Os ingredientes da inteligência

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Sumário
1. Receita de inteligência ............................................................................................ 1
2. Crianças e QI .......................................................................................................... 4
3. Recordar é saber..................................................................................................... 5
4. Ratos e homens ...................................................................................................... 8
Fonte ........................................................................................................................... 9
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OS INGREDIENTES DA INTELIGÊNCIA
1. RECEITA DE INTELIGÊNCIA
Como interferir na herança genética e no ambiente para melhorar o
desempenho intelectual
Se você acha que inteligente é aquele sujeito desajeitado, tímido, sentado a
seu lado na sala do cursinho com jeito de fazer mais pontos no vestibular, está
enganado. A qualidade humana mais valorizada pela sociedade não é assim tão
fácil de reconhecer. A estudante paranaense Graziela Boss, de 18 anos, fotografada
na capa de Galileu deste mês, por exemplo, não tem nada de "nerd". Simpática, bem
falante, ela é uma das centenas de milhares de jovens que vão tentar este ano uma
vaga em uma das grandes faculdades de medicina do país. Em tese, pode ser um
Einstein da profissão que vier a abraçar.
Estudo e memória
Ana Paula aconselha a não decorar, mas entender o contexto
As mentes mais brilhantes que se debruçaram sobre o assunto não sabem
dizer a receita da inteligência. Os pais, a escola, os genes são ingredientes decisivos
do caldeirão de idéias que formam o cérebro dos gênios. "Ser inteligente é saber se
virar, ir atrás do que se quer", diz outro pré-vestibulando, Fernando Hideki, de 18
anos. É uma definição como outra qualquer. Não há consenso, como também não
há certeza sobre o chamado gene da inteligência. Apesar disso, os cientistas não
desistem de explicar a supercapacidade de alguns. Querem aprender a estimulá-la.
O último estudo, que ainda deve ser divulgado em revistas especializadas, mostra
que o ambiente familiar acrescenta pouco ao QI das pessoas.
A psicóloga norte-americana Nancy Segal, autora desse estudo, tem um
motivo particular para investigar o assunto. "Fico fascinada por ter nascido junto com
minha irmã e, apesar disso, ser tão diferente", afirmou em entrevista a Galileu.
Nancy, que trabalha na Universidade Estadual da Califórnia, é gêmea fraterna, ou
seja, ela e sua irmã se desenvolveram a partir de óvulos diferentes. Apesar de terem
dividido o útero, o compartilhamento dos genes é o mesmo de irmãos biológicos. Na
tentativa de determinar aquelas características inatas do indivíduo e as que são
adquiridas, a psicóloga de 49 anos se dedicou ao estudo dos "gêmeos virtuais", ou
seja, crianças de idades aproximadas, educadas na mesma família, mas de
parentesco diferente.
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Estudos comparativos de gêmeos não são novidade. A Universidade de
Chicago foi pioneira ainda na década de 30, embora os experimentos ganhassem
fôlego só na década de 60, com o reforço de ingleses e dinamarqueses.
Hoje se sabe que o desempenho intelectual tende a ser muito semelhante
entre parentes próximos. Gêmeos idênticos – aqueles que têm a mesma carga
genética –- submetidos a testes obtêm resultados mais parecidos entre si do que os
gêmeos fraternos, do tipo das irmãs Segal. Além disso, gêmeos idênticos separados
após o nascimento e criados em ambientes diferentes obtêm desempenho
semelhante em provas que medem abstração, concentração e raciocínio.
Nancy Segal fez o caminho inverso, entrevistando "irmãos" sem parentesco
biológico. Se os resultados dos testes de QI (quociente de inteligência) coincidissem,
seria um sinal da forte influência do ambiente sobre a inteligência. Não teria sentido,
então, a hipótese de que a capacidade intelectual nasce com o indivíduo. Ou melhor,
é pré-determinada pelo DNA (o material genético de cada um), da mesma forma que
a cor dos olhos ou o formato do nariz.
Surpreendentemente, não foi isso o que aconteceu. O estudo com 90 pares
de gêmeos virtuais, que será publicado em setembro na revista Journal of
Educational Psychology, mostra resultados díspares na maior parte – apenas 26%
das respostas nos testes eram parecidas. "Ficou constatado que pessoas
geneticamente diferentes, mas morando juntas, têm muito pouca semelhança",
conclui a psicóloga. "A pesquisa mostra que o ambiente familiar conta pouco no QI.
Uma parte substancial da inteligência é construída pelas experiências pessoais e a
herança genética." É apenas uma hipótese, mas confirma a suspeita de que filhos e
netos de pessoas especialmente talentosas têm uma boa probabilidade de também
serem
bem
dotados.
O que não quer dizer que o inverso seja verdadeiro. Inteligência não é destino
e a História está aí para provar que nem tudo na vida está ligado aos genes. Teorias
deterministas já foram usadas no passado para reforçar preconceitos, como no caso
do livro The Bell Curve (A curva normal), dos pesquisadores Richard Herrnstein e
Charles Murray. Os autores tentaram provar que, por razões genéticas, o QI dos
negros norte-americanos é mais baixo do que o daqueles de origem européia.
Raciocínio semelhante justificou a perseguição dos judeus pelos nazistas durante a
Segunda Guerra Mundial.
1.1. A receita deles
Como se forma a inteligência ainda é uma questão a ser discutida. Mas que
algumas pessoas a têm em demasia, isso é incontestável. Esse é o caso de
Vinícius Vacanti e Wanderley de Abreu Júnior. Para Vinicius, 19 anos, ser
inteligente é ter a capacidade de reconhecer seus próprios talentos. Ele iniciou este
ano o curso de economia na Universidade Harvard, em Boston, EUA, e já é
professor-assistente nas horas vagas. Além disso, pratica esporte desde cedo.
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"Não lia muito quando era pequeno", gosta de afirmar. "Preferia brincar, jogar
futebol, passar muitas horas na rua." Com 22 anos, Wanderley já tem um currículo
de peso em informática: desbaratou uma rede de pedofilia pela internet e
atualmente comanda a própria empresa de segurança de sistemas. "Inteligência é a
cultura que você adquire ao longo da vida", ensina.
Wanderley, 22 anos, Especialista em segurança de sistemas
Vinicius, 19 anos Professor-assistente em Harvard, nos EUA
1.2. E a importância do ambiente1
Estudo com gêmeos virtuais confirma resultados sobre importância da
hereditariedade
1– Foram selecionados 90 pares de "gêmeos virtuais" (crianças com idade
aproximada que cresceram juntas, apesar de pelo menos uma ter sido adotada).
Assim, apesar de o ambiente ser o mesmo, a base genética é diferente
2– As crianças, com idades de 4 a 7 anos, fizeram testes de QI. Se a
correlação fosse alta, poderia indicar que o ambiente familiar contribuiu muito para
o QI. Mas apenas 26% das respostas dos pares coincidiram
3– A correlação foi menor que a de gêmeos idênticos criados em locais
separados (76%). Como o ambiente teve pouca influência nos resultados, a
pesquisa indica que os genes influenciam o QI
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Fontes: Nancy Segal, Universidade Estadual da Califórnia em Fullerton; Matt Ridley, Genome,
Harper Collins, 1999
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2. CRIANÇAS E QI
Até mesmo os testes de QI são motivo de controvérsia. Concebidos no início
do século pelo psicólogo francês Alfred Binet para apontar os problemas das
crianças na escola, ele foi adaptado para medir o quociente intelectual dos recrutas
no exército norte-americano na Primeira Guerra Mundial. Atualmente são criticados
por medir apenas um aspecto da inteligência, a do raciocínio lógico, da resolução de
problemas, tão importante para estudantes do segundo grau e aqueles que se
preparam para entrar na faculdade. "O teste mede aspectos cognitivos, o que não
leva a uma definição da inteligência", aponta Paulo Henrique Bertolucci.
Chefe do Setor de Neurologia do Comportamento da Universidade Federal de
São Paulo, Bertolucci estuda há anos os diferentes aspectos da inteligência e sabe
que eles dificilmente podem ser considerados um instrumento objetivo do tipo de
uma régua ou um microscópio. "Os testes de QI têm um componente cultural muito
forte", afirma. "Podem medir quanto um assunto é aprendido na escola em vez da
inteligência real."
2.1. Menos energia
Quando se fala de inteligência, um nome imediatamente vem à mente. Tratase do pesquisador Howard Gardner, da Universidade Harvard, que há 15 anos
apresentou ao mundo sua teoria das inteligências múltiplas, desenvolvida com o
propósito de estimular as aptidões de cada indivíduo. Segundo Gardner, a
inteligência não se limita às capacidades lingüísticas e lógico-matemáticas, mas
envolve mais cinco categorias: artística, espacial, corporal-cinestésica, interpessoal
e intrapessoal.
Fernando Hideki, 18 anos
Ser inteligente é saber se virar e ir atrás do que se quer
"Os testes de QI medem de fato as habilidades lingüísticas e lógicas,
principalmente como são usadas na escola", disse Gardner a Galileu. "Mas não
servem para avaliar outras formas de inteligência, como a musical e a interpessoal."
Uma outra forma de ser inteligente sem especificar o tipo em destaque é
apresentado pelo neurologista Bertolucci. Na sua opinião, a genialidade pode ser
definida como o uso eficiente dos recursos disponíveis. "Em tarefas não-verbais, as
pessoas que obtêm os melhores resultados são aquelas que consomem menos
energia no cérebro", afirma. "Para a mesma tarefa, essas pessoas não precisam
recrutar tantos neurônios."
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Na busca das raízes da inteligência, no passado, os neurologistas não
resistiram à tentação de perscrutar o cérebro daqueles que se destacaram por suas
idéias. Nos séculos 18 e 19, retiraram e pesaram seus miolos na balança. Pelo
mesmo motivo, o cérebro de Einstein ficou guardado depois de sua morte, em 1955,
à espera de pesquisas. Nada foi comprovado. Hoje se sabe que componentes
orgânicos são difíceis de serem estabelecidos. O mesmo vale para a genética.
"Desde que o indivíduo é concebido, fica difícil dissociar os genes do ambiente", frisa
o professor Cláudio Guimarães, da pós-graduação em Psiquiatria da Faculdade de
Medicina da USP. Gardner concorda: "O QI parece hereditário. Mas em todo o
mundo tem aumentado cerca de três pontos a cada década. Esse fato não é
creditado à hereditariedade".
2.2. O mau uso do teste
A idéia de medir a inteligência por meio de testes foi levantada pela primeira
vez por Francis Galton (1822-1911), primo do naturalista britânico Charles Darwin.
Mas foi o psicólogo francês Alfred Binet (1857-1911) quem concebeu o primeiro
teste oficial em 1905. Sua intenção era entender as dificuldades das crianças na
escola. Alguns anos depois, seu teste foi adaptado por norte-americanos e ingleses
para medir o quociente intelectual dos recrutas no exército. Na década de 20, o QI
serviu para discriminar os imigrantes. Como os testes dependem de fatores
culturais, algumas questões "fáceis" eram indecifráveis para os estrangeiros. Hoje,
os testes são aplicados apenas em casos específicos, como avaliar deficiências
cognitivas de crianças. Mas ainda conservam o seu status. Aqueles com médias
altas de QI criaram associações de "gênios" para discussões e trocas de idéias. A
Mensa International é um desses grupos. Sediada em Londres, tem cerca de 100
mil membros com QI alto. A atriz norte-americana Geena Davis é uma das sócias.
Clube seleto
A atriz Geena Davis, membro de associação de superdotados
3. RECORDAR É SABER
Provavelmente isso ocorre por causa do ambiente, ou seja, o acúmulo de
informações, a rapidez com que são difundidas e as possibilidades de aprendizagem
oferecidas pela tecnologia e a melhoria das escolas. O estímulo proporcionado pela
revolução dos computadores também conta – embora seja difícil de ser quantificado.
Tudo isso, reconhecem os especialistas, estimula a memória, um dos fatores
preponderantes no desenvolvimento da inteligência.
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Graziela, 18 anos
Leitura e resumos colados na parede
Como todo estudante sabe, guardar o que se aprendeu é meio caminho
andado para se dar bem nos exames. "A memória é um sistema que armazena uma
quantidade enorme de informações pessoais ou culturais que são determinantes
para a sobrevivência do indivíduo", afirma Guimarães. Mas uma boa memória
sozinha não torna ninguém mais inteligente. É preciso interpretar e relacionar as
informações guardadas no cérebro. A estudante Ana Paula Fernandes Jubran
aprendeu a lição. Preocupada em se preparar bem para disputar uma vaga no curso
de Direito nos próximos exames vestibulares, afirma: "Ser inteligente é ter facilidade
de enxergar o contexto de cada matéria e não apenas decorar a aula".
Há uma fórmula para isso, por incrível que pareça. É ler, ler e ler. Nenhum
pesquisador discorda dessa premissa. "A leitura alimenta a inteligência", enfatiza a
psicóloga Maria Antonieta Campos, especializada em educação e grande
conhecedora dos testes de QI. "Ela mexe com a memória, ajuda a armazenar
conteúdo e estimula o raciocínio, a atenção e a abstração." Guimarães, da
Faculdade de Medicina da USP, acrescenta: "O ser humano depende da palavra,
tanto da falada como da escrita". A leitura e a escrita fortalecem as conexões entre
as células nervosas do cérebro e ampliam a base de conhecimento do indivíduo.
Redigir pequenos textos também é outra forma de fortalecer as conexões entre os
neurônios. Vale a receita caseira da jovem Graziela Boss: "Procuro fazer resumos e
vou colando alguns assuntos na parede", ensina. Ou a opção adotada pelo seu
colega Fernando Hideki. "Costumo ficar no cursinho depois das aulas para refletir
sobre as apostilas e fazer os exercícios", conta.
Até o papa das inteligências múltiplas concorda com a fórmula. "Não há
dúvida de que ler ajuda a desenvolver a memória lingüística", afirma Gardner.
"Embora não existam motivos para acreditar que ajude a memória musical ou
espacial."
Também não há motivos para acreditar que modismos criados para estimular
o consumo facilitem o aprendizado e favoreçam a inteligência. Alimentar-se de
folhas escuras ou entupir os ouvidos dos recém-nascidos com as sinfonias de
Mozart, por exemplo, não são determinantes para a criação de futuros gênios.
Mesmo que a alimentação adequada e o contato com a arte e a boa música sejam
recomendados, não há regras infalíveis para se ficar inteligente. E os bons livros só
podem ser aproveitados na idade adequada. Antes, só atrapalham.
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"Os resultados dos estudos com ratos têm de ser avaliados na sua exata
dimensão", frisa o neurologista Bertolucci. "Algumas substâncias estimulam o
aprendizado em algumas áreas, mas não em outras." Ou seja, o que vale para ratos
nem sempre serve para humanos. Mais ainda: "Nem todas as pessoas reagem da
mesma forma a tratamentos que estimulam a produção de substâncias no cérebro",
diz a psicóloga Nancy Segal. Brincadeiras à parte, a busca dos segredos da
inteligência continua e, quem sabe, pode render descobertas geniais nos próximos
anos. Por enquanto, porém, vale a máxima do inventor Thomas Edison. Para ele,
que sabia muito bem o que era isso, a genialidade é 1% inspiração e 99%
transpiração.
3.1. O cérebro de cada um
Uma pesquisa divulgada na Dinamarca em 1997 provocou polêmica: os
homens teriam cerca de 23 bilhões de neurônios, enquanto as mulheres, apenas 19
bilhões. A diferença não significa que os homens sejam mais inteligentes. Já se
sabia que o cérebro masculino é cerca de 20% mais pesado que o feminino e isso
não representa nenhuma vantagem para a inteligência. O número de conexões
entre os neurônios é o que importa quando se trata de mais capacidade de resolver
problemas e de abstração. Outra pesquisa obteve resultados curiosos: cientistas da
Universidade McMaster, no Canadá, afirmaram que o intelecto do físico alemão
Albert Einstein poderia estar relacionado a uma área de seu cérebro que seria 15%
maior que a das pessoas normais. E não só isso. Segundo as pesquisas, o cérebro
do físico teria conexões estranhas na área que se supõe esteja ligada ao
pensamento matemático e de espaço e movimento. Pode ser. Mas a inteligência de
Einstein deve ter explicações mais complexas do que essa.
3.2. Fábrica de idéias
As ligações entre os neurônios permitem entender o mundo
1– Os neurônios se ligam uns aos outros por meio dos axônios e dendrites.
Há bilhões de neurônios no cérebro humano e trilhões de ligações entre eles
2– Os impulsos são passados por meio de ligações chamadas sinapses.
Cada célula pode se ligar a até 10 mil outros neurônios
3– Ao transmitir os impulsos, as sinapses liberam substâncias que fazem
uma ponte química entre as células (neurotransmissores)
4– Os neurotransmissores estimulam, na membrana das células vizinhas,
substâncias chamadas receptores, o que inicia a transmissão do impulso nervoso
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3.3. O papel da TV e dos games
A leitura e a escrita ajudam a memória, dizem os especialistas. Mas não se
tem a mesma certeza sobre os benefícios da TV e dos videogames. Há quem diga
que eles podem restringir a capacidade de aprendizado de quem fica horas na
frente da telinha. "A introdução precoce da leitura deve ser estimulada", diz Cláudio
Guimarães, da USP. "A televisão não traz os mesmo benefícios." Para esse
especialista, a TV não força a pessoa a raciocinar e a filtrar os fatos mais
relevantes. A psicóloga Maria Antonieta Campos dos Santos concorda: "A TV limita
a inteligência, porque leva a uma atuação passiva". O mesmo acontece com o
videogame, segundo Maria Antonieta. "Quando jogado em excesso, limita a
inteligência", afirma. "A criança fica quieta durante horas e deixa de se relacionar
com amigos e com a família. Não adquire outros estímulos fundamentais para
desenvolver a inteligência." "Há um triângulo entre a escola, a família e o indivíduo",
descreve Guimarães. "A inteligência da criança depende desses três fatores. Sendo
assim, qualquer método que proponha um caminho simples para estimular o
cérebro é uma simplificação grosseira." Ou seja, pouco inteligente.
4. RATOS E HOMENS
É consenso que o potencial hereditário é estimulado pela leitura, escrita e
escola. Mas alguns pesquisadores não se satisfazem apenas com esse reforço.
Querem estimular a inteligência, ou pelo menos a memória e o aprendizado, no
cerne da questão, ou seja, nos genes. Apesar de reconhecerem que até agora não
se sabe quais são ou como agem os genes da inteligência – se é que existem.
As pesquisas nessa direção começaram em 1997 e coincidiram com o boom
da genética estimulado pelo projeto de mapeamento do DNA humano. No ano
passado, cientistas das universidades de Princeton e Washington disseram ter
alterado um gene associado à inteligência de um camundongo, de forma que ele
teria se tornado mais capaz de aprender e memorizar tarefas. Agora um estudo
paralelo, realizado na Universidade Northwestern, também nos EUA, traz mais
complexidade à pesquisa genética.
O estudo, publicado em junho na revista da Academia Nacional de Ciências
dos Estados Unidos, acrescenta um outro gene à determinação da inteligência. O
GAP-43 inserido em óvulos fertilizados de ratos tornou suas crias mais espertas
(veja quadro). "É quase certo que o cérebro humano tenha o mesmo mecanismo dos
camundongos", afirmou o principal autor da pesquisa, Aryeh Routtemberg, a Galileu.
Segundo explicou, a proteína produzida pelo gene GAP-43 está presente em grande
quantidade no início do desenvolvimento cerebral do bebê.
Para o cientista, a descoberta prova a importância de encorajar o aprendizado
em crianças pequenas.
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4.1. A esperteza dos ratos2
Experimento demonstra melhora da memória e do aprendizado de
camundongos
1– Cientistas da Universidade Northwestern, nos EUA, inseriram um gene
chamado GAP-43 em óvulos fertilizados de camundongos
2– O GAP-43 está presente em camundongos normais. Ele comanda a
produção de uma proteína que estimula o crescimento e a conexão entre os
neurônios
3– Com um gene GAP-43 a mais, os novos camundongos passaram a
produzir mais proteínas que aumentam a conexão entre as células nervosas
4– Os camundongos modificados tiveram melhor resultado que os normais
em testes de aprendizado e memória (que exigem a lembrança da localização do
alimento em um labirinto)
"É nessa fase, quando a proteína é mais abundante, que se pode acelerar a
aprendizagem e armazenar mais informações", afirma. De fato, o cérebro de um
bebê tem mais de 100 bilhões de neurônios que vão se ligar em cerca de 100
trilhões de conexões. É um número inimaginável. Mas com o tempo, muitas de suas
conexões que não são usadas acabam se perdendo. As outras permanecem e são
aperfeiçoadas ao longo da vida. Por isso, existem tantos estudos visando ao
desenvolvimento do cérebro infantil. Mas antes de começar a empanturrar a
criançada de jogos educativos, videogames e aulas, na esperança de aproveitar a
proteína fabricada pelo GAP-43, é preciso raciocinar.
"Os resultados dos estudos com ratos têm de ser avaliados na sua exata
dimensão", frisa o neurologista Bertolucci. "Algumas substâncias estimulam o
aprendizado em algumas áreas, mas não em outras." Ou seja, o que vale para ratos
nem sempre serve para humanos. Mais ainda: "Nem todas as pessoas reagem da
mesma forma a tratamentos que estimulam a produção de substâncias no cérebro",
diz a psicóloga Nancy Segal. Brincadeiras à parte, a busca dos segredos da
inteligência continua e, quem sabe, pode render descobertas geniais nos próximos
anos. Por enquanto, porém, vale a máxima do inventor Thomas Edison. Para ele,
que sabia muito bem o que era isso, a genialidade é 1% inspiração e 99%
transpiração.
FONTE
http://galileu.globo.com/edic/109/rep_inteligencia1.htm
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Fonte: Proceedings of the National Academy of Sciences, 20.jun.00
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