São Paulo, sexta-feira, 30 de março de 2012 ONU incentiva países a implementarem o "índice de felicidade" Entidade promove painel com Nobel de economia para definir critérios de medição DE NOVA YORK A ONU (Organização das Nações Unidas) começa a implementar, na próxima segunda, resolução que busca um "padrão holístico" para medir o desenvolvimento dos países. Segundo o organismo, Estados devem criar medidas além das econômicas para mensurar a felicidade e o bem-estar dos povos. O "índice de felicidade" deve ser discutido na Rio+20, conferência sobre desenvolvimento sustentável prevista para junho no Rio de Janeiro. A resolução da ONU, aprovada em 2011, diz que o PIB (Produto Interno Bruto) não é suficiente para medir o bemestar de uma população. O documento convida os países a elaborarem medidas adicionais para fazer esse diagnóstico. Haverá um painel de discussões conduzido pelo Butão para discutir o índice de felicidade. O Nobel de Economia Joseph Stiglitz [ex vicepresidente e economista-chefe do Banco Mundial] será um dos palestrantes. O Butão já adota o conceito de Felicidade Interna Bruta como medida de progresso, preocupação que surgiu naquele país na década de 1970. Atualmente, para medir a felicidade, o Butão considera questões relacionadas à renda, à saúde e ao nível de estresse do povo. Segundo disse à Folha Dekey Gyeltshen, porta-voz da missão do Butão na ONU, políticas públicas e projetos do governo passam por "avaliação rigorosa" baseada no índice de felicidade. Nos EUA, o instituto Gallup divulga semanalmente como varia o sentimento de felicidade entre americanos. O índice tem melhorado. Entre os dias 19 e 25 deste mês, 48,3% disseram que no dia 2 anterior à pesquisa sentiram felicidade e alegria, e nível não muito grande de estresse e preocupação. Há um ano, o percentual era de 47,2%. O Gallup entrevista mil americanos adultos por dia e a margem de erro da pesquisa é de 1 ponto percentual. O resultado do índice de bem-estar do instituto é sazonal: os picos de felicidade dos americanos ocorrem em dezembro, na época do Natal, e em junho e julho (meses do verão no hemisfério Norte). (VERENA FORNETTI) 3 São Paulo, terça-feira, 03 de abril de 2012 Rio +20 Nobel defende que 'índice de felicidade' seja criado Economista Joseph Stiglitz diz que evento no Rio precisa debater alternativa ao PIB VERENA FORNETTI DE NOVA YORK A Rio+20 deve avançar na discussão do desenvolvimento sustentável mesmo sem o apoio dos EUA, disse o Nobel de Economia Joseph Stiglitz, após debate na ONU sobre formas de medir o bem-estar e a felicidade das nações. A ideia de Felicidade Interna Bruta, uma alternativa ao PIB para detectar níveis de saúde mental e física das populações, deve ser discutida na conferência que será realizada em junho, no Rio. "É um bom momento [para discutir felicidade]. Nossas velhas métricas são muito ruins", disse o economista. Segundo Stiglitz, o grande erro dos EUA foi não atentar para um crescimento baseado em dívidas. "Erro ainda maior é não entender que esse crescimento não é sustentável ambientalmente." O economista criticou a falta de compromissos americanos com temas ambientais. Para ele, será difícil que os EUA assumam metas na Rio+20. "É importante para o resto do mundo ir adiante mesmo sem os EUA, e acho que os países têm que impor sanções aos EUA." Jeffrey Sachs, ex-candidato à presidência do Banco Mundial, disse que é importante que os países na Rio+20 discutam o conceito de Felicidade Interna Bruta. O documento que guiará as discussões na conferência afirma que o PIB é insuficiente para embasar políticas que visem aumentar o bem-estar. Os encontros sobre felicidade feitos pela ONU nesta semana são organizados pelo Butão, país que desde 1970 tem alternativas para medir o bem-estar da população. 4 5 São Paulo, segunda-feira, 09 de abril de 2012 Rio +20 Brasil inicia estudos para medir felicidade Professores da FGV desenvolvem modelo de índice de Felicidade Interna Bruta adaptado à realidade brasileira Economista Eduardo Giannetti diz que PIB é medida "rústica" e que aumento de renda pode não elevar o bem-estar ANDREA VIALLI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA O que faz um país feliz? O crescimento econômico conta pontos, mas não é o único fator que contribui para o bemestar da população. Liberdade individual, família estável e boa saúde contribuem para a chamada Felicidade Interna Bruta, conceito que remonta à década de 1970 e agora surge como um dos temas da Rio+20, a conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável. O lançamento do "Relatório da Felicidade Global", em Nova York, reaqueceu a discussão. Coordenado pelo economista Jeffrey Sachs, especialista em combate à pobreza, o estudo fez um ranking dos países mais felizes do mundo. O Brasil ocupa o 25º lugar. Dinamarca, Noruega, Finlândia e Holanda estão no topo. Entre os menos felizes estão Togo, Benim e Serra Leoa. O relatório foi feito com base em pesquisas de opinião feitas em 150 países e descreve exemplos onde a felicidade começa a ser medida. É o caso do Butão, na Ásia, que desde 1972 possui um índice para medir sua felicidade. Composto por 33 indicadores, a Felicidade Interna Bruta do país avalia o equilíbrio entre trabalho e horas de sono, por exemplo. Espiritualidade, moradia e danos ao ambiente também contam. Outro exemplo vem de Londres, que fez uma experiência de medição. Os resultados devem sair neste mês. 6 Medir o bem-estar ganha importância à medida que crescem as críticas ao PIB (Produto Interno Bruto) como indicador de progresso. Para o economista Eduardo Giannetti, do Insper São Paulo, o PIB é "rústico", pois considera a produção de riqueza, mas não as condições em que ela é criada. "Pensava-se que o aumento da renda traria felicidade. Mas descobrimos que ganhos adicionais não se traduzem, necessariamente, em bem-estar subjetivo", diz Giannetti. ÍNDICE BRASILEIRO No que depender de um grupo de professores da Fundação Getúlio Vargas, não vai demorar para que o Brasil tenha o seu índice. Desde o ano passado, os professores Fábio Gallo e Wesley Mendes, ambos da área de finanças, iniciaram pesquisas para fazer um índice adaptado à realidade brasileira. "Não pretendemos reproduzir o índice utilizado no Butão. O modo como medem a felicidade é interessante, mas o Brasil tem diferenças importantes", afirma Gallo. Segundo o professor, aspectos como educação, saúde, renda, violência e uso do dinheiro devem aparecer no índice brasileiro. As primeiras pesquisas começam a ser feitas, em cooperação com universidades como a Buffallo State College (NY). A expectativa dos professores é que o índice auxilie o governo na formulação de políticas públicas. Segundo Mendes, o objetivo é que a Felicidade Interna Bruta seja complementar a indicadores como o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e o índice de Gini, que mede a desigualdade social. "Queremos entender quais são os fatores determinantes para o bem-estar dos brasileiros. Não basta ser a sexta economia no PIB, é preciso saber se isso nos faz um país mais feliz", diz.