EPISTEMOLOGIA Do conhecimento mítico à filosofia Questões preliminares: • Qual a origem da filosofia? •É uma forma de pensar que surge na Grécia 600 anos a.C. Pode ser entendida como a passagem “do mito ao logos”. Trata-se de encontrar explicação sobre o que nos rodeia, utilizando a razão em substituição às explicações mitológicas. Filosofar é resultado de quê? •Filosofar é resultado de quê? •Daquilo que os gregos chamaram de thauma (espanto, admiração, perplexidade). •A disposição filosófica esta ligada à inquietação, à intranquilidade à percepção de problemas que não se apresentam para aqueles que entendem que tudo é muito natural ou muito fácil de entender ou ainda, para aqueles que consideram tudo muito óbvio. •Como diz Garcia Morente em Fundamentos de Filosofia, é necessário um disposição infantil. •É necessário sair da zona de conforto. Para Aristóteles, O Espanto é a origem da Filosofia •Aristóteles, Em Metafísica, A 982 b Com efeito, foi pela admiração [thauma] que os homens começaram a filosofar tanto no princípio como agora; perplexos, de início, ante a dificuldades óbvias, avançaram pouco a pouco e enunciaram problemas a respeito das maiores, como os fenômenos da Lua, do Sol e das estrelas, assim como da gênese do universo. Guernica. Pablo Picasso Questões preliminares •Qual a relação entre mito e Filosofia? •Numa sociedade cada vez mais laicizada as explicações mitológicas eram insuficientes. •Como se caracterizou inicialmente a Filosofia? •Pela procura da compreensão das mudanças. •Pela observação da diversidade de fenômenos. •Pela constatação da regularidade dos fenômenos •A preocupação central era com a totalidade - a physis(natureza). Quais são as questões filosóficas na atualidade? A admiração como fonte do pensamento filosófico. “Com efeito, foi pela admiração, que os homens assim hoje como no começo, foram levados a filosofar, sendo primeiramente abalados pelas dificuldades mais óbvias, e progredindo em seguida pouco a pouco até resolverem problemas maiores: por exemplo, as mudanças da Lua, as do Sol e dos astros e a gênese do Universo. Ora, quem duvida e se admira julga ignorar: por isso também quem ama os mitos é, de certa maneira, filósofo, porque o mito resulta do maravilhoso”. ARISTÓTELES, IN Metafísica. Livro I Cap. II. Pág. 14 A filosofia não tem outra origem... “Teeteto - E, pelos deuses, Sócrates, meu espanto é inimaginável ao indagar-me o que isso significa; e, às vezes, ao contemplar essas coisas, verdadeiramente sinto vertigem. Sócrates - Teodoro, meu caro, parece que não julgou mal tua natureza. É absolutamente de um filósofo esse sentimento: espantar-se. A filosofia não tem outra origem (...)” (Platão, Teeteto) Os Mitos como forma de explicação •Os mitos são as primeiras teorias e explicações sobre a origem do cosmo (mundo/universo), dos seres vivos, sobre se há vida depois da morte e sobre as relações entre o céu e a terra. •Para Mircea Eliade “ A existência humana só é possível graças a essa comunicação permanente com o céu”. •Característico das sociedades tradicionais é a oposição entre o seu território habitado e o espaço desconhecido e indeterminado que o cerca: o primeiro é o ‘mundo’, mais precisamente, nosso mundo ou Cosmos; o restante já não é um Cosmos, mas uma espécie de “outro mundo” um espaço estrangeiro, caótico, povoado de espectros demônios...demarca a oposição em um território habitado “cosmizado” e o espaço desconhecido: de um lado “Cosmos” de outro “Caos”. •Se todo território é um Cosmos é porque foi consagrado previamente...esse território é obra dos deuses ou está em comunicação com o mundo deles (ELIADE. O sagrado e o profano. São Paulo: Martins Fontes, 2001. pág. 32) Cidade - cosmos •“Visto que ‘nosso mundo’ é um Cosmos, qualquer ataque exterior ameaça transformá-lo em ‘Caos’. E dado que “nosso mundo” foi fundado por imitação da obra exemplar dos deuses, a cosmogonia, os adversários que o atacam são equiparados aos inimigos dos deuses, ao demônios, e sobretudo ao arquidemônio, o Dragão primordial vencido pelos Deuses nos primórdios dos tempos” (Eliade. Pag.46) •Na atualidade essas imagens são recorrentes? Aristóteles, Em Metafísica, A 982 b • E o homem que é tomado de perplexidade e admiração julga-se ignorante (por isso os amigos dos mitos [filómito] é de um certo modo filósofo, pois também o mito é tecido de maravilhas); portanto, como filosofavam para fugir à ignorância, é evidente que buscavam a ciência a fim de saber, e não com uma finalidade utilitária. Caixa de Pandora • Um dos mitos gregos é o da Caixa de pandora que narra a chegada da primeira mulher à Terra e com ela a origem de todas as tragédias humanas. • De acordo com Hesíodo o titã Prometeu presenteou os homens com o fogo para que dominassem a natureza. • Zeus, o chefe dos deuses do Olimpo, que havia proibido a entrega desse dom à humanidade, cria Pandora, a primeira mulher, para se vingar e a envia à terra com uma caixa e a recomendação de que não fosse aberta pois, dentro dela, os deuses haviam colocado um arsenal de desgraças para o homem, como a discórdia, a guerra e todas as doenças do corpo e da mente mais um único dom: a esperança. Mito • “É a história de deuses e tem por objetivo explicar por que a vida é assim como é”. (GAARDER, 1996, 34) • “Mito é uma narrativa de um fato que transcende a natureza humana. Seus personagens são entes sobrenaturais (...) • Nasceu da necessidade do homem de explicar o mundo em que vivia e de sua própria presença nele (...) • narra as façanhas de entes sobrenaturais, graças aos quais passou a existir uma realidade ou parte dela, como, por exemplo, uma ilha, uma espécie animal, vegetal ou mineral, um comportamento humano, uma instituição, etc.” (WEITZEL, Antônio Henrique. “Folclore Literário e Linguístico”). Mito • Para Luís da Câmara Cascudo “Dicionário do Folclore Brasileiro” • “O mito na história da civilização é um conjunto de lendas e narrações que referem personagens e acontecimentos anteriores aos fatos históricos conhecidos e que, por isso mesmo, se entretecem com episódios maravilhosos e fantásticos” • Na sociedade brasileira Luís da Câmara Cascudo lista os mitos “primitivos e gerais”: Saci-Pererê, o Boitatá, o Lobisomem, a MulaSem-Cabeça, o Curupira, o Anhangá, Botos e Mães d´Água... Contexto histórico e causas do surgimento da filosofia na Grécia: final século VII a.C ao final século V a.C. •Por que há esse movimento filosófico na Grécia antiga? •Causas políticas da passagem do pensamento mítico para o filosófico. •Passagem do Despotismo para a Democracia vai permitir que a palavra (retórica) entre na Ágora, isto é, na praça pública, espaço aberto, ponto de encontro dos cidadãos que, dotados de isonomia (igualdade), realizavam diversas atividades, políticas, recreativas, comerciais. •Esse ambiente de disputa de discussão, o mundo da polis, é muito mais propicio para o surgimento da filosofia. Relação entre filosofia e trabalho • A existência da escravidão, libera o cidadão para pensar, no seu tempo livre, politicamente. • Até o surgimento da modernidade - basicamente a partir do Calvinismo (ver A ética protestante e o espirito do capitalismo de Max Weber) – predomina a ideia de que o trabalho manual denigre o homem. A ágora, antes do século IV a.C era um espaço físico onde as discussões aconteciam, era um local de culto e era um lugar de comércio • A partir do século IV a.C, as ágoras começaram a se especializar. •Aristóteles considerava importante que houvesse essa especialização, para ele, o melhor seria que houvesse uma ágora para as discussões, outra para os negócios e uma terceira para o lazer. •“Na Tessália, por exemplo, as diferentes funções da ágora (originalmente local de reunião da comunidade, antes de se tornar centro econômico) estão deliberadamente separadas: há uma ágora ‘livre’, reservada à atividade cívica e política e da qual está excluída qualquer função econômica. Esta última está concentrada numa ágora especial, a ágora comercial.” •http://www.klepsidra.net/klepsidra26/agora.htm. •Cf. VIDAL NAQUET, Peirre e AUSTIN, Michel. Economia e Sociedade da Grécia Antiga. Lisboa: Edições 70, 1986, pág. 125. OS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS Respondem, basicamente, duas questões: Qual é a origem, a matéria ou principio da Natureza? Qual é a realidade? Cada escola de pensamento elabora uma resposta: fogo, água, ápeiron. A que nos oferece os sentidos ou o que oferece a razão? Diferentes formas de saber: Logos, Physis, Arkhé • A passagem da mitologia à filosofia foi fundamental para dar origem ao conhecimento filosófico. • Hegel entende que a filosofia surge de uma negação da mitologia. • O Logos, isto é, um palavra que lembra lógica, é a base da filosofia. É a base de um argumento racional de um pensamento racionalmente encadeado. • A segunda preocupação é o estudo da natureza dos seres: • Como surgem? Como se transformam? • Que força possuem para produzir essas transformações? • A Physis, que significa natureza, vai estudar a natureza dos seres. ARKHÉ • ARKHÉ, que lembra a arqueológica, é a palavra que designa a origem do universo. • As principais preocupações desse período eram: • A procura da origem do cosmo (mundo/universo) • A causa ou as causas das transformações da natureza. Os pré-Socráticos • Tales de Mileto (624-546 a.C) é considerado o primeiro filósofo. Disse que a origem de tudo é a água. “Tales viu a unidade do Ser e quando quis exprimi-la , falou água.” (Nietzsche).