Sou na areia um pequeníssimo grão Sou da exaurível vida O derradeiro grão de solidão (autor desconhecido) Poucos meses passados da Revolução do 25 de Abril, pelas oito horas da manhã do dia 23 de Dezembro de 1974, nasci, no lugar da Sr.ª da Luz na freguesia de Arcozelo, a terceira de quatro filhos Fernandes de da José Costa Brito e de Maria de Lurdes Veiga da Silva. (…) A mim coube-me o nome de Sandra Sofia Silva da Costa Brito. Fecundação In Vitro (FIV) Consiste na união do óvulo com o espermatozóide em laboratório in vitro, com o objectivo de obter um número de embriões para transferir para o útero materno. O Pai da Fertilização in vitro Robert G. Edwards nasceu em 1925 em Manchester, no Reino Unido, e está ligado à Universidade de Cambridge, no mesmo país. Depois do serviço militar na segunda Guerra Mundial, estudou Biologia na Universidade de Gales e na Universidade de Edimburgo, onde completou em 1955 o seu doutoramento com uma tese sobre o desenvolvimento embrionário em ratinhos. Em 1958 integrou o “National Institute for Medical Research”, em Londres, onde se dedicou à fertilização em humanos. A partir de 1963 passou a trabalhar em Cambridge, primeiro na universidade e depois na clínica Bourn Hall, o primeiro centro mundial de bebés-proveta, que fundou com Patrick Steptoe, o ginecologista que foi sempre o seu braço direito nestas investigações. “A sua descoberta permitiu tratar a infertilidade, uma condição médica que afecta uma larga proporção da humanidade, incluindo mais de dez por cento dos casais de todo o mundo”, explicou a academia sueca, em comunicado. Foi ainda na década de 1950 que Edwards percebeu que a fertilização in vitro poderia ser o caminho para o tratamento da infertilidade, trabalhando, desde aí, em experiências com óvulos e culturas de células. Um empenho que veio a colher frutos a 25 de Julho de 1978, dia em que nasceu o primeiro “bebé-proveta”. Nos anos seguintes, Edwards e os seus colaboradores refinaram as técnicas necessárias e partilharam-nas com médicos do mundo inteiro. De acordo com dados avançados pela Assembleia Nobel, até ao momento, o investigador já foi pai de quatro milhões de bebés, muitos dos quais já são adultos e até pais. “Uma nova era da Medicina emergiu, com Robert Edwards a liderar o processo desde as descobertas mais fundamentais às mais correntes (...) O seu contributo representa um marco no desenvolvimento da Medicina moderna”. Para a descoberta de Edwards em muito contribuíram outros cientistas que concluíram com sucesso as experiências com maturação de ovócitos de mamíferos, nomeadamente ratinhos e coelhos, em tubos de ensaio. Edwards percebeu, contudo, que nos humanos os ciclos são muito diferentes, comparativamente com animais como os coelhos, conseguindo clarificar como se processa a maturação, que hormonas a regulam e em que condição é possível haver fertilização. Conseguiu fertilizar um óvulo in vitro, pela primeira vez, em 1969, mas este não se subdividiu. Partiu para uma nova fase: recolher óvulos já amadurecidos nos ovários através de uma técnica chamada laparoscopia e que gerou grande polémica na época, a par com os diversos debates éticos e religiosos que lançou sobre recriar vida em laboratório. 25 de Julho de 1978 foi um sábado muito especial para o casal Leslie e John Brown, de Bristol, no Sul de Inglaterra. Mas também foi um sábado especial para muitos casais em todo o mundo, que estavam, até aí, impossibilitados de ter filhos naturalmente. Leslie preparava-se para ser a mãe do primeiro bebé-proveta de sempre, uma menina, chamada Louise Brown. “Comecei a fazer estudos com tecido ovárico humano recolhido em cirurgias. Mas tinha de conseguir fertilizar os ovócitos no laboratório”, contou Edwards, em 2003, aquando da celebração dos 25 anos da sua invenção. As primeiras experiências de Pincus e Saunders, com coelhos, tinham mostrado que bastavam 12 horas para o amadurecimento e fertilização dos ovócitos no tubo de ensaio. Ter acreditado que esses resultados poderiam aplicar-se a células humanas custou-lhe vários desgostos. Até que chegou o dia: "Decidi então esperar 25 horas por três ovócitos que me restavam. De repente, foi a alegria. Agora havia esperança para a fertilização in vitro". O primeiro bebé Louise Brown da Inglaterra foi o primeiro bebé nascido via FIV, em 1978. No mesmo ano, na Índia, outro bebé nasceu pelo mesmo processo. Logo, começaram a chamar a essas crianças de "bebés proveta". Marcou o início de uma era de extraordinário progresso tratamento no entendimento dos e problemas relacionados à fertilidade humana. Em 1981, nasceu o primeiro bebé de tubo de ensaio e o número continuou a aumentar a cada ano. De acordo com os Centros de Controle de Doenças, mais de 48 mil nasceram em 2003 por meio de TRA (99% via FIV). Originalmente a fertilização in vitro seguida de transferência de embriões (FIVTE) foi proposta para o tratamento dos casos de infertilidade tubária, ou seja, para aquelas pacientes em que as trompas estavam ausentes ou irreparavelmente obstruídas. O aprimoramento das técnicas de FIV ampliou as suas indicações e permitiu o seu uso para o tratamento da infertilidade de outras etiologias. A fertilização in vitro, muitas vezes denominada "bebé proveta", deve-se ao facto da fecundação do óvulo pelo espermatozóide ocorrer fora do corpo, em laboratório, ou seja, in vitro. Os embriões resultantes da fertilização in vitro são transferidos para o útero aproximadamente 72 horas após a captação de óvulos. Esta técnica, desenvolvida num laboratório de última geração, é utilizada quando os tratamentos prévios fracassaram, como a Inseminação Artificial. É a solução para problemas de esterilidade derivados do factor masculino e do factor tubário trompas de Falópio obstruídas - entre outros. A inseminação dos óvulos pode ser realizada mediante a técnica de FIV convencional ou da Injecção Intracitoplasmática de Espermatozóides (ICSI), esta última indicada em casos de factor de infertilidade masculino grave, nos fracassos de fecundação anteriores com FIV, nos fracassos nos tratamentos prévios de Inseminação Artificial, ou em situações nas quais dispomos de um número limitado de óvulos. O caminho da fertilidade é longo e difícil, repleto de obstáculos, mas também de muita esperança. É um caminho que é percorrido por cada vez mais casais, estimando-se actualmente que entre 15 a 20 por cento da população sofra desta doença. Muitos, sofrem, provavelmente em silêncio, a crer nos dados que apontam para que em Portugal se façam 250 ciclos de tratamento de Procriação Medicamente Assistida (PMA) por milhões de habitantes, uma média quatro vezes e meia inferior à da União Europeia. Recentemente foi anunciada a compartição a 100 por cento dos chamados tratamentos de primeira linha (inseminação artificial e estimulação ovárica) e do primeiro ciclo de tratamentos de segunda linha (fertilização in vitro e microinjecção intracitoplasmática de espermatozóide) realizados em clínicas privadas, tendo como objectivo beneficiar muitos dos casais inférteis. Infertilidade São casais com dificuldade em conceber sendo que a infertilidade se define, segundo a OMS, quando a gravidez não é alcançada ao fim de um ano consecutivo de relações sexuais sem contracepção. São muitos os factores que influenciam a fertilidade. Na mulher, tudo começa a nível do cérebro, com a glândula pituitária a enviar todos os meses um sinal para que os ovários preparem um oócito para a ovulação. Essa preparação dá-se por influência de duas hormonas, que estimulam os ovários. E a fertilização acontece se entretanto um espermatozóide alcançar o oócito. Se esta união se concretiza, o ovo movimenta-se em direcção ao útero, onde se desenvolve a gravidez. No que ao homem diz respeito, muito pode acontecer no processo de fertilização, mediante o qual um espermatozóide alcança um ovo e fecunda. Antes de mais é preciso que haja espermatozóides em quantidade suficiente, que possuam a forma e a dimensão adequadas e que se movimentem na direcção certa. E é preciso que haja sémen suficiente para transportar os espermatozóides. A fertilidade não é um dado adquirido, nela podendo interferir tanto factores femininos como masculinos, numa relação equilibrada. Casos há em que as causas têm dupla origem e outros em que não são detectadas razões concretas. Pelo lado feminino Pelo lado masculino Um (longo) caminho a dois Quando o desejo de constituir família esbarra na incapacidade de conceber, emergem naturalmente múltiplos e potentes sentimentos. Mas é importante que, nesse tumulto de emoções, o casal encontre o caminho que o conduza à ajuda médica. Uma vez perante um especialista, ambos os membros do casal são sujeitos a uma série de exames de modo a identificar a causa da infertilidade. Existem testes específicos para determinar a infertilidade masculina e a feminina, ainda que, com frequência, haja uma combinação de factores a influenciar a dificuldade em conceber e não uma causa única. Além de que, nalguns casos, a infertilidade fica por explicar. O tratamento depende da causa, da duração da infertilidade e de muitos outros factores, sendo que há causas que não são passíveis de correcção. Estão, no entanto, disponíveis vários métodos que permitem a uma mulher engravidar e que passam por restaurar a fertilidade ou por uma das diversas técnicas de reprodução medicamente assistida. Restaurar a fertilidade implica na maior parte dos factores uma maior frequência das relações sexuais para, assim, aumentar as probabilidades de concepção: é que os espermatozóides podem sobreviver no corpo da mulher por 72 horas e um óvulo pode ser fertilizado nas 24 horas seguintes à ovulação, tratando-se de criar o máximo de oportunidades para que esse encontro seja bem sucedido. Para as desordens mulheres com ovulatórias, a primeira linha de tratamento implica o uso de medicamentos específicos ovulação. para São, regular no a entanto, fármacos a que está associado o risco de nascimentos múltiplos. Quanto à infertilidade por obstrução das trompas pode ser ultrapassada com recurso à cirurgia, sendo a laparoscopia uma das técnicas para reparar os bloqueios e lesões. Mais difícil a tratar é a infertilidade devida a endometriose: a terapia ovulatória é uma das alternativas, a par da fertilização in vitro, mediante a qual o óvulo e o espermatozóide são unidos em laboratório e só depois transferidos para o útero. A fertilização in vitro é, uma das técnicas pioneiras da chamada reprodução medicamente assistida. Mas há outras como a injecção citoplasmática, que consiste numa técnica microscópica da implantação directa de um único espermatozóide num óvulo. Estas são as técnicas que resultam melhor em mulheres com um útero saudável, que respondam bem aos medicamentos da fertilidade e que ovulem naturalmente. Porém, há complicações possíveis como é o caso de gravidez múltipla ou hiperestimulação dos ovários. Quanto às causas da infertilidade masculina, a sua identificação e consequente tratamento envolve um conjunto de testes que visam, antes de mais, avaliar a condição física, para despiste de doenças que tem ou já teve, medicamentos que toma habitualmente e hábitos sexuais. Depois, é feita uma análise ao sémen, de modo a aferir da quantidade e qualidade dos espermatozóides. Permite ainda detectar eventuais infecções. Uma análise ao sangue pode também ser necessária, com o objectivo de medir os níveis de testosterona. 2 células 4 células 8 células Mórula Blastocisto Porém, há intervenções mais especificas, dirigidas à quantidade e/ou qualidade do esperma. A alternativa pode ainda residir em medicamentos utilizados para aumentar a quantidade do esperma, ainda que não influenciem a sua quantidade ou mobilidade. Nos homens com esperma normal, mas escasso, os índices de gravidez melhoram com a inseminação artificial, em que é aproveitada a primeira porção do sémen ejaculado, mais rica em espermatozóides. A fertilização in vitro e a transferência de gâmetas também são eficazes em determinados tipos de infertilidade masculina. Em Portugal, são cada vez mais os bebés que a Ciência traz ao mundo. Muitos passos se deram desde que, em 1986, nasceu o primeiro filho da reprodução medicamente assistida no nosso país, é hoje jogador profissional do Sporting Clube de Portugal, avançado, Carlos Saleiro. O procedimento é composto por várias fases Avaliação personalizada É feito um diagnóstico personalizado para uma melhor escolha do tratamento para cada problema de infertilidade. Para tal, os pacientes são examinados relativamente aos seus antecedentes familiares, ao índice de massa corporal, à reserva ovarina, etc. (Estimulação dos ovários) Estimulação dos ovários Este procedimento é necessário para aumentar as possibilidades de êxito, já que de forma natural, a mulher só produz um folículo e portanto, um óvulo – por cada ciclo menstrual. Este tratamento consiste na estimulação do ovário para que este produza mais óvulos, que assim, de forma natural, se possa obter um maior número de embriões. O tratamento demora entre 12 e 20 dias, em função do protocolo utilizado e da velocidade de resposta de cada paciente. Durante o mesmo serão realizadas várias eco grafias - umas 3 ou 4 – e se determinará o estradiol no sangue, para comprovar que o crescimento e a evolução dos folículos encontram-se dentro da normalidade. Punção folicular Quando é evidenciado através de eco grafia que os folículos alcançaram a dimensão adequada é considerado que encontram-se disponíveis um número adequado de óvulos, programando-se a punção folicular 36 horas depois da administração de uma injecção de hCG, que induz a maturação ovarina final. A punção é realizada em internamento e sob anestesia, com o objectivo de que a paciente não sinta nenhum tipo de incómodo durante o procedimento, cuja duração é de aproximadamente 10-15 minutos. Inseminação dos óvulos Uma vez na posse dos óvulos depois da realização da punção folicular, e dos espermatozóides, que normalmente são obtidos a partir da recolha de uma amostra de esperma por parte do elemento masculino, procede-se à inseminação dos óvulos. Este processo pode ser realizado através da FIV convencional, que consiste na colocação de um óvulo na placa de cultivo rodeado por espermatozóides, ou através da ICSI, que consiste na introdução de um espermatozóide vivo dentro do ovário, mediante a punção do mesmo, com a ajuda de uma pipeta. Cultivo embrionário em laboratório Os embriões resultantes são observados no laboratório dia após dia, e são classificados de acordo com a sua morfologia e capacidade de divisão. Alguns embriões podem chegar a bloquear o seu desenvolvimento, e serão excluídos por serem considerados inviáveis. Transferência embrionária Consiste na introdução dos melhores embriões da corte no interior do útero materno, com a ajuda de uma cânula especialmente concebida para o efeito. O procedimento é realizado em internamento, apesar de neste caso não ser necessário administrar uma anestesia, já que é um processo rápido e indolor. Vitrificação dos restantes embriões Uma vez realizada a transferência embrionária, é realizada a vitrificação dos restantes embriões de boa qualidade, com o objectivo de poderem ser transferidos num ciclo posterior, sem necessidade de estimulação dos ovários. A nova técnica de congelação rápida ou de vitrificação realizada na IVI, assegura resultados esperançosos, já que os embriões não são afectados pela mesma, e que a taxa de gestação não diminui – conforme ocorria com a congelação lenta ou convencional – relativamente à taxa obtida com os embriões em fresco. Teste de gravidez Aproximadamente 2 semanas após a transferência embrionária, a paciente deve realizar um teste sanguíneo de beta-hCG, para confirmar se conseguiu engravidar e para quantificar a hormona de gravidez no sangue. Se a prova for positiva, deve realizar uma eco grafia vaginal uma semana mais tarde, com o objectivo de visualizar o saco gestacional. Riscos Durante a retirada do óvulo, o risco depende do processo. A aspiração trans-vaginal por eco grafia tem um risco pequeno de sangramento e infecção e, às vezes, prejudica as estruturas que estão ao redor, como o intestino e a bexiga. Os riscos associados à laparoscopia são dificuldade de respirar, infecção pulmonar, lesões nervosas e reacções alérgicas a medicações (o que pode acontecer com qualquer cirurgia em que é necessária uma anestesia. Quando mais de um embrião é transferido, existe o risco de gravidez múltipla. Um casal infértil pode ouvir isso como uma boa notícia, mas a presença de mais de um embrião aumenta o risco aos embriões e à mãe. O risco mais comum é o parto prematuro. Os bebés podem desenvolver complicações após o nascimento ou nascer cedo demais para conseguir sobreviver. Cerca de 5% das gravidezes por Fertilização in vitro são atópicas, o que significa que o óvulo fertilizado se desenvolveu fora do útero, geralmente nas trompas de Falópio. Essa complicação, infelizmente, requer a eliminação imediata do feto. Técnica promete revolucionar a fertilização in vitro Investigadores britânicos estão a desenvolver uma nova técnica de fertilização in vitro, ainda em fase de testes, que poderá triplicar as hipóteses de uma mulher conseguir engravidar após inseminação artificial, diminuindo “drasticamente” o número de abortos espontâneos no início da gestação. Actualmente, aos 40 anos, uma mulher têm dez por cento de probabilidade de engravidar a cada ciclo de fertilização in vitro. Através desta técnica em desenvolvimento, as hipóteses ascenderiam aos 30 por cento, enquanto em mulheres de 30 anos passariam de 30 a 40 por cento para entre 70 e 80 por cento. Esta técnica permite aos médicos testarem o embrião por alterações nos cromossomas, responsáveis por 70 por cento dos abortos espontâneos nos primeiros três meses de gestação. Assim, o embrião mais “saudável” é escolhido antes da implantação, diminuindo os riscos de complicações. Até ao momento, o novo procedimento foi testado em três mulheres entre os 35 e os 40 anos, que deverão dar à luz no final de Dezembro. Simon Fishel, coordenador do projecto, acredita que esta técnica representa “um incrível avanço que, em breve, fará uma grande diferença na vida de milhares de mulheres”. No processo de fertilização in vitro, o embrião chega a um estado em que é denominado por blastocisto, no quinto dia de existência, em que costuma ser implantado no útero. Nesta fase, o embrião é constituído por duas partes. Uma delas é formada pelas células que vão dar origem ao bebé e a outra são as células que se vão tornar em placenta. Agora, com a nova técnica, é possível fazer uma “pequena biopsia” das células da placenta sem se afectar as do feto. Nesta análise, diz Fishel, é possível ver todos os cromossomas antes da transferência do embrião para o útero, pelo que o seu implante torna-se menos arriscado e mais eficiente. “Acredito que haverá uma revolução na fertilização in vitro nos próximos meses”. Trabalho realizado por: Sandra Sofia Brito