A acessibilidade aos cuidados primários de saúde dos concelhos de Guimarães e Cabeceiras de Basto JOSÉ OLIVEIRA E SILVA Para BALEIRAS, S. J.,; RAMOS, V. (1992), a acessibilidade aos cuidados de saúde pode ser definida como sendo a “possibilidade de obter cuidados de saúde que em qualquer momento sejam considerados convenientes nas condições mais convenientes e favoráveis procurando responder ao princípio da equidade”. O presente trabalho resulta de uma síntese de um processo de investigação com base nos conceitos desenvolvidos na disciplina de opção, Geografia da Saúde vindo a constituir tema para o Seminário apresentado em Julho de 2000 como disciplina integrante do conteúdo programático do primeiro Curso de Geografia e Planeamento desenvolvido pela Universidade do Minho no Polo de Azurém. Este trabalho teve a colaboração das unidades de saúde privadas, nomeadamente, clínicas e consultórios médicos particulares, os centros de saúde geridos pela Sub-Região de Saúde de Braga e fundamentalmente o apoio da orientadora do seminário Professora Doutora Paulo Remoaldo. A acessibilidade aos cuidados de saúde das populações depende de múltiplos factores, tais como: a realidade sócio-económica; a cultura; os hábitos e as tradições; a distância-tempo e custo às unidades de saúde; a oferta qualitativa e quantitativa dos cuidados de saúde. Os concelhos de Cabeceiras de Basto e de Guimarães foram seleccionados como objecto de estudo pelo facto de representarem duas áreas geograficamente contrastantes do distrito de Braga. A investigação desta problemática nasceu, essencialmente, da não existência, até ao momento, quer no âmbito da Geografia, quer noutras áreas do saber (Saúde Pública) de uma pesquisa sobre o grau de acessibilidade aos cuidados de saúde do distrito de Braga com o objectivo de compreender as razões da concentração e dispersão de unidades médicas e o desaparecimento, quase completo, de consultórios médicos particulares, e a proliferação acentuada de clínicas médicas. O trabalho assentou nos seguintes pressupostos: 1- Uma maior concentração populacional corresponde a uma maior oferta de serviços de saúde; 2- Há uma relação entre necessidades da população e o contexto geográfico da localização das unidades de saúde; 3- Os níveis de saúde da população têm a ver com a sua qualidade de vida; O estudo foi dividido em três partes. A primeira é dedicada ao enquadramento teórico da acessibilidade aos cuidados de saúde, a segunda caracteriza os dois concelhos em estudo e na terceira parte são tratados os dados específicos resultantes do trabalho de campo nos dois concelhos com base num inquérito realizado para avaliar a acessibilidade aos cuidados de saúde na vertente estrutural e funcional das unidades de saúde. Das várias perspectivas de análise para determinar a acessibilidade aos cuidados de saúde foi apenas abordada a perspectiva geográfica, da localização dos recursos, distâncias em tempos a percorrer, características fisiográficas da área e rede de transportes; Para efeitos de enquadramento dos dois concelhos que pretendemos analisar, foi efectuada uma breve resenha histórica da evolução demográfica do país a partir da década de 60. Relativamente aos concelhos em estudo, na análise sócio-económica foram privilegiados vários indicadores, tais como, a população residente segundo o nível de instrução, as características da habitação, a actividade económica e profissional, para os anos de 1981, 1991 e 1998. Foi efectuada uma comparação com outras entidades territoriais, como sejam, o Distrito de Braga, a Região Norte e o Continente. Esta comparação foi em alguns casos dificultada pela indisponibilidade de alguns dados e pela diferença de critérios de agregação entre os dois Recenseamentos Gerais utilizados, relativamente a um conjunto de variáveis. No trabalho de campo foi efectuada uma inventariação exaustiva das unidades médicas privadas e públicas, dos dois concelhos em estudo, constatando-se uma grande diferença no número de unidades de saúde. Este trabalho permitiu perceber a distribuição espacial das unidades de saúde nos concelhos em estudo, a frequência das consultas, o tempo de espera por consulta, o número de especialidades médicas existentes em cada unidade de saúde, o custo das consultas e as respectivas convenções, a acessibilidade a deficientes, a distância dos transportes públicos às unidades de saúde, o estacionamento, etc. CONCLUSÃO Quanto ao objecto de estudo deste trabalho deverá concluir-se que a acessibilidade aos cuidados de saúde face à evolução da situação sócio-económica, melhoria da educação, melhoria e aumento da rede viária e sobretudo do aumento da oferta de unidades de saúde privadas, denota alterações positivas na conjugação da melhoria dos factores que mais pesam na acessibilidade aos cuidados primários de saúde na última década. Quanto às unidades de saúde públicas, beneficiaram duma conjuntura favorável dos factores indicados, comuns, às unidades de saúde privadas, à excepção do aumento da oferta que não teve, desde 1994 grandes alterações quantitativas e qualitativas. Aliás, a propósito da relação procura oferta, PHILLIPS E LEARMONTH (1982), advertem para a mobilidade individual que é tanto maior quanto maior é o rendimento da população e que a oferta de cuidados médicos de melhor qualidade varia inversamente com as necessidades da população servida.