O motivo da apresentação Na história da Igreja, o debate cristológico mais acalorado tem sido a respeito da compreensão da pessoa e da obra de Jesus Cristo. Alguns teólogos têm pesquisado a vida de Jesus baseados na premissa de que ele não pode ser homem e Deus ao mesmo tempo. Alguns têm estudado Cristo a partir de cima, fundamentados na proclamação da igreja, já outros, a partir de baixo, baseando sua concepção de Cristo na investigação histórica. Mais recentemente, surgiram diversas tentativas populares, porém equivocadas, de reconstruir a vida e os ensinamentos de Jesus. No entanto, hoje buscase uma perspectiva que utiliza a fé para interpretar a história de Jesus, podendo assim fornecer uma metodologia cristológica mais adequada. Quem é Jesus Cristo? O Filho de Deus. Mateus 16:16 Jesus é Senhor: A palavra Senhor, no grego é Kurios. Quando o imperador romano exigia ser tratado como Senhor (SENHOR AQUI É O MESMO QUE DEUS) queria ser reconhecido como Deus. Os cristãos diziam: Jesus Cristo é o Senhor. A Pessoa de Cristo Jesus é uma única pessoa, mas dotada de duas naturezas: uma perfeitamente divina e outra perfeitamente humana (100% homem e 100% Deus). Muitos questionamentos foram feitos no decorrer da história da igreja e muitas concepções heréticas surgiram: Os Ebionitas – (107 d. C) negavam a realidade da natureza divina de Jesus,dizendo ser Ele “um homem com muita intimidade com Deus” ( o ebionismo era o judaísmo dentro da igreja). Os Docetas – (do grego doketes – “parecer” – “crer numa aparência”). Surgiram em 70 d. C e duraram até mais ou menos 170 d. C. Negavam a humanidade de Cristo. Para eles, o mal residia na matéria. Se Jesus não tinha pecado, então não tinha matéria também. O Arianismo – (surgiram no ano 325 d. C). Ário, seu fundador, negava a integridade e a perfeição da natureza de Cristo. Não admitia Cristo como Deus. Mas uma criatura maravilhosa e perfeita. Apolinário – (381 d. C). Negava a integridade da natureza humana de Cristo. Dizia que Jesus tinha corpo humano e mente divina, constituindo-se de corpo, verbo e espírito. Cria que Deus não poderia se unir a um corpo genuíno e completo porque assim assumiria a pecaminosidade Dele. Nestório – (431 d. C). Negava a verdadeira união entre as duas naturezas de Cristo. Atribuía a Cristo duas partes distintas: “Se dormia, o homem dormia, se repreendia os ventos, era parte divina em ação”. Eutiques – Cria que as duas naturezas se fundiam, formando uma terceira natureza, nem divina nem humana. Negava a distinção coexistência das duas naturezas. Pregava o monofisismo ( fusão das duas naturezas). Criava uma 3ª natureza. Provas da humanidade de Cristo 1. Nasceu de mulher. Gl. 4:4 2. Foi menino. Mt. 2:11 3. Tinha genealogia. Mt. 1:1 4. Possuiu carne e sangue. Hb. 2:14 5. Estava sujeito à: - Fome – Mt. 4:2 - Ao sofrimento da dor física – Lc. 22:44 - Sede – Jo. 19:28 - Ao cansaço ou fadiga do corpo – Jo. 4:6 - A tristeza por possuir uma alma racional – Mt. 26:38. 6. Sofreu tentação. Hb. 2:18 7. Morreu. Jo. 19:30-33. A Deidade ou Divindade de Jesus Há uma diferença entre a vida de Jesus e a dos demais homens do mundo, que foi o seu nascimento, de uma virgem, gerado pelo Espírito Santo. Não existiu e nem existirá alguém na face da terra gerado pelo Espírito Santo a não ser Jesus Cristo, e isso porquê? Para mostrar a todos que Deus entrou na humanidade. Jesus é Deus 1. Os atributos de Deus são dados a Jesus Criador: Hb. 1:2-10; Ap. 1:5 e 3:14 Preservador do Universo: Hb.1:8-10; Cl., 1:15-17 Eternidade: Hb. 1:3, 11, 12; Cl. 1:17 Imutabilidade: Hb. 1:11, 12; 13:8 A busca do Jesus histórico A primeira busca Hermann S. Reimarus é considerado o iniciador desta busca do Jesus histórico. Em seus ensaios demonstra a descontinuidade que existiria entre o Cristo da fé e o Jesus da História. O Jesus histórico não seria um messias religioso, mas segundo a esperança judaica do tempo, um libertador político na linha messiânica davídica. Problemas encontrados: 1) a elaboração de uma figura válida de Jesus 2)discussão sobre a natureza das fontes para isso. Albert Schweitzer A legitimidade teológica da busca foi colocada em discussão. Albert Schweitzer afirmava que o Jesus de Nazaré da teologia liberal nunca existiu. Ele era uma figura concebida pelo racionalismo, dada à luz pelo liberalismo, vestida pela moderna teologia de uma aparência histórica. Segundo Schweitzer todos os trabalhos sobre o tema se colocam como definitivo a ponto de impossibilitar qualquer futura pesquisa na linha da busca do Jesus histórico. Outro problema para Schweitzer o Evangelho de Marcos, normalmente considerado como “a” fonte histórica, era um trabalho teológico, e não um relato direto da atividade de Jesus. Nos cinquenta anos posteriores a suas críticas silenciou-se as pesquisas nos temas restringindo-se apenas aos paradigmas escatológicos. Rudolf Bultmann Colocava-se em continuidade com o ceticismo de Schweitzer com sua demitoligização e seu destaque para o kerygma em relação à possibilidade da busca do Jesus histórico. As fontes cristãs não estariam interessadas em lembrar-se de Jesus como de uma figura do passado, mas enquanto o Cristo presente e ressuscitado. Bultmann pensava que não se poderia chegar, a saber, quase nada a respeito da vida e da pessoa de Jesus, dado que as primeiras fontes cristãs não demonstram nenhum interesse nelas, sendo além de tudo muito fragmentárias e legendárias; e não se tem outras fontes sobre Jesus. A crítica à própria possibilidade de uma busca do Jesus histórico chega aqui ao seu ponto mais alto. A segunda busca Ernst Käsemann (ex-aluno de Bultmann) propõe retomar a busca, pois o Cristo da Igreja não pode ser abordado simplesmente como um ser mitológico, mas deve ter alguma ligação, alguma continuidade com sua existência histórica. Se assim não fosse a mesma fé cristã não poderia se sustentar, seria colocada em xeque-mate. Com a proposta de Käsemann começa a chamada New Quest, a nova busca do Jesus histórico. A característica central desta é a tentativa de trabalhar ao mesmo tempo com as duas realidades: o Jesus histórico e o Cristo da fé, pressupondo uma certa continuidade entre os dois. Procurando dar um sentido teológico ao pouco de historicidade provada. A primeira preocupação da Nova Busca é aquela de isolar o material realmente útil sobre o Jesus histórico. Os critérios para isso são conhecidos: desde a dessemelhança das fontes judias e cristãs primitivas, à analise do idioma particular de Jesus, até o critério da múltipla atestação. A terceira busca A Terceira Busca na verdade é uma simples continuação da Nova Busca. O que diferencia será a recusa de qualquer interesse teológico envolvido na pesquisa. Destaca-se nessa perspectiva John Dominic Crossan, que trabalha uma metodologia, que combina história, arqueologia e crítica literária com antropologia e sociologia comparada. Onde podemos chegar Mesmo com todos os esforços chegamos ao ponto inicial, pois será possível ao discurso científico chegar ao entendimento concreto do Jesus histórico sem antes não cair na mesma questão na qual faz crítica? A saber, mais um novo construto do Jesus de Nazaré, ou Galileu? Meier formulou uma frase paradoxal: “O Jesus histórico não é o real. O Jesus verdadeiro não é o Jesus histórico”. Para Meier o Jesus da história nada mais é que uma “moderna abstração e um constructo”. O grande problema na pesquisa de Jesus na academia é o risco de ser reduzida novamente ao que podemos reconstruir e avaliar, utilizando-se dos instrumentos científicos da pesquisa histórica moderna. Jesus Remembered James Dunn Um novo paradigma para a pesquisa sobre Jesus, onde deu a seu extenso e estimulante livro com o mesmo nome Jesus Remembered. Dunn apresenta problemas metodológicos nas antigas pesquisas: primeiro especialmente em relação ao objeto de pesquisa, mas também em relação ao direcionamento errôneo dessa pesquisa segundo os modos de pensar de uma cultura literária, e não oral, típicas nas sociedades no tempo de Jesus. De acordo com Dunn deve se a uma falácia que foi o cerne de toda a busca, a pressuposição foi de que para ter ciência real do Jesus histórico este deveria ser diferente do Jesus da fé. Só que esse paradigma fez com que a busca do Jesus histórico fosse diferente tanto do Cristo da fé, como do Cristo dos evangelhos. A grande motivação que provocou a busca é valida e necessária, mas ai é que está o erro dos métodos. Uma falha que observamos nos métodos é que estes não percebem que a vida de Jesus gerou um impacto que catalisou a manutenção e continuidade das comunidades cristãs. Fica claro que “já na tradição, ou seja, na memória sobre Jesus entrou a impressão (impact) deixada pelo próprio Jesus terreno – ainda antes da crucificação e ressurreição – em seus adeptos e adeptas No fundo é indiferente se a fé em Jesus, que entrou na tradição sobre ele, se alimenta de fontes posteriores ou anteriores à pascoa. Seria no mínimo incoerente querer saber do Jesus histórico sem levar em consideração a fé que ele despertou na vida das pessoas enquanto esteve entre eles. O Jesus (Re)lembrado de Dunn pretende evitar o engano fundamental que reina por mais de dois séculos. Para ele estamos dependentes das narrações sobre Jesus e suas lembranças. O conceito de lembrança de Jesus implica que nos evangelhos essas lembranças (relevantes por sinal) procedem de pessoas impressionadas e impactadas por Jesus. A história sobre Jesus consegue chegar, no melhor dos casos, só até as mais antigas lembranças de Jesus de Nazaré, como assim já havia formulado Rudolf Bultmann, que nesse contexto já falava da “mais antiga” tradição sobre Jesus de Nazaré. Conclusões Esse novo paradigma só nos atesta que na melhor das hipóteses que nós não podemos nos aproximar daquele construto histórico ou Jesus da História, ou o “assim denominado Jesus histórico do que até o impacto (impact) que ele deixou em seus adeptos”. Poderíamos dizer que essas lembranças serão sempre tendenciosas, pois não temos instrumentos de análise que poderiam subtrair o que de fato é “real”, “histórico”, ou “lembranças verídicas”. Seria pedir demais que um novo paradigma de busca do Jesus histórico fosse um fim em si. A confiabilidade das memórias já fora posta a prova por Crossan. No entanto, querer fazer a refutação de um paradigma através de outro não se chega a um denominador comum. Apesar de admitirmos que esse novo paradigma esta sujeito a subjetivação ele se embasa numa perspectiva anterior a própria história, o que é tão relevante para entendermos o porque que as comunidades primitivas se guiaram através delas e constituíram por meio das memórias seu parâmetro de vida comunitário tendo em Jesus de Nazaré como a inspiração para dar continuidade e ser uma comunidade carismática. BIBLIOGRAFIA CORNELLI, G. Metodologia e resultados atuais da busca pelo Jesus Histórico. In: CHEVITARESE, A. L; CORNELLI, G; SELVATICI, M. Jesus de Nazaré: uma outra história. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2006. LANGSTON, A. B. Esboço de Teologia Sistemática. 11 e.d. Rio de Janeiro: JUERP, 1994. MEIER, J.P. Um judeu marginal: repensando o Jesus histórico. v.1. Rio de Janeiro: Imago, 1993. STEGEMANN, W. Jesus e seu tempo. São Leopoldo-RS: Sinodal;EST, 2012.