Marketing de Causas - Macrotendência Gonçalo Vasques Borga Nº 207184 2º Ano C.C. 2008/2009 INTRODUÇÃO Juntando duas temáticas convergentes, o marketing e as macrotendências, este trabalho procurará abordar o “marketing de causas” enquanto tendência, através do crescente interesse da população por causas, bem como da perspectiva empresarial, e do constante aproveitamento das mesmas. Começaremos então por abordar os conceitos base tanto de marketing, como de macrotendências, para depois analisarmos o fenómeno do marketing de causas, as suas vertentes, e alguns exemplos práticos. MARKETING A presença do marketing na sociedade afecta a quase totalidade dos seus membros através de diversas formas e com mecanismos distintos. Tanto assim é que, frequentemente, conduz a certas confusões entre o que é marketing e algumas das ferramentas a que recorre para alcançar os seus fins, como os estudos de mercado, a publicidade ou o patrocínio de eventos. Por isso, é importante identificar o que implica o conceito de marketing e conhecer as definições que melhor o descrevem. Numa primeira abordagem, pode-se definir o marketing como o conjunto dos meios de que dispõe uma empresa para vender os seus produtos aos seus clientes com rendibilidade. Todas as empresas, desde que existem, têm tido a preocupação de vender os seus produtos aos seus clientes. Mas o que se modificou, sob a influência de diversos factores económicos, tecnológicos e científicos, foi o modo como as empresas o praticam e a própria concepção que fazem dele. O marketing sempre foi definido de muitas formas distintas. Frequentemente, são propostas novas definições, cada uma contendo as especificidades que os seus autores consideram necessárias para alcançarem uma melhor compreensão do conceito. O marketing poderá mesmo tornar-se numa força catalisadora da sociedade, enquanto princípio nobre de tentar satisfazer as necessidades do ser humano, através da produção de bens e prestação de serviços que a pessoa está interessada em adquirir. De forma a perceber melhor a força do marketing, ficam aqui algumas célebres definições de marketing, proferidas por, igualmente célebres, personalidades: 2 “O estudo do público, isto é dos mercados, é de três ordens: económico, psicológico e social.” Fernando Pessoa, 1926 “O marketing no seu melhor, consiste na criação de valor e na melhoria dos níveis de vida no mundo.” Philip Kotler, 1997 “A administração deve pensar em si mesma não como produtora de produtos mas como fornecedora de satisfações de valor, criadoras de clientes.” Theodore Levitt “Marketing não é uma função; é todo o negócio visto na perspectiva do cliente.” Peter Drucker MACROTENDÊNCIA Dentro do conceito de marketing cabe o conceito de macrotendência, uma tendência que funciona sobre temporalidade longa. Deve ser entendida como um fluxo, ou seja, grandes temas que são sempre os mesmos, mas sofrem mudanças e evoluem no seu conteúdo. Temas como visões do mundo, valores, a maneira como as pessoas vivem, pensam ou se relacionam dentro de uma esfera significativa. É uma rede de sentido e significações, onde o que importa é a inter-relação deles, pois todo o sentido emerge de uma relação. Os critérios qualitativo e quantitativo devem andar juntos. MARKETING DE CAUSAS Perspectiva Empresarial Com a chegada do novo século, é cada vez mais evidente que a integração de questões sociais, bem como de práticas de negócios, não será apenas uma “moda” dos anos 1990, mas os primórdios de um caminho que mostra como as empresas se irão relacionar com associações ou causas sociais, através de alianças estratégicas, para posicionar as suas 3 organizações e marcas para o futuro. Numa época em que as empresas vivem numa extrema competição pelo consumidor, onde produtos e serviços cada vez mais se tornam commodities, inovação e diferenciação são temas cada vez mais presentes na vida dos executivos, que se apercebem que o desenvolvimento de estratégias emocionais e éticas, aliadas às tradicionais formas de impacto racional de comunicação da marca, podem fazer a diferença não apenas na cabeça do consumidor, mas também no seu coração e na sua alma. Diante deste novos cenários, surgem no mercado empresas especializadas em desenvolver soluções de marketing relacionado à causa. O marketing de causas foi introduzido em 1983 pela American Express, na campanha que associou o uso do cartão de crédito à restauração da Estátua da Liberdade. A empresa decidiu doar um cêntimo por cada uso do cartão e um dólar por cada novo cartão emitido. O uso do cartão e a quantidade de utilizadores aumentaram, e a campanha originou uma contribuição de 1,7 milhões de dólares. Desde então, o marketing de causas desenvolveu-se fortemente, incluindo em Portugal. A premissa subjacente à estratégia é a de que os consumidores reagem favoravelmente, crendo que a empresa é ética, e que os seus produtos ou serviços são de maior qualidade e merecedores de compra. Do ponto de vista das empresas, acções de marketing de causas possibilitam não só o aumento de imagem corporativa, mas também a possibilidade de geração de novos negócios e consequente aumento de lucro a longo prazo. Estas estratégias vêm auxiliar a maximizar a comunicação da causa e ao mesmo tempo a viabilidade e a garantia da sustentabilidade financeira dos projectos das empresas. O marketing de causas também pode ajudar a limpar uma fraca reputação. Por exemplo, a Nike, depois de acusada de recorrer a trabalho forçado em alguns países, doou um milhão de dólares à Fundação Lance Armstrong e vendeu braceletes por um dólar para gerar donativos adicionais. Todavia, esta prática não é isenta de riscos. A causa apoiada pode ser lesada se a empresa patrocinadora estiver envolvida em acções questionáveis do ponto de vista ético, laboral, ambiental ou político. Há também o risco de incongruência entre a causa e a empresa patrocinadora, caso em que o público pode ver na campanha o aproveitamento abusivo do sofrimento humano. Esse risco é especialmente grande se a campanha gerar lucros desproporcionais relativamente aos donativos. Uma crítica frequente às empresas é a de que, contrariamente ao que publicitam, as ajudas são exíguas. Para evitar fraudes e abusos, alguns autores preconizam um código de ética. 4 Exemplos Práticos Certas empresas, tal como a Body Shop (na cosmética) ou a Bem & Jerry’s (na produção de gelados) têm como trunfo, em relação aos seus mais directos concorrentes, a publicidade gratuita que lhes é feita pelos media como resultado da sua identificação com questões sociais. Para além desta vantagem há ainda outras: os clientes não se importam de pagar um produto mais caro se souberem que estão a contribuir para essa causa, e os próprios empregados sentem-se mais motivados a trabalhar; As preocupações ambientais começam a revelar-se em diferentes sectores de actividade. Um desses sectores é o dos transportes públicos, o que permite ser mais um contributo numa tentativa de alteração de comportamentos empresariais e individuais. As suas mudanças permitirão uma efectiva modificação de hábitos de consumo, em particular um dos que se considera uma das preocupações ambientais. As emissões de CO2; A Volkswagen, através de uma parceria estratégica com a Acção da Cidadania, desenvolveu a campanha “Revisão Solidária”. O cliente ia a um concessionário Volkswagen, doava 1 kg de alimentos não perecíveis e ganhava, gratuitamente, a revisão de 27 itens do seu carro. Além disso, por cada kg doado, a Fundação Volkswagen doava outro kg de alimentos. Esta iniciativa arrecadou 202 toneladas em 2002; Os hipermercados Modelo apostam na responsabilidade social e na Causa Maior através do CD “Popota – A Estrela deste Natal”. O CD tem o valor de 3 euros e 1 euro reverte para a Cruz Vermelha. O objectivo é o de apoiar a “Causa Maior” – um projecto de solidariedade e responsabilidade social do Modelo, em conjunto com a Cruz Vermelha Portuguesa, e que conta com o apoio da RTP. 5 Perspectiva do Consumidor Os consumidores têm todo o direito de seleccionar produtos e empresas com base na sua identificação com preferências pessoais e sociais. Há alguns que preferem pagar mais do que um preço competitivo ou aceitar um produto inferior, devido às suas convicções sociais. Os consumidores de causas sociais podem também, eventualmente, rejeitar empresas indiferentes que não assumem ligações a causas sociais. Isto é um dos princípios da liberdade de escolha e prova que o marketing de causas sociais só pode ter sucesso quando um número suficiente de pessoas fizer a sua escolha de mercado tendo como identificação a causa defendida por essa empresa. Os consumidores são livres de recusarem os produtos comercializados por uma empresa com a qual não se identifiquem eticamente e, consequentemente, optar por empresas que lhes agradem por serem exemplarmente seguidoras dos seus princípios. Resta ainda referir que as representações sociais engendradas pelas empresas na sua estratégia de marketing deveriam ser avaliadas da mesma forma que as outras “representações de vendas”. Durante a década de 80, foram surgindo pela Europa imensos produtos que se diferenciavam no mercado pelas suas características verdes. Em Portugal, sentiu-se essa diferenciação mais no início da década de 90 com os produtos “amigos do ambiente”. E o que aconteceu na altura foi uma descredibilização enorme dessas características devido aos abusos cometidos por parte de algumas empresas. Por vezes, para controlar estas situações, são criados organismos autónomos com o intuito de avaliar a veracidade das causas e da publicidade que as empresas proclamam. Segundo um estudo norte-americano Cone Cause Evolution 2007, dois terços dos consumidores têm em conta as práticas empresariais quando compram produtos. Se não está ligada directa ou indirectamente a uma causa social, ambiental os consumidores sancionam. Através de ferramentas como o marketing de causas, a responsabilidade social, ambiental ou a publicidade social/ambiental conseguem a aceitação de que a solidariedade e os comportamentos ecológicos, apreciados positivamente pela sociedade, valorizam as marcas e os produtos/serviços. Do ponto de vista do consumidor, trata-se de uma conveniente oportunidade de ajudar entidades carentes, ou que prestam serviços de cunho social, através das suas decisões de compra do dia-a-dia, sem custos extra. É preciso, porém, aprender através das experiências passadas e ter algum cuidado, pois há o risco de, novamente, o mercado se cansar desta comunicação e a desacreditar pelo seu uso abusivo e não fiável. 6