1 A contribuição de DURKHEIM para o campo da educação – 8.4 Inúmeros estudiosos da Sociologia da Educação, dentre eles DURKHEIM, têm como apoio o funcionalismo. Dentre as razões destaca-se a ênfase do funcionalismo na integração social e a educação aparece como um dos subsistemas integradores, responsável pela socialização. Durkheim (1858/1917): um dos pioneiros da Sociologia e precursor do funcionalismo; positivista, influenciado por Comte; contexto histórico marcado pelas transformações provocadas pela Revolução Industrial que ele chamou de desintegração moral. Parte considerável da contribuição de Durkheim para a Sociologia da Educação é o seu próprio trabalho pioneiro de definir o processo educacional. Segundo ele a maior parte dos estudos buscava descrever o que a educação deve ser, e não o que a educação é. Segundo Durkheim educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem como objeto suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se destine. Durkheim situa a educação como a forma pela qual se exerce a coerção social sobre as novas gerações e legitima esta coerção como positiva. Ele não coloca em questão as finalidades e métodos da coerção social. A coerção social, presente no âmbito das demais instituições sociais (igreja, família, grupos instituídos), aparece como um dos elementos essenciais no processo educativo das crianças e jovens. A EDUCAÇÃO, segundo Durkheim: transmite valores morais que integram a sociedade; é o meio pelo qual a sociedade se perpetua; a mudança educacional é um importante reflexo das mudanças sociais e culturais; os educadores (sobretudo aqueles do ensino fundamental) poderiam provocar mudanças na educação e, por suposto, na sociedade. explicita as relações entre educação e sociedade, mostrando que a primeira se insere no tempo e no espaço; infere que a educação não pode ser modelada quase pela vontade dos reformadores; mostra que a educação é estruturada de modo a assegurar a sobrevivência da sociedade a que serve; destaca as funções uniformizadora e diferenciadora da educação: de um lado, ela visa a integração do indivíduo no contexto da sociedade, transmitindo valores e desenvolvendo atitudes comuns; de outro lado, a educação diferencia, respondendo à divisão social do trabalho e reforçando-a. Função básica da educação: transmitir os valores morais e o professor exerce o seu poder em nome da sociedade instituída. 2 Considerações sobre a concepção durkheimiana Durkheim: não considera as contradições entre as demandas da “sociedade política” como um todo e as do “meio especial” a que o educando se destina; não aborda as implicações de a sociedade ser composta de grupos em conflito, com diferentes graus de poder; não há em sua concepção um exame acurado sobre o que representam os “estados requeridos pela sociedade política” como um todo; considera que mesmo em uma sociedade sem classes haveria diversidade ocupacional, pois há a divisão do trabalho; a diversidade ocupacional resultaria em diversidade educacional; a definição de educação proposta reduz o processo educacional à ação de uma geração “madura” sobre uma geração “imatura” para a vida social: é difícil distinguir maturidade e imaturidade quando, ao longo de sua vida, o indivíduo deve socializar-se para o desempenho de muitos papéis; a educação expandiu-se e vai muito além da infância e adolescência; o processo educacional é focalizado como unilateral, mas as gerações interagem e entram em conflito e, assim, a influência é recíproca; a definição de educação é determinista e atribui um papel passivo ao “educando” – a criança estaria “naturalmente” em estado de passividade, como o hipnotizado se acha “artificialmente colocado”; a definição de educação é útil no sentido de mostrar sua coercitividade e exterioridade. Sobre o professor: é o eixo da pedagogia durkheimiana; função revestida pelo poder; representa a sociedade e tem o direito legítimo de suscitar os “estados físicos, intelectuais e morais”, requeridos pela vida social; Sobre a sociedade: é o fim e a fonte de moralidade; a ação é moral se é social ou impessoal, se é motivada por sentimentos altruísticos e se é socialmente prescrita e/ou em acordo com ideais e valores sociais; não há moralidade fora de um contexto social e a moralidade dá coesão à sociedade. Sobre o fato social: sua função é encontrada em sua relação com algum objetivo da sociedade; busca inserir o fato social na estrutura da sociedade; vê os fatos sociais como coisas – não são extensões da individualidade, mas são reais e distintos como fatos físicos. Sobre grupos e comunidades: costumes, tradições e códigos passam a influenciar, educar e socializar os indivíduos. Durkheim, em alguns textos, parecia reconhecer apenas uma rua de mão única entre a mudança educacional e social. Sua reflexão e obra passam por mudanças e ele identifica algumas relações bilaterais. Mostra que não se pode entender o conteúdo e os métodos da educação sem o contexto social. Fica claro, também, que a mudança educacional tem relativo impacto sobre a sociedade. É preciso ter em conta que as concepções pedagógicas que consideram o educando um elemento passivo falham exatamente porque a atividade dos educandos faz com que o processo educacional e seus resultados se desviem do que tais concepções pedagógicas, baseadas em falsos pressupostos, esperam.