A TRANSFIGURAÇÃO – Lc 9, 28b-36

Propaganda
CÉLULAS PAROQUIAIS DE
EVANGELIZAÇÃO
APOIO À PREPARAÇÃO DA EDIFICAÇÃO
TEMA: A TRANSFIGURAÇÃO
Lc 9, 28b-36
OBJETIVO: DEIXAR-SE TRANFIGURAR EM CRISTO
A- EXORTAÇÃO DO PASTOR
B- OBSERVAÇÃO, EXPLORAÇÃO E APLICAÇÃO
C- APROFUNDAMENTO
RESUMOS DE RANIERO CANTALAMESSA - “O MISTÉRIO DA TRANSFIGURAÇÃO”
- CAP 1 – TESTEMUNHAS OCULARES DE SUA GRANDEZA
- CAP 2 – TRANSFIGUROU-SE DIANTE DELES
- CAP 4 - SEGREDO DE JOÃO
Este texto não é um estudo exegético, mas um apoio à
Liderança para a preparação da Edificação. Para isto, aconselha
seguir os passos da Leitura Orante, procurando uma luz de
contemplação que provoque resposta e transformação do
coração.
A – EXORTAÇÃO DO PASTOR
Irmãos!
O luminoso Mistério da Transfiguração apresenta Jesus
após a vitória dos Mistérios da Páscoa e a plenitude
do plano do Pai:
"No Tabor prenunciaram-se os mistérios da crucifixão,
revelou-se a beleza do Reino e manifestou-se a
segunda descida e vinda gloriosa de Cristo. Foi
prefigurada a imagem do que viremos a ser e nossa
conformação ao Cristo. A festa atual mostra-nos um
outro Sinai, muito mais suntuoso que o primeiro"
(Anastásio Sinaíta, “Homilia para a Santa
Transfiguração de Cristo”).
É o Espírito que nos envolve e o Pai diz a nossos
corações:
“Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!”
Contemplemos Jesus, deixemo-nos transfigurar à sua
imagem!
B-OBSERVAÇÃO, EXPLORAÇÃO E APLICAÇÃO
Lucas 9,28b-36
(Marcos 9,2-9; Mateus 17,1-9)
A “CÉLULA” DO TABOR E A “CÉLULA” DO GÓLGOTA
Jesus sobe a uma alta montanha e “leva consigo Pedro,
João e Tiago”, seus mais próximos discípulos. Sobe para
orar, para um Encontro com o Pai.
Por maravilhosa surpresa do Pai e do Espírito, este
Encontro de oração se tornará também Mistério de Luz,
uma extraordinária Exaltação de Jesus Cristo, seu Filho.
Pois, ao orarem, se juntarão a eles, “revestidos de glória”,
os expoentes da Lei e da Profecia e experientes na glória
do Sinai: Moisés e Elias. Que conversam com Cristo sobre
sua iminente Entrega, “a morte, que Jesus iria sofrer em
Jerusalém”.
E aquela “Célula” é imersa na nuvem do Espírito, para que
aconteça uma máxima Edificação, dada pelo Pai:
“Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o
que ele diz!”
Edificação suprema, que os prepara, não para
permanecerem ali em tendas, no êxtase da felicidade da
Trindade e imunes à ameaça de Jerusalém, mas para
subirem outro monte, o Gólgota.
Para que assim o mundo seja salvo pelo amor do Pai na
Entrega de seu Filho. Para que assim aconteça a
Evangelização do mundo e este veja até que ponto é
amado. Para que assim coloque toda sua esperança no
Pai, e tome posse do seu Reino de Paz e Amor como seus
Filhos.
A Transfiguração é, pois, uma Edificação sobre quem é
Jesus em plenitude final, mas também um Envio à
Evangelização, para que aqueles três discípulos
medrosos completem com Jesus a sua missão no Gólgota
- e a continuem como Igreja. Pois a plenitude profética
que Jesus apresenta na sua Transfiguração, tem no
Gólgota, na Paixão e Ressurreição, sua fonte e origem.
Dos três, apenas um subirá ao Gólgota – para
testemunhar o ápice da Lei e Profecia na Cruz, onde Deus
se revela na plenitude da Misericórdia.
Dos três, apenas um subirá ao Gólgota, para, com Maria,
a Mulher, Virgem e Mãe que oferece seu Filho Deus, na
Luz do maior Mistério de Dor e Amor, constituir a Célula
primeira da Igreja.
Ligado a Jesus por Maria, ligado a Maria por Jesus, o
discípulo amado se torna Memória de que a
Transfiguração preparara algo maior: a Transubstanciação
do Sangue e Carne, ali vertidos e imolados, em Pão e
Vinho de Vida eterna. Alimento e bebida que em Cristo
nos transforma.
Subamos ao Monte.
APLICAÇÕES (sugestões – não se prenda a elas, ouça o Espírito!)
 EXALTAÇÃO: A oração, que nos faz subir ao monte e
nos elevar ao Pai no Espírito, é essencial para que
conheçamos Cristo e nos tornemos seus discípulos
missionários.
o Como fazer para nosso orar ser uma subida ao monte,
ou seja, um contemplar em silêncio a Verdade, a Beleza
e a Bondade de Cristo? Até que ponto sabemos que nos
tornamos naquilo que contemplamos, sobretudo se for
com amor?
 ENCONTRO: É nos unindo ao Pai no Espírito de Jesus
Cristo que poderemos constituir uma comunhão à
sua imagem e semelhança, uma Célula fecunda e
multiplicadora.
o Como evoluir para uma oração impulsionada pelo
Espírito, que nos una entre nós e a Cristo, e que se
eleve dos corações e se dirija ao Pai?
 EDIFICAÇÃO: A Transfiguração é um evento da
Trindade conosco, mas centrada em Cristo como
Palavra do Pai, encarnada para levar à plenitude a
Lei e a Profecia através da Cruz.
o Quais meios temos praticado para nos Edificar? Temos
evoluído na Contemplação, ou seja, numa oração que
sobe o monte e procura escutar o que Deus nos diz?
 ENTREGA: A Lei e a Profecia atingem seu ápice na
Entrega de Jesus, pelo Pai, na Cruz.
o Temos medo, fugimos da Entrega, como Pedro de
Jerusalém? Ou ela já faz parte de nossa vida, como
parte indispensável e essencial do discípulo
missionário?
 EVANGELIZAÇÃO: O Pai pronuncia sua Palavra maior
em Cristo: “Ouvi-o!”. Mas é só envoltos na nuvem do
Espírito que podemos compreender esta grande Boa
Nova.
o A convicção e a experiência de que o conhecer a Cristo
e a sua missão é feita no impulso e força do Espírito já
nos penetrou? Partilhem.
COLETA – (sugestão – não se prenda a ela, ouça o Espírito!)
Oração espontânea, ou pedir a todos para repetirem:
Divino Espírito Santo, fazei-nos escutar a voz do Pai que
nos manda ouvir seu filho Jesus Cristo!
Santíssima Trindade, transfigurai-nos à imagem de Jesus
Cristo!
Santos apóstolos Pedro, Tiago e João – intercedei para
que saiamos de nosso sono e nos transfiguremos em
discípulos missionários contemplativos de Jesus Cristo!
EXERCÍCIO PARA A SEMANA (sugestões – não se
prenda a elas, ouça o Espírito!)
Invocar várias vezes ao dia: Maria, minha mãe,
“fotografe” Jesus em minha alma.
Ou
Procurar praticar a oração do Pai Nosso em atitude de
contemplação, unindo-se no Espírito a Jesus.
Ou seja, pedir ao Espírito Santo que faça Jesus orar em
você ao Pai, na alegria e felicidade do amor que recebe
dele, e no fogo e ardor do mesmo amor com que ele
responde ao Pai.
C – APROFUNDAMENTO
Extraído e simplificado de O Mistério da Transfiguração Raniero Cantalamessa
Premissa
O objetivo essencial é fomentar a contemplação de Cristo, inflamar de desejo
dela, alimentá-la com as fulgurantes revelações da Transfiguração de Cristo,
considerada como mistério da vida de Cristo, evento histórico da vida de Jesus
imbuído de significado salvífico, exemplo e causador de efeitos nas relações
dos membros de seu corpo, que é a Igreja.
I
“Testemunhas oculares de sua grandeza”
Uma abordagem mistagógica da Transfiguração
A Transfiguração é um mistério da vida de Cristo. Algo se realiza em Jesus,
que é o sujeito da ação prodigiosa, mas também o objeto. Na Transfiguração,
no nascimento, no batismo e, na morte e ressurreição, não só se produz algo
por meio dele, mas também nele se produz algo que orienta o curso de sua
vida e especifica o sentido de sua missão.
A Transfiguração em sua dimensão pedagógica afasta do coração dos
apóstolos o escândalo da cruz, a fim de que a humilhação da paixão não
perturbasse a fé deles, considerando que lhes havia sido revelada por
antecipação a excelência de sua dignidade oculta. É um antídoto ao escândalo
da Paixão, como promessa da Ressurreição. Mas a Transfiguração é um
mistério em si mesmo, e não apenas com referência à Páscoa. Anastásio
Sinaíta escreve:
"No Tabor prenunciaram-se os mistérios da crucifixão, revelou-se a
beleza do Reino e manifestou-se a segunda descida e vinda gloriosa de
Cristo. Foi prefigurada a imagem do que viremos a ser e nossa
conformação ao Cristo. A festa atual mostra-nos um outro Sinai, muito
mais suntuoso que o primeiro".
A Transfiguração estabelece o fundamento da esperança da santa Igreja, num
ensinamento que Deus transmite à Igreja, dado para confirmar os apóstolos e
fazê-los progredir em conhecimento.
Jesus Filho de Deus se revela na presença dos seus: é uma teofania, uma
cristofania. Não só se apresenta como um mistério que tem sentido em si
mesmo, mas que reúne em si todos os mistérios, um vértice do qual se
expande sobre a história da salvação, no Antigo e Novo Testamento. Realiza o
passado: a criação, com a manifestação da verdadeira imagem de Deus, o
Sinai, a lei, os profetas; e antecipa o futuro: a glória da Ressurreição, a
segunda vinda, o esplendor final dos justos.
Cristo se mostra como "centro dos tempos", "dos mundos", o divino e o
humano., "todo inteiro Deus e todo inteiro homem", Deus e homem reunidos
numa mesma pessoa.
A Transfiguração é cristocêntrica. O que será conclusivo no mistério pascal da
morte e Ressurreição de Cristo, na Transfiguração é manifestada por
antecipação, em um gesto profético. Jesus, partindo o pão e oferecendo o
cálice, na instituição da Eucaristia, antecipa sua morte revelando-lhe o sentido;
a Transfiguração prenuncia e antecipa a glorificação que se realizará na
Ressurreição.
A Transfiguração é "uma prefiguração criadora da realidade que há de
suceder", com ela "o próprio porvir começa a atuar-se".
Em outras palavras, a glorificação de Cristo não é simplesmente prefigurada,
mas tem já início.
Contemplando, nós nos transfiguramos
Para que um acontecimento da vida de Jesus se constitua em um mistério, não
basta que "algo se opere em Cristo", mas é necessário que tal acontecimento
seja revestido de um significado salvífico para todo o seu corpo, que possua,
como se dizia, valor exemplar e causador de efeitos nas relações da Igreja.
Para santo Agostinho, essa é a característica que distingue um simples
"aniversário" de uma celebração "à maneira de mistério" (in sacramento). No
caso de uma celebração à maneira de mistério, deve-se levar em conta
principalmente a incidência do acontecimento no hoje e também a parte que
temos nele.
Na festa da Transfiguração, a Igreja não celebra apenas a transfiguração
de Cristo, mas também a sua própria.
Que espécie de transfiguração? Antes de tudo, a transfiguração escatológica, a
que acontecerá no tempo final, quando o Senhor Jesus, como diz o Apóstolo,
"há de transfigurar nosso mísero corpo, para torná-lo semelhante a seu corpo
glorioso" (Hb 3,21). "Cristo transfigurou-se para nos mostrar a futura
transfiguração de nossa natureza e sua segunda vinda".
A Transfiguração realizou-se "a fim de que todo o corpo tomasse consciência
do tipo de transfiguração do qual teria sido objeto e para que os membros
garantissem a si mesmos a participação naquela mesma glória que havia
brilhado na cabeça".
É prefigurada na Transfiguração não só nossa transformação final, mas
também a de todo o cosmo. Sobre o Tabor, Cristo "transfigurou à sua imagem
toda a criação, recriando-a de modo ainda mais sublime".
Um universo transfigurado e "cristificado" com o divino, que no tempo final
transparece através de todo o criado, como no Tabor transpareceu por meio da
carne de Cristo, entende-se de maneira análoga, e não idêntica .
Não é só na outra vida que a Transfiguração de Cristo importa a seu corpo
místico, mas também nesta vida. São Paulo usa duas vezes o verbo
transfigurar-se e nas duas vezes indica algo que tem lugar aqui e agora:
"transformai-vos pela renovação de vosso espírito" (Rm 12,2). No segundo
texto, o Apóstolo explica também como isso acontece: "E nós todos que, de
rosto descoberto, refletimos a glória do Senhor, somos transfigurados nesta
mesma imagem, com uma glória sempre maior, pelo Senhor, que é Espírito"
(2Cor 3,18).
Mediante a contemplação devemos penetrar mistério da Transfiguração, fazêlo nosso, tornando-nos parte em sua causa. Cristo é o espelho no qual
contemplamos a glória divina; nós somos o espelho que, contemplando Cristo,
refletimos a glória divina. “Nós contemplamos e refletimos", isto é, "refletimos o
que contemplamos". O homem não só reflete o que contempla, mas
transforma-se
naquilo
que
contempla.
Contemplando,
somos
transfigurados na imagem que contemplamos.
"O homem é aquilo que come". Numa civilização dominada pela imagem devese dizer: "O homem é aquilo que vê". A imagem tem o poder de penetrar não
só no corpo, mas na própria alma. O olho é "a lâmpada da alma" (cf. Mt 6,22);
e é também a porta da alma.
Contemplando Cristo, nós nos tornamos semelhantes a ele, conformamo-nos a
ele, consentimos que seu mundo, seus propósitos e seus sentimentos se
imprimam em nós, que substituam nossos pensamentos, propósitos e
sentimentos, que nos façam semelhantes a ele. Ocorre na contemplação o
mesmo que na fotografia, e é curioso descobrir que o próprio termo "fotografar"
aparece pela primeira vez o século XII, para indicar o que acontece quando a
alma contempla (photeinographein) Jesus Cristo, “sabedoria e potência de
Deus."
Certas imagens têm o poder de ficar gravadas em nossa mente e nela
permanecer como grafites em muros de cimento.
3. A subida ao monte Tabor
O Tabor foi o alicerce instituidor o apelo mais forte a essa contemplação de
Cristo que transforma. Ele é, por excelência, mistério da contemplação de
Jesus. No "monte santo", como o chama são Pedro, os apóstolos foram
contempladores, espectadores, testemunhas oculares da grandeza de Jesus
(cf.2Pd 1,16-18). Na Transfiguração, prevalece a direção intencional que é a
contemplação.
Devemos reforçar a experiência de contemplação, de chegar ao "âmago do
assunto", em outras tantas subidas matutinas ao monte Tabor, com o propósito
de passar meia hora "de olhos fitos naquele que é o iniciador da fé e a conduz
à realização" (Hb 12,1), retornando depois, revigorados, ao trabalho cotidiano.
Paulo VI, nutria grande amor pelo mistério da Transfiguração:
"Para conhecer Cristo, é preciso crer nele. A agressão provocada por
exegeses parciais ou falsas, o hábito de fórmulas verbais, o cansaço
imposto à mente pela idade, e muitos outros desvios ou depressões do
pensamento, às vezes arrefecem e até extinguem, mesmo no seguidor
fiel, o conhecimento transfigurado de Jesus, a maravilha, a alegria, a
descoberta sempre progressiva de sua realidade humano-divina, de tal
modo que se torna necessário, enquanto dura esta penumbra da vida
presente, que seja continuamente despertada nossa contemplação de
Jesus Cristo" .
A Igreja tem necessidade vital de recuperar, esse "conhecimento transfigurado"
de Cristo, que não rejeita o conhecimento "científico", mas transcende-o.
Sem ela, corremos o risco de serem "dissecados", reduzidos a fatos nus,
perdendo-se de vista a vida que verte de dentro deles. N"a letra", e já não se
percebem os corações que palpitam por detrás dos gestos e das palavras. O
propósito da contemplação consiste em ir além da letra e reviver dentro
de si os sentimentos e os estados de espírito: de
Jesus, dos apóstolos, do próprio Pai celeste quando
proclama: "Este é o meu Filho bem-amado".
Fazer nossa a sua atitude de adoração ilimitada. Tudo é possível quando a
contemplação da Transfiguração se realiza dentro da mesma "nuvem
luminosa" na qual ocorre o fato, isto é, "no Espírito Santo".
Nossa contemplação não será confiada exclusivamente à nossa capacidade do
momento. Ou melhor, poremos todo empenho em tomar parte
na grande contemplação
de Cristo que teve início já na Escritura e
continuou ininterruptamente na Tradição.
Entrever o invisível através da imagem do visível, exatamente como a
divindade de Cristo transpareceu no Tabor por entre o véu de sua carne.
Simplificar, achegando-se cada vez mais ao essencial.
Uma meditação mistagógica, faz recolher o que de melhor o Espírito Santo fez
compreender no passado a seu respeito dado que os mistérios de Cristo, como
suas palavras, são "espírito e vida" e jamais se pode dar por exaurida a
revelação de todas as suas riquezas ocultas.
Na vida dos santos há momentos de revelação, de contato profundo e decisivo
com o divino, cujo alcance só se manifesta à medida que se experimentam
seus frutos ou se constata sua concretização no curso da vida. Como em são
Serafim de Sarov, relatada por seu discípulo Motovilov.
5. Jesus se transfigura nas Escrituras
A narração da Transfiguração constitui em si mesma, para nós, o Tabor a subir,
a nuvem em que entramos e o véu que se deve abrir, permitindo-nos
contemplar Cristo em três narrativas — Marcos 9,2-9; Mateus 17,1-9 e Lucas
9,28-36 — numa visão de conjunto.
Na Transfiguração a força não reside no olhar de Cristo mas sim no todo e,
especialmente, em suas vestes. Aquele "branco" deve certamente fazer
transparecer o mistério da luz divina que se irradia do interior de Cristo. As
próprias palavras do Evangelho, são também vestes de Cristo:
Jesus se transfigura na Escritura, não basta a inteligência humana para tornar
suas vestes cândidas, isto é, suas palavras claras e compreensíveis. Marcos
observa que nenhuma lavadeira no mundo poderia deixar vestes tão brancas
quanto as de Jesus no Tabor. Iluminar o mistério encerrado na Escritura e na
Transfiguração, só o Espírito Santo pode fazê-lo.
Contemplar pode ser para nós uma sarça ardente, na qual Deus revela
sua face definitiva.
II
Transfigurou-se diante deles
No Tabor, em companhia dos três apóstolos
"Jesus toma consigo Pedro, Tiago e João..."
Jesus toma consigo Pedro, Tiago e João, "e os leva a sós, ao cimo de uma alta
montanha" (Marcos). O acontecimento é separado do ritmo ordinário da vida;
situa-se em uma dimensão diferente: de solidão, de silêncio e de
distanciamento de tudo. Somos convidados a um Tabor espiritual, na
disposição de espírito de quem deixa tudo para trás e, conforme São João da
Cruz, ainda noite alta sai de casa para seguir o chamamento do amado:
"Em uma noite escura,
de amor em vivas ânsias inflamada,
— oh! ditosa ventura! —
saí, sem ser notada,
já minha casa estando sossegada".
(João da Cruz, "Subida ao monte Carmelo", estr. 1).
Jesus não se transfigura diante de todos, em meio ao ruído e à multidão, mas
só diante de alguns, daqueles que deixaram em segundo plano parentes,
amigos, trabalho, tudo, e aceitaram seu convite de ficar à parte com ele.
"Seu rosto resplandeceu como o sol, suas vestes
tornaram-se brancas como a luz" (Mateus).
A luz não se projeta de fora sobre Jesus, mas provém de seu interior. Seu rosto
não está simplesmente "iluminado", mas "brilha". Ocorre o mesmo com suas
vestes: tornam-se resplandecentes. Jesus brilha com luz própria, não refletida;
em seu rosto não refulge só a glória de Deus, como sobre o rosto de Moisés
(cf. 2Cor 3,13), mas também sua própria glória. Ou melhor, refulge, como
própria, a glória mesma de Deus, porque ele é "o resplendor de sua glória e a
expressão de seu ser" (cf. Hb 1,3).
Jesus não é como os grandes personagens do AT que viram a glória de Deus.
Ele não vê Deus, é visto como Deus. Inaugura-se sobre o Tabor um novo
gênero de teofania: a cristofania.
Transfigurou-se significa que revelou algo de sua divindade e mostrou-lhes o
Deus que habitava em sua carne, não arrogando-se algo que não é, mas
mostrando aos discípulos o que na realidade era.
Enquanto rezava, seu rosto brilhou como o sol
Não podemos reduzir a Transfiguração a esse aspecto de revelação, em
benefício só dos apóstolos e não de Jesus. A Transfiguração, como a
Ela constitui sobretudo um dom
que o Pai faz a Jesus, uma forma de demonstrar-lhe
sua complacência.
No Tabor, Jesus é o Filho que introduz seus discípulos
num momento de intimidade entre ele e o Pai celeste,
para que sejam testemunhas e participantes de sua
glória.
Ressurreição, é um mistério.
Em sua humanidade, naquele dia Jesus entrou em um êxtase especial, pois
Jesus é o único que não precisa "sair de si" para entrar em Deus.
A Transfiguração é um mistério de felicidade divina. Toda a fluência de alegria
que jorra entre Pai e Filho e que é o próprio Espírito Santo "transbordou" no
vaso da humanidade de Cristo.
Jesus subiu à montanha "para rezar" e foi "enquanto rezava" que o aspecto de
seu rosto mudou.
A Transfiguração é um efeito direto da
oração de Jesus com o Pai. Todas as orações de Jesus começam
com um clamor filial: Abbá!, e são um diálogo livre e amoroso com o Pai. Em
outra ocasião, rezando, Jesus chegou quase ao êxtase. Foi quando "exultou
sob a ação do Espírito Santo e disse: 'Eu te louvo, Pai..."' (LC 10,21).
Na Transfiguração, aconteceu exatamente como no batismo no Jordão.
Também lá, foi a oração de Jesus que abriu os céus e fez descer o Espírito:
"Jesus, batizado também ele, rezava; então o céu se abriu..." (LC 3,21s).
Naquele dia, Jesus não subiu ao monte Tabor para ser transfigurado. Essa era
a surpresa que o Pai guardava para ele. Como já se disse, subiu para rezar,
para responder a um chamado impulsor de diálogo com o Pai.
"Enquanto rezava, o aspecto de seu rosto mudou".
E é ainda o que transporta a Transfiguração para muito perto de nós, como um
mistério que não é só para ser contemplado, mas também imitado. Se a
contemplação de Cristo tem por finalidade, como disse Paulo, transformar-nos
naquele que contemplamos, se também nós somos chamados a transfigurarnos, então a oração é o caminho privilegiado para consegui-lo.
Não existe no Evangelho uma cena que exerça maior fascínio do que a de
Jesus que ao anoitecer, ou no decurso da noite, ou ao romper da aurora,
quando ainda escuro, na montanha ou à beira do Iago, roga ao Pai. É uma
imagem-ímã, com poder de atrair a mente e o coração, dinamizar os
pensamentos e os desejos. Deslumbra.
Todo o amor e a vida trinitária passavam no interior daquele vórtice. Talvez
tenha sido em uma circunstância semelhante que eles, impressionados,
pediram a Jesus: "Senhor, ensina-nos a rezar!" (Lc 11,1). Antes de prosseguir,
também dirigimos a Jesus o mesmo pedido: "Senhor, ensina-nos a rezar!"
"Apareceram-lhes Moisés e Elias"
O sentido da Transfiguração que denominamos "objetivo" — o que ela significa
para a história da salvação e para a compreensão da pessoa de Cristo —
revela-se principalmente na presença de Moisés e Elias. O primeiro foi visto
como representante da Lei, e o segundo, dos Profetas. Todavia, pode ser que
aqui estejam para evocar um evento: o Sinai, sobre o qual ambos tiveram uma
revelação de Deus. O paralelismo Sinai-Tabor impõe-se.
"O Tabor supera o Sinai: naquele, uma chama de fogo, neste, a luz da
divindade; no primeiro a sarça, no segundo a nuvem; lá Moisés, o servo
glorioso, aqui o próprio Senhor da glória; lá a figura, aqui a realidade; não mais
a Lei dada por meio de Moisés, mas sim a graça e verdade dadas por meio de
Jesus Cristo” (cf. Jo 1,17).
Moisés encontra-se diante da verdadeira "sarça ardente"; finalmente ouve falarlhe "aquele que é"; seu desejo de ' 'ver a glória de Deus" é satisfeito. Não
contempla mais Deus "de costas", oculto na cavidade de uma rocha; a "mão"
que protege os olhos de Moisés é agora a carne de Cristo com que Deus se
cobriu.
Detenhamo-nos em um detalhe importante. Marcos e Mateus afirmam
simplesmente que Moisés e Elias "conversavam" com Jesus, ao que Lucas
especifica também sobre o que falavam: de seu "êxodo, que seria levado a
termo em Jerusalém".
Mas eles não instruem Jesus quanto a seu destino de paixão - ele próprio o
havia prenunciado pouco antes aos discípulos (cf. Lc 9,22-44). Antes, servem
como celestial confirmação da palavra de Jesus. Jesus, depois da
Ressurreição, "começando por Moisés e todos os profetas", explicou aos
discípulos de Emaús que "era preciso que o Cristo sofresse isso para entrar na
sua glória" (Lc 24,26s). Algo semelhante ocorre agora, antes que as coisas
aconteçam.
A Paixão é colocada no próprio coração do mistério da
Transfiguração. A glória de Jesus é inseparável da
cruz, ainda que seja por um só instante. A Transfiguração é
um fato totalmente diferente das apoteoses pagãs. É a revelação de um novo
gênero de glória e de poder que mana precisamente da renúncia a todo poder
e toda glória.
"Despojou-se e se rebaixou, tornando-se obediente até a morte... Foi por isso
que Deus o exaltou" (cf. FI 2,6s).
Lucas observa que "Pedro e seus companheiros estavam acabrunhados de
sono"; detalhe que prenuncia o que irá acontecer no Getsêmani.
Quantas vezes, discípulos sonolentos e ausentes temos sido nós. Estávamos
junto ao altar. Jesus estava não só se transfigurando, mas transubstanciandose no pão e no vinho, diante de nós. Não apenas Moisés e Elias, mas fileiras
de anjos estavam ali sem ousar "fixar o olhar" nele, e nós estávamos
distraídos, com a mente em outro lugar.
"Levantarei aqui três tendas"
A proposta das três tendas parece nova tentativa de Pedro para deter Jesus
em seu caminho rumo à Paixão, uma réplica de seu "Deus te livre disso,
Senhor!" pronunciado pouco antes (cf. Mt 16,22). Mas, para Santo Agostinho,
Pedro experimentou as alegrias da contemplação e seu desejo era o de não
retornar às preocupações e à confusão que o esperavam quando descesse do
monte:
"Pedro estava enfastiado da multidão, havia encontrado a solidão sobre
o monte; ele tinha ali Cristo como alimento da alma. Por que teria de
descer para voltar à lida e às aflições, enquanto lá no alto estava cheio
de sentimentos de amor para Deus, os quais por isso mesmo lhe
inspiravam uma conduta santa?"
"Desce, Pedro; desejavas repousar sobre o monte: desce, prega a
palavra de Deus, repreende, exorta, encoraja usando toda tua paciência
e tua capacidade de ensinar. (...) Desce para te cansares na terra, para
servires na terra, para seres desprezado, para seres crucificado na
terra”.
A contemplação deve ser preferida à ação. Mas, em importância, uma e outra
são superadas pela caridade. Em favor desta, alguns podem ser chamados a
renunciar à ação e outros à contemplação. Na realidade, não se trata de
renunciar à contemplação, mas de dar-lhe continuidade sob outra forma. Não
se deve ser ativo na contemplação (a atividade, principalmente a da mente,
perturba a verdadeira contemplação!), ao contrário, pode-se e se deve ser
contemplativo na ação.
Santa Catarina de Sena "edificou, por inspiração do Espírito Santo" uma cela
secreta em seu espírito, da qual impôs a si própria nunca mais sair. O reino de
Deus que está "dentro de nós" torna tudo isso realidade. Em plena atividade é
possível, "sair de casa sem ser notado" e subir ao monte Tabor interior. Um
átimo, um olhar, um pensamento é o suficiente para estabelecer um contato
salutar com o invisível. E voltar a ouvir ou trabalhar mais disponíveis que antes,
como quem deu uma endireitada no leme, pondo-se depois a remar tranquilo.
1. "Da nuvem fez-se ouvir uma voz"
"Deus realiza imediatamente, a seu modo, o que Pedro queria fazer à maneira
humana: a nuvem, sinal da presença de Deus e de sua glória, os 'envolve'. Não
os recebe só sob sua 'sombra', mas os envolve e os protege, tanto que se pode
'entrar' nela." Com essa tenda divina, tornam-se inúteis as três tendas
projetadas por Pedro.
Verdade é que a nuvem é habitualmente associada à glória de Deus, contudo,
no Novo Testamento, começa já a ser relacionada com o Espírito (cf. L 1,35) e
assim será, a seguir, constantemente interpretada pelos Padres que comentam
a Transfiguração. A nuvem seria então na Transfiguração o mesmo que a
pomba no batismo, ou seja, o sinal visível da presença do Espírito Santo.
Ademais, como poderia o Espírito estar de todo ausente em uma teofania tão
obviamente trinitária? A própria luz que se irradia de Cristo é justamente o
Espírito Santo que habitava em sua carne. Foi por obra do Espírito Santo que,
na Ressurreição, o corpo morto de Cristo reanimou-se e retornou à vida (cf. Rm
1,4), e é a mesma força que no monte Tabor transparece por meio de seu
corpo mortal nós que nos
achegamos à Transfiguração com intuito
A contemplação de
Jesus só é possível “no Espírito Santo”. Na contemplação,
contemplativo, este é um ponto importante.
somos transfigurados em Cristo "pelo Senhor, que é Espírito", como disse são
Paulo (2Cor 3,18). Nossa confiança baseia-se precisamente neste ponto:
"Recebemos o Espírito que vem de Deus, a fim de conhecermos os dons da
graça de Deus" (1Cor 2,12), e em primeiro lugar Jesus, que é o primeiro dos
seus dons.
É o Espírito que patenteia aos simples a compreensão de Cristo, seus
sentimentos, seus gostos. Nunca nos colocamos em oração e em
contemplação sem antes invocar a presença do Espírito: "Vem, Espírito criador.
Cria em mim a verdadeira oração, a contemplação 'em espírito e verdade'".
Estamos nos aproximando do clímax da cena. Como em toda teofania, ao sinal
perceptível à vista, a nuvem, junta-se outro, perceptível ao ouvido: uma voz.
No Pentecostes, o sinal visível são as línguas de fogo, o que se ouve é o
estrépito do vento. Mas há aqui algo mais. No sinal que se vê, a nuvem, faz-se
presente o Espírito Santo e, no sinal da voz que se ouve, faz-se presente o Pai
que proclama:
"Este é meu Filho bem-amado. Ouvi-o!"
Havia três personagens diante dos apóstolos, entretanto o Pai não diz: "Estes
são os meus filhos, ouvi-os!"'; ao contrário, fala no singular: "Ouvi-o!" Moisés e
Elias, os vértices espirituais do Antigo Testamento aparecem agora como
simples servidores. Como Maria, em determinadas representações da
Natividade, que se encontra de joelhos diante do Filho, maravilhada e em
adoração. Como a criatura deve deixar-se ficar na presença do Criador, o servo
diante de seu Senhor.
“Ouvi-o!”
Quando Pedro falava em fazer três tendas, "não sabia o que dizia”, era como
colocá-los no mesmo plano, desconhecer a infinita distância existente entre
eles. Significava também dividir implicitamente a Escritura, como se Moisés e
Elias houvessem falado em nome próprio e não houvesse sido o único Verbo
de Deus que falou também neles.
"Falam os Profetas, fala a Lei, mas 'Ouve-o!', pois é a voz da Lei e dos
Profetas. Era ele que se fazia ouvir por meio deles."
Conclui-se aqui a revelação sobre a pessoa de Jesus e também sobre seu
lugar na história da salvação. No Sinai, Deus havia manifestado sua vontade a
respeito dos homens dando a Torah. "Em seguida, tendo acabado de falar com
Moisés sobre o monte Sinai, deu-lhe as duas tábuas do Documento, tábuas de
pedra, escritas pelo dedo de Deus" (Ex 31,18). "Moisés convocou todo Israel e
lhe disse: Escuta Israel, as leis e os costumes que hoje proclamo aos vossos
ouvidos; vós os aprendereis e cuidareis de pô-los em prática" (Dt 5,1). No
Tabor, Deus diz: Cristo tomou o lugar da lei. Agora é ele, em tudo o que diz e
faz, a expressão completa e definitiva da vontade do Pai. É ele o profeta futuro
anunciado pelo próprio Moisés, ordenando que fosse ouvido (cf. Dt 18,15). Na
Transfiguração, Jesus se mostra bem mais que um novo Moisés; ele é também
a nova lei.
Não é só o mediador da Revelação, mas é a nova plena auto revelação de
Deus aos homens.
"A partir do dia em que proclamei no Tabor: 'Este é o meu Filho bem-amado,
aquele que me aprouve escolher. Ouvi-o!', confiei tudo a ele. Escutai-o, porque
já não tenho mais argumentos de fé a revelar, nem verdades a manifestar”.
"Erguendo os olhos, nada mais viram senão Jesus, só"
O destaque que os três sinóticos dão a essa observação final esconde um
profundo significado. Vale dizer este é Jesus que preciso ouvir, o Jesus dos
Evangelhos, ‘não só o dos momentos glorificantes. "Para a Igreja, basta a
presença de Jesus e de suas palavras. Da mesma forma o Antigo Testamento
passará a ser lido tendo em vista principalmente um motivo: enquanto fala dele
e ele também fala nele.
"Moisés, ou seja, a Lei, e Elias, isto é, a Profecia, tornaram-se uma só
coisa com Jesus, a saber, com o Evangelho. Não é mais como antes: já
não são três; os três tornaram-se um único ser. Por isso, diz-se: "Nada
mais viram senão Jesus, só". "Jesus, só" nessa expressão, que conclui a
narrativa da Transfiguração, encerra-se todo um programa de vida, a
máxima "concentração cristológica".
É óbvio que “Jesus só” não significa que possamos deixar de lado o Pai e o
Espírito Santo, e sim que Jesus é o único lugar no qual Deus-Trindade se faz
plenamente manifesto e operante para os homens. Significa que ninguém vai
ao Pai a não ser por meio dele, quer tenha ciência disso ou não.
Igualmente em nível pessoal, que programa naquela expressão!
Quantas coisas colocamos junto de Jesus na própria vida: Jesus e o dinheiro,
Jesus e a carreira, Jesus e a própria liberdade, Jesus e as consolações de
Jesus. Fazer ressoar no próprio espírito aquele brado: “Jesus, só!" é como
arremessar uma pedra numa árvore pululante de pássaros que fazem um
grande ruído. Os pensamentos, projetos, preocupações inúteis voam para
longe como os pássaros, fazendo-se no coração um profundo silêncio e uma
paz profunda.
Está escrito que Moisés, quando desceu do monte Sinai, não sabia que a pele
do seu rosto ficara irradiante "ao falar com o Senhor" (Ex 34,29). Descendo
agora de nosso Tabor para retomar o trabalho cotidiano, esperamos que
também nosso rosto, sem que percebamos, transmita um pouco da paz e da
serenidade que nos deu o que contemplamos no monte santo.
O segredo de João
João possui, a esse respeito, um pequeno segredo a nos
revelar, Como conseguiu ele chegar a uma admiração tão
abrangente e a uma ideia tão absoluta da pessoa de
Jesus? Como se explica o fato de que, com o passar dos
anos, seu amor por Jesus, em vez de enfraquecer, foi
aumentando sempre mais? Além da ação do Espírito
Santo, acredito que se deva ao fato de que tinha junto e si
a Mãe de Jesus, vivia com ela, rezava com ela, falava de
Jesus com ela. É impressionante pensar que quando
concebeu a frase: "E o Verbo se fez carne", o evangelista
tinha ao lado de si, sob o mesmo teto, aquela em cujo seio
se realizou esse mistério.
Orígenes escreveu:
"A flor dos evangelhos é o evangelho de João, cujo
sentido profundo não pode, no entanto, ser
apreendido por quem não tenha apoiado a cabeça
sobre o peito de Jesus e não tenha recebido dele
Maria como sua própria mãe.
Maria comunicou ao discípulo seu próprio amor por Jesus.
Devemos pedir a Maria, por força da comunhão dos santos,
que nos dê um pouco de seu amor por Cristo.
Necessitamos, de fato, exatamente disso: um amor
materno por Jesus. E isso inclusive como corretivo do
excesso de teologização em torno dele. (Nem sempre
aplicar-se em cristologia é aplicar-se em Cristo!) O amor
materno tem uma característica: é todo prontidão,
singeleza, não conhece segundas intenções. Não é
cerebral e sim visceral, no sentido mais nobre do termo.
Nisso é único, e tampouco os maiores doutores e místicos
o podem igualar. Os ícones denominados "da Mãe de Deus
da ternura" procuram exprimir justamente essa qualidade
materna do amor de Maria por Jesus. Maria está face a
face com Jesus que lhe circunda o pescoço com sua
mãozinha.
Jesus nasceu "de Maria Virgem, por obra do Espírito
Santo". O Espírito Santo e Maria, por títulos distintos, são
os dois melhores aliados em nosso esforço de aproximação
de Jesus, de gerá-lo em nossa vida.
Por isso, rezemos assim:
Mãe de Deus, ensina-nos a amar Jesus.
Ajuda-nos a acolhê-lo, como naquele dia o acolheste: com infinita
adoração, humildade, respeito, gratidão, amor e comoção!
Concede-nos proclamar e ouvir, como se fosse pela primeira vez,
as palavras antigas e sempre novas: "No início era o Verbo... E o
Verbo se fez carne... Vimos a sua glória!"
Ótimo comentário também temos em:
http://www.filhosdapaixao.org.br/escritos/comentarios/quaresma/comentario_quaresma_00
2.htm
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