CÉLULAS PAROQUIAIS DE EVANGELIZAÇÃO APOIO À PREPARAÇÃO DA EDIFICAÇÃO TEMA: A TRANSFIGURAÇÃO Lc 9, 28b-36 OBJETIVO: DEIXAR-SE TRANFIGURAR EM CRISTO A- EXORTAÇÃO DO PASTOR B- OBSERVAÇÃO, EXPLORAÇÃO E APLICAÇÃO C- APROFUNDAMENTO RESUMOS DE RANIERO CANTALAMESSA - “O MISTÉRIO DA TRANSFIGURAÇÃO” - CAP 1 – TESTEMUNHAS OCULARES DE SUA GRANDEZA - CAP 2 – TRANSFIGUROU-SE DIANTE DELES - CAP 4 - SEGREDO DE JOÃO Este texto não é um estudo exegético, mas um apoio à Liderança para a preparação da Edificação. Para isto, aconselha seguir os passos da Leitura Orante, procurando uma luz de contemplação que provoque resposta e transformação do coração. A – EXORTAÇÃO DO PASTOR Irmãos! O luminoso Mistério da Transfiguração apresenta Jesus após a vitória dos Mistérios da Páscoa e a plenitude do plano do Pai: "No Tabor prenunciaram-se os mistérios da crucifixão, revelou-se a beleza do Reino e manifestou-se a segunda descida e vinda gloriosa de Cristo. Foi prefigurada a imagem do que viremos a ser e nossa conformação ao Cristo. A festa atual mostra-nos um outro Sinai, muito mais suntuoso que o primeiro" (Anastásio Sinaíta, “Homilia para a Santa Transfiguração de Cristo”). É o Espírito que nos envolve e o Pai diz a nossos corações: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!” Contemplemos Jesus, deixemo-nos transfigurar à sua imagem! B-OBSERVAÇÃO, EXPLORAÇÃO E APLICAÇÃO Lucas 9,28b-36 (Marcos 9,2-9; Mateus 17,1-9) A “CÉLULA” DO TABOR E A “CÉLULA” DO GÓLGOTA Jesus sobe a uma alta montanha e “leva consigo Pedro, João e Tiago”, seus mais próximos discípulos. Sobe para orar, para um Encontro com o Pai. Por maravilhosa surpresa do Pai e do Espírito, este Encontro de oração se tornará também Mistério de Luz, uma extraordinária Exaltação de Jesus Cristo, seu Filho. Pois, ao orarem, se juntarão a eles, “revestidos de glória”, os expoentes da Lei e da Profecia e experientes na glória do Sinai: Moisés e Elias. Que conversam com Cristo sobre sua iminente Entrega, “a morte, que Jesus iria sofrer em Jerusalém”. E aquela “Célula” é imersa na nuvem do Espírito, para que aconteça uma máxima Edificação, dada pelo Pai: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!” Edificação suprema, que os prepara, não para permanecerem ali em tendas, no êxtase da felicidade da Trindade e imunes à ameaça de Jerusalém, mas para subirem outro monte, o Gólgota. Para que assim o mundo seja salvo pelo amor do Pai na Entrega de seu Filho. Para que assim aconteça a Evangelização do mundo e este veja até que ponto é amado. Para que assim coloque toda sua esperança no Pai, e tome posse do seu Reino de Paz e Amor como seus Filhos. A Transfiguração é, pois, uma Edificação sobre quem é Jesus em plenitude final, mas também um Envio à Evangelização, para que aqueles três discípulos medrosos completem com Jesus a sua missão no Gólgota - e a continuem como Igreja. Pois a plenitude profética que Jesus apresenta na sua Transfiguração, tem no Gólgota, na Paixão e Ressurreição, sua fonte e origem. Dos três, apenas um subirá ao Gólgota – para testemunhar o ápice da Lei e Profecia na Cruz, onde Deus se revela na plenitude da Misericórdia. Dos três, apenas um subirá ao Gólgota, para, com Maria, a Mulher, Virgem e Mãe que oferece seu Filho Deus, na Luz do maior Mistério de Dor e Amor, constituir a Célula primeira da Igreja. Ligado a Jesus por Maria, ligado a Maria por Jesus, o discípulo amado se torna Memória de que a Transfiguração preparara algo maior: a Transubstanciação do Sangue e Carne, ali vertidos e imolados, em Pão e Vinho de Vida eterna. Alimento e bebida que em Cristo nos transforma. Subamos ao Monte. APLICAÇÕES (sugestões – não se prenda a elas, ouça o Espírito!) EXALTAÇÃO: A oração, que nos faz subir ao monte e nos elevar ao Pai no Espírito, é essencial para que conheçamos Cristo e nos tornemos seus discípulos missionários. o Como fazer para nosso orar ser uma subida ao monte, ou seja, um contemplar em silêncio a Verdade, a Beleza e a Bondade de Cristo? Até que ponto sabemos que nos tornamos naquilo que contemplamos, sobretudo se for com amor? ENCONTRO: É nos unindo ao Pai no Espírito de Jesus Cristo que poderemos constituir uma comunhão à sua imagem e semelhança, uma Célula fecunda e multiplicadora. o Como evoluir para uma oração impulsionada pelo Espírito, que nos una entre nós e a Cristo, e que se eleve dos corações e se dirija ao Pai? EDIFICAÇÃO: A Transfiguração é um evento da Trindade conosco, mas centrada em Cristo como Palavra do Pai, encarnada para levar à plenitude a Lei e a Profecia através da Cruz. o Quais meios temos praticado para nos Edificar? Temos evoluído na Contemplação, ou seja, numa oração que sobe o monte e procura escutar o que Deus nos diz? ENTREGA: A Lei e a Profecia atingem seu ápice na Entrega de Jesus, pelo Pai, na Cruz. o Temos medo, fugimos da Entrega, como Pedro de Jerusalém? Ou ela já faz parte de nossa vida, como parte indispensável e essencial do discípulo missionário? EVANGELIZAÇÃO: O Pai pronuncia sua Palavra maior em Cristo: “Ouvi-o!”. Mas é só envoltos na nuvem do Espírito que podemos compreender esta grande Boa Nova. o A convicção e a experiência de que o conhecer a Cristo e a sua missão é feita no impulso e força do Espírito já nos penetrou? Partilhem. COLETA – (sugestão – não se prenda a ela, ouça o Espírito!) Oração espontânea, ou pedir a todos para repetirem: Divino Espírito Santo, fazei-nos escutar a voz do Pai que nos manda ouvir seu filho Jesus Cristo! Santíssima Trindade, transfigurai-nos à imagem de Jesus Cristo! Santos apóstolos Pedro, Tiago e João – intercedei para que saiamos de nosso sono e nos transfiguremos em discípulos missionários contemplativos de Jesus Cristo! EXERCÍCIO PARA A SEMANA (sugestões – não se prenda a elas, ouça o Espírito!) Invocar várias vezes ao dia: Maria, minha mãe, “fotografe” Jesus em minha alma. Ou Procurar praticar a oração do Pai Nosso em atitude de contemplação, unindo-se no Espírito a Jesus. Ou seja, pedir ao Espírito Santo que faça Jesus orar em você ao Pai, na alegria e felicidade do amor que recebe dele, e no fogo e ardor do mesmo amor com que ele responde ao Pai. C – APROFUNDAMENTO Extraído e simplificado de O Mistério da Transfiguração Raniero Cantalamessa Premissa O objetivo essencial é fomentar a contemplação de Cristo, inflamar de desejo dela, alimentá-la com as fulgurantes revelações da Transfiguração de Cristo, considerada como mistério da vida de Cristo, evento histórico da vida de Jesus imbuído de significado salvífico, exemplo e causador de efeitos nas relações dos membros de seu corpo, que é a Igreja. I “Testemunhas oculares de sua grandeza” Uma abordagem mistagógica da Transfiguração A Transfiguração é um mistério da vida de Cristo. Algo se realiza em Jesus, que é o sujeito da ação prodigiosa, mas também o objeto. Na Transfiguração, no nascimento, no batismo e, na morte e ressurreição, não só se produz algo por meio dele, mas também nele se produz algo que orienta o curso de sua vida e especifica o sentido de sua missão. A Transfiguração em sua dimensão pedagógica afasta do coração dos apóstolos o escândalo da cruz, a fim de que a humilhação da paixão não perturbasse a fé deles, considerando que lhes havia sido revelada por antecipação a excelência de sua dignidade oculta. É um antídoto ao escândalo da Paixão, como promessa da Ressurreição. Mas a Transfiguração é um mistério em si mesmo, e não apenas com referência à Páscoa. Anastásio Sinaíta escreve: "No Tabor prenunciaram-se os mistérios da crucifixão, revelou-se a beleza do Reino e manifestou-se a segunda descida e vinda gloriosa de Cristo. Foi prefigurada a imagem do que viremos a ser e nossa conformação ao Cristo. A festa atual mostra-nos um outro Sinai, muito mais suntuoso que o primeiro". A Transfiguração estabelece o fundamento da esperança da santa Igreja, num ensinamento que Deus transmite à Igreja, dado para confirmar os apóstolos e fazê-los progredir em conhecimento. Jesus Filho de Deus se revela na presença dos seus: é uma teofania, uma cristofania. Não só se apresenta como um mistério que tem sentido em si mesmo, mas que reúne em si todos os mistérios, um vértice do qual se expande sobre a história da salvação, no Antigo e Novo Testamento. Realiza o passado: a criação, com a manifestação da verdadeira imagem de Deus, o Sinai, a lei, os profetas; e antecipa o futuro: a glória da Ressurreição, a segunda vinda, o esplendor final dos justos. Cristo se mostra como "centro dos tempos", "dos mundos", o divino e o humano., "todo inteiro Deus e todo inteiro homem", Deus e homem reunidos numa mesma pessoa. A Transfiguração é cristocêntrica. O que será conclusivo no mistério pascal da morte e Ressurreição de Cristo, na Transfiguração é manifestada por antecipação, em um gesto profético. Jesus, partindo o pão e oferecendo o cálice, na instituição da Eucaristia, antecipa sua morte revelando-lhe o sentido; a Transfiguração prenuncia e antecipa a glorificação que se realizará na Ressurreição. A Transfiguração é "uma prefiguração criadora da realidade que há de suceder", com ela "o próprio porvir começa a atuar-se". Em outras palavras, a glorificação de Cristo não é simplesmente prefigurada, mas tem já início. Contemplando, nós nos transfiguramos Para que um acontecimento da vida de Jesus se constitua em um mistério, não basta que "algo se opere em Cristo", mas é necessário que tal acontecimento seja revestido de um significado salvífico para todo o seu corpo, que possua, como se dizia, valor exemplar e causador de efeitos nas relações da Igreja. Para santo Agostinho, essa é a característica que distingue um simples "aniversário" de uma celebração "à maneira de mistério" (in sacramento). No caso de uma celebração à maneira de mistério, deve-se levar em conta principalmente a incidência do acontecimento no hoje e também a parte que temos nele. Na festa da Transfiguração, a Igreja não celebra apenas a transfiguração de Cristo, mas também a sua própria. Que espécie de transfiguração? Antes de tudo, a transfiguração escatológica, a que acontecerá no tempo final, quando o Senhor Jesus, como diz o Apóstolo, "há de transfigurar nosso mísero corpo, para torná-lo semelhante a seu corpo glorioso" (Hb 3,21). "Cristo transfigurou-se para nos mostrar a futura transfiguração de nossa natureza e sua segunda vinda". A Transfiguração realizou-se "a fim de que todo o corpo tomasse consciência do tipo de transfiguração do qual teria sido objeto e para que os membros garantissem a si mesmos a participação naquela mesma glória que havia brilhado na cabeça". É prefigurada na Transfiguração não só nossa transformação final, mas também a de todo o cosmo. Sobre o Tabor, Cristo "transfigurou à sua imagem toda a criação, recriando-a de modo ainda mais sublime". Um universo transfigurado e "cristificado" com o divino, que no tempo final transparece através de todo o criado, como no Tabor transpareceu por meio da carne de Cristo, entende-se de maneira análoga, e não idêntica . Não é só na outra vida que a Transfiguração de Cristo importa a seu corpo místico, mas também nesta vida. São Paulo usa duas vezes o verbo transfigurar-se e nas duas vezes indica algo que tem lugar aqui e agora: "transformai-vos pela renovação de vosso espírito" (Rm 12,2). No segundo texto, o Apóstolo explica também como isso acontece: "E nós todos que, de rosto descoberto, refletimos a glória do Senhor, somos transfigurados nesta mesma imagem, com uma glória sempre maior, pelo Senhor, que é Espírito" (2Cor 3,18). Mediante a contemplação devemos penetrar mistério da Transfiguração, fazêlo nosso, tornando-nos parte em sua causa. Cristo é o espelho no qual contemplamos a glória divina; nós somos o espelho que, contemplando Cristo, refletimos a glória divina. “Nós contemplamos e refletimos", isto é, "refletimos o que contemplamos". O homem não só reflete o que contempla, mas transforma-se naquilo que contempla. Contemplando, somos transfigurados na imagem que contemplamos. "O homem é aquilo que come". Numa civilização dominada pela imagem devese dizer: "O homem é aquilo que vê". A imagem tem o poder de penetrar não só no corpo, mas na própria alma. O olho é "a lâmpada da alma" (cf. Mt 6,22); e é também a porta da alma. Contemplando Cristo, nós nos tornamos semelhantes a ele, conformamo-nos a ele, consentimos que seu mundo, seus propósitos e seus sentimentos se imprimam em nós, que substituam nossos pensamentos, propósitos e sentimentos, que nos façam semelhantes a ele. Ocorre na contemplação o mesmo que na fotografia, e é curioso descobrir que o próprio termo "fotografar" aparece pela primeira vez o século XII, para indicar o que acontece quando a alma contempla (photeinographein) Jesus Cristo, “sabedoria e potência de Deus." Certas imagens têm o poder de ficar gravadas em nossa mente e nela permanecer como grafites em muros de cimento. 3. A subida ao monte Tabor O Tabor foi o alicerce instituidor o apelo mais forte a essa contemplação de Cristo que transforma. Ele é, por excelência, mistério da contemplação de Jesus. No "monte santo", como o chama são Pedro, os apóstolos foram contempladores, espectadores, testemunhas oculares da grandeza de Jesus (cf.2Pd 1,16-18). Na Transfiguração, prevalece a direção intencional que é a contemplação. Devemos reforçar a experiência de contemplação, de chegar ao "âmago do assunto", em outras tantas subidas matutinas ao monte Tabor, com o propósito de passar meia hora "de olhos fitos naquele que é o iniciador da fé e a conduz à realização" (Hb 12,1), retornando depois, revigorados, ao trabalho cotidiano. Paulo VI, nutria grande amor pelo mistério da Transfiguração: "Para conhecer Cristo, é preciso crer nele. A agressão provocada por exegeses parciais ou falsas, o hábito de fórmulas verbais, o cansaço imposto à mente pela idade, e muitos outros desvios ou depressões do pensamento, às vezes arrefecem e até extinguem, mesmo no seguidor fiel, o conhecimento transfigurado de Jesus, a maravilha, a alegria, a descoberta sempre progressiva de sua realidade humano-divina, de tal modo que se torna necessário, enquanto dura esta penumbra da vida presente, que seja continuamente despertada nossa contemplação de Jesus Cristo" . A Igreja tem necessidade vital de recuperar, esse "conhecimento transfigurado" de Cristo, que não rejeita o conhecimento "científico", mas transcende-o. Sem ela, corremos o risco de serem "dissecados", reduzidos a fatos nus, perdendo-se de vista a vida que verte de dentro deles. N"a letra", e já não se percebem os corações que palpitam por detrás dos gestos e das palavras. O propósito da contemplação consiste em ir além da letra e reviver dentro de si os sentimentos e os estados de espírito: de Jesus, dos apóstolos, do próprio Pai celeste quando proclama: "Este é o meu Filho bem-amado". Fazer nossa a sua atitude de adoração ilimitada. Tudo é possível quando a contemplação da Transfiguração se realiza dentro da mesma "nuvem luminosa" na qual ocorre o fato, isto é, "no Espírito Santo". Nossa contemplação não será confiada exclusivamente à nossa capacidade do momento. Ou melhor, poremos todo empenho em tomar parte na grande contemplação de Cristo que teve início já na Escritura e continuou ininterruptamente na Tradição. Entrever o invisível através da imagem do visível, exatamente como a divindade de Cristo transpareceu no Tabor por entre o véu de sua carne. Simplificar, achegando-se cada vez mais ao essencial. Uma meditação mistagógica, faz recolher o que de melhor o Espírito Santo fez compreender no passado a seu respeito dado que os mistérios de Cristo, como suas palavras, são "espírito e vida" e jamais se pode dar por exaurida a revelação de todas as suas riquezas ocultas. Na vida dos santos há momentos de revelação, de contato profundo e decisivo com o divino, cujo alcance só se manifesta à medida que se experimentam seus frutos ou se constata sua concretização no curso da vida. Como em são Serafim de Sarov, relatada por seu discípulo Motovilov. 5. Jesus se transfigura nas Escrituras A narração da Transfiguração constitui em si mesma, para nós, o Tabor a subir, a nuvem em que entramos e o véu que se deve abrir, permitindo-nos contemplar Cristo em três narrativas — Marcos 9,2-9; Mateus 17,1-9 e Lucas 9,28-36 — numa visão de conjunto. Na Transfiguração a força não reside no olhar de Cristo mas sim no todo e, especialmente, em suas vestes. Aquele "branco" deve certamente fazer transparecer o mistério da luz divina que se irradia do interior de Cristo. As próprias palavras do Evangelho, são também vestes de Cristo: Jesus se transfigura na Escritura, não basta a inteligência humana para tornar suas vestes cândidas, isto é, suas palavras claras e compreensíveis. Marcos observa que nenhuma lavadeira no mundo poderia deixar vestes tão brancas quanto as de Jesus no Tabor. Iluminar o mistério encerrado na Escritura e na Transfiguração, só o Espírito Santo pode fazê-lo. Contemplar pode ser para nós uma sarça ardente, na qual Deus revela sua face definitiva. II Transfigurou-se diante deles No Tabor, em companhia dos três apóstolos "Jesus toma consigo Pedro, Tiago e João..." Jesus toma consigo Pedro, Tiago e João, "e os leva a sós, ao cimo de uma alta montanha" (Marcos). O acontecimento é separado do ritmo ordinário da vida; situa-se em uma dimensão diferente: de solidão, de silêncio e de distanciamento de tudo. Somos convidados a um Tabor espiritual, na disposição de espírito de quem deixa tudo para trás e, conforme São João da Cruz, ainda noite alta sai de casa para seguir o chamamento do amado: "Em uma noite escura, de amor em vivas ânsias inflamada, — oh! ditosa ventura! — saí, sem ser notada, já minha casa estando sossegada". (João da Cruz, "Subida ao monte Carmelo", estr. 1). Jesus não se transfigura diante de todos, em meio ao ruído e à multidão, mas só diante de alguns, daqueles que deixaram em segundo plano parentes, amigos, trabalho, tudo, e aceitaram seu convite de ficar à parte com ele. "Seu rosto resplandeceu como o sol, suas vestes tornaram-se brancas como a luz" (Mateus). A luz não se projeta de fora sobre Jesus, mas provém de seu interior. Seu rosto não está simplesmente "iluminado", mas "brilha". Ocorre o mesmo com suas vestes: tornam-se resplandecentes. Jesus brilha com luz própria, não refletida; em seu rosto não refulge só a glória de Deus, como sobre o rosto de Moisés (cf. 2Cor 3,13), mas também sua própria glória. Ou melhor, refulge, como própria, a glória mesma de Deus, porque ele é "o resplendor de sua glória e a expressão de seu ser" (cf. Hb 1,3). Jesus não é como os grandes personagens do AT que viram a glória de Deus. Ele não vê Deus, é visto como Deus. Inaugura-se sobre o Tabor um novo gênero de teofania: a cristofania. Transfigurou-se significa que revelou algo de sua divindade e mostrou-lhes o Deus que habitava em sua carne, não arrogando-se algo que não é, mas mostrando aos discípulos o que na realidade era. Enquanto rezava, seu rosto brilhou como o sol Não podemos reduzir a Transfiguração a esse aspecto de revelação, em benefício só dos apóstolos e não de Jesus. A Transfiguração, como a Ela constitui sobretudo um dom que o Pai faz a Jesus, uma forma de demonstrar-lhe sua complacência. No Tabor, Jesus é o Filho que introduz seus discípulos num momento de intimidade entre ele e o Pai celeste, para que sejam testemunhas e participantes de sua glória. Ressurreição, é um mistério. Em sua humanidade, naquele dia Jesus entrou em um êxtase especial, pois Jesus é o único que não precisa "sair de si" para entrar em Deus. A Transfiguração é um mistério de felicidade divina. Toda a fluência de alegria que jorra entre Pai e Filho e que é o próprio Espírito Santo "transbordou" no vaso da humanidade de Cristo. Jesus subiu à montanha "para rezar" e foi "enquanto rezava" que o aspecto de seu rosto mudou. A Transfiguração é um efeito direto da oração de Jesus com o Pai. Todas as orações de Jesus começam com um clamor filial: Abbá!, e são um diálogo livre e amoroso com o Pai. Em outra ocasião, rezando, Jesus chegou quase ao êxtase. Foi quando "exultou sob a ação do Espírito Santo e disse: 'Eu te louvo, Pai..."' (LC 10,21). Na Transfiguração, aconteceu exatamente como no batismo no Jordão. Também lá, foi a oração de Jesus que abriu os céus e fez descer o Espírito: "Jesus, batizado também ele, rezava; então o céu se abriu..." (LC 3,21s). Naquele dia, Jesus não subiu ao monte Tabor para ser transfigurado. Essa era a surpresa que o Pai guardava para ele. Como já se disse, subiu para rezar, para responder a um chamado impulsor de diálogo com o Pai. "Enquanto rezava, o aspecto de seu rosto mudou". E é ainda o que transporta a Transfiguração para muito perto de nós, como um mistério que não é só para ser contemplado, mas também imitado. Se a contemplação de Cristo tem por finalidade, como disse Paulo, transformar-nos naquele que contemplamos, se também nós somos chamados a transfigurarnos, então a oração é o caminho privilegiado para consegui-lo. Não existe no Evangelho uma cena que exerça maior fascínio do que a de Jesus que ao anoitecer, ou no decurso da noite, ou ao romper da aurora, quando ainda escuro, na montanha ou à beira do Iago, roga ao Pai. É uma imagem-ímã, com poder de atrair a mente e o coração, dinamizar os pensamentos e os desejos. Deslumbra. Todo o amor e a vida trinitária passavam no interior daquele vórtice. Talvez tenha sido em uma circunstância semelhante que eles, impressionados, pediram a Jesus: "Senhor, ensina-nos a rezar!" (Lc 11,1). Antes de prosseguir, também dirigimos a Jesus o mesmo pedido: "Senhor, ensina-nos a rezar!" "Apareceram-lhes Moisés e Elias" O sentido da Transfiguração que denominamos "objetivo" — o que ela significa para a história da salvação e para a compreensão da pessoa de Cristo — revela-se principalmente na presença de Moisés e Elias. O primeiro foi visto como representante da Lei, e o segundo, dos Profetas. Todavia, pode ser que aqui estejam para evocar um evento: o Sinai, sobre o qual ambos tiveram uma revelação de Deus. O paralelismo Sinai-Tabor impõe-se. "O Tabor supera o Sinai: naquele, uma chama de fogo, neste, a luz da divindade; no primeiro a sarça, no segundo a nuvem; lá Moisés, o servo glorioso, aqui o próprio Senhor da glória; lá a figura, aqui a realidade; não mais a Lei dada por meio de Moisés, mas sim a graça e verdade dadas por meio de Jesus Cristo” (cf. Jo 1,17). Moisés encontra-se diante da verdadeira "sarça ardente"; finalmente ouve falarlhe "aquele que é"; seu desejo de ' 'ver a glória de Deus" é satisfeito. Não contempla mais Deus "de costas", oculto na cavidade de uma rocha; a "mão" que protege os olhos de Moisés é agora a carne de Cristo com que Deus se cobriu. Detenhamo-nos em um detalhe importante. Marcos e Mateus afirmam simplesmente que Moisés e Elias "conversavam" com Jesus, ao que Lucas especifica também sobre o que falavam: de seu "êxodo, que seria levado a termo em Jerusalém". Mas eles não instruem Jesus quanto a seu destino de paixão - ele próprio o havia prenunciado pouco antes aos discípulos (cf. Lc 9,22-44). Antes, servem como celestial confirmação da palavra de Jesus. Jesus, depois da Ressurreição, "começando por Moisés e todos os profetas", explicou aos discípulos de Emaús que "era preciso que o Cristo sofresse isso para entrar na sua glória" (Lc 24,26s). Algo semelhante ocorre agora, antes que as coisas aconteçam. A Paixão é colocada no próprio coração do mistério da Transfiguração. A glória de Jesus é inseparável da cruz, ainda que seja por um só instante. A Transfiguração é um fato totalmente diferente das apoteoses pagãs. É a revelação de um novo gênero de glória e de poder que mana precisamente da renúncia a todo poder e toda glória. "Despojou-se e se rebaixou, tornando-se obediente até a morte... Foi por isso que Deus o exaltou" (cf. FI 2,6s). Lucas observa que "Pedro e seus companheiros estavam acabrunhados de sono"; detalhe que prenuncia o que irá acontecer no Getsêmani. Quantas vezes, discípulos sonolentos e ausentes temos sido nós. Estávamos junto ao altar. Jesus estava não só se transfigurando, mas transubstanciandose no pão e no vinho, diante de nós. Não apenas Moisés e Elias, mas fileiras de anjos estavam ali sem ousar "fixar o olhar" nele, e nós estávamos distraídos, com a mente em outro lugar. "Levantarei aqui três tendas" A proposta das três tendas parece nova tentativa de Pedro para deter Jesus em seu caminho rumo à Paixão, uma réplica de seu "Deus te livre disso, Senhor!" pronunciado pouco antes (cf. Mt 16,22). Mas, para Santo Agostinho, Pedro experimentou as alegrias da contemplação e seu desejo era o de não retornar às preocupações e à confusão que o esperavam quando descesse do monte: "Pedro estava enfastiado da multidão, havia encontrado a solidão sobre o monte; ele tinha ali Cristo como alimento da alma. Por que teria de descer para voltar à lida e às aflições, enquanto lá no alto estava cheio de sentimentos de amor para Deus, os quais por isso mesmo lhe inspiravam uma conduta santa?" "Desce, Pedro; desejavas repousar sobre o monte: desce, prega a palavra de Deus, repreende, exorta, encoraja usando toda tua paciência e tua capacidade de ensinar. (...) Desce para te cansares na terra, para servires na terra, para seres desprezado, para seres crucificado na terra”. A contemplação deve ser preferida à ação. Mas, em importância, uma e outra são superadas pela caridade. Em favor desta, alguns podem ser chamados a renunciar à ação e outros à contemplação. Na realidade, não se trata de renunciar à contemplação, mas de dar-lhe continuidade sob outra forma. Não se deve ser ativo na contemplação (a atividade, principalmente a da mente, perturba a verdadeira contemplação!), ao contrário, pode-se e se deve ser contemplativo na ação. Santa Catarina de Sena "edificou, por inspiração do Espírito Santo" uma cela secreta em seu espírito, da qual impôs a si própria nunca mais sair. O reino de Deus que está "dentro de nós" torna tudo isso realidade. Em plena atividade é possível, "sair de casa sem ser notado" e subir ao monte Tabor interior. Um átimo, um olhar, um pensamento é o suficiente para estabelecer um contato salutar com o invisível. E voltar a ouvir ou trabalhar mais disponíveis que antes, como quem deu uma endireitada no leme, pondo-se depois a remar tranquilo. 1. "Da nuvem fez-se ouvir uma voz" "Deus realiza imediatamente, a seu modo, o que Pedro queria fazer à maneira humana: a nuvem, sinal da presença de Deus e de sua glória, os 'envolve'. Não os recebe só sob sua 'sombra', mas os envolve e os protege, tanto que se pode 'entrar' nela." Com essa tenda divina, tornam-se inúteis as três tendas projetadas por Pedro. Verdade é que a nuvem é habitualmente associada à glória de Deus, contudo, no Novo Testamento, começa já a ser relacionada com o Espírito (cf. L 1,35) e assim será, a seguir, constantemente interpretada pelos Padres que comentam a Transfiguração. A nuvem seria então na Transfiguração o mesmo que a pomba no batismo, ou seja, o sinal visível da presença do Espírito Santo. Ademais, como poderia o Espírito estar de todo ausente em uma teofania tão obviamente trinitária? A própria luz que se irradia de Cristo é justamente o Espírito Santo que habitava em sua carne. Foi por obra do Espírito Santo que, na Ressurreição, o corpo morto de Cristo reanimou-se e retornou à vida (cf. Rm 1,4), e é a mesma força que no monte Tabor transparece por meio de seu corpo mortal nós que nos achegamos à Transfiguração com intuito A contemplação de Jesus só é possível “no Espírito Santo”. Na contemplação, contemplativo, este é um ponto importante. somos transfigurados em Cristo "pelo Senhor, que é Espírito", como disse são Paulo (2Cor 3,18). Nossa confiança baseia-se precisamente neste ponto: "Recebemos o Espírito que vem de Deus, a fim de conhecermos os dons da graça de Deus" (1Cor 2,12), e em primeiro lugar Jesus, que é o primeiro dos seus dons. É o Espírito que patenteia aos simples a compreensão de Cristo, seus sentimentos, seus gostos. Nunca nos colocamos em oração e em contemplação sem antes invocar a presença do Espírito: "Vem, Espírito criador. Cria em mim a verdadeira oração, a contemplação 'em espírito e verdade'". Estamos nos aproximando do clímax da cena. Como em toda teofania, ao sinal perceptível à vista, a nuvem, junta-se outro, perceptível ao ouvido: uma voz. No Pentecostes, o sinal visível são as línguas de fogo, o que se ouve é o estrépito do vento. Mas há aqui algo mais. No sinal que se vê, a nuvem, faz-se presente o Espírito Santo e, no sinal da voz que se ouve, faz-se presente o Pai que proclama: "Este é meu Filho bem-amado. Ouvi-o!" Havia três personagens diante dos apóstolos, entretanto o Pai não diz: "Estes são os meus filhos, ouvi-os!"'; ao contrário, fala no singular: "Ouvi-o!" Moisés e Elias, os vértices espirituais do Antigo Testamento aparecem agora como simples servidores. Como Maria, em determinadas representações da Natividade, que se encontra de joelhos diante do Filho, maravilhada e em adoração. Como a criatura deve deixar-se ficar na presença do Criador, o servo diante de seu Senhor. “Ouvi-o!” Quando Pedro falava em fazer três tendas, "não sabia o que dizia”, era como colocá-los no mesmo plano, desconhecer a infinita distância existente entre eles. Significava também dividir implicitamente a Escritura, como se Moisés e Elias houvessem falado em nome próprio e não houvesse sido o único Verbo de Deus que falou também neles. "Falam os Profetas, fala a Lei, mas 'Ouve-o!', pois é a voz da Lei e dos Profetas. Era ele que se fazia ouvir por meio deles." Conclui-se aqui a revelação sobre a pessoa de Jesus e também sobre seu lugar na história da salvação. No Sinai, Deus havia manifestado sua vontade a respeito dos homens dando a Torah. "Em seguida, tendo acabado de falar com Moisés sobre o monte Sinai, deu-lhe as duas tábuas do Documento, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus" (Ex 31,18). "Moisés convocou todo Israel e lhe disse: Escuta Israel, as leis e os costumes que hoje proclamo aos vossos ouvidos; vós os aprendereis e cuidareis de pô-los em prática" (Dt 5,1). No Tabor, Deus diz: Cristo tomou o lugar da lei. Agora é ele, em tudo o que diz e faz, a expressão completa e definitiva da vontade do Pai. É ele o profeta futuro anunciado pelo próprio Moisés, ordenando que fosse ouvido (cf. Dt 18,15). Na Transfiguração, Jesus se mostra bem mais que um novo Moisés; ele é também a nova lei. Não é só o mediador da Revelação, mas é a nova plena auto revelação de Deus aos homens. "A partir do dia em que proclamei no Tabor: 'Este é o meu Filho bem-amado, aquele que me aprouve escolher. Ouvi-o!', confiei tudo a ele. Escutai-o, porque já não tenho mais argumentos de fé a revelar, nem verdades a manifestar”. "Erguendo os olhos, nada mais viram senão Jesus, só" O destaque que os três sinóticos dão a essa observação final esconde um profundo significado. Vale dizer este é Jesus que preciso ouvir, o Jesus dos Evangelhos, ‘não só o dos momentos glorificantes. "Para a Igreja, basta a presença de Jesus e de suas palavras. Da mesma forma o Antigo Testamento passará a ser lido tendo em vista principalmente um motivo: enquanto fala dele e ele também fala nele. "Moisés, ou seja, a Lei, e Elias, isto é, a Profecia, tornaram-se uma só coisa com Jesus, a saber, com o Evangelho. Não é mais como antes: já não são três; os três tornaram-se um único ser. Por isso, diz-se: "Nada mais viram senão Jesus, só". "Jesus, só" nessa expressão, que conclui a narrativa da Transfiguração, encerra-se todo um programa de vida, a máxima "concentração cristológica". É óbvio que “Jesus só” não significa que possamos deixar de lado o Pai e o Espírito Santo, e sim que Jesus é o único lugar no qual Deus-Trindade se faz plenamente manifesto e operante para os homens. Significa que ninguém vai ao Pai a não ser por meio dele, quer tenha ciência disso ou não. Igualmente em nível pessoal, que programa naquela expressão! Quantas coisas colocamos junto de Jesus na própria vida: Jesus e o dinheiro, Jesus e a carreira, Jesus e a própria liberdade, Jesus e as consolações de Jesus. Fazer ressoar no próprio espírito aquele brado: “Jesus, só!" é como arremessar uma pedra numa árvore pululante de pássaros que fazem um grande ruído. Os pensamentos, projetos, preocupações inúteis voam para longe como os pássaros, fazendo-se no coração um profundo silêncio e uma paz profunda. Está escrito que Moisés, quando desceu do monte Sinai, não sabia que a pele do seu rosto ficara irradiante "ao falar com o Senhor" (Ex 34,29). Descendo agora de nosso Tabor para retomar o trabalho cotidiano, esperamos que também nosso rosto, sem que percebamos, transmita um pouco da paz e da serenidade que nos deu o que contemplamos no monte santo. O segredo de João João possui, a esse respeito, um pequeno segredo a nos revelar, Como conseguiu ele chegar a uma admiração tão abrangente e a uma ideia tão absoluta da pessoa de Jesus? Como se explica o fato de que, com o passar dos anos, seu amor por Jesus, em vez de enfraquecer, foi aumentando sempre mais? Além da ação do Espírito Santo, acredito que se deva ao fato de que tinha junto e si a Mãe de Jesus, vivia com ela, rezava com ela, falava de Jesus com ela. É impressionante pensar que quando concebeu a frase: "E o Verbo se fez carne", o evangelista tinha ao lado de si, sob o mesmo teto, aquela em cujo seio se realizou esse mistério. Orígenes escreveu: "A flor dos evangelhos é o evangelho de João, cujo sentido profundo não pode, no entanto, ser apreendido por quem não tenha apoiado a cabeça sobre o peito de Jesus e não tenha recebido dele Maria como sua própria mãe. Maria comunicou ao discípulo seu próprio amor por Jesus. Devemos pedir a Maria, por força da comunhão dos santos, que nos dê um pouco de seu amor por Cristo. Necessitamos, de fato, exatamente disso: um amor materno por Jesus. E isso inclusive como corretivo do excesso de teologização em torno dele. (Nem sempre aplicar-se em cristologia é aplicar-se em Cristo!) O amor materno tem uma característica: é todo prontidão, singeleza, não conhece segundas intenções. Não é cerebral e sim visceral, no sentido mais nobre do termo. Nisso é único, e tampouco os maiores doutores e místicos o podem igualar. Os ícones denominados "da Mãe de Deus da ternura" procuram exprimir justamente essa qualidade materna do amor de Maria por Jesus. Maria está face a face com Jesus que lhe circunda o pescoço com sua mãozinha. Jesus nasceu "de Maria Virgem, por obra do Espírito Santo". O Espírito Santo e Maria, por títulos distintos, são os dois melhores aliados em nosso esforço de aproximação de Jesus, de gerá-lo em nossa vida. Por isso, rezemos assim: Mãe de Deus, ensina-nos a amar Jesus. Ajuda-nos a acolhê-lo, como naquele dia o acolheste: com infinita adoração, humildade, respeito, gratidão, amor e comoção! Concede-nos proclamar e ouvir, como se fosse pela primeira vez, as palavras antigas e sempre novas: "No início era o Verbo... E o Verbo se fez carne... Vimos a sua glória!" Ótimo comentário também temos em: http://www.filhosdapaixao.org.br/escritos/comentarios/quaresma/comentario_quaresma_00 2.htm