I UNIDADE

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1ª Série do Ensino Médio
Projeto Interdisciplinar: Século XX: questionamentos, novas perspectivas e descobertas.
No:
Aluno(a):
Série:
1a
Turma:
Disciplina:
Data:
História
/ / 09
Professor:
Unidade:
I
Flávio Caetano
ATIVIDADE N o 01
TEXTO I
O POSITIVISMO E AS CIÊNCIAS
INTRODUÇÃO
A obra fundamental de Comte é (criador do positivismo) o “Curso de Filosofia Positiva”, livro escrito entre 1830
e 1842, a partir de 60 aulas dadas publicamente pelo filósofo, a partir de 1826. É na primeira delas que Comte
formulou a “lei dos três estados” da evolução humana:
 o estado teológico, em que a humanidade vê o mundo e se organiza a partir dos mitos e das crenças
religiosas;
 o estado metafísico, baseado na descrença em um Deus todo-poderoso, mas também em conhecimentos
sem fundamentação científica;
 o estado positivo, marcado pelo triunfo da ciência, que seria capaz de compreender toda e qualquer
manifestação natural e humana.
É no terceiro estágio que se observa o espírito científico ou positivo onde se observa os fatos, se limita a
raciocinar sobre eles e a procurar suas relações invariáveis, que dizer, suas leis. No estado positivo corresponde
maturidade do espírito humano, o primitivo explica a queda dos corpos pelas ações dos deuses. Porém, para Comte
os conhecimentos reais repousam sobre fatos observados (o que seria um retorno ao empirismo do século XVII).
No positivismo a razão tem o papel de descobrir as relações constantes e necessárias entre os fenômeno ou
leis invariáveis. Surge daí o determinismo pelo qual o reino das ciências é o reino da necessidade onde a
necessidade significa o que tem de ser e não pode deixar de ser. Nesse sentido necessário opõem-se a
contingente. Portanto na questão da necessidade não há liberdade.
O papel da filosofia seria de sistematizar a ciência. (...) Para Comte a filosofia deve apresentar um corpo
próprio de saber. Deve conter muito mais um sentido e uma orientação e atuar como coordenadora do sistema
geral do conhecimento. Conhecimento este que j se encontra diante de nós como fato inquestionável. A filosofia
portanto não tem de se ocupar da reivindicação do saber mas sim de sua classificação e ordenação. E a filosofia
torna-se uma enciclopédia pela sua organização e hierarquização.
As idéias de Comte, em especial através dos pensadores Miguel Lemos (1854-1917), Teixeira Mendes (18551927) e do militar Benjamin Constant (1836-1891), se impuseram aos círculos republicanos brasileiros, contribuindo
para nortear a nova ordem social republicana, em especial nos governos Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.
A ciência e o positivismo
No século XIX, a Europa presenciou amplo desenvolvimento tecnológico e industrial, que permitiu sua
evolução econômica e a afirmação como o continente mais poderoso do mundo até a Primeira Guerra Mundial. Ao
mesmo tempo em que crescia internamente, o continente se expandia para fora de seus domínios, conquistando
terras, pessoas e novas riquezas na África e Ásia, numa reedição do colonialismo do Antigo Regime. No entanto,
não bastava conquistar tais territórios e impor uma dominação à força em suas populações:
P era preciso justificar a
razão daquele domínio e gerar um argumento incontestável. Para tal fim, os pensadoresRe intelectuais europeus
utilizaram-se do conceito de ciência, tido como um saber superior e acessível a poucasO pessoas. A explicação
ficava clara: os europeus, donos da ciência e do desenvolvimento, se dirigiam àquelas novas
terras para “salvar”
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suas populações do estado de barbárie e abandono em que estavam. Justificava-se o Imperialismo
por meio de
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argumentos científicos, baseados na superioridade técnica e racial do europeu branco sobre o negro africano e o
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asiático: cientificamente falando, o europeu tinha o direito de dominar os novos colonos porque era de uma
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civilização mais avançada, dado o desenvolvimento que mostrava e o poder de seu conhecimento.
Esta forma de
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HISTÓRIA
se compreender o mundo, isto é, baseada no cientificismo que transforma as realidades sociais, frutos de uma
certa ordem histórica que nunca é absoluta, em verdades absolutas e incontestáveis porque comprovadas pela
ciência, tornou-se em pouco tempo a tônica de todo o pensamento do Velho Continente, espalhando-se para
diversos campos do saber. Renasceu a importância da Física e da Química como disciplinas exatas, por exemplo.
Mas o caso mais destacado desse processo de construção de conhecimento é a transformação que ocorre nas
chamadas disciplinas humanistas, a História e a Sociologia. Elas também vão incorporar a tendência cientificista,
auxiliando a explicar o domínio europeu nas novas colônias e impondo novos métodos de se estudar as relações
sociais e o andamento da História dos povos.
O Positivismo pregava a cientifização do pensamento e do estudo humano, visando a obtenção de resultados
claros, objetivos e completamente corretos. Os seguidores desse movimento acreditavam num ideal de
neutralidade, isto é, na separação entre o pesquisador/autor e sua obra: esta, em vez de mostrar as opiniões e
julgamentos de seu criador, retrataria de forma neutra e clara uma dada realidade a partir de seus fatos, mas sem
os analisar. Os positivistas crêem que o conhecimento se explica por si mesmo, necessitando apenas seu
estudioso recuperá-lo e colocá-lo à mostra. Não foram poucos os que seguiram a corrente positivista: Auguste
Comte, na Filosofia; Émile Durkheim, na Sociologia; Fustel de Coulanges, na História, entre outros, contribuíram
para fazer do Positivismo e da cientifização do saber um posicionamento poderoso no século XIX.
Pode-se inclusive dizer que o Positivismo reduz o papel do homem enquanto ser pensante, crítico, para um
mero coletor de informações e fatos presentes nos documentos, capazes de fazer-se entender por sua conta. “Os
fatos históricos falam por si mesmos”, dizia Coulanges, historiador francês. Assim, para os positivistas que
estudaram a História, esta assume o caráter de ciência pura: é formada pelos fatos cronológicos e o que realmente
significam em si. São objetivos à medida que possuem uma verdade única em sua formação (que é o seu sentido
e sua única possibilidade de compreensão) e não requerem a ação do historiador para serem entendidos: como já
dito, o papel deste é coletá-los e ajeitá-los, constatando pela análise minuciosa e liberta de julgamentos pessoais
sua validade ou não. O saber histórico, dessa forma, provém do que os fatos contêm, e assume um valor tal qual
uma lei da Física ou da Química, ciência exatas.
Tão objetiva é a História para os positivistas que um de seus maiores ensinamentos é a busca incessante de
fatos históricos e sua comprovação empírica. Daí a necessidade, como pregavam, de se utilizar na pesquisa e
análise o máximo de documentos possíveis: para se obter a totalidade sobre os fatos e não deixar nenhuma
margem de dúvida no que se refere à sua compreensão. A busca desses fatos deve ser feita por mentes neutras,
pois qualquer juízo de valor na pesquisa e análise altera o sentido e a verdade própria dos fatos, modificando pois
a própria História. Esta se tornaria uma ciência falha e totalmente fora de seu caráter científico, e portanto
destituída de valor e validade. Coulanges chega a afirmar que a “História não é arte, mas uma ciência pura (...) a
busca dos fatos é feita pela observação minuciosa dos textos, da mesma maneira que o químico encontra os seus
em experiências minuciosamente conduzidas”. A objetividade, a minuciosidade, o detalhe e a dedicação
impessoal, portanto, são as grandes lições da escola positivista para o estudo da História no século XIX e no início
do XX. Os historiadores que, nessa época, tentaram provar outras formas de se estudar a disciplina foram
desconsiderados e postos à margem. Numa sociedade européia que buscava seu próprio desenvolvimento e
avançava rumo a grandes descobertas na ciência e na tecnologia, a cientifização que marcou a época também se
espalhou para o campo dos estudos humanos, reduzindo o papel do profissional desse campo para um mero
coletor de informações. A implicação de opiniões externas aos sentidos dos fatos históricos alterava a História, na
opinião positivista, e eliminava assim sua legitimidade como saber de importância social.
(...) Fustel de Coulanges, destacado historiador positivista, afirmava que “a História é uma ciência pura (...) o
historiador não deve ter outra ambição que a de ver bem os fatos e compreendê-los com exatidão. Não é em sua
imaginação ou lógica que ele os procura, mas sim na observação minuciosa dos textos, da mesma maneira que o
químico encontra os seus em experiências minuciosamente conduzidas”. Portanto, os positivistas consideram as
ciências humanas tais como exatas, nas quais a implicação pessoal produz conhecimentos errados sobre o objeto
de estudo. (...)
A História deveria, sob essa perspectiva, ser tratada como a química e a matemática, por exemplo: sua
compreensão estaria na perfeita observação dos fatos por parte do historiador, e não em sua análise: a opinião
humana mudaria o verdadeiro sentido do conhecimento histórico. Os fatos falam por si mesmos e possuem uma
verdade implícita que aparece quando postos à tona. O trabalho e o ofício do pesquisador seria tão somente
resgatá-los do esquecimento e possibilitar sua divulgação. Mas nunca interpretá-los ou propor um entendimento
para os mesmos: este seria conhecimento falho e mentiroso, por se basear nos sentidos e na avaliação de um ser
P corrente positivista se
humano passível de erros e que não possui a exatidão da verdade histórica. No Brasil, essa
destacou nas duas primeiras décadas do século XX, especialmente nas obras de EuclidesRda Cunha (Os Sertões),
Sylvio Romero e Oliveira Viana. Esses autores não fazem obras históricas propriamenteO ditas, pois sem querer
apresentam os fatos históricos relacionados a análises de caráter sociológico – quando aJinterdisciplinaridade era
abominada pelos positivistas, que acreditam na plenitude e totalidade do conhecimento
de cada área do
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pensamento. No entanto, retratam bem alguns dos postulados positivistas como determinantes
da evolução
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histórica nacional: em seus livros estão presentes a diferenciação racial entre negros e brancos
como medida para
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a evolução de um povo e as condições climáticas e geográficas como fatores de desenvolvimento, por exemplo.
Para eles, o Brasil estava condenado a ser um país subdesenvolvido, visto que a maior parte de sua população era
“bárbara” (isto é, negra) e o clima tropical induzia o povo à ociosidade: com essas características, nossa história
seria indolente e sem melhores perspectivas. Não admitiam uma outra possibilidade para entender o país, pois era
isso que a realidade empírica (isto é, os fatos históricos e a situação que presenciavam) revelava perante seus
olhos. Era esse quadro que observavam com seus olhos “científicos” e desprovidos de julgamentos. Os mesmos
olhos que chamavam os negros de “bárbaros” diziam que não emitiam opiniões na elaboração de seu saber: como
se vê, o positivismo também se baseava em julgamentos opinativos, mesmo que não assumissem.
O “Positivismo clássico” esconde por traz dos “dados objetivos” a sua matriz ideológica, o seu fazer. Sua
concepção geral é a de que a sociedade é regulada por leis naturais que são imutáveis e não dependem do
arbítrio; a conseqüência lógico-epistemológica é a de que os métodos e técnicas aplicados no estudo da sociedade
devem ser os mesmos das ciências naturais, o conhecimento objetivo que estabelece o que é Ciência, científico,
metodológico, possível e impossível, real e irreal; a metodologia da História não apenas seria a mesma das
Ciências Naturais como também deveria estudar seu “objeto” da mesma maneira, sem “juízos de valor”, com a
esperada neutralidade (o passado já passou, nada temos que nos inserir nele), dissecando os “fatos” como se
fossem objetos; a separação entre Juízos de Valor e Fatos é imprescindível; sem implicações políticas, a finalidade
da Ciência (da História) é constatar, descrever e prever. A descritividade descompromissada, reproduzindo a
realidade, torna-se o estilo preferido e necessário. Com isso o sujeito encontra o objeto, desencava, escava e o
traz a luz. A separação entre o cientista e seu “objeto de estudo” é condição inescapável.
Como algumas clivagens positivistas dentro da História remos de que a função básica do historiador é
reconstruir os fatos. Esses fatos não se relacionam com o historiador. Sua posição é neutra, ou científica,
separando ele mesmo e o sistema imaginário do seu tempo daquilo que passou. Sujeito e objeto mantém uma
relação “naturalizante”, de compreensão causa-efeito, como duas entidades, como se os “objetos” não fossem
criação viva de uma “comunidade”, de indivíduos, não fossem expressões do próprio sujeito, como duas entidades
separadas, não fossem ficcionais.
Outra é que a história é o real, sociedade, existência, sistema de fenômenos existentes em sua globalidade,
os homens em movimento a humanidade e seu trajeto. Essa existência deixa documentos do seu movimento, que
serão recompostos (a história está nos documentos: os fatos estão nos documentos) pela História. O historiador é
o cientista que extrairá a história condensada, escondida, espalhada nos documentos.
Essa forma de se estudar a História nacional predominou até o início dos anos 30, quando a emergente
Escola dos Annales francesa, que emergia na Europa desde os anos 20, começou a influenciar os autores e
pensadores brasileiros, forçando uma renovação no pensamento histórico e social da nossa realidade.
É possível identificar, em Comte, os princípios positivistas que influenciam a ciência tradicional bem como
reconhecer sua contribuição às ciências sociais ao sugerir uma física social.
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Adaptados dos sítios:
http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932007000200009&lng=pt&nrm=iso
http://educacao.uol.com.br/filosofia/ult3323u30.jhtm
http://www.brasilescola.com/sociologia/positivismo.htm
http://www.primeiraversao.unir.br/artigo182.html
Col/EM/748952678_EF
TEXTO II
A ALMA HISTÓRICA DA GEOGRAFIA
“A ciência geográfica não pode desprezar o elemento histórico, se pretende ser
verdadeiramente um estudo do território e não uma obra abstrata, uma moldura através
da qual se veja o espaço vazio...”(Karl Ritter, 1833)
O prussiano Karl Ritter (1779-1859) divide com seu contemporâneo e conterrâneo Humboldt, a condição de
fundador da geografia moderna. A sua obra constitui prova de que a disciplina nasceu impregnada pela
preocupação com o tempo histórico. Revela também que o desprezo pela história, tão evidente na geografia
universitária e escolar atual, não é uma “doença congênita”,mas adquirida. E, ainda, que aqueles que buscam no
recurso ao tempo histórico uma alavanca para a renovação da geografia não estão rompendo com uma tradição,
mas tentando recuperar um fio perdido em alguma encruzilhada do passado.
Outro prussiano, Friedrich Ratzel (1844-1904), celebrizou-se como fundador da geografia política. Seus
detratores - o francês Vidal de La Blache e a chamada “escola possibilista” que inaugurou - habilmente desviaram
a discussão para o campo que lhes interessava, inventando uma “escola determinista” de inspiração ratzeliana.
Através dessa operação, instalaram um falso debate sobre as relações entre sociedade e natureza e mascararam
aquilo que realmente separava as duas correntes: as relações entre a geografia e a política.
Ratzel, que não era “determinista”, enxergava no Estado - e, portanto, no território delimitado por fronteiras
políticas - o objeto de estudo da geografia. Sob a poderosa influência da filosofia da história de Hegel, o geógrafo
interpretou a construção do território estatal como a mais elevada conquista do espírito e da cultura, elaborando
algumas das idéias que, mais tarde e em outro contexto, seriam manipuladas para fins de legitimação do
expansionismo nazista.
O empreendimento metodológico de La Blache (1845-1918) consistiu em isolar a geografia da política,
revestindo a disciplina com um escudo de aparente objetividade que lhe forneceria uma base mais ampla de
legitimidade científica. Nesse esforço encontra-se o momento inicial de ruptura com o tempo histórico.
No lugar do Estado e da nação de Ratzel, surgiam o “homem” e os “gêneros de vida” de La Blache. No lugar
do território, emergia a região, conceito oriundo da geologia e passível de definição a-histórica. A “escola
possibilista” subordinava a geografia ao estudo da paisagem, formada por montanhas e vales, florestas e desertos,
campos cultivados e homens.
Não que os “possibilistas” tivessem abolido a história da sua geografia. O próprio La Blache, vez por outra,
produziu estudos profundamente enraizados na análise da produção histórica do espaço geográfico. É o caso, por
exemplo, do seu La France de l'est, dedicado a “provar” os direitos franceses sobre a Alsácia e a Lorena anexadas
pelos alemães na Guerra Franco-Prussiana (1870-1871). Mas esses são os momentos nos quais o escudo da
“objetividade científica” tinha de ser temporariamente aposentado, em nome dos interesses políticos do Estado
francês.
O passo seguinte, e decisivo, foi dado pela chamada geografia quantitativa, que se difundiu no pós-guerra
essencialmente a partir dos Estados Unidos. A nova proposta, que se queria revolucionária e fazia tábula rasa do
passado da disciplina, almejava a mesma meta dos “possibilistas” - a de elevar a geografia à condição de “ciência
respeitável”. A estratégia consistiu em transformar instrumentos e técnicas de trabalho - a estatística, a
modelagem matemática - em paradigma do pensamento geográfico.
O resultado foi a absolutização dos fenômenos mensuráveis ou, melhor dizendo, da superfície mensurável
dos fenômenos espaciais. Milton Santos, em sua crítica sintética da geografia quantitativa, enfatizou a diferença
entre a reprodução dos estágios de uma sucessão e a apreensão da própria sucessão. Inimiga da história, a
geografia quantitativa não reconhece processos, mas apenas resultados. Nesse sentido, ironicamente, é uma
sucessora legítima dos “possibilistas”,com a diferença de que na sua “paisagem” a abstração matemática toma o
lugar dos vales esculpidos pelas forças da natureza e pelo labor dos homens.
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