CREIO EM JESUS CRISTO - Teologia de Fronteira

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CREIO EM
JESUS CRISTO
Curso de formação teológica
Paróquia São Francisco das Chagas
Carlos Cunha | 2015
CRONOGRAMA
16/4
Introdução
Questões nucleares
23
A ressurreição
30
A morte
7/5
A vida
Questões nucleares
Dietrich Bonhoeffer
¿Quién es y quién fue Jesucristo?
Su historia y su misterio
La doctrina sobre Cristo comienza en el silencio.
"Calla, que eso es lo absoluto" (Kierkegaard)[…]
Hablar de Cristo significa callar, callar acerca de
Cristo significa hablar. Cuando la Iglesia habla
rectamente, inspirada en el verdadero silencio, está
anunciando a Cristo.
Questões nucleares
Leonardo Boff
A Trindade e a Sociedade
Mas calamos somente no fim do esforço de falarmos
o mais adequadamente possível daquela realidade
para a qual não há nenhuma palavra adequada.
Calamos no fim e não no começo. Só no fim o
silêncio é digno e santo. No começo seria preguiçoso
e irreverente. As palavras morrem nos lábios. Os
pensamentos se obscurecem na mente. Mas o louvor
incendeia o coração e a adoração faz dobrar os
joelhos.
Questões nucleares
Quem é Jesus Cristo?
A importância da pergunta
a) Ontológica
b) Funcional
Questões nucleares
Quem é Jesus Cristo?
• As pessoas perguntam quem é ele (8,27); os discípulos
de João perguntam (11,3-4); as pessoas perguntam
sobre a sua sabedoria e poder (13,54); os fariseus
perguntam (Mt 22,41); Caifás pergunta (26,11-26); Pilatos
pergunta (Mt 27,11-26); os doutores perguntam (Lc
2,46); os discípulos no caminho de Emaús (Lc 24,19) etc.
• Cristãos, céticos, religiosos, teólogos, cientistas, curiosos
em geral perguntam...
Questões nucleares
Quem é Jesus Cristo?
“E vós, quem dizeis que eu sou?”
(Mc 8,29; Mt 16,15)
Pedro responde:
“Tu és o Cristo” (Mc 8,29)
“Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo” (Mt 16,16)
Questões nucleares
Quem é Jesus Cristo?
“[...] eu tenho crido que tu és o Cristo, o Filho de Deus
que devia vir ao mundo”
(confissão de Marta em Jo 11,27)
“Verdadeiramente este era Filho de Deus”
(confissão do centurião em Mt 27,54)
Questões nucleares
Quem é Jesus Cristo?
• Quem responde, nos evangelhos, a pergunta sobre
Jesus Cristo?
• O que as respostam revelam sobre Ele?
• Os seus feitos também falam sobre Ele?
Nascimento do
núcleo da fé
cristológica
primitiva
Questões nucleares
1. A fé cristã é cristocêntrica.
2. O evento Cristo é fundamental.
3. Jesus Cristo lança luz sobre:
1.
2.
3.
4.
5.
O ser humano;
O Pai e o Espírito;
O mundo;
A história e
A Igreja
4. Jesus Cristo não é intermediário. Ele é mediador
entre Deus e o ser humano.
Questões nucleares
Símbolo da fé niceno-constantinopolitano
“Creio em um só Deus [...] E em só Senhor Jesus Cristo,
unigênito Filho de Deus e nascido do Pai antes de todos os
séculos, Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus
verdadeiro, gerado, não feito, consubstancial ao Pai; por
meio do qual tudo foi feito; o qual, em prol de nós homens, e
de nossa salvação, desceu dos céus, e se encarnou do
Espírito Santo, ‘do seio’ de Maria Virgem, e se fez homem;
que também foi crucificado por nós, sob Pôncio Pilatos,
padeceu e foi sepultado, ressuscitou no terceiro dia e virá
novamente para julgar os vivos e os mortos; cujo reino não
terá fim [...]”
Questões nucleares
1. “Símbolo” é diferente de “sinal”. Enquanto um
informa, o outro, desvela a dimensão profunda da
realidade.
2. A Tradição cristã tem a sua origem nos textos
bíblicos.
3. Tradição é diferente de tradicionalismo.
4. Dogma é diferente de dogmatismo.
5. Distinção entre substância visada e a formulação
cultural do dogma e da tradição.
Questões nucleares
• Cristologia e os seus paradoxos:
a) Deus no homem Jesus e o Pai que permanece para
além do próprio Jesus.
b) Jesus sem Cristo é vazio e Cristo sem Jesus é mito.
c) O Cristo que vai para além do homem Jesus.
d) O mistério de Jesus Cristo é universal concreto a
partir da tensão entre a sua divindade (significado
universal) e a sua humanidade (particularidade
histórica).
Questões nucleares
• Cristologia e antropologia
a) “Cristo manifesta plenamente o homem ao próprio
homem e lhe confere a sua altíssima vocação” (GS
22).
b) Em Jesus Cristo, o ser humano chega a se conhecer,
plena e verdadeiramente.
c) Partícipe da filiação divina em Jesus Cristo, o ser
humano encontra nele a plena realização de sua
abertura para Deus.
Questões nucleares
• Considerações hermenêuticas
a) Como se faz cristologia: dos dados da fé para a
realidade contextual ou, ao contrário, da
realidade vivida para buscar nos dados revelados
a diretriz da práxis cristã?
b) Será o dado da fé acessível em sua forma nua,
como uma verdade objetiva, inteiramente pura e
intacta?
c) Existe um Evangelho que não seja uma
interpretação?
Questões nucleares
• Considerações finais
a) Não há uma cristologia única.
b) Cristologias propiciam aproximações, nunca
exaustivas.
c) A diversidade de cristologias é positiva para a
teologia.
d) Quando analisadas, as cristologias revelam os seus
méritos e os seus limites.
A
RESSURREIÇÃO
Segunda etapa
O que seria do cristianismo sem
a ressurreição de Jesus Cristo?
“Ora, se se proclama que Cristo ressuscitou dos mortos,
como podem alguns dentre vós dizer que não há
ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos
mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não
ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também é
a vossa fé” (1Co 15,12-14).
Fundamento
da fé cristã
Marco inaugural da
cristologia
A ressurreição é chave de leitura para a cristologia
Novo olhar sobre:
O evento
Cristo
Deus
As relações
humanas
A criação
A
ressurreição
Cristologia
“funcional”
Cristologia
“ontológica”
A ressurreição de Jesus Cristo é o ponto de partida
da fé cristã
Núcleo central para afirmar que:
Jesus está vivo hoje
Jesus está presente no meio de nós
Crer na ressurreição é crer na transformação:
1º
Do próprio Jesus que ganhou uma vida nova
(dimensão nova)
2º
Dos discípulos. O relato de Emaús descreve a
transformação produzida nos discípulos (Lc 24,13-35)
A ressurreição de Jesus Cristo é um fato real
Tal acontecimento faz brotar uma nova fé no
coração dos discípulos
Os evangelistas não se atreveram a narrar os
detalhes do acontecimento
Acontecimento que extrapola esforço por
representações precisas
Para os discípulos, o Cristo ressuscitado é um fato
decisivo : fundamento da esperança
Para exprimir essa nova realidade, os discípulos
lançaram mão da imagem da “ressurreição dos
mortos” presente no mundo apocalíptico.
Evidentemente a linguagem é simbólica, pois o
acesso a ela é indireto por via das “aparições”. Ao
assumirem a imagem da ressurreição, o Segundo
Testamento assinala para uma nova vida, uma
transformação radical da existência corporal (Cf.
1Co 15,35-56). O Jesus ressurreto vive uma existência
corporal totalmente nova. Isso é visto como o romper
do mundo novo.
O ressurgir de Jesus dentre os mortos não tem a ver
com uma volta a vida biológica. Ela não é a
reanimação de um cadáver. Os próprios evangelistas
descrevem o ministério do Jesus pós-ressurreição com
uma existência nova. Ele pode ser visto; pode ser
tocado e pode falar, mas ele não é reconhecido;
não pode ser retido e a sua existência foge aos limites
do tempo e do espaço. Mesmo assim, Jesus é alguém
real e concreto (cf. Mt 28,9; Lc 24,16.39.42; Jo
20,19.20.26-27; 21,4; Mc 16,12 ). O Jesus-ressuscitado
tem um corpo ressuscitado com dimensões que
ultrapassam as características da matéria que nós
conhecemos.
Ao ressuscitar Jesus, Deus ressuscita sua vida terrena
marcada por sua entrega ao Reino de Deus, sua
vida de renúncia e sua obediência até à morte.
Jesus ressuscita com um “corpo” que recolhe e dá
plenitude à totalidade de sua vida terrena (cf. Fl
3,21).
Relembrar a vida de Jesus marcada pela
sua entrega ao Reino de Deus
Para os primeiros cristãos, a ressurreição de Jesus
anuncia a manifestação de Deus em favor da
vida. Deus resgata o seu Filho da morte e o
introduz imediatamente numa nova vida.
Este ato criador de Deus – a possibilidade de
fazer novas todas as coisas – passa a ser, a partir
de então, o conteúdo primordial das primeiras
confissões de fé (Rm 5,20-21).
Sua morte foi uma “morte-ressurreição”.
O Pai o ressuscitou na morte para uma vida plena,
nova vida.
No Cristo ressuscitado manifestou o ápice da
benignidade e da reconciliação de Deus com todos
os seres vivos.
A ressurreição é rompimento com todas as
alienações.
A ressurreição faz emergir a realização das
capacidades do ser humano (“já” e “ainda não”).
A
MORTE
Terceira etapa
“A cruz, criação do pecado
humano, é assumida, não
porque representa um valor,
mas porque permite mostrar a
radicalidade do amor que
aceita sacrificar-se para não
romper a comunhão com os
outros e até com os inimigos.
Não é a cruz que carrega
valor. É o amor que confere
valor ao que não tem valor e
significa a corporificação do
antivalor”
Leonardo Boff
QUEM MATOU JESUS CRISTO?
Pilatos?
Aristocracia judaica?
O povo judeu?
Os soldados romanos?
Nós, os pecadores?
O Pai?
Jesus morreu por causa do tipo de vida que teve
Defensor
do Reino
Obediente
ao Pai
PERGUNTAS FUNDAMENTAIS
1. Qual a atitude de Jesus diante de sua morte
iminente?
2. Que sentido lhe atribuiu?
3. Como os discípulos (pré-pascal e pós-pascal)
viram a sua morte?
4. Qual o significado da morte de Jesus para o
cristão de hoje?
Duas posições antagônicas a serem evitadas
Jesus que
premedita
a sua
morte
Jesus que
suporta a
sua morte
“Meu Deus, meu Deus, por que me
abandonaste?”
(Mc 15,34)
1. Do “por quê” para o “para quê”? – Da causa para
a finalidade.
2. Não é um grito de desespero.
3. É um brado de angústia, mas também é expressão
de confiança e de esperança em Deus.
DINÂMICA
“Ele morreu por nós”
A compreensão da morte de
Jesus Cristo
TEXTO 1
Independente da diversidade de interpretações,
Deus não abandonou Jesus na cruz do Calvário.
Antes saiu em sua defesa como faria qualquer
bom pai. A identificação do Pai com Jesus é o
testemunho do amor de Deus para com o seu
Filho e, consequentemente, a rejeição frente às
injustiças cometidas a Jesus. Esta confirmação do
amor do Pai por Jesus dá novo sentido à
ressurreição. A ressurreição de Jesus não é só uma
vitória sobre a morte; é a reação de Deus, que
ratifica o discurso e a vida do seu Filho. Entender
esta boa nova passa a ser o primeiro conteúdo da
pregação dos primeiros cristãos (Cf. At 2, 23-24;
4,10; 5,30).
TEXTO 2
O Pai nunca esteve separado de Jesus. Mesmo
quando Jesus agonizava, estava com ele,
sustentando-o e sofrendo junto com ele e nele. O Pai
nunca quis ver Jesus sofrer. O que Deus quer é que
Jesus seja fiel até ao fim, que continue na
caminhada em prol da justiça do reino de Deus.
Nem o Pai busca a morte vergonhosa de Jesus, nem
Jesus lhe oferece seu sangue pensando que lhe será
agradável. Os primeiros cristãos nunca disseram algo
parecido. Na crucificação, Pai e Filho estão unidos,
não buscando sangue e destruição, mas
enfrentando o mal até às últimas consequências.
TEXTO 3
Se Deus fosse alguém que exige previamente o
sangue de um inocente para salvar a humanidade e
aplacar a sua ira, a imagem de Deus como um pai
compassivo ficaria totalmente desvirtuada. Que Deus
é esse que exige sacrifícios para manifestar o
perdão? Seria Deus um credor implacável? Não
saberia Deus perdoar gratuitamente? Esse não é o
Deus-Pai de Jesus Cristo.
TEXTO 4
Outro engano é pensar que Deus descarrega a sua
ira sobre Jesus. Jesus não sofre a cruz como castigo
de Deus que faz dele o responsável pelos pecados
da humanidade, pecados que ele não cometeu.
Jesus é inocente. Ele não pecou. O sofrimento de
Jesus na cruz é resultado dos que se opõem a seu
reino. Jesus não é vítima do Pai, e sim daqueles que
rejeitaram o seu convite para “entrarem” no reino de
Deus. São os poderosos, movidos por ambições
diversas, que infligem sobre Jesus o sofrimento, e não
Deus. Aliás, o Pai abraça o Filho de tal maneira que
carrega com ele o seu sofrimento também (cf. 1Pe
2.22-24).
TEXTO 5
Os primeiros cristãos viram em Jesus crucificado a
expressão mais realista do amor incondicional de
Deus para com a humanidade. Não a figura de Deus
irado com a humanidade que resolve aplacar a sua
ira sacrificando o seu Filho. A cruz, à luz do túmulo
vazio, é sinal misterioso do perdão, compaixão e
ternura divinos. Só o amor de Deus pode explicar o
ato da cruz. Assim é que João pode afirmar: “Deus é
amor” (1Jo 4,8.16). E Paulo comovido declara: “O
Filho de Deus me amou e se entregou por mim” (Gl
2,20).
A VIDA
EA
MENSAGEM
Quarta etapa
• Vida de Jesus voltada para o Reino de Deus e em
obediência ao Pai;
• Elementos
intrinsecamente
relacionados
cristologia funcional => cristologia ontológica;
–
• A vida de Jesus é uma vida de renúncia e de
justiça;
• Toda a sua vida remete ao Reino de Deus;
• A expressão “Reino de Deus” ocorre 122x (90x
por Jesus);
• Jesus resignifica a expressão com um novo
horizonte de expectativa;
• O que significa? “Revolução total e estrutural
dos fundamentos desse mundo, introduzida por
Deus”
“O reino de Deus já chegou” (Mc 1,15)
• Deus se faz presente e atuante;
• Presença salvadora;
• Reino intramundano.
“O reino de Deus não vem de forma
espetacular nem se pode dizer: ‘Ei-lo aqui
ou ali’. No entanto, o reino de Deus já está
entre vós” (Lc 17,21)
• Jesus traz para a história as expectativas dos
visionários;
• A presença do Reino na realidade do dia a dia.
“O reino de Deus já está entre vós” (Lc 17,21)
• Em algumas versões: “O reino de Deus está
dentro de vós”
• Esse tipo de leitura perverte o sentido proposto
por Jesus;
• Reduz o Reino a algo privado e espiritual;
• As forças libertadoras são canalizadas mais em
processos terapêuticos, de cura interior;
• Reduz a força de movimentos de transformação
social.
Textos para reflexão
• Sermão do monte (Mt 5-7)
Ética e moral
• Missão de Jesus (Mt 9,35-38)
Perspectiva missionária
Considerações finais
• Reinado contra a desumanização e a favor da
dignidade humana;
• “Entrar” no Reino implica conversão. É deixar ser
transformado e transformar a vida como Deus a
quer;
• Não é possível entrar no Reino de Deus sem sair
do reino de Mamon.
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