EVOLUÇÃO DOS PLANOS ODONTOLÓGICOS PRIVADOS NO BRASIL E NO MUNDO PRÊMIO SINOG DE ODONTOLOGIA 2001 AUTOR:Karla Guaracy Assumpção de Queiróz (VITÓRIA-RÉGIA) ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO..................................................................3 2. REVISÃO DE LITERATURA............................................5 3. DISCUSSÃO.....................................................................15 4. CONCLUSÕES.................................................................22 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................23 3 1. INTRODUÇÃO Nos últimos anos, ocorreu no cenário odontológico uma crescente socialização da odontologia e o surgimento de sistemas de odontologia de grupo, os quais passaram a atingir novos segmentos da sociedade. O Brasil, apesar de possuir um elevado número de cirurgiões-dentistas, carece de atenção para população adulta e idosa. Segundo o Conselho Federal de Odontologia anualmente formam-se cerca de 9.000 novos dentistas. A relação dentistas por habitante, considerada ideal pela OMS, é de 1 profissional para 1.500 habitantes, porém, no Brasil esta relação está atualmente, em 1 cirurgião-dentista para 1.241 habitantes. Acrescenta-se a esses dados o fato de que apenas um pequeno percentual dessa população possui renda suficiente para freqüentar os consultórios odontológicos, logo a maioria da população tinha como única opção o precário atendimento realizado pelo serviço público. É nesse contexto que surgiram as empresas de odontologia de grupo, a fim de reverter essa situação e minimizar custos assistenciais na área odontológica, permitindo que o cidadão tenha o direito a saúde, a qual inicia-se pela “boca”. 4 Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é de fazer uma análise sobre a evolução dos planos odontológicos privados tanto no âmbito nacional como mundial. 5 2. REVISÃO DE LITERATURA O Brasil atravessa uma fase de acelerada expansão do chamado “setor privado organizado” prestador de serviços de saúde em massa para a população, surgindo como uma alternativa cada vez mais importante às opções clássicas representadas pelo atendimento público sem custo direto e pela prática liberal caracterizada pelo atendimento sem intermediários entre profissional e paciente ( PINTO, 2000)13. O processo de rápidas transformações a que estão sujeitas as sociedades atuais se reflete de maneira direta no mercado odontológico de um país como o Brasil conforme relata PINTO (2000)13, afetando tanto os profissionais da área quanto a clientela e a população como um todo. Podemos dizer que estamos sofrendo a terceirização do setor de saúde e segundo FERREIRA (1995)7 este processo é anterior à década de 60, quando as empresas estavam surgindo com maior força no país. O primeiro tipo de serviço terceirizado mais comum nesse período foi o de consultoria. No entanto, a necessidade das empresas de reduzir gastos e de se concentrar na competividade é que abriu espaço para a ação em quase todos os setores. No primeiro mundo, como nos países europeus e Estados Unidos, isso já vinha acontecendo desde o começo do século. 6 O modelo brasileiro de planos e seguros de saúde foi iniciado de maneira tímida com as primeiras empresas de medicina de grupo no começo dos anos 60, o chamado “subsistema suplementar” de assistência à saúde ganhou fôlego e expandiu-se de fato no final da década de 80 e de 1990 em diante, aproveitando-se da gradativa deteriorização dos serviços públicos. Estimativas provenientes das próprias empresas deste setor, indicam que em 1997 cerca de 43,5 milhões de brasileiros possuíam algum tipo de plano ou seguro de saúde (PINTO, 2000)13. Os serviços terceirizados na Odontologia podem ter a seguinte configuração: 1) credenciamento feito pela própria empresa, em que o consultório e o dentista são diretamente pagos e contratados pelo credenciador ou 2) através da contratação de uma empresa que vai garantir esse tipo de serviço sem que a contratante precise se movimentar. Nesse último caso a tendência tem sido a de quarteirização, onde as terceirizadas acabam contratando consultórios de dentistas para efetuar o atendimento aos funcionários (FERREIRA, 1995)7. Nesse contexto, não é de surpreender o ativo crescimento da fatia de mercado correspondente às clínicas e empresas que oferecem planos e seguros de saúde bucal, PINTO (2000)13 considerou que até meados da década de 80, o subsetor dos planos de saúde bucal no Brasil chega ao final do século com cerca de trezentas empresas e cerca de sete milhões de clientes, em franca expansão. A partir do início da década de 90, ocorreu uma significativa expansão dos planos e seguros privados de saúde. Estima-se que hoje este 7 sistema conte com cerca de 40 milhões de usuários, movimentando um mercado de 15 bilhões de dólares anuais (OLIVEIRA, 2000)10. A assistência odontológica no Brasil constitui-se de uma prática dominantemente privada, curativa e socialmente excludente, onde cerca de 70% do tempo e do dinheiro gastos em saúde bucal atualmente são pertencentes ao setor privado e aproximadamente 67% da população total tem limitado ou nenhum acesso a este sistema de atenção odontológica (PINTO, 1997)12. Com o advento do credenciamento do cirurgião-dentista, surge uma nova relação na prestação de serviço. O processo de credenciamento significa nada mais do que um modo de terceirização da produção, isto é, a não criação ou o desmantelamento de clínicas odontológicas próprias das empresas para atendimento dos seus funcionários, para o estabelecimento de uma rede de profissionais conveniados (CORMACK, 1997)5. De acordo com PINTO (2000)13 as principais modalidades de organização são conhecidas como: a) odontologia de grupo, oferecendo serviços com base em rede própria junto com rede de consultórios credenciados; b) cooperativa odontológica centrada nos profissionais cooperados e estruturada segundo a regulamentação prevista para este sistema; c) seguradora odontológica, atuando no regime de oferta de serviços por reembolso de despesas com livre escolha e/ou com garantia de determinada cobertura junto a profissionais credenciados. Um plano ou seguro de saúde odontológico deve atender as seguintes exigências mínimas de acordo com a legislação brasileira de 1998: 8 cobertura de consultas e exames auxiliares ou complementares, solicitados pelo odontólogo assistente, cobertura de procedimentos preventivos de dentística e endodontia, cobertura de cirurgias orais menores, assim consideradas as realizadas em ambiente ambulatorial e sem anestesia geral (PINTO, 2000)13. Na visão de FERREIRA & SOUZA (1993)6 esse é um processo que se iniciou nos Estados Unidos, na segunda guerra, provocada pela escassez de mão-de-obra, o que levou os empresários a contratar as atividades consideradas não essenciais. Esse processo evoluiu muito desde os seus primórdios e hoje ele se subdivide em “subcontratação”, onde através da seleção de um ou mais fornecedores, a empresa receberá o produto contratado e estes a contrapartida financeira, terminando aí a efêmera e delimitada relação entre a empresa e o fornecedor; e a “parceria”, que pressupõe a coresponsabilidade da empresa e de seu fornecedor no resultado final, conduzindo a uma cooperação permanente entre as partes, considerando o interesse mútuo de mercado entre os parceiros. No primeiro caso, na subcontratação, temos os exemplos clássicos da terceirização do tratamento odontológico realizada pelas empresas estatais como Petrobrás, Furnas, BNDS. Já na parceria, temos tipificado o exemplo das cooperativas odontológicas, como por exemplo a Uniodonto. Como relata FERREIRA (1995)7 esse sistema objetivou congregar os cirurgiões-dentistas para sua defesa econômica e social, abolindo o intermediário e atenuando a barreira do custo, a fim de atender uma camada maior da população brasileira. 9 A Uniodonto foi criada em 1972, por um grupo de 37 cirurgiões da Baixada Santista que acreditaram no cooperativismo, a primeira de sua categoria a ser fundada no país, atualmente conta com 10 federações estaduais, 170 cooperativas singulares, 16.000 cirurgiões-dentistas, 3.000 empresas e a soma respeitável de 1.500 usuários. O acerto da confiança dos odontólogos no sistema, confirmou-se logo, através do verdadeiro salto do número de cooperativas odontológicas instaladas no Brasil (UNIODONTO, 2000)16. O plano oferecido pela Uniodonto baseia-se no rol de procedimentos do Ministério da Saúde. O sistema funciona com uma tabela própria. O cirurgião-dentista compra quotas da cooperativa e passa a ser um cooperado (FRAGOAS, 2001)8. Motivando trabalhadores e empresários, a odontologia empresarial desenvolveu-se de tal forma que, em 1996, constituiu um organismo para sua maior integração e representatividade, o Sindicato Nacional das Empresas de Odontologia de Grupo – SINOG, que congrega 135 empresas de odontologia de grupo como associados, com planos específicos e características diferenciadas, distribuídos pelo país. São planos isentos de carência para procedimentos básicos nos contratos empresariais, e já atendem a dois milhões de pessoas, com um faturamento anual da ordem de US$ 240 milhões, em dados de 1997 (SINOG, 2001)15. Não existe dúvida de que as alterações no mercado de trabalho odontológico, que algumas pessoas desinformadas insistem em atribuir exclusivamente ao número de faculdades, vincula-se às transformações 10 ocorridas no modelo econômico do país. Uma destas mudanças é o direcionamento da política de saúde para um modelo em que os planos e seguros de saúde têm papel preponderante (FERREIRA, 1995)7. O desenvolvimento de planos odontológicos voltados para a promoção de saúde e para a prevenção começou a prosperar no Brasil na última década do século com a estruturação de clínicas voltadas para a manutenção da saúde nas principais capitais (PINTO, 2000)13. De início nos Estados Unidos, e hoje na maioria dos países desenvolvidos, foram organizados sistemas para reduzir um pouco e, sobretudo, para fracionar o custo da assistência odontológica para o paciente, na forma de diferentes tipos de seguros odontológicos ou sistemas de prépagamento. Estes seguros existem principalmente em países com sistema particular de assistência odontológica, mas também são comuns onde vigora o regime de financiamento público, para cobrir aqueles tratamentos que o sistema não inclui como afirma NAVARRO (apud PINTO, 2000)13. Segundo PINTO (2000)13, os países europeus com sistema particular predominantemente privado são: Espanha, Finlândia, Grécia, Holanda, Irlanda, Islândia, Itália, Noruega, Portugal, Suíça e Turquia. A Espanha possui um cirurgião-dentista para cada 2.940 habitantes. O sistema público de saúde espanhol possui uma ampla cobertura na saúde geral, mas em odontologia só fornece consulta de diagnóstico, exodontias e cirurgia bucal, isso gratuitamente nos consultórios do sistema nacional de saúde, e aos cuidados de profissionais assalariados. Os seguros odontológicos privados ainda estão pouco desenvolvidos e, em geral, apenas 11 cobrem exodontias e profilaxias, e o restante do tratamento o paciente paga com preços tabelados pela companhia de seguros, que costumam estar abaixo dos preços de mercado (PINTO,2000)13. A Holanda tem um cirurgião-dentista para cada 2.330 habitantes, com isso PINTO (2000)13 demonstra que desde 1995, o sistema de previdência social praticamente desapareceu cobrindo só os tratamentos preventivos. O restante do tratamento dos adultos é feito por meio de seguros privados, que tiveram seus preços reajustados para melhorar o acesso da população a eles. Hoje, podemos dizer que a Holanda tem um sistema predominantemente privado, com atenção especial para os grupos prioritários. PINTO (2000)13, afirma que a Irlanda possui um cirurgião-dentista para cada 1.840 habitantes. Desde 1992, o país dispõe de um sistema de assistência odontológica que engloba cerca de 40% da população, o qual foi desenvolvido para indivíduos empregados, com uma renda mínima abaixo de um determinado valor. Todos os tratamentos são subvencionados, exceto a prótese fixa. Os cirurgiões-dentistas trabalham em consultórios particulares e cobram por procedimento odontológico. No que diz respeito a Islândia conta com um sistema privado de assistência odontológica para a população adulta, enquanto que as crianças e os maiores de 67 anos têm seu tratamento total ou parcialmente subvencionados, como afirma PINTO (2000)13, sendo que o oposto acontece com a Noruega onde a população adulta pode utilizar a rede pública ou particular, mas o tratamento odontológico não está subvencionado. 12 A Alemanha possui uma proporção de um cirurgião-dentista por 1.300 habitantes, e demonstra que praticamente toda a população pertence aos seguros de saúde, que são financiados em cerca de 50% por contribuições dos empresários. Os seguros privados são pouco frequentes, sendo que a maioria dos profissionais alemães trabalham pelo sistema de prática particular e colaboram com os seguros de saúde, em que o profissional é reembolsado por procedimentos odontológicos pelo seguro de saúde, segundo uma tabela de preços (PINTO, 2000)13. Na Dinamarca que conta com um cirurgião-dentista para cada 1.040 habitantes, os seguros privados estão moderadamente desenvolvidos, sendo que uma pequena porcentagem desses profissionais cobra por procedimento odontológico segundo uma tabela de preços conforme PINTO (2000)13 relata, recebendo parte de seus honorários do sistema e parte do próprio paciente. De acordo com PINTO (2000)13, a França possui um cirurgiãodentista para cada 1.400 habitantes, em que o uso do sistema de seguro de saúde é financiado por contribuições dos empregados e empresários. Pode-se dizer que a totalidade da população tem acesso ao sistema, o qual subvenciona todo o tipo de tratamento, exceto a maioria das próteses fixas. É freqüente que os pacientes disponham de seguros odontológicos privados para complementar seu seguro obrigatório. A Inglaterra tem uma proporção de um cirurgião-dentista por 1.880 habitantes, e toda a população está coberta pelo sistema nacional de saúde, que é financiado em sua maior parte pelos impostos gerais, 13 suplementado por contribuições de empregados e empresários. A contribuição dos pacientes no tratamento odontológico é estimada em cerca de 32% do custo total, e os seguros odontológicos privados são escassos mas estão aumentando gradativamente (PINTO, 2000)13. No que diz respeito ao modelo norte-americano de atenção à saúde bucal, tradicionalmente os Estados Unidos da América procuraram organizar seus serviços de saúde tendo como pilar de sustentação as regras de mercado e a livre escolha do profissional pelo paciente e deste pelo profissional, porém, em 1929 apresentou algumas falhas. A partir dessa realidade é que surgiu em 1993 a proposta de reformulação do modelo de financiamento e proteção à saúde formulada no governo Clinton por sua esposa Hillary Clinton. Diversas entidades do setor saúde, incluindo com destaque as do setor odontológico, onde empresas se limitam a oferecer planos de saúde bucal (PINTO, 2000)13. CORDES & DOHERTY (1991) constataram que desde 1950 a odontologia constitui um setor em crescimento dentro da economia norteamericana, situando-se acima da média de expansão do conjunto dos demais setores. Examinando fatores que operam tanto do lado de demanda quanto o da oferta, chegaram à conclusão de que os dados confirmam a existência de um significativo relacionamento entre fatores de economia de mercado e o crescimento do setor privado odontológico, sendo este: a) induzido por aumento na demanda devido principalmente à expansão da modalidade de seguro e planos de saúde bucal; b) em segundo lugar causado por aumentos 14 na renda de consumidores; c) em terceiro, suportado por uma oferta crescente de profissionais (apud PINTO, 2000)13. 15 3. DISCUSSÃO O desgaste do setor público levou a uma ativa expansão da iniciativa privada. Estimativas referentes a 1989 anotavam um movimento global de recursos da ordem de US$ 2,4 bilhões em saúde bucal no país, sendo R$ 1,7 bilhão em gastos pessoais e R$ 0,7 bilhão a cargo do setor público (PINTO, 1993)11. No mercado de seguros, o ramo que mais tem crescido é o de saúde, com um movimento de cerca de R$ 3,95 bilhões em 1997 que superou em 33% a arrecadação de 1996, com isso PINTO (2000)13 demonstra que a Lei sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde aprovada em 1998, engloba todas as pessoas jurídicas que operam neste setor e estabelece regras para cobertura principalmente no que diz respeito ao âmbito odontológico. Encontramos entretanto na odontologia duas formas diferentes de credenciamento: na primeira através do credenciamento direto, feito pela própria empresa, onde o consultório e o dentista são pagos diretamente pelo credenciador. Essa forma tipifica uma terceirização do trabalho do profissional, que pode ser, como visto anteriormente, realizada sob a forma de subcontratação ou de parceria. Na segunda, mais recente, encontramos o 16 desenvolvimento de um processo de quarteirização do trabalho odontológico, onde uma empresa de saúde agencia consultórios de dentistas para efetivar o atendimento dos funcionários da firma que a contratou (CORMACK, 1997) 5. Segundo BURT & EKLUND (1992) nos seguros odontológicos, a maioria dos segurados fará uso regular dos serviços, por isso, melhor que um seguro, deveria ser considerado um método de pré-pagamento ou de pagamento fracionado e periódico pelos serviços que recebem (apud PINTO, 2000)13. De acordo com BELARDINELI (1986)3 o número de pessoas que procuram atendimento odontológico em quatro países em desenvolvimento é de aproximadamente, 20% de suas respectivas populações. Este total sobe a um pouco mais que o dobro (45%) no país mais desenvolvido do mundo, os Estados Unidos da América. O Brasil, um dos campeões em cárie dentária, gasta US$ 2,4 bilhões por ano, o mesmo que o Reino Unido, que tem menos de um quarto da população brasileira. O resultado é que 90% da população possuem cárie e patologias bucais; 80% não têm acesso ao tratamento dentário; aos 12 anos o jovem já tem 50 % dos dentes comprometidos e de cada quatro pessoas acima de 60 anos, três não possuem mais a dentição original (SINOG, 2001)15. Nesse sentido, é bem-vinda a implantação de empresas de Odontologia de Grupo no Brasil (SINOG,2001)15, assim como a sua atuação sob a forma de parcerias (MELO, 1999)9. Temos como exemplo a SINOG, que atua como defensor dos interesses dos grupos odontológicos associados, sendo a única entidade oficial 17 a representar a categoria econômica, sobretudo nas negociações coletivas de trabalho, tendo em vista atuar como agente de crescimento e divulgar a relação custo/benefício dos planos de assistência odontológica, colaborar no contínuo desenvolvimento técnico-científico da atividade de seus profissionais e manter relacionamento permanente com o mundo acadêmico de odontologia. Hoje, a entidade reúne empresas de odontologia de grupo em todo o país, responsável pelo atendimento de 4,5 milhões de beneficiários, através de uma estrutura de 80 mil dentistas. (SINOG, 2001)15. Dentre as inúmeras transformações ocorridas no mercado de serviços odontológicos, o desenvolvimento das operadoras tem sido um dos mais debatidos e polêmicos (ASSADA, 2001)1. De acordo com CAMPUZANO (2001)4 a América Central, Caribe e América do Sul têm em comum não apenas suas histórias, culturas e localização geográfica mas também no que diz respeito ao recurso humano. O dentista na América Latina, em geral, está subutilizado e desempregado, a saúde oral está a cargo de 350 mil odontólogos, porém, este número não é significante, pois a comunidade não tem acesso à saúde oral, ou seja, níveis de saúde muito baixos, onde a prevalência de patologias orais continuam sendo muito altas. Com base na afirmativa, no Paraguai, por exemplo, 89% da população sofre ou sofreu de cáries; a prevalência em periodontopatias é de 70% e de cada 100 pessoas maiores de 15 anos, 74 necessitam de tratamentos protéticos. Mas no Equador, país de 12 milhões de habitantes, com 15 mil odontólogos (dados de 1997), 99% da população apresentam 18 cáries ou seqüelas delas. No Brasil, com 150 mil odontólogos e mais de 90 escolas de odontologia que formam 8.300 novos profissionais/ano, existem regiões como Vitória onde há 280 habitantes por um dentista, uma obturação por superfície ao preço de 5 dólares americanos, o que vem a demonstrar que os níveis de saúde estão muito baixos e a prevalência de patologias orais só tendem a aumentar (CAMPUZANO, 2001)4. A idéia de SAAD (2001)14 é que com a proliferação dos convênios odontológicos, ele teme que o Brasil se iguale ao Japão, onde a Odontologia é quase 100% conveniada. Conforme FERREIRA (1995)7, o processo de terceirização dos serviços odontológicos é visto com desconfiança por muitos dentistas que alertam para o perigo da oligopolização da odontologia no Brasil por empresários que querem tirar lucro da profissão, porém, outros dentistas consideram que a situação não está fácil para ninguém e entre um consultório vazio e um tomado por funcionários-clientes, para fazer tratamentos com preços abaixo do mercado, a segunda opção é a mais atraente. Essa é a nova realidade brasileira. Nesse sentido OLIVEIRA (2000)10 relata que os planos e seguros privados de saúde compõem uma parcela do sistema de prestação de assistência médica no Brasil, conhecida como assistência suplementar. Por se tratar de um serviço de relevância social, deve estar sob o controle do governo e, segundo a Constituição, deve funcionar, como o próprio nome indica, de forma complementar ao Sistema Público de Saúde. 19 De acordo com RAZUK (2001), temos hoje cerca de 4 milhões de beneficiários assistidos por empresas de assistência odontológica, com um faturamento anual aproximado de R$ 700 milhões. Das 695 operadoras de saúde registradas em São Paulo, 272 são odontológicas com 3968 produtos. Sendo que 50% dos profissionais do país estão vinculados à empresas de Odontologia de Grupo, com aproximadamente 80 mil cirurgiões-dentistas e clínicas credenciadas em todo o Brasil ( FÓRUM de defesa da odontologia..., 2001)17. Recentemente tem sido amplamente divulgado na imprensa a batalha na qual se transformou a regulamentação dos planos de saúde. O fato é que este comportamento do mercado em anos recentes possui raízes históricas que estão relacionadas com o próprio modelo de desenvolvimento brasileiro, característico de países de capitalismo tardio, como também a forma como se estabeleceram as relações entre público e privado no Brasil, tanto no que diz respeito as políticas sociais e econômicas, como nas políticas de assistência à saúde (OLIVEIRA,2000)10. Segundo ANDRADE (2001)2, o sistema de gestão democrática das cooperativas é um foco de atração tanto para os profissionais recém formados como os veteranos. De acordo com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), das 5.012 cooperativas existentes, 585 atuam no segmento da saúde. A atividade cooperativista é regulamentada pela lei 5.764/71 e a fiscalização de cada uma delas é feita pelos próprios cooperados através do conselho fiscal. 20 De acordo com CORMACK (1997)5, é fácil condenar empresas que impõem preços aviltantes aos profissionais. Difícil é perceber que esses fatos são apenas reflexos de uma deterioração do mercado profissional, claramente agravado pelo crescimento desproporcional entre a população e os dentistas. Esses são apenas efeitos, e não as causas básicas do problema. A essência da questão da deterioração profissional se encontra em outra esfera de discussão, e tem origem no aparelho formador profissional e nas condições sociais e econômicas da população brasileira. Neste sentido o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo está procurando reestruturar o departamento de convênios, levantando, por exemplo, as características e as formas utilizadas pelo Conselho Regional de Medicina. Todas as medidas estão sendo tomadas devido ao franco crescimento que o setor de convênios e credenciamentos tem apresentado e, principalmente face à considerável receita que vem proporcionando ao cirurgião-dentista (CROSP aprimora relações entre profissionais....)18. Hoje, sabemos que a metade dos cirurgiões-dentistas do Brasil estão de alguma forma vinculados a alguma empresa de assistência odontológica do mercado e possui grande parte do seu faturamento proveniente delas; então frente a esta situação é que o CROSP se sentiu na obrigatoriedade de priorizar medidas relativas à harmonização entre as partes, medidas estas que geram uma reforma deste setor para que se finalize num equilíbrio entre as partes, ou seja, medidas não arbitrárias, que não prejudiquem as operadoras de nenhuma forma mas, que proporcionem as 21 partes a melhor forma de trabalho possível (CROSP aprimora relações entre profissionais....)18. 22 4. CONCLUSÃO Sem dúvida o Brasil vive hoje um momento peculiar na história de suas políticas sociais em geral e da política de saúde em particular; Entre os grandes desafios atuais da odontologia estão: oferecer acesso aos serviços com qualidade e baixo custo, encontrar demanda para o contingente de profissionais e a dificuldade na percepção de que a deterioração do mercado de trabalho é multifatorial; A regulamentação da Lei dos planos e seguros de saúde que dizem respeito à Odontologia vem com a finalidade de garantir aos usuários os serviços necessários para a recuperação e manutenção da saúde bucal; Observamos que os convênios odontológicos têm atingido novas parcelas da população, ampliando o acesso à saúde do cidadão, o que muitas vezes o setor público não consegue suprir, pois a maior parte da população brasileira não tem acesso a cuidados odontológicos; A atuação das Empresas de Odontologia de Grupo, sob a forma de parcerias ou de maneira isolada, contribui para a democratização da assistência odontológica brasileira. 23 5.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ASSADA,R.M. Paradoxos da Lei dos Planos de Saúde. www.jornaldosite.com.br, 2001. 2. ANDRADE,M. Aunião faz a força. www.jornaldosite.com.br, 2001. 3. BELARDINELLI, V.H. Clínica particular: necessidade e possibilidade de fazê-la crescer. Odont.mod.,v.13, n.10, p.32-42, nov/dez,1986. 4. CAMPUZANO, V.H.M. A saúde oral nos países da América Latina: uma visão geral. www.jornaldosite.com.br., 2001. 5. CORMACK,E.F. Convênios e credenciamentos em odontologia: solução ou problema? www.odontologia.com.br, 1997. 6. FERREIRA, M.A. & SOUZA,I.N. Estratégias de Terceirização na Indústria Mineira: características e impactos.Departamento de Engenharia de Produção da UFMG-Belo Horizonte,MG,mimeo, 1993, 13p. 7. FERREIRA, R.A. O valor da saúde bucal nas empresas. Revista da APCD, São Paulo, 49 (2) 96-107, mar/abr.1995. 8. FRAGOAS, M.N. Uniodonto,www.jornaldosite.com.br, 2001. 24 9. MELO,C. Sorria Brasil. Informe SINOG- www.sinog.com.br,2001. 10. OLIVEIRA,A.G.R.C.Odonto-ciência. Os planos e seguros privados de saúde no Brasil: reflexos de uma política liberalizante. www.terravista. pt /bilene/2104/, 2000. 11. PINTO,V.G. A odontologia brasileira às vésperas do ano 2000, diagnósticos e caminhos a seguir. São Paulo: Santos,1993, p.189. 12. _______ “Epidemiologia das doenças bucais no Brasil”, In: KRIGER,L. (Org.). Promoção de Saúde Bucal. São Paulo: Artes Médicas, 1997, p. 29-41. 13. ________ Saúde bucal coletiva. São Paulo: Santos, 2000, p. 77. 14. SAAD, M. Bola de neve. www.jornaldosite.com.br.,2001. 15.SINOG. Prêmio Sinog de Odontologia 2001. www.sinog.com.br., 2001. 16.UNIODONTO.Cooperativismo Odontológico no Brasil. www.uniodonto-sc.com.br., 2001. 17. FÓRUM de defesa da odontologia, na APCD, debate problemas da casse. Novo CROSP, São Paulo, ano 20, n.83, p.19, ago./set. 2001. 18. CROSP aprimora relações entre profissionais e convênios e credenciamentos. Novo CROSP, São Paulo, ano 20, n.83, p.24, ago./set. 2001.