Unidade 4 TP01 p. 175 Um gráfico de blocos tridimensional Os impostos têm subido, os preços têm subido, mas os salários estão estáveis ou, para muitos que não têm trabalho fixo, estão decrescendo. A ilustração a seguir, um gráfico inovador e criativo, mostra de quanto variaram, em porcentagem, os salários médios dos trabalhadores brasileiros, de 1994 a 2001. Podemos ver que, em 1994, houve um aumento percentual de 6% nesse salário médio; e esse aumento foi ainda maior em 1995: 11%; o aumento não foi tão grande em 1996, mas ainda foi significativo:7%; já em 1997 houve um aumento de apenas 2%. Em 1998 o salário médio permaneceu estável, sua variação foi de 0%. Em 1999, porém, houve uma queda no rendimento médio, em 5,5 por cento. Isso é indicado, no gráfico, por uma variação negativa, em um bloco abaixo da reta horizontal. Após essa queda em 1999, o salário médio continuou baixando, mas a variação foi pequena, em 2000: 0,6%. Em 2001 continua a haver diminuição do salário médio dos trabalhadores brasileiros, dessa vez em 3,9%. Atividade 6 p. 176 a) Considerando em conjunto os anos de 1994 a 1998, qual foi a variação total do salário médio dos trabalhadores brasileiros, em porcentagem? b) Considerando os anos de 1999 a 2001, qual foi a variação total do salário médio dos trabalhadores brasileiros, em porcentagem? c) Considere separadamente as variações dos itens a) e b) e diga se cada uma foi de aumento ou de diminuição. p. 177 Vamos voltar a pensar sobre a atividade 6. Provavelmente, no item b) você somou os valores 5,5 , 0,6 e 3,9. No item c), você deve ter respondido que essa variação foi de diminuição. Ou seja, para somar valores negativos, você somou como se fossem positivos e a interpretação dada foi equivalente a atribuir sinal negativo ao resultado. É o que estamos chamando de aquisição de conhecimento em ação. Um recado para a sala de aula Compare a forma como foi introduzida a soma de números inteiros, vinculada a uma situação do contexto social que induziu uma ação operatória natural. É um exemplo, portanto, do que chamamos conhecimento em ação. É bem diferente do que fazem muitos livros didáticos, que começam dando uma regra, em termos bem matemáticos, do tipo: “Para somar números negativos somamos seus valores absolutos e atribuímos sinal negativo ao resultado”. Na maioria das vezes, nem explicam as razões da regra, e fazem que os alunos as apliquem em exercícios matemáticos, sem contextualização que as torne mais claras. Desse modo, o conhecimento matemático fica impositivo, sem compreensão e sem significado, e o aluno deve incorporá-lo ao acervo da memória, para poder usá-lo em outra ocasião. Do modo como propomos, o aluno constrói naturalmente os procedimentos e atribui significado ao que faz. Em outra situação, não terá problema em proceder de modo análogo. Atividade 8 a) Consulte um livro didático de 6a série e verifique como ele introduz a soma de números negativos. Cite título, autor, editora e ano de publicação. Transcreva o trecho correspondente, e analise se a proposta do autor é semelhante ou não à que apresentamos, mostrando semelhanças e diferenças. b) Para você, qual proposta é mais eficaz para a aprendizagem? Por quê? p. 178 A multiplicação de dois números negativos É provável que você já se tenha questionado sobre a razão de outras regras de sinais nas operações com os números negativos. Por exemplo, sobre o fato de o produto de dois números negativos dar um número positivo. Atividade 9 a) Você já encontrou em algum livro didático uma explicação lógica para essa regra? Caso tenha encontrado, copie a explicação, citando o título, o autor, a editora e o ano de publicação. b) Você considera que a explicação encontrada é clara para os alunos? c) Você tem outro modo de explicar esse fato aos seus alunos? Se não tem, pense em um, usando a sua criatividade e os seus conhecimentos matemáticos. p. 179 Procurando um significado para a multiplicação de dois números negativos Talvez um bom início para resolver essa questão seja refletir sobre a interpretação da multiplicação de dois números negativos. Lembremos que em uma multiplicação, mesmo entre números positivos, os dois números a serem multiplicados não têm significados iguais, como ocorre com as parcelas de uma soma. Na multiplicação de dois números naturais, o primeiro fator indica quantas vezes o segundo deve ser adicionado. O resultado da adição é o produto dos dois. A mesma interpretação aplica-se quando o primeiro fator é um número natural e o segundo, um número negativo: 3 x (-2) pode ser visto como o resultado da adição de três parcelas iguais a (-2), isto é: (-2) + (-2) + (-2), igual a -6. Entretanto, que interpretação dar quando o primeiro fator é negativo? Por analogia e coerência matemática, podemos dizer que ele indica quantas vezes o segundo deve ser subtraído, ou retirado. Uma abordagem financeira Agora pense um pouco: se valores negativos são retirados ou desaparecem (por exemplo, no caso de dívidas serem perdoadas) então sua situação financeira melhora, certo? Veja um exemplo simulado: Saldos e parcelas a receber: 205,00 + 55,00 + 20,00 = 280,00 Dívidas: 40,00 + 60,00 + 60,00 + 60,00 + 60,00 = 280,00 No fundo, você está zerado. Tudo que você tem ou receberá já está comprometido. Veja a tabela: Créditos Débitos Saldo 205,00 55,00 20,00 Totais 280,00 40,00 60,00 60,00 60,00 60,00 280,00 0,00 Entretanto, suponha que uma liminar da Justiça impediu a prefeitura de cobrar-lhe as quatro parcelas de 60,00. Como fica sua situação agora? p. 180 e 181 Créditos Totais Débitos 205,00 55,00 20,00 40,00 280,00 40,00 Saldo 240,00 Será coincidência? Você estava sem nada e agora tem R$240,00 para gastar, exatamente o valor de 4 parcelas de R$60,00. Será que retirar quatro dívidas de R$60,00 corresponde a somar R$240,00? Ou seja: Será que (-4) x (-60,00) = 240,00? Uma abordagem matemática Ao ampliar o conjunto dos números naturais para o conjunto dos números inteiros, os matemáticos procuravam definir as novas operações (positivos com negativos e negativos com negativos) de modo coerente com as operações que já existiam e conservando as propriedades que valiam para essas operações com números naturais. Desse modo, foram descobrindo como definir as operações entre os números inteiros, pela exigência da validade de certas propriedades, como a distributividade e a comutatividade. Lembrete Propriedade distributiva: para três números naturais quaisquer a, b e c vale ax(b+c) = axb + axc Propriedade comutativa da multiplicação: para dois números naturais quaisquer a e b vale axb = bxa Essas propriedades eram tão úteis para os cálculos que os matemáticos quiseram mantê-las para os números inteiros, racionais e reais. 1) Mantendo para os números inteiros a propriedade distributiva da multiplicação em relação à adição os matemáticos sabiam que deviam ter: 3 x [4 + (-4)] = 3 x 0 = 0 (A) Por outro lado, impondo a distributividade, obtinham: 3 x [4 + (-4)] = 3 x 4 + 3 x (-4) = 12 + 3 x (-4) (B) De (A) e (B) concluíam que 12 + 3 x (-4) = 0, ou seja, que a soma de 12 com 3 x (-4) dá zero. Então pensavam: qual o número que somado a 12 dá 0? Só pode ser: –12. Concluíam que 3x (-4) = -12. Isso confirmava uma outra idéia dos matemáticos, a de que deviam ter: 3 x (-4) = (-4) + (-4) + (-4) = -12. Desse modo, para a e b números naturais, sabiam que a x -b = -(a x b). 2) Mantendo para os números inteiros a propriedade comutativa da multiplicação Do mesmo modo, impondo que a multiplicação nos inteiros fosse comutativa, obtinham: –b x a = a x -b = -(b x a). Faltava ainda saber quanto deveria valer o produto de dois inteiros negativos. Veja como fizeram isso, impondo novamente a distributividade: Partindo de um exemplo numérico: - 4 x (-3+3) = -4 x 0 = 0 e impondo que valesse a distributividade: 0 = (-4) x (-3 + 3) = (-4) x (-3) + (-4) x 3 = (-4) x (-3) + (-12) Como o único número que somado a –12 e dá 0 é 12, concluíam que (-4) x (-3) devia valer 12. Na seção 3 você poderá ver outros modos de evidenciar, para os alunos, que o produto de dois números negativos dá um número positivo. Interpretando o sinal de outros produtos – Sintetizando o que fizemos Pela abordagem matemática, foi possível chegar ao sinal do produto (-3)x(-4). Para isso, inferimos antes o resultado do produto 3x(-4) e de (-4) x 3 (usando a comutatividade). A abordagem financeira interpretou o resultado de (-3)x(-4) diretamente, sem passar pelos outros produtos. Contudo, seria possível dar também a eles uma interpretação financeira. Por exemplo: 3 x (-4) pode ser visto descrevendo a existência de 3 dívidas de 4 cada uma, o que corresponderia a uma dívida total de 12, descrita por -12. Ou seja: 3 x (-4)= -12. Já (-4) x3 pode ser visto como a retirada de 4 parcelas positivas de 3 (créditos), o que corresponde à retirada de 12 no total, equivalente, portanto, a um débito de 12. Ou seja: (-4) x3 = -12. Nesta seção, os conteúdos de Matemática trabalhados foram: Gráficos não cartesianos: - Gráficos de colunas (planos) ou de blocos (tridimensionais). - Gráficos circulares e sua construção (proporções, medidas de ângulos, uso do transferidor). - Vantagens e desvantagens do gráfico de colunas e do gráfico circular. Números inteiros: - a lógica dos sinais atribuídos aos resultados de operações com números inteiros (sob os pontos de vista matemático e financeiro). p. 185 Uma abordagem por observação de padrões Observe a tabela: Multiplicar por 2 3 2 1 0 Resultados 6 4 2 0 -1 -2 A tabela nos diz que 3 x 2 = 6; 2 x 2 = 4; 1 x 2 = 2; 0 x 2 = 0. Observando os números da segunda linha, você percebe que eles seguem um padrão. Que padrão é esse? Seguindo-o, você pode imaginar qual será o próximo número dessa linha, mesmo sem olhar para os valores da primeira. O próximo número deve ser -2, porque os números da segunda linha diminuem de 2 unidades cada vez que mudam de coluna, e 0 - 2 = - 2. Do mesmo modo, você conclui que o último número deve ser - 4. Isso lhe permite escrever: (-1) x 2 = -2 e (-2) x 2 = -4. Outras tabelas permitem inferir os resultados de outras multiplicações. Veja as sugestões apresentadas nos PCN de 5a a 8a séries, no capítulo Orientações didáticas para terceiro e quarto ciclos, na parte chamada Números Inteiros. p. 186 Uma abordagem por processos de cálculo não convencionais Vamos tentar fazer a operação: 0 - 2 x (-3) ou, de 0, tirar 2 vezes –3: 0 - 2 x ( -3) Como podemos fazer isso, se não dispomos de nenhum -3 para ser retirado? Podemos usar um artifício, escrevendo 0 (zero) de outra maneira: 0+3-3+3-3 - 2 x -3 Retirando duas vezes a quantidade -3, sobram → 0+3+3=6 Portanto, 0 - 2 x -3 = - 2 x -3 = 6. Cálculos como esses nos permitem obter naturalmente muitos resultados envolvendo operações com números negativos, sem uso de regra alguma. Aprendendo sobre Educação Matemática - Aplicando a Teoria dos Quadros Você reparou que as operações entre números inteiros foram trabalhadas e explicadas em diferentes representações (ou quadros, como você aprendeu na Unidade 2 do TP1): financeira, matemática, por observação de padrões e por cálculos alternativos? Trata-se de um exemplo concreto de como explorar um conceito em diferentes quadros. Como já salientamos, isso aumenta o entendimento conceitual dos alunos e atende às diferenças de cognição e de compreensão entre eles, pois cada aluno compreende melhor um conceito sob certa abordagem.