10º CONGRESSO NACIONAL DE PSICOLOGIA DA SAÚDE Gestão da dor em pediatria: teoria versus prática Batalha L. PhD, RN Porto, 6 - 8 de fevereiro de 2014 Sumário A prática dos cuidados hospitalares na gestão da dor pediátrica: Colheita de informação; História de dor; Avaliação da dor; Controlo da dor. Princípios orientadores da gestão da dor em pediatria; Conclusões. Nota introdutória O controlo da dor é um direito humano fundamental e universal1; Bastariam razões éticas para exigir um eficaz controlo da dor; No plano clínico nenhum argumento comprova que o deixar evoluir uma dor seja benéfico 2. 1. Daher M. Pain relief is a human right. Asian Pac. J. Cancer Prev 2010;11 Suppl 1:97–101. 2. Zhu LM, Stinson J, Palozzi L, Weingarten K, Hogan M-E, Duong S, et al. Improvements in pain outcomes in a Canadian pediatric teaching hospital following implementation of a multifaceted knowledge translation initiative. Pain Res Manag 2012;17:173–9. A prática dos cuidados Em 2011, em 9 serviços de 4 hospitais Portugueses; Estudo observacional, descritivo, transversal com consulta retrospetiva de registos no processo clínico por um período de 24 horas; Analisaram-se 830 processos clínicos de crianças com idades até aos 18 anos (mediana 5 anos). Colheita de informação, nº(%) Prevalência de história de dor 397 (47,8) História de dor registada nas 1ª 24h 373 (94,0) Informação colhida: - Formas de comunicar /expressar a dor 339 (85,4) - Fatores de alívio e agravamento 290 (73,0) - Características da dor 286 (72,0) - Efeitos na vida diária 220 (55,4) Numero de questões feitas (≥ 3) 280 (70,5) Identificada técnica n/f preferida 124 (31,2) Avaliação da intensidade da dor, Prevalência de avaliação da dor (8 h) Avaliação correta da dor Prevalência de dor Sem dor Dor ligeira Dor moderada Dor intensa Bom controlo da dor nº(%) 304 (36,6%) 359 (59,3%) 287 (79,9%) 45 (12,5%) 20 (5,6%) 7 (1,9%) 332 (92,5%) Controlo da dor Prevalência do tratamento % 45 42.2 40 35 30 25 15.8 20 15 10 5 0 Trata/o farmacológico Trat/o não farmacológico Controlo da dor Tipo de fármacos administrados (n=350), n (%) Não-opióides 308 (88,0) Opióides 66 (18,9) Anestésico tópico 25 (7,1) Adjuvantes 10 (2,9) Adequação do fármaco em função da intensidade de dor (n=262), n (%) 88 (33,6%) Controlo da dor Tipo de intervenção não-farmacológica (n=131), n (%) Distração Posicionamentos Presença dos pais Chupeta Massagem Conforto Colo Aplicação calor/frio Reforço positivo Relaxamento Outras Coerência da intervenção com a intensidade da dor (n=108), n (%) Coerência da intervenção com a história da dor (n=49), n (%) 59 (45,0) 21 (16,0) 20 (15,3) 18 (13,7) 17 (13,0) 12 (9,2) 11 (8,4) 10 (7,6) 10 (7,6) 8 (6,1) 20 (15,3) 55 (50,9) 28 (57,1) Orientações para o controlo da dor Escutar e acreditar; Ter sempre uma atitude preventiva; Ter como parceiros ativos nos cuidados a criança e sua família; Prestar cuidados individualizados e holísticos (terapêutica multimodal); Colaborar com outros profissionais de saúde; Batalha L (2010). Dor em pediatria: compreender para mudar. Lisboa: Lidel; 2010. Que informação colher sobre dor? Características da dor (localização, intensidade, qualidade, duração, frequência e sintomas associados); Fatores de alívio e de agravamento; Uso e efeito dos tratamentos (F e NF); Formas de comunicar /expressar a dor; Experiências traumatizantes anteriores e medos; Habilidades e estratégias para enfrentar a dor; Comportamento da criança e ambiente familiar; Efeitos da dor na vida diária; Impacto emocional e socioeconómico. Direcção-Geral da Saúde. Orientações técnicas sobre a avaliação da dor nas crianças. Orientação da Direcção-Geral da Saúde nº 14/2010 de 14/12/2010. A quem avaliar a dor e com que frequência? A todas as crianças, desde o primeiro contacto; Uma vez em cada turno de trabalho (8 horas). Direcção-Geral da Saúde. Orientações técnicas sobre a avaliação da dor nas crianças. Orientação da Direcção-Geral da Saúde nº 14/2010 de 14/12/2010. Como avaliar a intensidade da dor? Recém‐nascidos Menores de 4 anos ou crianças sem capacidade para verbalizar FPS‐R (Faces Pain Scale – Revised); Escala de faces de Wong‐Baker; A partir de 6 anos FLACC (Face, Legs, Activity, Cry, Consolability). Entre 4 e 6 anos EDIN (Échelle de Douleur et d’Inconfort du Nouveau‐Né). NIPS (Neonatal Infant Pain Scale). EVA (Escala Visual Analógica); EN (Escala Numérica); Criança com multideficiência FLACC‐R (Face, Legs, Activity, Cry, Consolability – Revised) Direcção-Geral da Saúde. Orientações técnicas sobre a avaliação da dor nas crianças. Orientação da Direcção-Geral da Saúde nº 14/2010 de 14/12/2010. O que fazer para controlar a dor? Implementar intervenções farmacológicas e nãofarmacológicas, devendo os cuidados ser organizados, no espaço e no tempo, de forma a reduzir o número de procedimentos dolorosos e a permitir uma utilização eficaz das intervenções preventivas. Os pais devem ser envolvidos no apoio à criança e não na sua restrição física: Direcção-Geral da Saúde. Orientações técnicas sobre o controlo da dor nas crianças com doença oncológica. Orientação da Direcção-Geral da Saúde nº 23/2012 de 18/12/2012. O que fazer para controlar a dor? O tratamento farmacológico deve ser orientado de acordo com a fisiopatologia e a intensidade da dor; O tratamento não-farmacológico é útil em todos os tipos de dor, de intensidade ligeira a moderada; A sua seleção deve ter em conta: o estádio de desenvolvimento da criança; as suas preferências,, as suas experiencias anteriores; capacidades da família. A sua utilização requer tempo, disponibilidade e preparação dos profissionais de saúde. Direcção-Geral da Saúde. Orientações técnicas sobre o controlo da dor nas crianças com doença oncológica. Orientação da Direcção-Geral da Saúde nº 23/2012 de 18/12/2012. Conclusão (I) A prática não esconde um ainda longo caminho a percorrer quanto a uma cultura que privilegie a metodologia científica como método de trabalho. recolher informação para a tomada de decisão - menos de metade fazem história de dor; prescrição criteriosa - 1/3 identifica TNF e só metade a implementam; avaliação e reavaliação rotineira da dor - 1/3 com avaliação de dor e 4/10 avaliações não é coerente com as orientações DGS. Conclusão (I) Há necessidade de prosseguir e aprofundar o investimento na formação (escolar e serviço) envolvendo todos setores profissionais, apesar de se considerar que há um BOM controlo da dor; Incrementar a investigação com estudos de efetividade das intervenções (TNF são pouco utilizadas e apenas se reconhece a sua utilidade); RESPONSABILIZAR (o controlo da dor é um direito ético e legal e uma exigência clínica)