Da economia colonial monoprodutora exportadora à economia nacional Caracterização do território antes do sécolo XIX , a herança colonial pobreza crónica da população, economia agrária, subdesenvolvimento, instabilidade política e social . 1. a economia agrícola e mineradora dominada pelo mercado internacional, com o objectivo de gerar lucros para a potência dominadora; 2. a pobreza social como resultado de um sistema económico externo e excludente, que privilegia uma minoria financeiramente capaz de integrar-se aos padrões de consumo europeus ; 3. a opressão de governos centralizadores contra as minorias, produzindo genocídios e o caos social; 4. a exploração do trabalho e as péssimas condições de sobrevivência para a grande maioria de sua população. A formação colonial da América Latina nasceu para fornecer as riquezas que a Europa necessitava, sendo um fornecedor de metais preciosos, materias primas, no século XVII, quando os metais escassearam, o sonho de riqueza acabou e a pobreza se enraizou. . Na medida em que as terras já não atendiam a essa demanda, foram abandonadas, ficando como marca do passado as gerações seguintes da população historicamente explorada, pobre e sem perspectivas. Dos metais, seguiu-se a exploração agrícola e pecuária a partir principalmente dos séculos XVIII e XIX, por meio da qual cada país, numa engrenagem perfeita com o sistema económico internacional, se identificou e ainda se identifica com um determinado produto na escala comercial. A América Central se especializou no fornecimento de frutas tropicais; o Equador, bananas; Brasil e Colômbia, café; Cuba e Caribe, açúcar; Venezuela, cacau; Argentina e Uruguai, carne e lã; a Bolívia tornou-se país fornecedor de estanho e o Peru de peixe, Chile salitre. O LATIFÚNDIO, FOI A FORMA PRINCIPAL DE PROPRIEDAD E USO DA TERRA. O ACESSO DAS CLASSES POPULARES À TERRA FICOU BLOQUEADO ATE O SÈCOLO XX e AINDA HOJE E UM PROBLEMA . NÂO RESOLVIDO. . • OS MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIAS NACIONAIS DAS DUAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XIX NÃO LIBERTARAM DOMINAÇÃO OS COLONIAL, NOVOS PAÍSES POIS ESTRUTURA A DA ECONOMICA ESOCIAL PERMANECEU IDÊNTICA. : A ECONOMIA AGRÁRIO-EXPORTADORA DOMINADA POR ELITES LOCAIS LIGADAS AOS MERCADOS COMPRADORES INGLATERRA. – PRINCIPALMENTE A • A fragmentação que o território latino- americano sofreu após o movimento libertador de Simón Bolívar, representa a impossibilidade de formar uma unidade nacional: cada elite identificou-se com um pedaço do território e nela formou seu país, de acordo com seu papel no comércio internacional. • O IMPERIALISMO BRITÂNICO SUBSTITUIU O DOMÍNIO IBÉRICO NO SÉCULO XIX, FOMENTANDO SEU PRÓPRIO DESENVOLVIMENTO ÀS CUSTAS DA PRODUÇÃO DOS NOVOS PAÍSES E EXTERMINANDO TODA E QUALQUER TENTATIVA DESENVOLVIMENTO AUTÓNOMO. DE OS PAÍSES PRODUÇÃO VENDIAM, NO AGRÍCOLA SÉCULO XIX, AOS INGLESES, SUBSTITUÍDOS UM SÉCULO DEPOIS PELOS EUA SUA A antiga empresa norte-americana United Fruit Company era o "verdadeiro" poder na América Central, comandando a área a despeito das vontades e anseios de sua população, e inclusive promovendo golpes militares e instalando governantes de confiança para garantir seus direitos (como na Nicaragua, Republica Dominicana, Guatemala). • A Guerra do Paraguai, de 1865 a 1870, é o exemplo mais claro dos interesses interesses comerciais britânicos, Brasil e Argentina promoveram um conflito bélico contra o Paraguay , à época a republica mais industrializada e comercialmente independente do continente. • O resultado foi o maior genocídio da história latinoamericana (1,3 milhão de mortos numa população de 1,8 milhão) e o enfraquecimento do Paraguai, que até hoje não deixou de ser um protectorado sob a ingerência brasileiao e argentina. • NO SÉCULO XX, COM A DECADÊNCIA INGLESA, SURGE NO CENÁRIO OS EUA COMO NOVA POTÊNCIA GESTORA DA AMÉRICA LATINA. • , JÁ EM 1823, OS NORTE-AMERICANOS PROMULGARAM A FAMOSA DOUTRINA MONROE: "A AMÉRICA PARA SIGNIFICAVA , OS OS EUA AMERICANOS“, QUE ESTENDERIAM SEUS INTERESSES SOBRE SEU CONTINENTE IRMÃO E CONTINUARIAM POLÍTICO. O CONTROLE ECONÓMICO E • O INÍCIO DA LONGA E DURADOURA INTERVENÇÃO NORTEAMERICANA NO CONTINENTE DATA DE 1898, QUANDO OS EUA DERROTARAM A ESPANHA NA BATALHA DE INDEPENDÊNCIA DE CUBA, E SE APOSSARAM DOS DIREITOS POLÍTICOS E ECONÓMICOS SOBRE A ILHA – OS QUAIS MANTIVERAM ATÉ 1959, QUANDO FIDEL CASTRO E SEUS GUERRILHEIROS DERRUBARAM O GOVERNO DE FULGENCIO BATISTA E TOMARAM O PODER. • Os interesses norte-americanos criaram ramificações em outros países do continente, com destaque para a já citada América Central e o México. • Mesmo os países com certo desenvolvimento industrial – Brasil, Argentina e México – não escapam dessa dominação económica imposta pelas potências internacionais. GRANDE PARTE DAS RECEITAS COMERCIAIS DESSAS NAÇÕES AINDA VÊM DA EXPORTAÇÃO DE MATÉRIAS AGRÍCOLAS, CASO PECUÁRIAS ARGENTINO) (DESTACADAMENTE OU O MINERAIS. A AGRICULTURA E AS INDÚSTRIAS PRIMÁRIAS AINDA SÃO MARCOS DOS TEMPOS COLONIAIS. A industrialização latino-americana não nasceu dos anseios de desenvolvimento sócio-produtivo, mas da impossibilidade de importar produtos manufacturados durante a recessão económica mundial dos anos 30. Formou-se uma indústria baseada na "substituição de importações", reforçada durante os anos 50 e 60 com o advento das crescimento multinacionais e políticas internas de a industrialização latino-americana nunca deixou de estar ligada aos interesses estrangeiros, ao fornecer produtos que tais mercados necessitavam e importar tecnologias que, desenvolvimento, em vez de incrementar o só aumentavam a dependência. 1 AS JÓVENS REPÚBLICAS INDEPENDENTES, 1810-1870 Alguns dados TASAS DE CRECIMIENTO DE LA POBLACIÓN Y EL PIB PER CÁPITA MUNDIAL, 1500-1820 Y 1820-2008, POR REGIONES Fuente: Ocampo y Bertola 2 GLOBALIZACIÓN, FORTALECIMIENTO INSTITUCIONAL Y DESARROLLO PRIMARIO-EXPORTADOR, C. 1870-1929 EXPORTACIONES EN DÓLARES CONSTANTES (A PRECIOS DE 1980) TOTALES Y PER CÁPITA, Y SUS TASAS DE CRECIMIENTO, 1870-1929 EXPORTACIONES MUNDIALES DE PRODUCTOS PRIMARIOS (AMÉRICA LATINA, PAÍSES DE ALTOS INGRESOS Y PAÍSES DE BAJOS INGRESOS), 1913 ESTRUCTURA DE LAS EXPORTACIONES LATINOAMERICANAS POR PRODUCTO, 1859/1861-1927-1929 TÉRMINOS DE INTERCAMBIO DE AMÉRICA LATINA: A) TOTAL (1820-1940) Y B) DE TRES GRUPOS DE PAÍSES (1870-1940): 1900=100 TÉRMINOS DE INTERCAMBIO Y PODER DE COMPRA DE LAS EXPORTACIONES (1870-74=100) KILÓMETROS DE VÍAS FÉRREAS EN LOS PAÍSES LATINOAMERICANOS, TOTAL Y PER CÁPITA (1840-1913) PIB Y PIB PER CÁPITA DE ALGUNOS PAÍSES LATINOAMERICANOS, 1870-1929 (EN DÓLARES GEARY-KHAMIS DE 1990 PIB (MERCADO INTERNO Y EXPORTACIONES) Y PIB PER CÁPITA DE PAÍSES LATINOAMERICANOS 1820-1870 (dólares de 1990) SALARIOS DE PARIDAD DE PODER DE COMPRA DE AMÉRICA LATINA Y OTROS PAÍSES (GRAN BRETAÑA EN 1905=100) NIVELES RELATIVOS DE LOS SALARIOS LATINOAMERICANOS Y DE OTRAS REGIONES, 1870-1929 (EUROPA 3=100) INDICADORES SOCIALES EN AMÉRICA LATINA, 18701930 Dados comparados Os processos revolucionários Os historiadores contemporânea da definiram, na história América Latina, quatro eventos que podem ser analisados como tentativas de quebra do domínio imperialista das grandes potências mundiais, buscando uma política mais nacionalista. • Revolução Mexicana – • O acontecimento mexicano é descrito como a primeira grande mobilização social da América Latina no século XX. • O processo começou como uma autêntica revolução, isto é, com o objectivo de promover uma transformação estrutural na sociedade, para depois normalizar-se e garantir algumas mudanças que não representam um processo completo de modificação. Tanto é verdade que até hoje existem movimentos sociais que buscam retomar o ideal da Revolução Mexicana para completá-la e transformar a estrutura social e produtiva da sociedade do país. • A guerrilha no Estado de Chiapas, ao mesmo tempo que protesta contra o imperialismo norte-americano e contra a pobreza da região, luta por uma reforma agrária justa e pela memória de Emiliano Zapata, líder da revolução do começo do século que ecoa no México até hoje. • A revolução teve início em 1910. Liderados por Zapata, os camponeses do estado de Morelos levantaram-se contra os latifundiários da região e toda a exploração que estes representavam. Logo o exército do país foi chamado para conter a revolta, que não demorou a espalhar-se para todo o território mexicano. • • • No final de 1910, Díaz foi derrubado para a subida de Francisco Madero ao poder. Este, apesar de ter a confiança de Zapata, representava os interesses da nascente burguesia mexicana: pouco lhe importava tocar na estrutura agrária do país e criar impasses com os latifundiários. • • A reforma agrária que estava na promessa revolucionária não se realizou, e Zapata voltou ao combate. Reuniu os camponeses, tomou para si mesmo o governo do México em 1914 e iniciou um gradual processo de divisão agrária e reorganização da produção agrícola em pequenas propriedades. • Inclusive convocou uma Assembleia Constituinte em 1917, na qual foi aprovada a Lei da Reforma Agrária. A reforma agrária foi retomada no período 1934-1940, no governo de Lázaro Cárdenas. Presidente com traços populistas, Cárdenas aplicou de forma séria a lei de 1917, distribuindo 18 milhões de hectares a 772 mil camponeses, num ato predominantemente de oposição aos latifundiários. Bondade do governante? Uma análise mais profunda das transformações que a sociedade passava pode explicar os motivos de tal distribuição. No mandato de Cárdenas, a indústria já despontava como a base da economia mexicana, com o consequente declínio do latifúndio agrário-exportador. Além disso, a distribuição acalmava os ímpetos revolucionários dos camponeses e lhes dava um pedaço de terra para desenvolver uma pequena agricultura substancial, sem incomodar o grande latifúndio. . A Revolução Mexicana, assim, promoveu uma alteração substancial na sociedade mexicana, ao estimular a reforma agrária e a distribuição de terras para os camponeses. Embora a estrutura social não tenha sofrido modificações radicais, com o poder económico se concentrando nas mãos da nova burguesia industrial, e muitos dos novos proprietários, sem incentivo ou capacidade para desenvolver a agricultura em sua terra, não tenha largado seu estado de pobreza, tratou-se de um processo com importância ao ser o primeiro grande movimento de massas da América Latina contemporânea, provocando reflexos no continente até hoje, evocada por movimentos nacionalistas que buscam justiça social e reforma agrária. Revolução Boliviana Processo inspirado na Revolução Mexicana e que alcançou grande amplitude, com as classes populares inclusive tomando o poder e os meios de produção econômica. No entanto, a incapacidade para manter esse controle, a falta de força política e as pressões de sectores mais fortes, incluindo o imperialismo norte-americano, acabaram por minar as bases da revolução e seu potencial renovador que pretendia transformar a exploradora e miserável estrutura social boliviana numa sociedade mais justa e igualitária. • O levantamento ocorreu no dia 9 de abril de 1952. Incitados pelo MNR (Movimento Nacional Revolucionário), partido de centro-esquerda formado por pequenos burgueses que fora alijado do poder um ano antes por um golpe militar, os mineiros do país iniciaram uma greve por melhores condições de vida e salários. • Ao mesmo tempo, explodia a revolta nas grandes fazendas, com os índios e camponeses tomando as terras, e na capital La Paz, onde a população mais pobre se organizou, com a ajuda do MNR, em milícias armadas que invadiram quartéis e, numa incrível guerrilha urbana, venceram o Exército mandado às ruas para combatê-las. • O povo boliviano, oprimido ao longo de séculos, tomara o poder em todo o país, e o MNR parecia ser seu representante legítimo para ocupá-lo. Aqui, entretanto, começam as falhas do processo revolucionário do país. • O partido, mais preocupado em retomar o governo perdido um ano antes e formado por elementos de classe média, não soube atender às reivindicações básicas da população, minou as conquistas dos trabalhadores e abriu espaço para a intensificação da penetração do capitalismo norte-americano na economia Dois marcos da Revolução Boliviana, e que a fazem carregar esse título, são as provas mais evidentes de como o MNR apenas se apoiou na revolta popular para tomar o poder, e não para promover mudanças estruturais na sociedade. O primeiro deles foi a lei de Reforma Agrária, promulgada em Agosto de 1953 e destinada a organizar a desordem instalada com a tomada de fazendas pelos camponeses, um ano antes, durante o processo revolucionário. A Lei evitou criar polémicas com os latifundiários, determinando que os camponeses deveriam devolver parte das terras ocupadas aos proprietários ainda vivos. Ficava com uma pequena faixa de terreno, geralmente improdutiva, antieconómica e pela qual ainda tinha de pagar indemnização pela posse. Assim, o campesinato, que em 1952 ocupara a maior parte das terras do país, fizera uma divisão razoavelmente igualitária e eliminara estruturas feudais de exploração de mão-de-obra, como o servilismo, sofria um processo de regressão. Sem incentivo fiscal e grande espaço nos mercados consumidores, o pequeno proprietário, em sua maioria, vinha a perder sua terra para o latifundiário, voltando a ser seu empregado e morando em suas dependências por caridade e em troca de trabalho pesado na lavoura . O sistema de exploração campestre voltara a ser o mesmo: grande propriedade, monocultura, trabalho servil. A diferença é que fora introduzido no campo formas capitalistas de exploração comercial: a produção em larga escala para venda em menor tempo e mais barata. Mas a grande conquista camponesa – as terras -, foram perdidas em sua maior parte graças à lei de Reforma Agrária, feita às pressas pelo governo do MNR e que revelava a incapacidade do partido de se desvencilhar dos grupos economicamente mais fortes do país para promover uma mudança radical na sociedade. • O segundo marco da revolução engana por sua demagogia. Em outubro de 1952, o governo nacionalizou as minas de estanho, supostamente rompendo com um domínio secular da principal fonte de divisas do país por parte da família Patiño, dona das minas e refinarias. O acto poderia simbolizar um desejo de autonomia nacionalista na exploração do minério, se não escondesse certas conjunturas que serviram para reduzir ainda mais o papel e a importância da revolução. Quando nacionalizadas, as minas de estanho já tinham rendimento limitado, tão exploradas que foram pelos Patiño. Bolívia não teria muito minério para exportar e fazer divisas no mercado internacional. • Além disso, o estanho bruto tem valor reduzido no mercado, tendo de ser tratado em fundições – e o país não possuía nenhuma à época. • O país se acostumara a receber pouco pelo estanho retirado das minas pelas empresas dos Patiño e levado para ser fundido no exterior. Com a nacionalização, o processo não se inverteu. A Bolívia continuou a receber pouco pelas toneladas de minério, por exportá-lo bruto, e via em seguida as grandes potências pagar caro pelo produto refinado. A nacionalização das minas não trouxe autonomia económica à Bolívia, nem melhorou a vida dos mineiros, mas trouxe um problema: teve de herdar minas decadentes e de baixa produtividade, livrando os antigos proprietários de maiores prejuízos. Como se não bastasse, estes receberam indemnizações pela expropriação, num total de 22 milhões de dólares. Vendendo muito e recebendo pouco, o governo do MNR ainda tentou reativar a exploração do estanho, fundando uma empresa estatal – a COMIBOL – para descobrir novas jazigas • A iniciativa, no entanto, só trouxe mais prejuízos e quase nenhum estanho. A solução foi recorrer a empréstimos junto aos EUA, em troca do fornecimento, a baixos preços, de minérios e outros produtos, como o petróleo e o gás natural. • • O processo de nacionalização das minas se transformou rapidamente numa continuação do retrocesso observado na reforma agrária: as conquistas dos mineiros são gradualmente perdidas pelo líderes políticos que, pertencentes à classe média e ao poder económico, não podem negar suas origens. • Os presidentes do MNR que governaram a Bolívia de 1952 a 1964 tentaram mudar a sociedade boliviana e sua estrutura por meio de decretos, e nunca de forma efectiva. • A população não recebeu os benefícios da revolução: pelo contrário, foi dominada ainda mais pela miséria e teve sua força política reprimida quando as milícias urbanas armadas foram suspensas para a reconstituição do Exército, no final dos anos 50. No entanto, a revolução boliviana, apesar de frustrada em seus planos, serviu como exemplo para movimentos sociais posteriores de como a mobilização popular pode provocar abalos na ordem estabelecida, em busca de melhorias em sua vida. Foi denominada assim por ser um caso em que o povo foi às ruas e batalhou por sua conta, por seus objectivos, acima de ideologias partidárias. Talvez a ausência de um autêntico líder que canalizasse suas aspirações reformistas, evitando o MNR e seu oportunismo pequeno-burguês, tenha sido o principal motivo da derrota das massas no processo revolucionário. Mesmo sem alterar as estruturas sociais e produtivas do país, a revolução deixou heranças, como a modernização das relações no campo (apesar da exploração prosseguir), a politização da sociedade boliviana e a fundação da COB (Central Obrera Boliviana), sindicato urbano de trabalhadores que teve papel fundamental no combate às ditaduras nos anos 70 e 80. Revolução Cubana – O processo liderado por Fidel Castro é descrito até hoje como a mais radical mudança política no cenário latinoamericano. Cuba tornou-se, a partir de 1959, o primeiro país socialista do mundo ocidental e o único em que tal regime sobreviveu, quebrando a hegemonia norteamericana no continente • A Cuba moderna, segundo o sociólogo Emir Sader, incomoda os outros países por ser fruto de uma revolução que, negando os EUA, deu certo e mudou a estrutura social, apesar dos problemas económicos e políticos que enfrenta na actualidade. • Sader considera que uma revolução implica numa total transformação do sistema sócio-produtivo da nação, instalando um novo sistema e dando à sociedade novas condições de sobrevivência. • Para ele, a guerrilha de Fidel Castro, ao tomar o poder, tinha em mente a necessidade de modificar a estrutura cubana para conseguir o apoio da população e autonomia internacional. • É fundamental entender como era tal estrutura antes de Fidel assumir o comando político de Cuba. Incentivada pela colonização espanhola, a ilha se tornou grande produtora de açúcar, cuja venda na Europa enriquecia os senhores locais e atiçava seus desejos independência para se libertar dos impostos coloniais. de • O processo de libertação do domínio espanhol se consumou em 1898, mas o novo país, localizado a poucos quilómetros dos Estados Unidos, não escapou da ingerência económica e política desta nação. • Desde o início do século, os norteamericanos se instalaram em Cuba, controlando o comércio de açúcar e todos os demais sectores da economia agrária. • Os latifúndios dominavam a maior parte do território, reinando a exploração dos camponeses e a opressão política nos centros urbanos. • Os EUA faziam e desfaziam presidentes à sua vontade, até que o sargento Fulgencio Batista, a partir dos anos 40, dominou a cena política cubana e acalmou, à base da repressão, as diversas manifestações que eclodiam no país contra a recessiva política económica e os privilégios norte-americanos. • Um dos levantes que conteve foi em 1953, no assalto ao quartel Moncada liderado por um jovem advogado chamado Fidel Castro. Extraditado de Cuba com outros colaboradores, Fidel foi viver no México para, três anos depois, retornar e promover, a partir das sierras e com o apoio camponês, a guerrilha contra a ditadura de Batista. • Mesmo com parcos recursos e poucas armas, o exército guerrilheiro cresceu e derrotou a maior parte das forças de Batista, assumindo gradualmente o controle dos principais distritos do país. • Quando chegou à capital, Havana, em 1º de Janeiro de 1959, Batista já fugira para a República Dominicana, e Fidel foi proclamado presidente e primeiro-ministro. • Após assumir o poder, os revolucionários tiveram, de cara, de enfrentar o governo norte-americano, que ordenou a saída de todas as empresas nacionais do território cubano e decretou o embargo económico contra o país após a fracassada invasão da Baía dos Porcos, em 1961. • A medida norte-americana foi seguida pela maior parte dos países do continente, que romperam as relações comerciais com Cuba e inclusive votaram por sua exclusão da Organização dos Estados Americanos (OEA). • De uma hora para outra, Cuba teria de buscar novos parceiros para sobreviver e, principalmente, cumprir seus objectivos de transformação social. • . • Para tanto, optou, em contrapartida ao capitalismo, pelo socialismo e por acordos com os países do bloco liderado pela União Soviética. • Vendendo açúcar e níquel a essas nações, Cuba recebia em troca maquinaria pesada e petróleo para desenvolver indústrias de bens de consumo e gerar, com a diversificação das exportações, divisas que permitiam a manutenção de serviços públicos gratuitos à população A saúde e a educação, entre outros, deixaram de ser privilégio daqueles que poderiam pagar, pois se tornaram serviços estatizados. Além disso, o governo passou a mandar anualmente os universitários ao campo, para ensinar os camponeses a ler e escrever. O resultado desse processo contínuo é visível até hoje. Cuba é o país com maior índice de alfabetização no continente, com 95%. O tratamento de saúde é mantido pelo Estado, e os equipamentos são elogiados ao redor do mundo pela qualidade e tecnologia. A própria estrutura produtiva – o campo – foi transformada. O primeiro acto do governo revolucionário foi promulgar uma Lei de Reforma Agrária, que determinava a nacionalização de terras improdutivas pertencentes a empresas norte-americanas e latifundiários. Além disso, o governo tomou para si terras que foram abandonadas pelos donos, que fugiram com a vitória guerrilheira. • Aos camponeses foram oferecidas duas alternativas: a organização em cooperativas ou a posse individual da terra. • O Estado importou maquinaria agrícola, treinou técnicos para ensinar os novos proprietários como gerir a terra e usar os novos mecanismos de produção, incentivou a produção com apoio financeiro e subsídios. As safras de açúcar cresceram e novas culturas foram desenvolvidas, como o tabaco e frutas cítricas. O índice de desempregados e empregados sazonais (durante as safras) diminuiu, com a posse efetiva da terra. Nas cidades, o crescimento industrial e novos serviços, como o turismo, também ofereceu oportunidades à população. Com o fim da União Soviética, em 1991, e consequentemente de seu principal mercado de açúcar, Cuba enfrentou uma séria crise interna, com diminuição da produção industrial e redução do abastecimento de energia. Mesmo assim, o país sobrevive, ao reatar suas relações com os países latino-americanos e europeus e visualizar, ainda que distante, um princípio de abertura por parte dos EUA. A crise cubana levantou sérias dúvidas quanto à validade do regime de Fidel e as conquistas do país durante seu governo. É claro que, no sentido mais liberal, o governo de Fidel não é democrático, ao negar o direito às eleições e perpetuar-se no poder. No entanto, sob seu comando Cuba conseguiu a tão procurada "revolução": de um país agrário-exportador e constituído de uma população predominantemente rural e explorada, tornou-se uma nação com economia diversificada e que oferece a seus habitantes condições de vida mais dignas do que muitos países latino-americanos. . O exemplo cubano soou no continente durante os anos 70 como um modelo de libertação do imperialismo norteamericano, e até hoje atrai muitos movimentos sociais e guerrilheiros à sua causa. Por mais contestado que seja, o exemplo de Cuba mostra que a transformação radical da sociedade é possível se houver interesse e mobilização popular A revolução chilena