Introdução Os escritores franceses do século XVIII provocaram uma verdadeira revolução intelectual na história do pensamento moderno. Suas idéias caracterizaram-se pela importância que davam à razão: rejeitavam as tradições e procuravam uma explicação racional para todas as coisas. Os filósofos e economistas procuravam novos meios para dar felicidade aos homens. Atacavam violentamente as injustiças, a intolerância religiosa e os privilégios da nobreza e do clero. Suas opiniões abriram caminho para a Revolução Francesa, pois puseram à mostra os erros e vícios do Antigo Regime. As novas idéias conquistaram numerosos adeptos, a quem pareciam trazer a luz e o conhecimento. Por isso, os filósofos que as divulgavam foram chamados de iluministas, a sua maneira de pensar Iluminismo e o conjunto de movimento Ilustração. A filosofia iluminista voltou-se para o estudo da natureza e da sociedade. O uso da razão era considerado indispensável à compreensão dos fenômenos naturais e sociais. Segundo os iluministas, até a crença devia ser racionalizada. Por isso, eram considerados deístas, acreditavam que Deus está presente na natureza, e , como o homem faz parte da natureza, Ele também se encontra presente no coração do próprio homem que pode descobri-lo através da razão. Iluminismo Para compreender melhor o iluminismo é necessário relembrar que muitos dos pensadores que participaram desse movimento viviam sob o Antigo Regime, onde predominavam monarquias absolutistas, em que o rei, a nobreza e o clero acumulavam poder e privilégios, e as pessoas não tinham liberdade de expressão. Os iluministas opunham-se a esta situação, já que eram contrários ao autoritarismo dos reis, aos privilégios da nobreza e do clero, à intolerância religiosa e à falta de liberdade de expressão e pensamento. É preciso deixar claro que para os iluministas a razão, ou melhor, o uso da mesma tinha valor supremo. Isto porque apenas por meio da razão os homens seriam capazes de alcançar a luz e o esclarecimento necessários para que se libertassem da ignorância e do fanatismo religioso em que viviam. Os pensadores iluministas dedicaram-se a ciência, a filosofia, literatura e muitas outras áreas do conhecimento. Alguns dos mais conhecidos e estudados até hoje são: Locke, Voltaire, Montesquieu e Rousseau. John Locke John Locke, inglês, foi um dos primeiros filósofos contestadores do absolutismo. Suas idéias colaboraram para derrubar o sistema absolutista na Inglaterra. Segundo ele, todos os homens possuem direitos naturais, que adquirem ao nascer. Locke afirmava que o direito à vida, à liberdade e à propriedade são direitos naturais e incontestáveis do homem. E dizia ainda que para garantir estes direitos naturais, os homens haviam criado o governo. No entanto, se estes governos não protegessem e nem garantissem os seus direitos, o povo tinha o direito supremo de se rebelar contra eles e exigir que seus direitos, à vida, a liberdade e à propriedade privada fossem respeitados e resguardados. Pelo fato de defender a proteção e o respeito dos direitos naturais do homem pelos governos, Locke ainda hoje é considerado o “pai do liberalismo político”. Voltaire Este filósofo e pensador francês se destacou nas atividades de panfletário, contista, historiador e dramaturgo e ganhou fama em decorrência das inúmeras e fervorosas críticas contra a Igreja e a censura de seu tempo. Por dizer o que pensava, chegou a ser preso duas vezes e para evitar uma nova perseguição, refugiou-se na Inglaterra e durante o período em que esteve por lá passou a entrar em contato e admirar as idéia de John Locke. Influenciado pelas idéias do filósofo inglês, Voltaire escreveu a obra Cartas Inglesas, na qual elogia a liberdade de pensamento, de religião e de obediência do rei inglês às leis do seu país. A intenção de Voltaire ao publicar esta obra era criticar duramente o absolutismo do rei da França. De acordo com inúmeros textos acerca de seus pensamentos e sua história podemos afirmar que Voltaire passou todos os anos de sua vida lutando contra a ignorância, o preconceito e o fanatismo, em favor da justiça e da liberdade. Defendia tanto a liberdade de expressão que sua célebre frase é referência até hoje: “Posso não concordar com uma só palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”. Ele acreditava e defendia a ideia de que o rei deveria ser orientado por filósofos, uma vez que em sua opinião os filósofos compunham a elite esclarecida que deveria por bem guiar e iluminar o povo todo. Montesquieu O jurista francês Charles Louis de Secondat, conhecido mais popularmente como Barão de Montesquieu não somente apontou problemas na sociedade em que estava inserido como procurou propor soluções que pudessem resolvê-los. Sua principal e mais discutida obra é O espírito das leis, onde ele aborda a questão do abuso de poder, afirmando que “qualquer pessoa que tenha o poder tenderá a abusar dele”. Conforme sua filosofia a única maneira de evitar que o poder se concentrasse nas mãos de apenas uma pessoa era dividi-lo. E se o poder era representado pelo governo, este deveria ser dividido em três poderes, harmônicos e independentes entre si: o poder executivo, o legislativo e o judiciário. Para ele o governo só funcionaria bem assim dividido desde que os poderes fossem autônomos, isto é, se um não se intrometesse na área de atuação do outro. Rousseau Jean- Jaques Rousseau é considerado ainda na atualidade o autor das obras e idéias mais radicais contra o Antigo Regime. Em suas obras defendeu abertamente a formação de um governo popular em oposição à Monarquia Absolutista. Por essa razão ficou conhecido como o “pai da democracia moderna”. Numa de suas obras mais conhecidas, O contrato social, Rousseau defende a ideia de soberania do povo, onde deveria prevalecer a vontade da maioria. Segundo ele se o governo escolhido pela população não a representasse, a mesma deveria substituí-lo. Suas ideais tiveram grande aceitação entre as camadas populares e a pequena burguesia européia, principalmente quando dizia que a nova sociedade deveria ser composta, fundamentalmente, de pequenos proprietários e que o povo deveria exercer sua autoridade diretamente, sem intermediários. Essas suas idéias influenciaram movimentos revolucionários tanto dentro como fora da França. Um desses movimentos foi a Revolução Francesa, cujo lema resumiu o pensamento deste filósofo em três palavras: liberdade, igualdade e fraternidade. Uma das mais celebres frase de Rousseau diz que “o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe”, por isso para ele as crianças deveriam passar o maior tempo possível em seu estado natural, quando se ainda pode falar em inocência. Diderot Diderot foi o responsável pela organização da grande Enciclopédia, obra dividida em 35 volumes que tornou conhecidas as novas idéias. Teve auxílio do matemático Jean D”Alembert e teve como colaboradores a maior parte dos novos pensadores e escritores. O governo, por sua vez, condenou a obra, proibindo sua divulgação, que continuou, porém, a circular clandestinamente. Segundo Diderot seu maior objetivo foi tornar os homens mais instruídos e dessa maneira mais felizes, uma vez que esclarecidos quanto ao seu papel na sociedade. Os economistas fisiocratas Os economistas dessa época pregavam essencialmente a liberdade econômica, opondose a toda e qualquer regulamentação. A economia deveria ser dirigida pela natureza, o Estado não deveria intervir, a não ser para garantir o livre curso da natureza. Essa predominância da natureza deu-lhes a denominação de fisiocratas (governo da natureza). O criador da fisiocracia foi François Quesnay, que afirmava categoricamente que a economia era regida por leis, e a mais importante delas era a lei da oferta e da procura. Quando a oferta é maior que a procura, o preço tende a baixar; quando ocorre o inverso, tende a subir. O governo segundo os fisiocratas não deveria nunca intervir, apenas incentivar o progresso. E Adam Smith foi um dos mais destacados discípulos da fisiocracia. Em seu livro, A riqueza das nações, o trabalho, e não a agricultura como queriam os fisiocratas, nem o comércio, como pensavam os mercantilistas, era considerado a verdadeira fonte de riqueza. O trabalho completamente livre, sem intervenções, guiado espontaneamente pela natureza, criaria toda riqueza. O despotismo esclarecido Alguns reis absolutistas europeus usaram as idéias iluministas para combater as críticas a seu governo e aumentar seu prestígio, poder e fama. Por incorporar algumas dessas idéias foram chamados de déspotas esclarecidos. Os déspotas esclarecidos mais importantes foram: Frederico II, da Prússia; Catarina II, tzarina da Rússia; José II, imperador da Áustria; Pombal, ministro de Portugal e Aranda, ministro da Espanha. O melhor exemplo de déspota esclarecido, pelas reformas que executou, foi José II, secundado por Frederico II. As medidas adotadas por Catarina, por sua vez, restringiram-se à elite. Os ministros de Portugal e Espanha exerceram o despotismo esclarecido por delegação de seus monarcas. Conclusão Os iluministas pretendiam reorganizar o mundo com base na razão, conforme pudemos observar ao longo deste trabalho. A intenção destes filósofos não era de fazer pequenas mudanças, mas sim mudar a base sobre a qual se organizava a sociedade até aquele momento. Suas idéias estenderam-se à política, à economia e à análise social, o que tornou especialmente o século XVIII conhecido como o século das luzes. Alguns autores como vimos deram atenção maior às mudanças e alterações na economia, outro na política, outros ainda à educação. Por isso, para estudarmos o iluminismo às vezes fica mais fácil separando os diversos aspectos de cada obra e autor. Podemos concluir, por fim, que através da divulgação e propagação de suas idéias, os iluministas criaram escolas de pensamento que influenciaram e influenciam o Ocidente até a atualidade. Bibliografia ARRUDA, José Jobson de Almeida. História Moderna e Contemporânea. Editora Ática. São Paulo, 1995. COTRIM, Gilberto. Saber e fazer história. Editora Saraiva. São Paulo,2009. DREGUER, Ricardo. Novo História- conceitos e procedimentos. Editora Saraiva. São Paulo, 2009. VICENTINO, Cláudio. História- Projeto Radix. Editora Scipione. São Paulo, 2010.