Ensino Religioso como área do conhecimento no Ensino Médio 1. Conceito de Conhecimento. A modernidade filosófica permite hierarquizar os conhecimentos, dando e a pretensa superioridade do saber das ciências exatas. A partir da segunda metade do século XX pensadores como Husserl, Heidegger e Wittgestein abriram novas fronteiras na área da ciência, demonstrando a irredutibilidade do saber cientifico. O saber das ciências forçou um novo olhar sobre as religiões, quando se trabalhava com a idéia de verdades prontas e acabadas, que o saber religioso soube muito bem utilizar, o conceito e função das religiões não sofriam grandes questionamentos tudo era muito claro e evidente, a partir do momento que a epistemologia demonstra que o saber é um saber em construção, que verdades prontas e acabadas não respondem às necessidades do conhecimento, o estudo do objeto das religiões se dinamizou. Hoje estudar as religiões requer dialogo com diferentes saberes, para podermos compreender o seu universo. “Nas reflexões com base na ciência moderna, modelo cartesiano, a reflexão acadêmica era mais tranqüila, porque ou se ignorava o saber religioso partindo do pressuposto que era um saber inferior, ou quando era analisado e discutido fazia-se a partir de categorias ideológica de cunho doutrinal, tendo como referencia o credo hegemônico, ou cultural, cuja base de reflexão partia de intelectuais europeus que pensavam o mundo a partir da sua realidade cultural ”.1 O conhecimento hoje nada mais é do que um painel todo fragmentado, muitas vezes sem sentido em que acabamos fazendo sempre mais informações e menos conhecimento. Vamos chegar ao momento em que sabemos quase tudo de quase nada. O tema é a universalidade do saber, do conhecimento. O que caracteriza nosso tempo? Existe uma inflação de informações que a gente recebe e não consegue lidar com esta carga tão grande e se fica no superficial. A finalidade última dos processos educativos que é o conhecimento, não pode ser reduzido à sua modalidade cientifica, que apesar de estar mais presente em nossas ações profissionais cotidianas, existe o conhecimento estético, o religioso, o afetivo, etc. que também estão muito presentes em nossa vida. Não é fácil escapar dessa redução e fragmentação, pois hoje mais do que nunca, o produto cientifico é mais valorizado na vida das pessoas. A ciência no ocidente tem pouco mais de 2500 anos enquanto um conhecimento sistemático, metódico e deliberado, apartado de uma interpretação mágica do mundo. É uma instancia recente na história se comparada com a história da humanidade desde suas origens. “No nosso entender, entretanto, conhecimento é diferente de revelação, em tudo já pronto, também é diferente de descoberta, como se o saber e a verdade estivessem escondidos e os mais geniais e inteligentes fossem capazes de ir até onde eles estão e libertá-los, retirar o véu que os encobre”2. 1 2 ALVES e FILHO, Fonaper, 2005, p.71 Cortela,2006, p.98 O processo de construção de conhecimento a partir de uma teoria dialética, pressupõe a construção recíproca, entre sujeito e objeto, já que é pela práxis do homem sobre o mundo, que tanto o mundo, quanto o homem se modificam e se movimentam. Tendo como base a teoria dialética do conhecimento, nossa ação educativa deveria levar em conta que a prática social é a fonte do conhecimento: a teoria deve estar a serviço e para uma ação transformadora; a prática social é o critério de verdade e o fim último do processo de conhecimento.3 O conhecimento é um processo humano, histórico, de busca incessante de compreensão, de organização, de transformação do mundo vivido e sempre provisório, tem origem na prática do ser humano e nos processos de transformação da natureza. O que possibilita a construção do conhecimento é sem duvida o reconhecimento de que somos seres em construção, somos seres pensantes com desejo de saber e ao ser humano lhe falta a plenitude. Nesse processo participam um sujeito que conhece, um objeto a ser conhecido, um modo particular de abordagem do sujeito em relação ao objeto e uma transformação, tanto do sujeito, quanto do objeto. O objeto é entendido como realidade socialmente construída e compartilhada. O que nos trouxe os avanços da ciência e da tecnologia? Certamente avanços e produtos maravilhosos, seja na área de saúde, comunicação, educação, transporte, etc., tanto que não podemos viver sem a televisão, sem internet. Porém o uso desta tecnologia nos trouxe problemas gravíssimos: o problema ecológico com o ar e a água que respiramos e bebemos que estão envenenados. Apesar das tecnologias avançada na agricultura não se conseguiu resolver os problemas como por exemplo da fome. Ao contrário, no mundo temos visto crescer as diferenças sociais entre o norte rico e o sul pobre com desemprego, crescem as diferenças entre os poucos ricos e as maiorias pobres. Há um processo de profundas mudanças nos relacionamentos entre as pessoas e na família, tanto que muitas delas já nem tem tempo de se encontrar, delegando responsabilidades para a escola no que se refere a educação. Temos que considerar que o resultados deste desenvolvimento cientifico e tecnológico não beneficiam o conjunto da humanidade da mesma forma gerando uma distribuição desigual e discriminatória das benesses dessa obra humana coletiva. Assim para podermos fazer uma reflexão sobre o tema do conhecimento humano que nos ofereça mais fundamentos para nossas práticas pedagógicas é necessário compreender a presença humana na realidade e na história de nosso planeta terra e qual o lugar do conhecimento em suas múltiplas dimensões. A escola e o conhecimento O nosso modelo de escola sempre foi excludente. Na Idade moderna as novas teorias e os novos métodos de pedagogia impõe a grade curricular fragmentada, com disciplinas que impossibilitam o conhecimento integral, sistêmico, estrutural e significante para a vida, excluindo da sala de aula a capacidade de pensar e criar e obrigando os educando a reproduzir os conteúdos tais quais lhe foram transmitidos, na maioria das vezes, sem nem sequer os compreender. Um novo modelo de escola excludente surgiu na modernidade: a escola tecnicista, que é uma atualização da escola proletária a qual, durante a revolução industrial, 3 Cadernos Pedagógicos 9, Ciclos de formação proposta político pedagógica da escola Cidadã. Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre. Abril, 1999, p. 34 forneceu conteúdos mínimos para habilitar os pobres ao trabalho na indústria e no comércio, contribuindo para que migrassem do campo para a cidade, tornando-se mão de obra semiescravizada para o processo de produção. “O modelo econômico implantado no país a partir de 1964 privilegiou a organização de condições para a produção capitalista industrial e, assim, o poder político central (atendendo aos interesses das elites direcionou os investimentos públicos para grandes obras de infraestrutura: estradas, hidrelétricas, meios de comunicação etc., sendo que o financiamento para essa política e para a aquisição de equipamentos e tecnologias foi obtido com empréstimos no exterior ( pelo estado ou por iniciativa privada com o aval do estado) e levou a um brutal endividamento do país, retirando cada vez mais os investimentos nos setores sociais” 4. Com as exigências de ajustes estruturais do neoliberalismo, os investimentos nos setores sociais foram reduzidos drasticamente, gerando um colapso de serviços públicos como educação e saúde. Assim a educação pública das últimas décadas gerou um intencional apartheid social implementado pelas elites econômicas e é a partir dele que podemos compreender a crise da educação. Não basta reafirmar que o aumento da quantidade de cidadãos na escola publica leva a uma queda de qualidade de ensino, é preciso pensar uma nova qualidade para uma nova escola, em uma sociedade que passa a compreender a educação como um direito objetivo de cidadania. Atualmente temos a escola competitiva, que prepara alunos em vista do vestibular e da conquista de um lugar na sociedade. O marketin das escolas é feito sobre o número de alunos que foram aprovados nas universidades. Em uma sociedade de desigualdades e de exclusões o jovem entra na guerra pela sobrevivência e esta escola competitiva procura dar a ele as melhores armas e treiná-lo para que lute e vença todos aqueles que com ele concorrem para uma vaga de preparação para o mercado de trabalho. Educação, epistemologia e política Cortella 5aprofunda a questão dos fundamentos da articulação entre educação, epistemologia e política. A tese fundamental do autor apresenta que o conhecimento é uma construção cultural, social e histórica e a escola como veículo que transporta este conhecimento tem um comprometimento político de caráter conservador e inovador que se expressa no modo como esse conhecimento é compreendido, selecionado, transmitido e recriado. “Portanto, não é uma escola pública na qual os estudantes das classes sociais mais pobres aprendem o que iriam utilizar de imediato na sua vida cotidiana em uma dimensão utilitária e redutora, mas é uma escola que seleciona e apresenta conteúdos que possibilitem aos alunos uma compreensão de sua própria realidade e seu fortalecimento como cidadãos, de modo a serem capazes de transformá-la na direção dos interesses da maioria social. Junto com essa articulação entre educação, epistemologia e política, o trabalho dos educadores deve garantir aos educando o acesso ao conhecimento universal acumulado e possam dele se apropriar, superando uma formação erudita sem relação com a existência social e individual. E ao mesmo tempo essa relação do conhecimento cientifico com o universo vivencial dos alunos demanda evitar o pragmatismo imediatista que entende deverem a s classes trabalhadoras freqüentar escolas apenas para aprender a trabalhar. 4 Cortela,2006, p.11 Cortela,2006, p.16-17 5 Fazer uma educação publica voltada para as necessidades da maioria da população, sendo que essa mesma população tem conhecimentos que podem ser satisfatórios para a sobrevivência imediata , porém mostram-se frágeis para a alteração mais radical de suas coletivas condições de existência. Daí a necessidade de transformar os conhecimentos científicos em ferramentas de mudanças. O universo vivencial das populações mais pobres é rico em termos culturais, mas precário em termos de conhecimentos mais elaborados, que são propriedade quase exclusiva das elites sociais que dificultam ao máximo o acesso da classe trabalhadora a esta forma de conhecimento eficaz. A Organização Curricular A organização do currículo na chamada escola tradicional está em crise, e padece de alguns males específicos. Como reflexo de concepções epistemológicas e objetivos políticos mais amplos, encontramos as diversas áreas de estudo componentes do currículo, amplamente dissociados entre si. E ao mesmo tempo nos deparamos com uma completa desarticulação das disciplinas de uma mesma área. Outro problema da organização curricular tradicional diz respeito ao objetivo formal de desenvolver consciência critica. Na prática tal objetivo reduz-se a concepção pela qual, a reflexão critica do aluno estaria assegurada pela mudança de conteúdos. Faz-se uma critica de certas formas de enquadramento e organização dos conteúdos, substituindo-se por outros, fundadas em matrizes teóricas distintas. Opera-se a substituição de textos e espera-se, desse modo, assegurar a formação da consciência critica. O equivoco está na persistência prática em considerar que todas as concepções pedagógicas teóricas estão prontas e que a potencialidade do desenvolvimento do senso critico estão no que se ensina, quando na verdade está em como se ensina e em como professor e aluno aprendem. A educação nacional deve integrar-se em torno de um paradigma curricular, que vise estabelecer a relação entre educação e a vida cidadã através de uma articulação entre vários dos seus aspectos como: a saúde; a sexualidade; a vida familiar e social; o meio ambiente, o trabalho; a ciência e a tecnologia; a cultura; as linguagens; as áreas de conhecimento: Língua Portuguesa; Língua Materna, para populações indígenas e migrantes; Matemática; Ciências; Geografia; História; Língua Estrangeira; Educação Artística; Educação Religiosa. Outro aspecto importante é que a escola deve se caracterizar pelo principio de gestão democráticoparticipativo que deve nortear a inclusão do ER, na proposta pedagógica da escola, levando em consideração a realidade da comunidade escolar. “É fundamental nos parâmetros curriculares destacar a caracterização da natureza do ER. como disciplina, detentora de uma didática própria, de conteúdos específicos e que deve integrar o projeto político pedagógico”.6 Com relação ao desenvolvimento didático dos conteúdos, deve-se ter presente a preocupação em caracterizar o ER no contexto da escola, evitando proselitismos, com respeito a pluralidade religiosa, cultural e, não seja o ER. espaço para a busca de adeptos para uma tradição religiosa especifica. E ter presente a concepção de que a verdade não é monopólio de uma fé religiosa ou política. 2. Os passos do ER. na educação. O ER escolar passou por diferentes caminhos e adaptações, tendo acompanhado a história da educação brasileira. Foi por muitas vezes, utilizado e considerado um elemento eclesial, 6 CANDIDO, 2004, p.50 (citação p.29 ER. Mem e persp) missionário, catequético e proselitista dentro da escola. Desde os primeiros anos do sistema republicano a educação segue uma orientação positivista, tentou imprimir um critério pratico ao estudo das disciplinas. Ao longo da história a educação foi uma constante preocupação do episcopado brasileiro. Neste sentido a discussão sobre a organização escolar não era apenas quanto ao modelo do ER, mas também quanto a concepção de educação como um todo, revelando uma oscilação entre a influencia humanista clássica e a realista ou cientifica. Na visão liberal, ao contrário, sob os princípios da escola nova a educação deveria preparar os jovens ao trabalho, à atividade prática e ao exercício da competição, que reforçou o principio liberal do individualismo e a idéia de autonomia por parte do aluno como condição para inserir-se no universo urbano-industrial. “ Com a proclamação da república em 1889, uma nova concepção de educação foi manifestada segundo princípios estabelecidos pelos republicanos. Benjamim Constant foi um dos idealizadores do positivismo no Brasil. Como ministro da Instrução, Correios e Telégrafos, foi responsável por uma profunda reforma no ensino que envolveu alterações no currículo, reestruturação de conteúdos de acordo com a organização da ciência e dos princípios de Augusto Compte” 7 O Ensino Religioso em novos contextos Nos anos 1960, a ânsia de liberdade, de autonomia tanto a nível individual como coletivo, levou pessoas, povos a lutar por direitos civis e políticos. No período ditatorial foi severa a repressão sobre os movimentos populares e estudantis e a educação sofre profundas reformas com finalidade acentuadamente política ideológica de segurança nacional e econômica. “No cenário da racionalidade técnica da década de 1970, a formação profissionalizante se tornaria bandeira da escola pública, que precisava formar para o mercado de trabalho, gerando um capital humano compatível com as exigências do capitalismo industrial internacional, abandonando-se um percurso entre a educação humanista e as primeiras experiências de uma educação progressista”8 A inserção do Ensino religioso no contexto global da educação, na perspectiva dos educadores favoráveis a esta inserção visava tornar as relações de saber mais solidárias e participativas, ajudando a descobrir instrumentos eficazes para a compreensão e a ação transformadora da realidade social, através dos valores fundamentais da vida. E ao mesmo tempo contribuir para a construção de uma sociedade mais democrática com suas diferenças e pluralidade culturais e religiosas. O ponto de partida desta disciplina não é mais a entidade religiosa igreja e sim a entidade educacional escola com realidade multicultural e plurrireligiosa. O ER também está articulado com os PCNs, tendo como eixo vertebral a construção da cidadania, numa crescente igualdade de direitos baseados nos princípios democráticos. Para que Ito se concretize é necessário ter acesso à totalidade dos bens públicos, entre os quais o conjunto dos conhecimentos socialmente relevantes (ME, 2000, p.13). É com base nestes princípios da educação brasileira 7 8 Junqueira,2007, p.17 (Ensino Religioso, aspecto Legal ep) que o ER se apresenta como área do conhecimento (Cf.res.CEB 02 de 07/04/98 e como disciplina (art. 33/LDBEN nº 9394/96. O compromisso com a construção da cidadania expressa nos planos curriculares nacionais além de refletir sobre a seleção de conteúdos, exige uma “ ressignificação em que a noção de conteúdo escolar se amplia para alem de fatos e conceitos, passando a incluir procedimentos, valores, normas e atitudes” (ME, 2000, p.73). Tendo presente esta dimensão maior da educação foram incluídos os temas transversais para “o resgate da dignidade da pessoa humana, a igualdade de direitos, a participação na sociedade e a co-responsabilidade pela vida social” (Araújo, 1998,p.10 – p. 246). Os temas transversais incluem questões da ética, da pluralidade cultural, do meio ambiente, da saúde, da orientação sexual, de gênero. A categoria gênero possui duas dimensões entrelaçadas. A primeira afirma que a realidade biológica do ser humano não é suficiente para explicar o comportamento diferenciado do masculino e feminino na sociedade. A segunda refere-se que a questão de poder está distribuído de forma desigual entre os sexos: as mulheres ocupam posições subalternas na vida social e das religiões. A partir da nova lei 9475/97, alterou-se o art. 33 da LDB Nº 9394/96 do Ensino Religioso, trazendo novos enfoques para o currículo do Ensino Religioso. focaliza o ER como disciplina escolar, entendendo-o como uma área do conhecimento, com a finalidade de reler e compreender o fenômeno religioso, colocando-o como objeto da disciplina. A aprovação deste artigo nessa nova versão representa uma conquista da sociedade civil organizada. Outro passo importante para garantir o ER como disciplina do currículo foi a resolução 02/98 em que CNE confirmar essa disciplina como uma das dez áreas do conhecimento que orientam o currículo nacional das escolas brasileiras. 3. O que é especifico do ER? Como as disciplinas, organizadas na escola, têm colaborado na busca e na formação de um ser humano mais pleno? Uma importante questão de reflexão: como se dá e em que consiste o conhecimento religioso? Qual é a visão de ser humano que tem buscado refletir e construir? Qual é o ponto de partida para da reflexão para um novo ER escolar? A razão de ser do ER situa-se na visão de educação escolar como aquela que tem historicamente possibilitado o acesso ao conhecimento produzido pela humanidade. A escola compete integrar, numa visão de totalidade, os vários níveis de conhecimento, sensorial, intuitivo, afetivo, racional, artístico e religioso. Deve disponibilizar o conhecimento religioso, por ser patrimônio da humanidade, já que o substrato religioso colabora no aprofundamento para a autentica cidadania. A função do ER. é garantir a possibilidades de diálogo, seja entre diferentes teorias, tradições, a fim de que possam ser construídas explicações e referencias que não sejam visões ideológicas, doutrinarias ou catequéticas. O ER contribui para uma visão e uma prática mais integrada dos conhecimentos humanos, em que o conhecimento religioso não é mais dissociado dos demais saberes, acontecendo desta forma uma intima relação entre fenômeno religioso e vida. Os quatro pilares da educação “aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos a aprender a ser” ( DELORS, 1998, p.89 – p. 247) reforçam os fundamentos do er. A tarefa maior da educação, bem como do ER é a construção da pessoa humana integral, cidadã, ética, solidária Todo ser humano quer ser feliz. O ser humano busca a felicidade. Aristóteles já dizia que o homem busca a felicidade. Sócrates no século 5º a.C. dizia conhece-te a ti mesmo para descobrir a verdade, fazer o bem e ser feliz. Daí a busca do transcendente. “ Diante deste quadro, o ensino religioso assume possibilita o conhecimento das diversas tradições religiosas responsáveis pela construção cultural do pais... e tem o papel de provocar, de questionamento sobre o sentido da existência do ser humano,tendo como especificidade esta capacidade de ir além da superfície das coisas, acontecimentos, gestos, ritos, normas e formulações, para interpretar toda a realidade, em profundidade crescente e atuar na sociedade de modo transformador e libertador. As concepções diferentes da divindade, assim como formas rituais e sistemas de crenças isso não excluiria de maneira alguma a possibilidade de individuar aspectos constantes nestas manifestações, pois o que se pretende não são uma oposição, nem dualismo, nem mera identificação, mas a descoberta gradual do fenômeno religioso. O importante é que o ensino religioso não permaneça somente em informações e curiosidades, mas tenha como meta uma educação para ação transformadora”.9 Religião como espécie de muleta: bens materiais, dinheiro, emprego, sucesso. O ser humano procura satisfazer suas necessidades: temos um corpo e este corpo precisa ser alimentado, existe a dimensão afetiva que precisa ser cultivada, precisa responder a certas perguntas: Por que nunca me satisfaço com o que tenho? De onde eu venho? Para onde eu vou? Qual é o sentido da minha vida? O ser humano procura satisfazer suas diferentes dimensões de trabalho, lazer. Busca responder: qual é o sentido da minha vida? A religião é apenas isso ou é algo mais? Existem as leis da biologia: nascer, viver, doenças, morte. Existe a lei do coração: nunca aceitamos a morte. O ser humano foi criado para a felicidade, para a vida, não para a morte, o sofrimento. “ A discussão sobre as relações de gênero tem como objetivo combater as relações autoritárias, questionar a rigidez dos padrões de conduta estabelecidos e apontar para a sua transformação” (ME, 200, P.144). Isto significa trabalhar o ER com um novo olhar, olhar que vê as pessoas que fazem o cotidiano e a história de uma manifestação religiosa. Lança-nos o desafio de compromisso com um processo de construção de relações de gênero com igualdade, responsabilidade e reciprocidade entre homens e mulheres. O principio é a promoção da humanidade plena das mulheres. É um olhar critico para valores masculinos que tem dominado a humanidade, buscando formular uma nova visão de família, de escola, de sociedade. É uma nova hermenêutica (compreensão e visão), questionando e suspeitando a ausência das mulheres e demais grupos excluídos nos acontecimentos, textos e tradições religiosas. Tecer novos e coloridos fios, como Er e relações de gênero com abertura para a diversidade educando pessoas mais sensíveis, amorosas e cuidadosas de toda a criação. É colocar-se a 9 JUNQUEIRA e CARDOSO, Na perspectiva do espaço escolar: Ensino Religioso. Trabalho de pesquisa,5657 caminho da construção e reconstrução da pessoa humana, buscando sua plenitude da vida cidadã para todas as pessoas. Tecer um novo ER com reflexão de gênero objetiva a formação de cidadãos plenos, ético solidários, onde o respeito à diversidade cultural e religiosa e a construção de uma sociedade democrática, cidadã e ética seja uma busca permanente. Uma leitura tradicional e descontextualizada do livro sagrado dos cristãos, tende a subordinar a mulher apresentando-a como um ser subordinada e inferior ao homem, pois não leva em conta a experiência das mulheres (opressão e libertação) e tampouco os contextos sociais, culturais, políticos, econômicos, religiosos,morais e ideológicos da época do escrito. Em Gn.1,27 aponta para a unidade homem e mulher. A experiência das mulheres aponta para a vivencia de novos elementos da espiritualidade, incluindo a dor, alegria, a saúde, a doença, enfim as pequenas e grandes lutas cotidianas. As imagens patriarcais de Deus, como Senhor, rei, pai, são revistas. É importante resgatar os traços da face materna e feminina de Deus. E buscar novas imagens de Jesus como afetuoso e integrador. As mulheres estiveram sempre presentes na história das culturas e dos povos, porém esta presença foi ocultada, velada, escondida e menosprezada. Partindo das experiências concretas de vida das mulheres é possível desvelar as questões de classe e etnia das mulheres pobres, negras, indígenas. O objetivo dos PCNER não é estudar as causas da pluralidade cultural e religiosa, mas lançar um novo olhar de respeito e reverencia com relação as diferentes crenças, percebendo a manifestação do fenômeno religioso no cotidiano. Trata-se de “aprender a estudar religião com liberdade e respeito pelo diferente” ( Junior, 2001, p. 57) – p.247. O objeto de estudo do ER é o fenômeno religioso, isto é a pessoa humana finita, inconclusa, que busca fora de si o desconhecido, o mistério, o sagrado, o transcendente. No ambiente escolar ter como ponto de partida para o diálogo, a experiência dos alunos em relação a vivencia do fenômeno religioso, buscando vivências comunitárias, éticas e cidadãs. É a superação dos dualismos, descobrindo a plenitude do ser humano. A vida e a história de homens e mulheres, de grupos e de povos silenciados deve perpassar o cotidiano escolar, num constante processo de desconstrução e construção do conhecimento e do ser humano Edgar Morin, no livro os sete saberes necessários à educação do futuro apresenta o ser humano em sua integralidade e totalidade aberta e da relação entre os 4 pilares da educação, propostos pela Unesco no ano 2000 no I Forum sobre educação para o século XXI: aprender a conhecer, a ser, a fazer e a conviver. A nova práxis da escola é a ação reflexiva e a reflexão ativa. É necessário uma nova pedagogia, uma dinâmica viva na educação que inclua tanto a objetividade, a exterioridade,a razão e a ação, quando a subjetividade, a interioridade, a intuição, a imaginação e a espiritualidade, capaz de permitir a integração e harmonização do masculino e do feminino e de todas as dimensões do ser humano. ( Ver CARMIATO,, 2005, p.40). Os mestres da pedagogia apontam caminhos: Vygotsky centralizou sua pedagogia na interação social, Piaget na capacidade de construir hipóteses, Freinet na colaboração, Paulo Freire na leitura do mundo, Maria Montessori na espiritualidade, Gardner nas inteligências múltiplas. A tendência hoje é sintetizar as orientações dos grandes mestres e chegar a uma metodologia abrangente que responda aos desejos e sonhos de educadores e de educandos. A escola hoje pode ser o espaço e o tempo no qual o ser humano encontra apoio e orientação para se desenvolver e tornar-se pessoa sábia ,responsável por um mundo novo e consciente não só de seu compromisso, mas de seu direito de interagir na sociedade.