O dinamismo asiática que absorveu a crise Edivaldo M. Boaventura Porque somos um povo essencialmente atlântico é difícil aceitar o dinamismo do sudeste asiático. Em boa parte, guardamos uma idéia longíngua, ainda bem distante e até mesmo meio misteriosa do Oriente, em plena globalização. A crise financeira que atingiu alguns países da região, em especial a Tailândia e a Indonésia, tornou ainda mais difícil aceitar o intenso desenvolvimento industrial e a comercialização liderados por chineses ultramarinos ( chinese overseas),presentes nas Filipinas, Singapura, Indonésia, Tailândia, Malásia e outros. Presença dinânica que se estende à costa oeste do Canadá e dos Estados Unidos. Alguns dados: 32% da pesquisa tecnológica localiza-se no sudeste asiático, contra 2,2%, na América Latina. Absorvida a crise em grande parte, esses países demonstram possuir reservas monetárias, como a China que conta com volumosa poupança e tem resistido à crise financeira dos países globalizados que tanto favorece as economias globalizadoras. Importa destacar pelas dimensões financeiras e espaciais, respectivamente, o Japão e a China. O primeiro bem mais relacionado com o Brasil do ponto de vista econômico e cultural. Temos a maior população nipônica fora do Japão com mais de um milhão de nipodescendentes. São Paulo deve ser uma das maiores ilhas japonesas, como a Bahia é uma das maiores nações africanas. Relações étnicas que contarão muito para um futuro multicultural dos povos. Com a China as coisas ficam cada vez mais próximas. No grande Império do Meio, secularmente centralizado, as nossas dimensões continentais ajudam à uma melhor aceitação por parte dos chineses, além dos vários convênios científicos e tecnológicos. Afirmam alguns diplomatas brasileiros que tudo favorece as relações sino-brasileiras. Precisamos aprender com os chineses, continentais e ultramarinos, a objetiva agressividade empresarial, a vontade de comercializar e a determinação política em investir, como fizeram com no aeroporto internacional de Macau, é um exemplo. Lembremo-nos que a China é “um país com dois sistemas”, o capitalismo para a economia e o socialismo para a política. As confluências e divergências ficam conta de sua milenar cultura e, sobretudo, de sua calculada e militante paciência. O depoimento do representante do Banco do Brasil, em Beijing, em recente convenção dos negócios da lusofonia, em Macau, impressionou-me pelo expressivo volume de recursos financeiros equivalente em bilhões de dólares americanos.Por que a crise financeira não atingiu a economia chenesa? Nesse conjunto economicamente dinâmico do sudoeste asiático, Singapura, a ilha cidade-estado, uma espécie de polis chinesa, é um exemplo de eficiência e de alta qualidade de serviços. A começar pela entrada, enquanto a polícia examinava o meu passaporte, ofereceram-me bombons ! Singapura é número 1 ( um) do mundo em porto, aeroporto e companhia de aviação, a convidativa Singapura Airlines. Entretanto, a disciplina anglo-chinesa é patente. Logo no aeroporto encontrei esta advertência: “se você for em lugares escusos pode ser que tenha de sair mais cedo deste país”. No Official Guide do hotel, enquanto esperava o meu amigo Bernard Tan, para a visita ao porto mais eficiente do mundo, deparei-me com algumas perguntas instigantes: pode um país sem recursos naturais ter sucesso? Pode um cadinho de raças( chineses, 77,2%; malaios, 14,1%; indianos, 7,4%, e outros) possuir o seu próprio caráter distintivo? Pode-se viver livremente em uma floresta citadina? Por último, pode uma cidade multicultural ter reservas de individualidade? Singapura responde positivamente a essas questões e caminha para ser o centro bancário e financeiro da região. Uma nova Suiça tropical. Para concluir, um bom Singapura Sling, no Long Bar, do Hotel Raffles, onde é permito jogar todas as cascas do amendoim no chão, recordando Somerset Moughan.