que os textos produzidos não tinham em vista um destinatário, uma meta a atingir ou efeitos a produzir no interlocutor. A prática de reescritura mostrou-se pouco efetiva, ocorrendo apenas na escola A. Desse modo, pôde-se perceber que o aprimoramento do desempenho comunicativo dos alunos relativo à escrita não ocorre de maneira eficiente nas escolas, cedendo espaço para a produção sem objetivos específicos. 3. GÊNEROS DISCURSIVOS Para Guedes (2003) a escrita fora do ambiente escolar dá-se infalivelmente por uma necessidade de comunicar algo a alguém, seja através de um e-mail, carta ou bilhete, o que ocorre na verdade, é a produção de discursos variados em situações comunicativas específicas. Ou seja, os alunos escrevem textos que condizem com determinados gêneros do discurso, ao contrário, do que geralmente ocorre nas Instituições Escolares, que avaliam somente o como dizer e as tipologias empregadas (dissertativa, narrativo-descritiva). A língua quando analisada como “[...] um fato social, cuja existência se funda nas necessidades da comunicação”, (BAKHTIN) demonstra seu uso significativo na arte de comunicar, da mesma forma, os Gêneros Discursivos inter-relacionados buscam revelar as diferentes intenções do autor (informar, persuadir, seduzir, recomendar) empregados na comunicação. Os textos do jornal, por exemplo, são classificados em quatro gêneros; informativo, opinativo, interpretativo e diversional, obedecendo a três funções comunicativas (informar, LEMOS, Simone MESCKA, Paulo Marçal orientar e divertir). O gênero opinativo é formado por textos que objetivam orientar, subdividindo-se nas seguintes categorias: editorial, artigo, crônica, charge e resenha. Porém, “essa função comunicativa não é o único componente que caracteriza um gênero discursivo, já que seus propósitos enunciativos também dependem das condições de sua produção e circulação” (CARVALHO, 2003). Dessa forma, as funções comunicativas definem-se como conhecimentos que facilitam a escolha de um determinado gênero discursivo quando se relaciona o objetivo da escrita às funções existentes. Segundo Bakhtin (1997), o gênero discursivo é configurado por três elementos: 1) Conteúdo temático: refere-se a abordagem dos temas, considerando o tempo e o contexto; 2) Estilo: relaciona-se à seleção dos recursos léxicos, fraseológicos e gramaticais utilizados para compor o gênero. 3) Construção composicional: diz respeito às formas de composição e acabamento dos enunciados. Analisando a concepção Bakhtiniana, Silva (1999, p. 92) assegura que “a noção de gênero discursivo reporta ao funcionamento da língua em práticas comunicativas reais e concretas, construídas por sujeitos que interagem nas esferas das relações humanas e da comunicação”. Ainda segundo Bakhtin, os gêneros discursivos podem ser classificados em primários (simples) ou secundários (complexos), esses geralmente ocorrem de forma escrita. Porém, eles não são impenetráveis já que “[...] durante o processo de sua formação os gêneros secundários absorvem e transmutam os gêneros primários” (Ibid. p. 281). Ou seja, toda e qualquer produção textual estruturada a partir de um determinado gênero, acabará recebendo influências da fala do aluno. Então, pode-se afirmar que é extremamente importante conhecer o gênero que se deseja utilizar para que haja um bom desempenho textual (comunicativo). Esse pensamento pode ser afirmado nas palavras de Bakhtin: “É de acordo com nosso domínio dos gêneros que usamos com desembaraço, que descobrimos mais depressa o melhor da nossa individualidade neles...” (Ibid. p. 3004). Logo, quando se trabalha os gêneros textuais como auxiliares na criação, ocorre a LEMOS, Simone MESCKA, Paulo Marçal significação da escrita, possibilitando a relação entre língua e sociedade, sociabilizando linhas ideológicas, resultando, desse modo, em crescimento e conhecimento. Assim, faz-se necessário a leitura de vários textos de um gênero, para que o aluno adquira informações e suporte para sua escrita, já que ninguém é inédito na sua produção, sempre há respaldos de outras criações. Baltar (2004) busca na psicologia cognitivista desenvolvimentista as seguintes sugestões didáticas: a) iniciar bem cedo os alunos em todos os gêneros de texto e tipo de discurso; b) colocá-los em situações de produção de textos que lhes permitam descobrir os parâmetros enunciativos e as implicações comunicacionais de sua produção; c) sistematizar os trabalhos de observação permitindo-lhes correlacionar a forma global de organização dos textos com suas manifestações lingüísticas de superfície. Após, a sistematização dos conceitos teóricos aqui apresentados, torna-se possível, manter uma visão positiva sobre a produção textual, acreditando ser viável uma significação à escrita dos alunos, promovendo sentido as aulas de Língua Portuguesa. 4. RAZÕES PARA SE TRABALHAR COM TEXTO JORNALÍSTICO-OPINATIVO EM SALA DE AULA A escola deveria viabilizar a abordagem da vida cotidiana ligada ao ensino das disciplinas, designando a instituição não como mera repetidora de informações, mas sim, como um espaço sócio-discursivo, em que alunos e professores pudessem partir de problemas reais para chegarem à inserção de conteúdos fundamentais à aprendizagem. Pensando nesses ideais, no século XX, Celestin Freinet mostrou-se radicalmente contra o processo de alheamento vivido pela escola, condenava a oposição entre cultura popular e a intelectualista, não compreendendo a real razão do afastamento entre professores universitários e professores primários, já que entendia que um segmento teria muito a aprender com as experiências do outro e vice-versa. Para Freinet, a escola distanciava-se da vida dos alunos, tratando sobre regras longínquas que em momento nenhum se preocupavam com o conhecimento efetivo, não despertando nos educandos o senso crítico e argumentativo que deveria existir, ao contrário, LEMOS, Simone MESCKA, Paulo Marçal tornava-os seres passivos e subservientes à sua própria realidade. Em sua concepção, havia em meio aos educadores a necessidade de um “despertar para a educação”, ou seja, pôr-se a analisar os alunos como indivíduos capazes de produzir, levando-os a observar as pessoas e o mundo em que se encontram inseridos. Cabe pois, ao professor, respeitar e acreditar nos seus alunos (com suas qualidades e lacunas) buscando construir o conhecimento e prepará-los para as tarefas da vida. Visando esta proposta, o trabalho com o gênero jornalístico-opinativo torna-se um singular meio de aprendizagem, já que prioriza a leitura e também a escrita, viabilizando um processo no qual o aluno refaz-se consecutivamente, “elaborando seu conhecimento do mundo, da língua, de si mesmo” PAZINI (1998). O primeiro passo, cabe salientar, é promover o contato dos alunos com os mais diversos jornais, em busca da assimilação de suas características físicas, bem como a subdivisão dos assuntos abordados em suas seções (basicamente o editorial e o artigo opinativo). Acerca disso, há necessidade de se observar o jornal como um conjunto dinâmico de diferentes textos (ponto de vistas) que oportunizam um olhar diferenciado e a formação de inúmeras análises sobre um mesmo foco. Já no que tange aos aspectos discursivos, é importante analisar o interlocutor ao qual se destina o texto, conhecer a finalidade exposta para a produção do mesmo, definição do veículo (revista/jornal) no qual o texto foi veiculado e lugar de circulação do produto final. Dessa forma, o aluno, enquanto cidadão do/no mundo pode ampliar os seus conhecimentos, buscando em diferentes fontes argumentos para seus pensamentos, entendendo que um fato ou um acontecimento não se dá por si só, da mesma forma, que nenhum escrito é inédito, todos derivam de idéias e acepções absorvidas de leituras e compreensões anteriores. O professor que provoca essa leitura crítica e plural em sala de aula está desempenhando o seu papel de educador consciente e formador de opinião, instigando em seus alunos a motivação (tão necessária) para a leitura e a escrita realmente eficaz. 4.1 CARACTERÍSTICA DO TEXTO JORNALÍSTICO-OPINATIVO LEMOS, Simone MESCKA, Paulo Marçal O artigo de opinião é um gênero do discurso em que se busca convencer o outro de uma determinada idéia, influenciá-lo, transformar os seus valores por meio de um processo de argumentação a favor de uma determinada posição assumida pelo produtor e da existência de possíveis opiniões divergentes. É um processo que prevê uma operação constante da sustentação das afirmações realizadas, por meio da apresentação de dados consistentes, que possam convencer o interlocutor. É, portanto, condição indispensável, para a produção de um artigo de opinião, que se tenha uma questão contro-versa a ser debatida, uma questão referente a um tema específico capaz de suscitar uma polêmica em determinados círculos sociais. Todo jornal conserva seções ou páginas inteiras (conforme o veículo) para artigos opinativos, alguns seguem o raciocínio do editorial, outros por sua vez, são escritos em primeira pessoa, expressando idéias diferentes sobre um mesmo fato, sendo de responsabilidade de quem os assina. Em sala de aula, o artigo opinativo proporciona debates sobre diversos assuntos, já que consiste na exposição de pontos de vista, formando um leitor mais crítico e argumentativo, além de proporcionar sentido à produção textual, já que o aluno estará sendo motivado a escrever sobre algo com o qual poderá ter contato, seja através de pesquisas ou vivenciando o que está escrito. O trabalho com esse gênero faculta um crescimento diferenciado enquanto cidadão, pois é através desse mecanismo que o aluno pode se posicionar perante fatos e idéias, comparando, observando e extraindo o que realmente será útil em sua vida, exercitando, assim o senso de discernimento. 4.2 A LINGUAGEM DO TEXTO JORNALÍSTICO-OPINATIVO Outro fator fundamental para a análise do gênero jornalístico-opinativo, diz respeito à linguagem empregada. Deve-se buscar entender qual a intenção dos locutores ao usarem essa ou aquela expressão, bem como, prestar atenção naquilo que fica implícito, propositalmente, pelo enunciador. Geralmente o artigo de opinião constrói o conteúdo temático de forma bem estruturada, caracterizando-se pelo uso de sentido denotativo, argumentos lógicos e adjetivação. Além de uma argumentação bem elaborada baseada em fatos concretos. O LEMOS, Simone MESCKA, Paulo Marçal desenvolvimento do texto se dá por confronto de informações, desgastando o fato contrário. Alguns textos desse gênero fazem uso da interrogação, para estabelecer relação entre o autor e o leitor. Outra característica que pode ocorrer é o uso dos tempos verbais do presente do indicativo - ou do subjuntivo - na apresentação da questão, dos argumentos e contraargumentos, assim como, o uso de aspas que podem indicar um pensamento de outro escritor ou ressaltar/questionar uma frase, palavra ou expressão, assim como a presença de operadores e organizadores textuais discursivos. Conhecer e entender a linguagem do gênero jornalístico-opinativo permite ao aluno uma visão menos romantizada sobre as verdadeiras intenções desse texto, tornando-o mais crítico e responsável com a escrita na análise do fato veiculado. 5. APLICAÇÃO DOS CONHECIMENTOS TEÓRICOS: BUSCA POR UMA PRODUÇÃO TEXTUAL EFICAZ A partir dessas reflexões e verificações, desenvolveu-se a segunda fase do projeto “Ensino de Redação: Problemas e Perspectivas”. A qual contou com nove escolas da 15ª CRE, totalizando sessenta horas de atividade, em parceria com os professores da URI Campus de Erechim. Buscou-se fazer uma análise da produção textual na região, retomando conceitos teóricos sobre os gêneros discursivos, essencialmente o jornalístico-opinativo, visando estudar uma prática diferenciada de produção textual nas Instituições de Ensino. 5.1 OBJETIVOS E RAZÕES QUE MARCAM O PROJETO: “ENSINO DE REDAÇÃO: PROBLEMAS E PERSPECTIVAS” A proposta de trabalho elaborada no projeto é baseada de acordo com algumas reflexões, as quais visam um compromisso claro com a formação do aluno, enquanto cidadão do/no mundo, possibilitando compreender criticamente as realidades sociais, analisando diferentes concepções e constituindo seu próprio ponto de vista sobre os fatos. Para tanto, é considerado e respeitado o momento sensível pelo qual os discentes passam - a adolescência quando diversos valores são contestados, recusados, aceitos, abandonados, provocando novas relações com o outro, com a sociedade e consigo mesmos. LEMOS, Simone MESCKA, Paulo Marçal Em se tratando de Língua Portuguesa, objetiva-se a criação de uma situação comunicativa intra-sala de aula que promova o contato com os diferentes sentidos constituídos pelos alunos, nos diversos meios sociais em que participam, oferecendo uma proficiência que possibilite uma escrita analítica, reflexiva, crítica e com argumentação fundamentada. 5.2 SEQÜÊNCIAS DIDÁTICAS As atividades planejadas durante a execução do projeto, são desenvolvidas de maneira seqüenciada com o objetivo de tematizar aspectos envolvidos na produção textual relativo ao gênero jornalístico-opinativo. A partir da análise dos conhecimentos que os alunos possuem sobre o gênero, faz-se um mapeamento das necessidades de aprendizagem, visando a priorização de aspectos a serem abordados posteriormente. Leva-se em conta, ainda, a organização adequada do tempo de realização e seqüênciação das atividades; permitindo a elaboração textual, a troca de opiniões com colegas e professores e a avaliação das tarefas apresentadas. 5.3 MOVIMENTO METODOLÓGICO Buscou-se considerar os seguintes aspectos: a) Isolamento do aspecto a ser trabalhado; b) construção de um corpus representativo do aspecto a ser abordado, analisando-se os fatos lingüísticos, verificando possíveis regularidades; c) análise do corpus, possibilitando o agrupamento dos dados; d) organização e registro das conclusões produzidas pelos alunos; e) apresentação da metalinguagem e aproximação conceitual; f) exercícios elaborados de acordo com o assunto proposto; g) re-investimento dos diversos conteúdos trabalhados na revisão e refacção do texto já elaborado e, posterior produção. 5.4 ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO LEMOS, Simone MESCKA, Paulo Marçal Objetivando resultados positivos em sala de aula, relativos à escrita, elaborou-se, inicialmente, uma proposta de estudo de três artigos de opinião, que contemplassem os aspectos lingüísticos assim como os discursivos, implicando em um encaminhamento para a produção textual. Nesse trabalho, formulou-se um roteiro de atividades para melhor execução do projeto, que abrangia os seguintes questionamentos: Qual o assunto geral dos três textos? Qual delimitação dada pelos articulistas em cada texto? Que argumentos cada articulista utiliza para defender sua tese? Na seleção argumentativa, o autor parte do geral para o particular ou persegue o caminho inverso? Segundo o seu entendimento, houve informações novas no texto? Destaque-as. Elas apareceram em todos os textos e foram abordados de forma idêntica? Pode-se inferir que há um público-alvo (enunciatário) específico? Quem é? Comprove? Para você, qual foi a intenção do autor ao produzir cada texto? Justifique. O autor exercita a intertextualidade? Se o faz, fortalece com esse expediente a argumentação? Em cada parágrafo há conclusão ou esta aparece no final do texto? Após a leitura e discussão dos textos, que outras informações você acrescentaria? Julga-as procedentes? Por quê? Apresentaria um esquema da organização das idéias contempladas pelo autor. Produção: Posterior a esse trabalho ocorreu a elaboração de um projeto de ensino de produção textual por escola, quando então, os educadores relataram ter promovido o contato dos textos LEMOS, Simone MESCKA, Paulo Marçal jornalísticos com os alunos, visando as características em comum entre os textos lidos. Em seqüência, definiram a temática junto ao grande grupo e localizaram artigos referentes ao assunto escolhido a fim de organizar uma Hemeroteca, que serviu como um banco de dados para a produção. O próximo passo, foi a seleção de alguns textos considerados mais significativos para debate e dissecação (algumas escolas optaram por levar profissionais de outras áreas, para enfatizar o tema proposto). Depois de envolver os alunos, foi sugerida a produção textual a partir de um encaminhamento que explicitasse o público-alvo, os objetivos a atingir e um possível suporte para publicação (o que serviu como fator motivador da atividade). Com os textos produzidos, os alunos puderam socializá-los, permitindo comentários e sugestões. Em seguida, as produções passaram pela fase de “bilhetamento”, que consistiu em uma correção diferenciada, em que além das modificações formais necessárias, o professor registrou sugestões para uma argumentação mais convincente e tópicos a serem explorados entre outros aspectos que objetivavam um aperfeiçoamento da escrita. O próximo passo, caracterizou-se pelas reescrituras e respectivos bilhetamentos. (Esse procedimento se repetiu tantas vezes quantas foram necessárias). Por fim, os alunos juntamente com o professor produziram um painel, relacionado à temática dos textos, com as versões finais dos mesmos sendo expostos no II Fórum do Conhecimento, ocorrido no mês de agosto de 2005, na URI Campus de Erechim. Os resultados atingidos nessa fase foram significativos, já que a produção textual muito discutida nas Instituições de Ensino mostrou-se, nesse processo, efetiva e singular, transformando o espaço da sala de aula em um lugar repleto de trocas de conhecimento, onde o aluno mostrou-se motivado para a escrita, tendo seu trabalho valorizado e o educador igualmente motivado por promover um ensino realmente eficaz. A terceira e atual fase do projeto visa dar continuidade a esses bons resultados, tendo como parceiros, nessa etapa, sete escolas da região. Além de continuar a dar suporte aos professores, colaborando nas propostas de elaboração de uma produção textual adequada, com seqüência didática instruída e avaliações positivas, foram selecionados diversos textos do gênero jornalístico-opinativo, envolvendo assuntos atuais, formando assim uma Hemeroteca, que servirá como auxílio ao trabalho do educador. Portanto, torna-se claro o quanto foi e é positivo o projeto: Ensino de Redação: LEMOS, Simone MESCKA, Paulo Marçal Problemas e Perspectivas, pois atingiu de forma ímpar seu objetivo de auxiliar no ensinoaprendizagem, deixando de somente tomar conhecimento das problemáticas da educação e partindo para a elaboração de melhores condições de ensino, visando alunos, professores e escolas satisfeitos e bem estruturados. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A parceria estabelecida entre a universidade e as escolas de Ensino Médio envolvidos no projeto “Ensino de Redação: Problemas e Perspectivas” conquistou sua finalidade de redimensionar a produção textual nas escolas co-participantes, já que através das atividades que visavam concordância entre teoria e prática, proporcionou uma nova visão sobre a produção textual em sala de aula, tornando-a real e significativa. Segundo relatam os professores parceiros, a elaboração de atividades que almejavam a leitura crítica do gênero jornalístico-opinativo, a produção textual através de uma situação comunicativa entre os articulistas e a reescritura a partir do bilhetamento do educador, mostrou-se extremamente eficiente, pois promoveu o crescimento dos alunos, modificando sua atitude em sala de aula, já que passaram a analisar as aulas de Língua Portuguesa como uma oportunidade de expor seus pensamentos e não mais como mera exigência curricular. Na escola e fora dela mostraram-se mais participativos, observadores e críticos, enfim, alcançouse a motivação de educadores, alunos e Instituições envolvidas no projeto em questão. Contudo, percebe-se que ainda há necessidade de mais projetos nessa linha, com abrangência maior, que busquem uma educação mais coerente com seus princípios e que vise a produção textual como uma prática significativa e importante para o crescimento pessoal do aluno, formando-o não somente para concursos e testes, mas sim para uma convivência sadia com o outro e consigo mesmo. A gênese Bakhitiniana, assimilada por pensadores e cientistas da linguagem nacionais e internacionais, sacramentada nos PCNs chega às escolas alertando que a linguagem não existe para ser tratada teoricamente, ela vai além da alfabetização, faculta o letramento quando não se constitui num fim em si mas possibilita momentos de troca, entretenimento, aprofundamento, socialização, interlocução e exercício cidadânico. “Argumentar é, pois, em última análise, a arte de, gerenciando informação, convencer o outro de alguma coisa no plano LEMOS, Simone MESCKA, Paulo Marçal das idéias e de, gerenciando relação, persuadi-lo, no plano das emoções, a fazer alguma coisa que nós desejamos que ele faça”. (ABREU, 2005, p. 26). AUTORES Simone Lemos - Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - Bolsista do PIIC/URI de agosto de 2005 a agosto de 2006. - [email protected] Paulo Marçal Mescka - Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Professor Mestre em Língua Portuguesa – [email protected] REFERÊNCIAS ABREU, S. A. A arte de argumentar gerenciando razão e emoção. Cotia SP: Ateliê Editorial, 2005. BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes,1992. BALTAR, Marcos. Competência discursiva e gêneros textuais: uma experiência com o jornal de sala de aula. Caxias do Sul, RS: Educs, 2004. BONINI, Adair. Ensino de gêneros textuais: a questão das escolhas teóricas e metodologias. Trabalhos em lingüística aplicada, 2001, 7-23. BRÄKLING, Kátia Lomba. Trabalhando com artigo de opinião: re-visitando o eu no exercício da (re) significação da palavra do outro. In: Rojo, Roxane (2002). A prática da Linguagem em sala de aula. 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