DISCURSO PROFERIDO DEPUTADO ARNON PELO BEZERRA (PTB/CE), NA SESSÃO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, EM...../...../...... Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, Quero fazer um breve registro, Senhor Presidente, sobre um tema que tem sido um dos objetos de minha maior preocupação em todas as oportunidades de minha atividade parlamentar também como médico e cidadão. Sempre tenho procurado chamar a atenção do governo para as ditas “doenças negligenciadas” que são aquelas que afetam milhares de pessoas ao redor do mundo, mas que não dispõem de tratamentos eficazes ou adequados. Em sua maioria, são doenças tropicais infecciosas que atingem principalmente pessoas pobres, a exemplo da leishmaniose, da doença do sono, da malária, e da doença de Chagas, que geram um impacto devastador sobre a humanidade. Há um grande volume de trabalhos científicos que tratam da biologia, imunologia e genética dos parasitas causadores destas doenças, porém todo esse conhecimento não consegue se reverter em novas ferramentas terapêuticas para as pessoas afetadas. Fica claro, portanto, que a crise de falta de medicamentos para doenças negligenciadas não chegou às atuais proporções por falta de conhecimento científico, e nem somente pelo hiato entre a pesquisa básica e a pré-clínica. Esta crise é o resultado tanto das insuficientes políticas públicas voltadas para Pesquisa e Desenvolvimento de medicamentos de interesse nacional dos países em desenvolvimento, quanto da falha de mercado, provocada pelo baixo interesse econômico que esses pacientes representam para a indústria. No caso de certas doenças como a doença do sono, a de Chagas e a leishmaniose, elas podem ser consideradas “doenças extremamente negligenciadas”. Os pacientes que sofrem desses males geralmente são tão pobres que praticamente não possuem poder de compra, e nenhuma manipulação das forças de mercado poderá estimular o interesse das empresas farmacêuticas. A esse respeito, Senhor Presidente, é com muita satisfação e interesse que vejo o anúncio feito pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que acaba de lançar um edital de R$ 17 milhões para apoiar atividades de pesquisa sobre as doenças negligenciadas dengue, doença de Chagas, esquistossomose, hanseníase, leishmanioses, malária e tuberculose. A chamada é a segunda ação do CNPq em parceria com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde voltada para as doenças negligenciadas. Os recursos, provenientes do Fundo Setorial de Saúde (CTSaúde) e do Fundo Nacional de Saúde, financiarão projetos de no mínimo R$ 50 mil e no máximo R$ 2 milhões, além de pré-projetos com valor máximo de R$ 40 mil. De acordo com o CNPq, os pré-projetos devem ser propostas de maior complexidade, como estudos longitudinais ou de base populacional, com duração de no máximo quatro meses. Os autores serão convidados a submeter o projeto completo a um novo edital que será lançado em 2009. As propostas enviadas, tanto para os projetos como os préprojetos, devem abordar os temas descritos no edital, relacionados a cada doença. No caso da dengue, por exemplo, podem visar a temas de diagnóstico, educação em saúde, vetor, patogenia ou clínica e epidemiologia. Vejo como muito bem-vinda essa iniciativa, Senhor Presidente, porque todos sabemos que a falta de investimentos em pesquisa por parte do setor público e também do privado é a principal causa para o atraso na descoberta de medicamentos e tratamentos para esse tipo de doença É sabido que os países industrializados têm pouco interesse em desenvolver esse tipo de pesquisa por causa do baixo retorno econômico com a venda desses medicamentos. Um levantamento efetuado pelo FDA, órgão norte-americano responsável pela aprovação de medicamentos, revela que, entre 1975 e 2004, foram aprovados cerca de 1,5 mil remédios para comercialização. Desse total, apenas 1% era destinado ao tratamento das doenças negligenciadas. No Brasil, a doença de Chagas é responsável pela morte 50 mil pessoas por ano, principalmente por causa de cardiopatias. O número de pessoas com doença cardíaca decorrente da Doença de Chagas alcança hoje 4 milhões. Na América Latina, 18 milhões de pessoas estão infectadas atualmente por essa enfermidade. A cada ano, a incidência da doença chega a 300 mil casos nos países sulamericanos. No caso dessa doença, existe um único medicamento no mercado, que não é eficiente e tem muita toxicidade. O mesmo acontece com a leishmaniose e a dengue. É essencial, Senhor Presidente, que o setor público tome iniciativas como essa do CNPq para o desenvolvimento de pesquisas das doenças negligenciadas. Só podemos esperar que esse projeto seja coroado de pleno êxito e sucesso para o bem das populações que padecem desses males. Além disso, a participação de jovens cientistas, biólogos, farmacêuticos, médicos nesse projeto servirá não só para fazer um tremendo bem à parcela carente da humanidade, esquecida pela indústria, mas também para trazer grandes avanços à indústria brasileira que sempre tem estado à frente em inovação em muitas outras áreas, como a dos biocombustíveis, por exemplo. Agora temos a oportunidade de avançar na área de medicamentos para essas doenças esquecidas. Era o que tinha a dizer, Senhor Presidente. Sala das Sessões, em de outubro de 2008. Deputado ARNON BEZERRA PTB/CE