Pessoa, Fernando António Nogueira de Seabra (1888

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Pessoa, Fernando António Nogueira de Seabra (1888-1935) O maior poeta
português do século XX. Morre em 30 de Setembro de 1935, com 47 anos.
Educado na África do Sul, onde a família se instala a partir de 1895, chega a
frequentar a universidade de Capetown (1903-1904), depois de estudar na
Commercial School de Durban. Vive profissionalmente em Lisboa como
correspondente comercial, desde 1908, trabalhando em publicidade a partir de
meados da década de vinte. Um dos fundadores da Orpheu, em 1915.
Colabora em A Águia. Tem fundamentais páginas de reflexão política, onde se
assume como feroz crítico do modelo da I República, chegando a exaltar o
sidonismo do Presidente-Rei e, depois, a justificar a necessidade de uma
ditadura militar. Contudo, não deixa de se manifestar como crítico agreste do
salazarismo. Apesar de adepto do modernismo e de, assim, ter algumas
coincidências com o nascente fascismo, é fortemente marcado pela educação
britânica de cariz liberal. Contudo, o essencial das respectivas ideias políticas
tem a ver com a teoria política de Portugal, onde assume uma perspectiva
messianista e quintimperialista. Em síntese, quer aquilo que chegou a sintetizar
como um nacionalismo liberal.
A ideia liberal
A defesa acérrima da ideial liberal aparece nomeadamente na Revista de
Comércio e Contabilidade que edita entre Janeiro e Junho de 1926. Aí salienta
que quanto mais o Estado intervém na vida espontânea da sociedade, mais
risco há, se não positivamente mais certeza, de a estar prejudicando; mais
risco há, se não mais certeza, de estar entrando em conflito com leis naturais,
com leis fundamentais da vida, que, como ninguém as conhece, ninguém tem a
certeza de não estar violando. E a violação de leis naturais tem sanções
automáticas a que ninguém tem o poder de esquivar-se. Pretendendo corrigir a
Natureza, pretendemos realmente substituí-la, o que é impossível e resulta no
nosso próprio aniquilamento e do nosso esforço. Noutro local observa que o
melhor regime político é aquele que permita com mais segurança e facilidade o
jogo livre e natural das forças (construtivas) sociais, e que com mais facilidade
permita o acesso ao poder dos homens mais competentes para exercê-lo.
Conservantismo
Adopta, aliás, posições bastante próximas daquilo que designa por
"conservantismo", que "consiste no receio de infringir leis desconhecidas em
matéria onde todas as leis são desconhecidas". Porque "desconhecemos por
completo as leis que regem a sociedade, ignoramos por inteiro o que seja, em
sua essência, uma sociedade, porquê e de que modo se definha e morre", pelo
que o "Estado é chamado a governar uma coisa que não sabe ao certo o que
é, a legislar para uma entidade cuja essência desconhece, a orientar um
agrupamento que segue (sem dúvida) uma orientação vital que se ignora,
derivada de leis naturais que também se ignoram, e que pode portanto ser bem
diferente daquela que o Estado pretende imprimir-lhe".
autoridade "é a força consolidada, translata, a força tornada abstracta", aquela
base de governo que vem depois do governo da força e antes do governo da
opinião.
Contudo, considera que "a autoridade não dura sempre, porque nada dura
sempre neste mundo.Sendo a autoridade um prestígio ilógico, tempo vem em
que, degenerando ela como tudo, a inevitável crítica humana não vê nela mais
do que ilogismo, visto que o prestígio se perdeu".A autoridade é "incriável e
indecretável, e a tradição, que é a sua essência, tem por substância a
continuidade, que, uma vez quebrada, se não reata mais"
"o preceito moral,para ser verdadeiramente preceito,nunca esquece um certo
limite" e que "o preceito prático ,para ser verdadeiramente preceito,nunca
esquece uma certa regra".
"em matéria social não há factos científicos.A única coisa certa em ciência
social é que não há ciência social. Desconhecemos por completo o que seja
uma sociedade; não sabemos como as sociedades se formam, nem como se
mantém,nem como declinam.Não há uma única lei social até hoje descoberta;
há só teorias e especulações que, por definição, não são ciência".
"cada homem é,ao mesmo tempo,um ente individual e um ente social.Como
indivíduo, distingue-se de todos os outros homens; e porque se
distingue,opõe-se-lhes. Como sociável,parece-se com todos os outros homens;
e porque se parece,agrega-se-lhes"
organizar é "fazer de qualquer coisa uma entidade que se assemelhe a um
organismo, e como ele funcione",sendo organismo "uma entidade viva em que
diferentes funções são desempenhadas por órgãos diferentes, incapazes de
se substituirem entre si, e concorrendo todos, na sua entreacção de
conjunto,para a manutenção e defesa da vida do conjunto do organismo, ou do
organismo como conjunto" Neste sentido, "quanto mais alto o organismo na
escala evolutiva,mais complexos os seus órgãos,maais diferenciados; e,
quanto mais diferenciados esses órgãos, menos capaz é cada um deles de
exercer a função que compete ao outro".
a nação teria sempre uma triplice relação com o passado,o presente(nacional e
estrangeiro) e o futuro.Porque "em todos os períodos há forças que tendem
para manter o que está,porque tendem a adaptar o que existe às condições
presentes,e forças que tendem a dirigir o presente para um norte
previsto,visionado no futuro".
Para ele "a Nação é uma entidade natural, com raízes no passado, e,
poder-se-ia acrescentar, em linguagem paradoxa, mas justa, com raízes
também no futuro.O Estado é fenómeno puramente do presente, tanto que se
projecta em , e se consubstancia com, o Governo que esteja , de momento, de
posse da actividade desse Estado"
Uma Nação é,assim,"um organismo específico em que,como em todos os
organismos,lutam,sustentando-o,forças que tendem a dissolvê-lo e forças que
tendem a conservá-lo".
Forças de integração
Entre as forças de integração, coloca ,em primeiro lugar, "a homogeneidade do
carácter nacional, cuja acção integradora consiste em nacionalizar todos os
fenómenos importados do estrangeiro". Refere,em segundo lugar, "a
coordenação das forças sociais" e, em terceiro, "a sociabilização das forças
individuais", considerando que "a decadência artística e literária é o fenómeno
mais representativo da decadência essencial de uma nação".
Temos,pois,que a nação é entendida como "um conceito puramente místico",
como "um meio de criar uma civilização", como um "organismo capaz de
progresso e de civilização". Porque "a nação sendo uma realidade social não o
é material". É "mais um tronco do que uma raiz. O Indivíduo e a Humanidade
são lugares,a nação o caminho entre eles...A Nação é a escola presente para a
Super-Nação futura".
Este conceito de nação como instrumento de uma Humanidade superior levou
o mesmo poeta a reagir contra o lema do salazarismo que dizia "tudo pela
nação,nada contra a nação",replicando com um "tudo pela humanidade,nada
contra a nação" e considerando que "o Estado é simplesmente a maneira de a
Nação se administrar: rigorosamente , não é uma coisa, mas um processo".
"o critério moral é absoluto,o critério político ou cívico é relativo.O Estado está
cima do cidadão, mas o Homem está cima do Estado.Nenhum Estado, nenhum
Imperador, nenhuma lei humana podem obrigar o indivíduo a proceder contra a
sua consciência,isto é,contra a salvação da sua alma. O inferior não pode
obrigar o superior".
"toda a criatura que hoje luta com a Alemanha deve saber que está lutando
pelos princípios seguintes:1.A Civilização está acima da Pátria.2.O Indivíduo
vale mais do que o Estado.3.A Cultura vale mais do a Disciplina"
"toda a teoria deve ser feita para poder ser posta em prática, e toda a prática
deve obedecer a uma teoria.Só os espíritos superficiais desligam a teoria da
prática, não olhando a que a teoria não é senão uma teoria da prática, e a
prática não é senão a prática de uma teoria".
O Interregno, Defesa e Justificação da Ditadura Militar
A Nova Poesia Portuguesa
[1912],Lisboa, Cadernos Inquérito, 1944.
Sobre Portugal.Introdução ao Problema Nacional
Introdução e oragnização de Joel Serrão, Lisboa, Atica, 1978.
Da República (1910-1915)
Lisboa, Atica, 1978.
Textos de Crítica e de Intervenção
Lisboa, Atica, 1980.
Ultimatum e Páginas de Sociologia Política
Lisboa, Atica, 1980.
Livro do Desassossego por Bernardo Soares
Recolha e transcrição de textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral
Cunha, prefácio e organização de Jacinto do Prado Coelho, Lisboa,
Atica,1982
Portugal, Sebastianismo e Quinto Império
Lisboa, Publicaçöes Europa-América, 1986 (edição de António Quadros)
Páginas de Pensamento Político. I 1910-1919
Lisboa, id., 1986.
Páginas de Pensamento Político. II 1925-1935
Lisboa, id., 1986.
A Procura da Verdade Oculta-Textos Filosóficos e Esotéricos
Edição organizada por António Quadros, Lisboa, Publicaçöes Europa-América
Fernando Pessoa. O Comércio e a Publicidade
Lisboa, Cinevoz/ Lusomedia, 1986. Organização, Introdução e Notas de
António Mega Ferreira.
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